Por Fernanda Pompeu
Muitos réveillons atrás desisti de rascunhar aquelas
famosas listas com promessas para o ano vindouro: parar de fumar, fazer
dieta, ficar mais zen, dizer não com suavidade, tirar férias. Pois
passam os 365 dias e não tenho sucesso com nenhum desses itens.
Concordo que encarar o ano novo sem planos provoca
um tantinho de tristeza. Afinal a ideia é sempre melhorarmos e nos
transformarmos. No entanto, hoje, acho que o impedimento não está no
propósito, mas na ideia da lista.
Dizem que foram os americanos que impuseram ao mundo
a prática de listar promessas, anseios, objetivos. Você pega a
canetinha e manda tinta. Os defensores das listas argumentam que as
coisas ficam mais claras quando as escrevemos.
A escrita tem mesmo o dom de organizar o pensamento e
de fixar os pontos de vista. Creio que minha descrença seja mesmo com
as listas. Explico, elas são ótimas para a gente lembrar, ao entrar no
supermercado, da batata, do leite, do papel higiênico, da ração do
cachorro, do creme dental.
Mas creio que listas são inúteis para mudar
comportamentos. Ineficazes para promover transformações. Simplesmente é
preciso muito mais do que uma declaração de boas intenções. Como tão
precisamente falavam os mais antigos: É necessário ter força de vontade.
Energia de vontade para jogar no lixo prazeres como
fumar e comer ovos fritos com gema mole. Determinação para ser mais
paciente com o motorista lento à frente. Terapia para dizer não sem
fechar a cara, ou tirar férias sem medo de ser esquecida.
A meu ver é um engano acreditar que mudanças têm
data marcada. No caso, o Primeiro de Janeiro. Quem sabe, uma acontecerá
no 15 de abril, outra no 21 de agosto. Ou que se dará uma mudança por
ano e não todas de uma vez.
Escreveu bem o poeta Carlos Drummond de Andrade: "O último dia do ano não é o último dia do tempo / Outros dias virão/ E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida." Tão certo ele. Agora me ocorreu fazer uma lista com apenas um item: ser feliz em 2013.
Imagem: Régine Ferrandis, de Paris.
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