Obesidade, o peso do preconceito
Considerada atualmente uma doença pela medicina.
por Flávio Fernandes
Considerada atualmente uma doença pela medicina, é fácil identificar a obesidade mórbida. Basta dividir o peso da pessoa por sua altura elevada ao quadrado. Se o número encontrado estiver acima de 39, a obesidade mórbida existe – e com ela os possíveis problemas de saúde relacionados. Mas há um mal ainda pior e pouco falado quando o assunto é obesidade: o preconceito.
O obeso sente que a sociedade, quando não o ignora, o agride. A começar pelo rótulo: quem conviveria bem com a alcunha de “mórbido”? Não há proteção legal ou qualquer mecanismo de defesa aos vexames pelos quais o obeso passa nas ruas diariamente. Você já imaginou o que é ir ao cinema ou viajar de avião e não encontrar uma simples cadeira adequada ao seu tamanho? Ou perceber as risadas das pessoas quando você não consegue passar pela roleta de um ônibus? Enquanto o preconceito racial não é muitas vezes explícito, a maioria das pessoas não se intimida em rir diante de um obeso. É como se ele fosse assim apenas porque é preguiçoso, relapso e comilão. Logo, merece ser motivo de todo tipo de piada.
É claro que a ciência não vê assim a obesidade e encara o problema como uma doença. Os médicos sabem que, por mais que lutem por meio de dietas ou temporadas em spas, nem sempre essas pessoas conseguem emagrecer. Há casos de obesos que comem até menos que pessoas “exemplares” em sua dieta. Mesmo assim, a sociedade simplesmente ignora as evidências e faz os seus julgamentos movida pela ignorância.
Esse é o caso de uma das maiores consultorias de recrutamento e seleção de altos executivos em São Paulo. Em uma entrevista no rádio, que ouvi há algumas semanas, o representante dessa empresa confessou que 90% dos seus clientes não querem obesos contratados. “Afinal, quem não cuida de si mesmo não cuidará a contento dos negócios da empresa.”
Como é possível alguém dizer isso no rádio em um país que se diz democrático e contrário a todos os preconceitos? Como julgar a capacidade, a inteligência e a força de vontade de um ser humano apenas por sua aparência física? Ou simplesmente por não se enquadrar fora dos padrões aceitos pela maioria das pessoas? Será que essa empresa de recrutamento e as outras que trabalham com a mesma visão tacanha estão, de fato, prestando bons serviços aos seus clientes? Será que excelentes profissionais não são preteridos em relação a outros “visualmente mais corretos” e as empresas não acabam perdendo por seu preconceito?
É como se o obeso tivesse apenas duas opções: emagrecer ou se matar. Pelo menos é dessa forma que a mídia trata o problema. Em uma reportagem sobre a cirurgia bariátrica (diminuição do estômago), a apresentadora do programa Fantástico, da Rede Globo, levanta o tema com a seguinte frase: “O que fazer quando todas as dietas falharam?” Parte-se do pressuposto de que ninguém pode ser feliz obeso. E quem não consegue ou não quer ter um corpinho dentro do “padrão global” de aparência? Tem que passar o resto da vida atormentado – por si mesmo e pelos outros – por causa da sua forma física?
Essa perseguição faz com que os obesos se sintam culpados. Alguns terminam adotando para si o mesmo preconceito que sofrem de outras pessoas. Resultado: em vez de se unir em busca dos seus direitos, tratam de seus problemas como uma vergonha – como já aconteceu com outras minorias como os gays e os negros, por exemplo.
Mesmo que essa causa não tenha a mesma simpatia da luta de outras minorias, os obesos precisam buscar o respeito que merecem. Muito além da reivindicação de espaço físico adequado para o nosso corpo, é hora de conquistarmos um espaço de verdade na sociedade para que a nossa voz seja levada em consideração em qualquer debate público. Não estou aqui fazendo uma apologia da gordura e dos problemas de saúde que podem estar correlacionados a ela. Mas acho que somente unidos os obesos poderão garantir para si o direito elementar de serem felizes: amarem e serem amados, terem sucesso profissional, irem ao cinema ou simplesmente poderem caminhar tranqüilamente pela rua sem receber olhares de julgamento de outras pessoas.
Consultor financeiro e administrativo E-mail: flaviostartrek@uol.com.br
A batalha da balança
Obesidade: como vencer essa batalha e quais os motivos que fazem com que existam pessoas gordas e magras; boxes: gordos e magros famosos, quando surgiu a preocupação com o peso; e a gordura não traz problemas aos animais.
Por Marcelo Macca
Recentemente, ao completar 50 anos, um responsável pai de família resolveu fazer um seguro de vida. Nunca se sabe o que pode acontecer, raciocinou, sensatamente. Dirigiu-se então a uma companhia de seguros indicada por um amigo. Escolhido o plano de pagamento, o cliente assustou-se com a quantia que teria de desembolsar todo mês. Mas isso é muito mais do que meu amigo paga, no mesmo plano, reclamou. O motivo logo foi-lhe explicado. Como ele não só pesava 30 quilos a mais do que o amigo mas também estava muito acima da média de peso de pessoas do seu tipo físico, o acréscimo era inevitável.
A idéia de cobrar mais caro pelos seguros de pessoas com excesso de peso surgiu nos Estados Unidos há alguns anos, devido à descoberta de que as pessoas gordas são mais suscetíveis a doenças, algumas das quais podem apressar a sua morte. Entre os males que geralmente acompanham o excesso de gordura, destacam-se os problemas cardiovasculares, principalmente a aterosclerose - entupimento das artérias causado por hipertensão ou por aumento do nível do colesterol, ambas complicações associadas ao excesso de gordura - , e a insuficiência cardíaca. Tendo conhecimento desses dados, as companhias de seguros foram criando, com a ajuda de especialistas, tabelas de correspondência entre o peso, a altura e o sexo de um indivíduo. A idéia era estabelecer uma base para o peso ideal de cada um, segundo um conjunto de características biológicas e físicas.
Essas tabelas são aceitas pelos médicos como uma referência confiável para avaliar a quantas andam seus pacientes em matéria de peso, mas elas não se destinam a esclarecer as causas das enormes diferenças que pode haver entre as pessoas nesse particular. Por que uns parecem viver permanentemente em regime de greve de fome e ainda assim perdem todas as batalhas contra a balança? E por que outros se deliciam, sem sentimentos de culpa, com uma porção extra de torta de chocolate e ainda assim permanecem esbeltos? A Medicina tem uma tonelada de respostas para dúvidas desse gênero. Mas, como acontece com muita gente em relação ao próprio peso, os cientistas não estão satisfeitos com o que sabem.
De fato, é difícil saber: não faltam enigmas por trás dessa questão aparentemente simples. O peso é um traço característico de uma pessoa, assim como a altura ou a cor dos olhos. A sua constância, em condições normais de saúde, é um prodígio da natureza. Exprime o equilíbrio entre as entradas e saídas de energias no organismo, como o extrato de uma conta bancária em que débitos e créditos estão bem administrados.
Por exemplo: se não houvesse um consumo equivalente de energia, uma colherzinha de açúcar a mais por dia acarretaria, ao fim de trinta anos, um aumento de peso de 20 quilos. O segredo da constância de peso num indivíduo saudável está na constância de certa quantidade de gordura no corpo. Nome genérico dado a substâncias como o glicerol e os ácidos graxos, a gordura habita células específicas, chamadas adipócitos, que constituem o tecido adiposo (de adipe, gordura em latim). O obeso é aquele cuja massa adiposa representa mais de 20 por cento do peso do corpo (25 por cento no caso das mulheres). Sob a forma de gordura, o tecido adiposo armazena 95 por cento das reservas energéticas do organismo. Os outros 5 por cento são supridos pelas reservas de glicogênio - um derivado da glicose - existentes no fígado e no tecido muscular. Embora seja o responsável pelos volumes e saliências que, geralmente concentrados em volta da cintura, fazem a infelicidade de tanta gente, o tecido adiposo é também o que torna os corpos mais atraentes, modelando as formas ao rechear os espaços entre ossos e músculos.
Para manter constante o peso, o organismo deve, portanto, gastar tudo o que ganha por meio dos alimentos. Se todos gastassem por igual, a questão se resolveria com uma simples operação aritmética: gordos seriam aqueles que comem mais do que precisam, e magros, os que comem menos. É lógico que comer demais está na base de todo excesso de peso, mas há situações em que a fisiologia desarruma a lógica. No caso dos magros que comem muito e dos gordos que se alimentam muito mal, o problema não parece ser o que entra em forma de alimento, mas o que sai em forma de energia. Todos os nutrientes contidos nos alimentos e bebidas que o homem ingere são utilizados para fazer o organismo funcionar.
Proteínas são transformadas para a produção de hormônios e enzimas; carboidratos - os açúcares - são queimados para a produção de energia; as gorduras - ou lípides - vão constituir a reserva adiposa. As reações bioquímicas que ocorrem nos processos de digestão, absorção e armazenamento dos nutrientes são extremamente complexas, mas todas estão a serviço de uma nobre causa: como dizem os médicos, o organismo deve manter o seu equilíbrio homeostático. Isto é, precisa conservar o seu meio interno constante, ao mesmo tempo que gere suas economias. O corpo humano é um modelo de avareza: tudo o que sobra do processo de digestão dos alimentos será transformado em gordura e em glicogênio. Esse potencial energético fica inteiro à disposição do organismo, até que este resolva utilizá-lo em situações de grande necessidade de calorias.
O gasto total de energia de um indivíduo - homem ou mulher, jovem ou velho - resulta de três fatores: o metabolismo basal, a termogênese e as atividades físicas. O metabolismo basal representa o gasto de calorias de uma pessoa em jejum e em repouso. É a energia requerida para as atividades necessárias à sobrevivência do organismo, como a respiração e os batimentos cardíacos. O metabolismo basal varia com a quantidade de chamada massa corpórea magra. Essa massa, formada pelos músculos e por outros órgãos, é que depende da energia para desempenhar suas funções biológicas. Quanto mais massa corpórea magra, maior será a energia despendida no metabolismo basal.
Esse fator também pode variar com o sexo e a idade. Os homens apresentam um metabolismo basal mais elevado (medindo a partir da respiração), já que possuem maior quantidade de massa corpórea magra do que as mulheres. Os mais jovens, igualmente, gastam mais para manter suas funções vitais do que as pessoas de meia-idade e os velhos, que já alcançaram a maturidade física e não precisam despender muita energia. Em condições normais, 73 por cento do consumo de energia pelo organismo se destina ao metabolismo basal. O resto é dividido entre os outros dois fatores. As atividades físicas ficam com 12 por cento e a termogênese com 15 por cento dos gastos calóricos do corpo.
A termogênese, por sua vez, é a energia consumida durante a digestão, a absorção, o transporte e a utilização dos nutrientes. A absorção intestinal, por exemplo, consome cerca de 3 por cento da energia fornecida pelos alimentos durante uma refeição. A estocagem de gordura no tecido adiposo custa 2 por cento e a conversão de glicose em glicogênio para o fígado consome algo como 6 por cento da energia total. A variação de temperatura também exige um maior ou menor dispêndio de energia. Quando está frio, o organismo deve gastar mais para manter a temperatura interna constante. Já em temperaturas mais altas, isso não é necessário. A termogênese ainda pode variar de acordo com o estado psicológico.
Situações de estresse, por exemplo, fazem com que o organismo gaste mais energia para funcionar. Por isso é comum pessoas em períodos emocionalmente difíceis perderem peso, ainda que se alimentem como sempre. Mas o contrário também pode acontecer, quando se passa a comer mais como forma de compensação psicológica numa situação de crise. Trata-se, segundo o psiquiatra Sérgio Bettarello da Universidade de São Paulo, de um comportamento aprendido na infância: Se a mãe alimenta o filho toda vez que ele chora, a comida pode virar um substituto para outra emoções.
Um importante mecanismo de queima das reservas adiposas do corpo é comandado pelo hipotálamo, uma pequena região em forma de funil, situada na base do cérebro. A queima depende da liberação de um hormônio chamado noradrenalina, que age diretamente sobre o tecido adiposo. Quando o hormônio chega ali, transportado pela corrente sanguínea, é reconhecido por outras substâncias que, a partir de então, desencadeiam o processo de queima das gorduras, transformando-as em energia. Qualquer desequilíbrio na delicada trama que regula as entradas e saídas de energia pode ser o responsável pelo fato de alguém ser gordo ou magro
Segundo várias pesquisas, todas relacionadas à gordura, esses mecanismos são sujeitos a falhas. Isso não quer dizer que a magreza excessiva não possa resultar de um defeito naquela engrenagem. Quer dizer apenas que a esmagadora maioria das pesquisas busca descobrir mais sobre a gordura - e não sobre o seu oposto. Não é de estranhar: no mundo inteiro, apesar das legiões de desnutridos, a obesidade é que causa maior preocupação. De fato, não é todo dia que se vê uma pessoa indo ao médico porque precisa engordar. Nem as revistas femininas têm o hábito de publicar dietas de engorda. Nem, enfim, se morre do coração por escassez de quilos.
Segundo o endocrinologista Alfredo Halpern, da USP, existem pessoas que apresentam um déficit calórico nos gastos de energia, isto é, nelas, o organismo desempenha suas funções muito economicamente, poupando energia. Essas pessoas, fatalmente, acabam engordando. Hoje em dia, uma batelada de estudos em vários países tenta localizar esse déficit e identificar suas causas. Algumas pesquisas flagram o déficit nos mecanismos da termogênese. Isso pode acontecer no caso de pessoas que gastam menos energia ao se alimentar. São indivíduos que aproveitam melhor os alimentos, devido a uma causa não muito bem esclarecida, diz Halpern. Essa causa pode estar na intrincada rede de reações químicas envolvidas nesses processos.
Os cientistas já conseguiram demonstrar, por exemplo, que a hiperfagia - a vontade irresistível de comer - pode estar relacionada às substâncias liberadas pelo hipotálamo. De fato, é nessa parte do cérebro que se localizam dois centros importantíssimos para o processo de alimentação: os centros da fome e da saciedade. Ao contrário do que pode parecer, fome e saciedade não são duas faces da mesma moeda. A necessidade de ingerir comida, de um lado, e a satisfação provocada por certa quantidade de alimento, de outro, são duas sensações distintas, geradas em locais diferentes do hipotálamo. As pesquisas mostram que ambas as sensações dependem de uma infinidade de estímulos químicos e hormonais desencadeados dentro ou fora do organismo.
O hormônio noradrenalina, por exemplo, age no centro da fome, diminuindo a sua intensidade, enquanto outro hormônio, chamado serotonina, age no centro da saciedade, aguçando esta sensação. Existem evidências de que certas pessoas com problemas de excesso de peso apresentam níveis menores de serotonina no centro da saciedade. Isso faz com que elas nunca se sintam plenamente satisfeitas por mais que se alimentem. Outras pesquisas, relacionadas às atividades físicas de gordos e magros, são motivo de controvérsia. Os cientistas já observaram que os gordos geralmente têm menos atividade do que os magros - entendendo-se por atividade física tudo que se faz com o corpo.
A observação tem sentido. Afinal o trabalho que os gordos devem fazer é bem maior, pois o esforço é diretamente proporcional à massa que carregam. Mas também essa regra tem suas exceções. Existem gordos superativos que, apesar de toda a movimentação, mantêm os seus quilos. E existem os magros sedentários, que, apesar da aversão por qualquer tipo de atividade física, mantêm-se esbeltos e saudáveis. Uma pista importante para se compreender melhor parte desses aparentes contra-sensos surgiu recentemente nos Estados Unidos: pesquisadores verificaram que pessoas mais gordas apresentam menos movimentos involuntários do que as outras. O conjunto desses movimentos, denominado fidgeting (inquietar-se, agitar-se em inglês), inclui atos, como coçar a cabeça, cruzar e descruzar as pernas, acender um cigarro ou andar de um lado para o outro.
Onde quer que ocorram, os desequilíbrios no processo de ganho e perda de energia talvez tenham uma causa anterior. Assim, as respostas às questões envolvendo obesidade estariam codificadas nas sequência de DNA - a bagagem genética de todo ser vivo - presente nos cromossomos das células. Embora os estudos sobre o assunto sejam indiretos - lidam com famílias e gêmeos, por exemplo, mas não investigam o que ocorre em nível molecular - os cientistas tendem a acreditar pelo menos que os genes herdados dos pais podem determinar o peso de um indivíduo na vida adulta - algo que, de resto, a observação do senso comum sempre sustentou.
Uma pesquisa sobre obesidade, realizada pouco tempo atrás na França, revelou que 69 por cento dos entrevistados, todos gordos, tinham pelo menos um dos genitores com problemas de gordura; outros 18 por cento tinham pai e mãe na mesma situação. Em geral, o risco de uma criança se tornar gorda chega a 40 por cento se um dos pais tiver excesso de peso; e dobra se os dois apresentarem a característica. Se nenhum deles for obeso, a taxa cai para 10 por cento.
Então, ser gordo ou magro é uma fatalidade contra a qual não adianta lutar? Nem tanto. Embora, como se viu, os filhos de pais gordos apresentem uma grande disposição para imitá-los, isso não é inevitável. Basta que a pessoa vigie o que come - tipo e quantidade de alimentos - durante toda a vida. O que, como se sabe, é mais fácil dizer que fazer. Durante algum tempo, as pesquisas sobre as bases genéticas que influem no peso esbarraram em um problema: os hábitos alimentares da família, ou seja, o fato de uma pessoa ser gorda ou magra poderia mesmo traduzir uma questão de herança, mas não herança genética - e sim dos hábitos alimentares adquiridos desde a infância. Assim, gordos e magros seriam aquilo que aprenderam a comer.
Como em tantas outras áreas da ciência, o que está em jogo aqui é a interminável polêmica sobre o que pesa mais na vida: a hereditariedade ou o ambiente. Os partidários da primazia genética citam estudos em países escandinavos com filhos adotivos: eles têm, em adulto, maior correspondência de peso com os pais biológicos do que com os que os adotaram, não importam quais tenham sido os hábitos alimentares da casa em que foram criados. A rigor, os filhos parecem ter maior correspondência de peso com suas mães biológicas - o que fornece uma arma aos defensores do fator ambiente. Pois, para eles, isso prova que o peso, em última instância, seria determinado pelo tipo de nutrição recebido pelo feto.
De fato, outros estudos com gêmeos univitelinos - originários de um único óvulo - mostram que o irmão mais pesado ao nascer tende a se tornar obeso em adulto. Como sua bagagem genética é idêntica, a diferença só poderia resultar da circunstância de um deles absorver melhor a alimentação intra-uterina. Seja qual for a predisposição genética de cada um, os hábitos alimentares acabam dizendo a última palavra. Ao contrário dos outros bichos, o homem aprendeu a comer por prazer. Além disso, estudos indicam que nos países desenvolvidos se come menos do que há cem anos e, no entanto, se engorda mais.
O homem ocidental deste final de século XX chega aos 50 anos, como o pai de família que queria fazer um seguro e se surpreendeu com o custo, carregando em média 12 quilos além do que pesava aos 20 anos. A culpa - está provado - é da variedade de nossa dieta. Numa pesquisa, camundongos submetidos a uma dieta sempre igual só comiam ao ter fome, mantendo assim o peso constante. Quando a dieta era alterada todos os dias, incluindo-se grande variedade de alimento, os ratos engordavam rapidamente. Ser um Stan Laurel ou um Oliver Hardy depende, em suma, de um variado cardápio de circunstâncias - em que muitas vezes o que parece desimportante pode ser decisivo e aquilo que se toma por fundamental pode ser apenas uma exceção. Muitos gordos, por exemplos, juram, sem ir ao médico, que seu sofrimento é fruto de uma disfunção glandular. Ledo engano. Problemas glandulares são responsáveis por apenas cinco em cada cem casos de obesidade.
GORDOS & MAGROS DE PESO.
Do alto dos seus 120 quilos, muito desigualmente distribuídos por 1,70 de altura, o gordo mais famoso do Brasil, o humorista Jô Soares, 51 anos, é a prova viva de que o talento e a inteligência podem não só neutralizar o que em outras circunstâncias talvez fosse uma avantajada desvantagem como ainda transformá-la em trampolim para o sucesso. Jô, que não faz dieta, mas vigia a balança para manter o atual peso, que julga ideal, vigia também a própria imagem pública para não virar uma espécie de gordo profissional. Por isso, entre outros cuidados, foge do assunto obesidade, que o persegue desde que me entendo por gente para não se tornar chato e repetitivo. E zela para que sua arte não fique escrava do peso. Meu humor não é humor de gordo, esclarece. Meus personagens não ficam entalados em cadeias.
Vinte e três quilos mais magra e dezesseis anos mais jovem que o carioca Jô Soares, outra gorda muito popular no país, a cantora paulista Cida Moreira - cujo repertório vai de rock a canções alemãs dos anos 20 - usa a obesidade no palco à maneira de um recurso teatral. Fica bacana, diz. Mas, se pudesse, seria magra: Primeiro, por uma questão de saúde. Segundo, porque é mais bonito. Tentar, ela bem que tentou; Fiz todas as dietas milagrosas, conta. Mas no fim engordava tudo de novo. Resta o consolo de que, com 1,72 m e 97 quilos, está bem abaixo do seu recorde de 140.
Na outra ponta da balança, a também cantora Ná Ozzetti, com 51 quilos espetados em 1,70 de altura, irradia felicidade: Nunca tive problema por ser magra, entoa. Do time da nova geração de cantoras paulistas, tão eclética quanto Cida Moreira, Ná, 30 anos, é de deixar gordos de todas as idades ralados de inveja: come de tudo, bastante, várias vezes ao dia. Vai ver, sou magra de ruindade. brinca. Outro magro famoso de bem com seu peso, é o espigado senador pernambucano Marco Maciel, do PFL, cujo 1,80 de altura abriga não mais de 56 quilos. Nunca fiz regime, conta o hiperativo ex-governador e ex-ministro, conhecido também pelas magras horas que dedica ao sono todas as noites. A falta de peso, por sinal, foi-lhe muito útil certa vez. Aos 18 anos, leve como uma pluma nos seus 45 quilos, acabou dispensado do serviço militar. Foi ótimo, lembra Maciel pois tinha acabado de entrar na faculdade.
O ENGODO DAS DIETAS.
Ser gordo ou magro também pode ser questão de moda. A opulenta Vênus do pintor italiano Botticelli (1445-1510) foi considerada durante muito tempo um símbolo de feminilidade, assim como as banhistas do francês Renoir (1841-1919). Hoje não há mulher que não trema em imaginar-se com um corpo como o delas. A preocupação ocidental com o peso e a gordura é um fenômeno que começou depois da Segunda Guerra Mundial para explodir na década de 60, como parte da revolução dos costumes. As décadas seguintes viram a disseminação das dietas - de Beverly Hills, do abacaxi, do leite, da lua, do astronauta e da alga, entre outras. a maior parte delas não passa de engodo. Logo depois do período de contenção, os quilos tendem a voltar, às vezes em dobro. É significativo que, mesmo carecendo de base científica, os livros que veiculam essas dietas são consumidos aos milhões.
Para o endocrinologista Alfredo Halpern, numa dieta, tão importante quanto o número de calorias ingeridas é a sua procedência - proteínas, lípides ou carboidratos. Ou seja, nem sempre dois alimentos com igual número de calorias engordam por igual. Segundo ele, a maior novidade na área das dietas é o reconhecimento de que fibras não absorvíveis, como as do arroz, pão integral e alguns vegetais, podem ajudar na perda de peso - talvez porque diminuam a absorção de nutrientes ou porque retardem o esvaziamento do estômago. Um meio controvertido de diminuir a ingestão de calorias é o uso de medicamentos. São os anorexígenos, que inibem o apetite. A maioria dos médicos evita receitá-los, a não ser em casos imprescindíveis, devido aos efeitos colaterais sobre o sistema nervoso.
A VANTAGEM DOS BICHOS.
Gordura não é problema para os animais selvagens. Eles mantêm um peso constante durante toda a vida porque só comem quando precisam repor os gastos de energia. Isso já não acontece com os animais domésticos, que entram no regime alimentar da casa onde moram e acabam engordando, como o famoso gato Garfield. Homens e animais se distinguem a esse respeito por mais uma característica também: a composição do tecido adiposo animal permite-lhe ser mais energético (é marrom, enquanto a gordura humana é amarela). O tecido animal é perfeitamente adaptado à termogênese, podendo ser queimado rapidamente. Essa queima ultra-rápida é útil sempre que uma grande quantidade de energia é necessária, tanto no dia da caça quanto no do caçador. Graças à queima instantânea, animais como o urso conseguem se levantar de uma só vez depois de meses de hibernação, período em que seu metabolismo basal chega a níveis muito baixos. Curiosamente, o tecido adiposo marrom existe também nos recém-nascidos humanos, mas depois desaparece. É um meio de a natureza equipar os bebês para a chegada a um ambiente frio e inóspito.
Obesidade: Terra de gigantes
A obesidade é uma epidemia mundial que tende a se agravar nos próximos anos. Para combatê-la, não há mágica: só com exercício e alimentação adequada
por Cláudia de Castro Lima
Nos próximos anos, se nada for feito para mudar o quadro atual, estaremos fritos. E em óleo cheio de gordura trans, aquela que faz bastante mal à saúde. Tudo por conta da epidemia de obesidade, que alcança níveis alarmantes no mundo todo. Até países com grande número de subnutridos, como a Índia, vêm assistindo a um salto gigantesco na quantidade de obesos – lá, 55% das mulheres entre 20 e 69 anos estão acima do peso. Aqui no Brasil as coisas não são muito diferentes. Uma pesquisa divulgada em dezembro de 2004 pelo IBGE mostra que a obesidade já atinge mais brasileiros do que a desnutrição. Segundo o levantamento, 40% dos brasileiros adultos, ou 38,8 milhões de pessoas, estão pesando mais do que deveriam. Desse total, 10,5 milhões podem ser consideradas obesas. No mundo todo, de acordo com uma estatística da Força-Tarefa Internacional de Obesidade, 1,7 bilhão de pessoas – ou uma em cada cinco – estão com sobrepeso ou obesas.O problema resume-se a uma equação simples, que todos estão cansados de saber: comer alimentos gordurosos, aliado à falta de atividade física, resulta no aumento de peso. É exatamente isso que vem acontecendo nos últimos anos. E, se quisermos culpar alguma coisa pela epidemia de obesidade, culpemos nossos genes. Ao longo da evolução, enquanto nos transformávamos de macacos em seres humanos, vivemos durante milhões de anos num mundo escasso em comida. Para compensar a falta de alimentação, nossas células adquiriram a capacidade de armazenar gordura – assim, poderíamos sobreviver um tempo maior caso não encontrássemos alimento. O problema é que o mundo mudou e, hoje, não há mais escassez de comida.
De fato, desde a década de 50, medicamentos ditos “milagrosos” aparecem nas prateleiras como a salvação dos gordinhos. As anfetaminas, que aceleram o metabolismo e inibem o apetite, foram as grandes vedetes dos anos 50 e 60 – até descobrirem que elas causavam dependência química. Substâncias como fenfluramina e fertemina, que provaram realmente serem eficazes no emagrecimento, também causavam reações colaterais e podem estar ligadas a problemas cardíacos. Novas drogas, como orlistat, causam desconforto intestinal. “A médio prazo, entrará no mercado um novo medicamento. Mas ele não irá solucionar o problema”, afirma o endocrinologista gaúcho Giuseppe Repetto, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade). “Precisamos muito mais do que uma droga mágica.”
Qual, afinal, é o prognóstico para os próximos anos? Se os Estados Unidos servem de parâmetro, a perspectiva não é nada animadora. “Atualmente, entre 65% e 80% dos americanos estão acima do peso ou obesos”, afirma o especialista David Katz, diretor de estudos médicos de saúde pública da Universidade de Yale e autor de The Way to Eat (algo como O jeito de comer, sem tradução para o português). “A maior parte deles não era obesa quando criança. Mas muitas crianças são obesas hoje em dia. Por isso, a tendência é que no futuro o número de americanos acima do peso aumente ainda mais, chegando perto dos 100%.” E no Brasil? De acordo com o endocrinologista Walmir, a situação aqui pode ser ainda pior, se é que isso é possível. “O tipo étnico do latino-americano favorece o aparecimento de problemas de saúde já com níveis menores de obesidade”, diz.
A obesidade pode ser medida de acordo com o IMC (índice de massa corporal), numa conta fácil: o peso do indivíduo dividido pela sua altura ao quadrado. Se o resultado for superior a 25, a pessoa está acima do peso. Se passar de 30, é obesa. A obesidade é considerada um problema de saúde pública porque diversas doenças, como diabetes tipo 2, problemas cardíacos, hipertensão arterial, infarto e até alguns tipos de câncer, estão associadas a ela. Um estudo de 2003 mostra que os custos do excesso de peso no Brasil chegam a 1,5 bilhão de reais por ano, contando internações hospitalares, tratamentos médicos e gastos indiretos, como faltas no trabalho e morte precoce. A previsão é que esse valor deve crescer nos próximos anos.
Aqui no Brasil, assim como no resto dos países em desenvolvimento, quem mais vai sentir os efeitos da epidemia de excesso de peso nos próximos anos serão as pessoas de classe mais baixa. “O nível de sedentarismo é muito maior em populações mais pobres”, diz Coutinho. Entre outras coisas, elas não costumam praticar exercício em academias, por exemplo – principalmente as mulheres. Em oito anos, o número de mulheres obesas das classes D e E cresceu 30% na região Sudeste. No mesmo período, houve queda de 40% no total de brasileiras obesas das classes A e B. Outro fator que contribui é o econômico. Como nos últimos anos a capacidade aquisitiva da população aumentou, quando sobra um dinheiro no final do mês a tendência é comprar alimentos mais calóricos – agora eles podem se “dar ao luxo” de ter uma bolacha ou um chocolate no armário.
Outra camada ferozmente atingida pela epidemia é a das crianças. Segundo a Organização Mundial de Saúde, um em cada dez pequenos está obeso no mundo todo. No Brasil, 15% das crianças estão acima do peso e 5% obesas. Especialistas afirmam que a probabilidade de uma criança com pais magros tornar-se obesa é de 9%. Se um dos pais for obeso, a taxa sobe para 50%. Se os dois forem obesos, a criança terá 80% de chance de seguir os passos deles. Mais do que a herança genética, o problema é do ambiente propício à obesidade.
Walmir Coutinho acredita que, em 2020, estaremos discutindo medidas para reverter o quadro de epidemia. “O governo federal terá de tomar algumas medidas, como a restrição de propaganda de alimentos que provocam obesidade, principalmente os voltados para o público infantil. Por exemplo, teremos de colocar no rótulo de uma barra de chocolate que, se consumido em excesso, o produto fará mal à saúde.”
Tendências
De mal com a balança, obesidade
Cada vez mais comum, a obesidade costuma ser vista como um problema estético. Na realidade, é uma doença que pode levar à morte.
por Maurício de Lara Galvão
A obesidade foi incluída pela Organização Mundial da Saúde no grupo de doenças crônicas que podem levar à morte. Indivíduos com excesso de peso estão mais propensos ao infarto e a muitos outros males. Mas você deve tomar cuidado com os regimes que prometem emagrecimento imediato. Eles podem ser até mais perigosos do que a obesidade. O ideal é sempre consultar um médico.
Quem sabe é super
Está comprovada em animais a existência de um fator genético relacionado à obesidade. Trata-se da leptina, um hormônio presente no tecido gorduroso. Ela envia ao cérebro a mensagem de saciedade e é também responsável pelo consumo calórico, ou queima de gordura.Mania de magreza
A obsessão com o peso pode levar à bulimia e à anorexia.
No glamouroso mundo das passarelas, beleza e magreza fazem uma rima riquíssima. O padrão de medidas esqueléticas imposto por top models como Kate Moss (foto) criou uma legião de mulheres obcecadas com o peso. Em casos extremos, a mania de magreza pode provocar distúrbios psicológicos sérios, que atingem principalmente as mulheres. Um deles é a anorexia, a diminuição brutal do consumo de comida. Outro é a bulimia, cujas vítimas comem compulsivamente e depois se arrependem e provocam o vômito. Em ambos os casos, o paciente acha que está gordo, mas na verdade está no seu peso normal.Faça as contas
Compare quantas calorias você consome e quantas você queima em 1 hora de exercício.
Lasanha - 1285 calFeijoada - 935 cal
Hambúrguer - 360 cal
Coca-cola - 140 cal
Banana - 100 cal
Leite - 100 cal
Ovo cozido - 90 cal
Mamão - 60 cal
Tomate - 20 cal
Alface - 8 cal
Futebol - 700 cal
Bicicleta - 600 cal
Natação - 600 cal
Basquete - 560 cal
Corrida - 560 cal
Tênis - 520 cal
Vôlei - 400 cal
Caminhada - 350 cal
Estudar - 130 cal
Dormir - 63 cal
O mito do "bonachão"
Você é obeso? Não vacile:marque consulta com o médico.
É muito comum a tendência de se associar o excesso de peso a traços de personalidade como a simpatia, a generosidade e o bom-humor. Tudo isso é pura bobagem. O estereótipo do gordo bonachão só serve, na prática, para convencer os portadores de obesidade a não fazer o que o bom-senso recomenda: procurar ajuda médica. O excesso de peso causa problemas muito sérios, como diabete, deficiências de articulação e, principalmente, doenças do coração. Piora a qualidade de vida e prejudica o tratamento de doenças não relacionadas com a obesidade. A valorização da gordura exagerada em indivíduos que desempenham papéis sociais específicos, como o Rei Momo, no Carnaval (na foto, Bola, de 300 quilos, no Rio de Janeiro), é altamente discutível. A obesidade, se não for tratada, pode até levar à morte. Bola morreu em 1995, de infarto. Tinha apenas 33 anos.http://super.abril.com.br/saude/mal-balanca-obesidade-443027.shtml
Dieta sem segredo
Comer a cada 3 horas? Não funciona. Evitar carboidratos à noite? Tanto faz. Dieta das proteínas? Bobagem. Quer emagrecer? Pergunte-se como. Achar sua resposta (e segui-la) é o mais importante
por Claudia Carmello
Tem a dieta de Beverly Hills: só fruta por 10 dias e a silhueta daVictoria Beckham garantida. E a do tipo sanguíneo: carne liberada para quem tem tipo O, o suposto sangue dos caçadores ancestrais. Tem a do Dr. Atkins: controla carboidratos, libera geral proteínas e gorduras. Tem também da sopa, da lua, do arroz, do alfabeto, das cores. Sem falar na renovação constante de verdades científicas que nunca resistem à avaliação seguinte - não eram verdade, muito menos científicas.Não é difícil entender a mania de dieta: o mundo está engordando. Desde 1980, o número de obesos dobrou: hoje são 400 milhões no planeta. São 43% dos brasileiros acima do peso, e 1 em cada 4 estão ou estiveram recentemente de regime.
Na verdade, não há segredo para emagrecer. E também não há milagre: não vamos entregar uma fórmula de como secar em 5 semanas. Mas não vamos dizer que tudo é relativo: dá, sim, para saber como controlar o peso. A principal novidade é que discutir qual é a melhor dieta é bobagem. Para a maioria de nós, nenhuma delas funciona. Vire a página e entenda o porquê.
Na verdade, tanto faz se a dieta tem base de carboidratos, gorduras ou proteínas: o maior estudo sobre o assunto concluiu que todas se equivalem no emagrecimento a curto prazo e na recuperação do peso a longo prazo. Para a balança, o que interessa é quantas calorias o alimento tem.
Mito 2 - "Mulher engorda mais Fácil que homem"
Em média, sim. Mas isso não tem nada a ver com elas serem mulheres. Acontece que homens, por terem naturalmente um volume maior de ossos e músculos, tem o metabolismo mais acelerado. Ou seja: entre uma mulher musculosa e um homem flácido, quem engorda mais fácil é ele.
Mito 3 - "O estômago cresce com a barriga"
Só em obesos que comem quantidades colossais. Logo, é mito que para emagrecer é preciso comer menos até o estômago diminuir e "pedir" menos comida. O que engorda a maioria é beliscar itens de alta concentração energética e ir acumulando calorias extras.
Mito 4 - "Tomar suco natural ajuda no regime"
Não ajuda e pode atrapalhar. O problema dos líquidos que não sejam água (refrigerante, suco, cerveja etc.) é que suas calorias não são devidamente computadas pelo seu corpo. "Nosso organismo não tem a mesma capacidade de identificação de saciedade com líquidos e sólidos", diz Patrícia Jaime.
Mito 5 - "Carboidrato à noite engorda"
Não há fundamento científico que mostre isso. A crença seria de que comendo carboidrato à noite a pessoa armazenaria energia mais facilmente porque vai repousar e o metabolismo cai. Na verdade, o que vale é o balanço das calorias ingeridas e queimadas nas 24 horas anteriores.
Mito 6 - "Dormir pouco dá fome"
Em tese, a falta de sono diminuiria o nível do hormônio da saciedade (leptina) e aumentaria o da fome (grelina). Mas ainda há muito que se estudar, já que uma das consequências de estar acima do peso é ter sono ruim. Assim, não é dormir pouco que abre o apetite, mas o contrário.
Mito 7 - "Comer de 3 em 3 horas ajuda"
Ajuda a comer menos nas refeições. Mas daí a acelerar o metabolismo vai uma distância. Para a OMS, não há evidências de que fracionar as refeições diminua o risco de engordar. Ao contrário: o hábito faz com que você perca o controle nas refeições intermediárias.
Mito 8 - "Remédio pra emagrecer funciona"
Além de efeitos colaterais, como irritação, insônia, taquicardia, quando você para de tomar o remédio, o apetite aumenta. Outro caso são os remédios irresponsavelmente prescritos que causam disfunções na tireoide, glândula que regula o metabolismo.
Mito 9 - "Carboidrato não sacia"
"Não. Todos os alimentos dão saciedade", diz Mancini. Os carboidratos têm sido vilanizados porque se conclui que os do tipo simples (pão e arroz branco, batata, açúcar) desequilibram o organismo. Mas basta consumi-los com moderação.
A dieta no seu corpo
Cortar calorias de uma hora para outra é roubada: além de o organismo começar a poupá-las, fica preparado para engordar rapidamente assim que você caia em tentação.
A grande novidade no mundo das dietas não é nenhum regime revolucionário. É a publicação, no New England Journal of Medicine, dos resultados do maior experimento já feito na área, coordenado pela Faculdade de Saúde Pública de Harvard. Eles estudaram 811 pessoas com sobrepeso e as dividiram em grupos que, ao longo de dois anos, adotaram 4 dietas diferentes - todas eram balanceadas e saudáveis, mas diferiam nas porcentagens de proteína, carboidrato e gordura. Ao fim do programa, os seguidores dos 4 planos perderam a mesma média de peso: 4 quilos. Conclusão? Não importa o que você coma, o que emagrece é ingerir menos calorias. Aliás, dietas malucas podem até engordar.
A notícia é boa. Significa que não é preciso deixar de comer o que gosta, basta comer menos. O corpo pode até reagir diferente a diferentes nutrientes, mas a pesquisa confirmou que, na prática, o que pesa na balança é o que já tinha sido descoberto em 1850, com a 1ª lei da termodinâmica: colocando pra dentro menos energia (no caso, calorias) do que gasta, você emagrece; colocando mais, engorda; colocando igual, mantém o peso.
Como de costume, a má notícia vem junto: foram só 4 quilos perdidos em dois anos. No 1º semestre, os voluntários até emagreceram mais: 6 quilos na média. Mas aos poucos o autocontrole de calorias foi sendo relaxado e o peso foi recuperado. Você pode estar pensando que os gordinhos e gordinhas da pesquisa são uns frouxos e que com você é diferente. Mas a psicologia e a estatística garantem que não é.
Três décadas de estudos científicos sobre dietas ensinam uma lição pra lá de cética: a longo prazo, 9 em cada 10 pessoas que fazem regimes não conseguem manter o peso alcançado. Por quê? Parece fatalismo, mas seu corpo, sua mente e o ambiente ao redor colaboram para que você volte a comer mais e a engordar novamente.
O primeiro inimigo é seu próprio corpo, que age contra a dieta logo que os resultados aparecem. Quanto mais radical ela for, mais ele contra-ataca. A lógica: seu organismo não sabe a diferença entre a decisão de comer menos e fome involuntária. Para ele, se há uma constante perda de peso, sua vida está em risco. E trata de guardar energia.
Como você funciona
Para entender essa mobilização do organismo contra seu emagrecimento, é preciso entender como ele busca a energia para que você respire, caminhe, raciocine, mantenha o corpo a 37°C. Para ele, o que vale são os carboidratos, as gorduras e as proteínas.
O carboidrato é o principal combustível do corpo. Suas sobras são estocadas em pequena quantidade e transformadas em glicogênio. Como o glicogênio retém água, e isso ocupa espaço, é mais vantajoso para o corpo se livrar do carboidrato e armazenar outro nutriente: a gordura. Ela é armazenada desidratada, ou seja, tem mais calorias em menos espaço e, na prática, pode ser estocada sem limite. Eis o porquê de aquele pneuzinho crescer devagar, mas sempre. No espelho, uma derrota; na evolução, uma estratégia que garantiu a reprodução de vários genes. Já as proteínas são os tijolos do organismo: usadas para construir células, não estão livres para virar energia.
O que acontece se você passar a comer muito pouco? Vai gastar as calorias do alimento recém-consumido e, como não será suficiente para sobreviver, vai começar a gastar as reservas. Isso é emagrecer. O corpo usa primeiro o glicogênio, depois aproveita a gordura, e, se você continuar de boca fechada, pede um reforço extra para as proteínas, ou seja, seus músculos.
Durante a dieta, como o corpo recebe menos energia a cada dia, a reação não tarda. "É a reprogramação metabólica, a estratégia do organismo para sobreviver numa guerra", diz Patrícia Jaime, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. A lipase, enzima que regula o armazenamento de gordura, fica superativada. Também diminui o hormônio que nos deixa saciados (leptina) e aumenta o que nos dá fome (grelina). Lembre-se: seu corpo faz tudo para que você coma.
Moral da história: num regime bravo, a fome pisa no acelerador, a saciedade no freio e, mesmo com a restrição de calorias do início da dieta, o ritmo de emagrecimento estagna. Esse é o "platô da dieta", o ponto em que muita gente se frustra e volta à comilança, que vira gordura mais rápido do que antes (lipase superativada, lembra?). É o efeito sanfona, o sistema que faz você engordar mais a cada dieta frustrada.
Exceções à regra
Claro, para essa regra há invejadas exceções. Quem não conhece um cara que come até estourar e nunca engorda? É a hereditariedade. Genes da obesidade têm sido identificados pelos cientistas, e estudos com gêmeos mostraram que a genética contribui com seu peso entre 40 e 70%.
Há também a questão do exercício: para a OMS, há evidências convincentes de que eles não emagrecem. Mas, como hábito ao longo da vida, são ótimos para regular o peso. Não só pelo esforço mas pelo resultado: músculos consomem mais energia para se manter do que o tecido gorduroso. Ou seja: se você tiver um corpo sarado, vai gastar calorias mesmo que não estiver fazendo nada.
Você deve estar pensando: se há formas de interferir no metabolismo, então emagrecer de forma duradoura é possível. Sim. Só que a dieta - das proteínas, de South Beach, do que for - não é o caminho. A ideia de fazer um regime radical para secar e depois um mais leve para manter-se magro é uma armadilha. A maneira mais segura de emagrecer é devagar, reduzindo aos poucos a ingestão de calorias. Isso previne reações contrárias do organismo e dá tempo para adotar mudanças duradouras no estilo de vida.
Acredita-se que seja saudável perder de 5 a 10% do seu peso em 6 meses - para alguém de 60 quilos, no máximo 1 quilo por mês. Se ainda precisar emagrecer, deve primeiro manter esse peso por 6 meses, para depois investir em nova perda de peso. Como fazer isso? Aprendendo a comer menos e melhor, e tendo uma vida mais ativa. Como se viu no estudo de Harvard, a receita é simples. O que não significa que seja fácil.
A dieta na sua mente
Emagrecer seria simples se você não fosse um animal racional, cheio de vontades. Como não é o caso, arranje uma companhia de regime - duas cabeças emagrecem melhor do que uma.
Se a gente fosse máquina, era só programar: bastava ingerir as calorias necessárias às atividades do corpo e o peso seria mantido. Acontece que comer não é uma ingestão automática de nutrientes. Envolve fome, oportunidade, prazer, socialização, emoções e, claro, nossos hábitos.
Uma dieta que nos afaste totalmente da nossa rotina alimentar, por exemplo, tem pouca chance de ser mantida. "Sempre que você tem um cardápio com alimentos que não fazem parte do seu dia- a-dia, é claro que você vai largar a dieta", diz o endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. "O que funciona é a reeducação alimentar. Aprender a comer de um jeito que você seja capaz de manter sempre", diz Mancini.
Dieta dos Pontos (limita a quantidade de calorias atribuindo pontos para cada alimento, prevê ingestão de todos os grupos nutricionais, não proíbe nada e se adapta às preferências pessoais); a famosa Vigilantes do Peso (que também usa um sistema de pontos e tem como trunfo reuniões periódicas de orientação e motivação entre os participantes); a Dieta do Mediterrâneo (foca nas frutas, legumes, carnes brancas, azeite e castanhas, grãos integrais, consome poucos doces, carnes vermelhas e gordura saturada e traz grande benefício à saúde cardíaca).
Veja bem: ninguém disse que, porque a reeducação alimentar pode dar resultados bons a longo prazo, ela vai funcionar. Tudo vai depender da sua disposição para mudar hábitos, do meio social em que vive, de um acompanhamento médico e nutricional individualizado e de fatores emocionais.
Só se for a dois
Cada vez mais, pesquisadores dos fatores externos que influem na alimentação concluem que o sucesso de uma dieta depende de um fator fundamental: motivação. Aquele grande estudo de Harvard trouxe um resultado interessante nesse campo: os voluntários que compareceram a pelo menos dois terços das reuniões com médicos e outros voluntários emagreceram mais do que os que optaram por seguir no programa sozinhos: 9 quilos em dois anos, mais que o dobro da média. Frank Sacks, o líder do estudo e professor de prevenção de doenças cardiovasculares da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, declarou à revista Time: "As pessoas precisam de apoio para manter a motivação e o foco".
Conclusão: conseguir um apoio ou um parceiro de dieta é muito mais importante do que escolher qual dieta você vai fazer. Novas pesquisas estão comparando diferentes tipos de acompanhamento em voluntários reuniões de grupo, interfaces online com médicos, orientação estendida ao resto da família - para saber qual é a melhor estratégia de suporte. Um estudo da Universidade de Yale já mostrou que casais que fazem dieta juntos tendem a perder mais peso do que homens e mulheres que não têm a colaboração do companheiro na empreitada.
Outro fator que pode contar contra é o "ambiente obesogênico", que empurra o indivíduo rumo aos quilos a mais. Claro, a gente engorda por comer demais e se mexer de menos, mas também porque temos uma oferta cada vez maior de comida à nossa disposição e uma vida mais sedentária. Comparando com a máquina: um carro não aumenta a ingestão de combustível se seus vizinhos de estacionamento estiverem consumindo mais que ele. Você sim. Isso sem falar em questões de autoestima, autoindulgência, autossabotagem. É como se um automóvel esvaziasse o posto ao ver modelos que fazem mais quilômetros por litro.
Justamente por se tratar de uma questão ambiental, a nova tendência das políticas públicas de combate à obesidade é abandonar o foco no indivíduo e criar ações coletivas. No norte da França, as cidades de Fleurbaix e Laventie provaram que funciona. Em 12 anos, com mais áreas públicas para esporte e orientação familiar, a obesidade entre crianças caiu a 8,8%, menos da metade da taxa de cidades vizinhas.
É proibido proibir
Emagrecer também consiste em se livrar de conceitos de certo e errado. "As dietas costumam se basear na noção de que alguns alimentos são bons e outros são ruins", diz Carol Munter, psicoterapeuta americana autora do best seller Overcoming Overeating ("Superando a Supercomilança", sem edição brasileira). Peguemos a dieta da sopa, por exemplo: todas as suas refeições serão um sopão de legumes. Ou a de Ornish: vegetariana e com apenas 10% das calorias vindas da gordura (no Brasil, consumimos em média 27% de gordura, e o limite para uma dieta balanceada seria de 30%). Ou mesmo a de Atkins, que manda dar adeus ao pedaço de pizza, ao prato de massa, aos pães, aos doces. Alguém consegue passar a vida num regime desses?
"Quando uma comida é proibida, torna-se especial e nós a queremos. Já quando ela é permitida, legalizada, podemos relaxar", completa. Bom, pode funcionar para várias pessoas, mas como confiar que uma população inteira de obesos vai conseguir aprender a ouvir sua fome e segui-la?
A ressalva não significa que a relação entre comer e sentir seja desprezada pela ciência. Pelo contrário. Já se sabe que alimentos altamente calóricos, especialmente doces, chocolates, injetam dopamina no sangue, um neurotransmissor que manda sinais de recompensa ao cérebro. E que o estresse aumenta os níveis dos hormônios que dão fome e dão o alerta para que a gordura abdominal comece a se acumular.
A ligação entre fome e emoção também tem sido provada por estudos neurológicos. Uma pesquisa publicada na revista Science em 2001, das Universidades Rockefeller, Princeton e da Califórnia, mostrou, através de mapeamento das regiões do cérebro de ratos que controlam a decisão da ingestão de comida, que a regulação de apetite responde a outros sinais além da leptina e da grelina, como os vindos de centros de emoção do cérebro - significa que você pode sentir ou deixar de ter fome independentemente do que comeu ou deixou de comer.
Ou seja, há muito mais entre a fome e a saciedade do que imagina o nosso vão nutricionismo. E tem gente lucrando com isso.
A dieta no seu mundo
A variedade de livros e produtos nas prateleiras se alimenta dos nossos desejos e falhas. E vem engordando: nos EUA, a indústria das dietas é maior que a de tênis
Você pode não prestar atenção no que come, mas há um setor inteiro da economia que analiza e dialoga com nosso constante desejo e eterna dificuldade de emagrecer. Não há estimativas do tamanho do mercado de dietas no Brasil, mas nos EUA, onde 67% da população está acima do peso, ele movimenta US$ 58 bilhões por ano - US$ 14 bilhões a mais que o mercado de calçados e só US$ 10 bilhões a menos que o gasto do governo americano com saúde.
O número leva em conta o faturamento de setores variados, como mercado editorial, refeições prontas e shakes, todo tipo de comidas e bebidas diet, light e zero, adoçantes, vídeos de fitness, sites de consultoria nutricional (afiliados ou não a uma dieta específica), remédios para emagrecer, spas.
Um passeio por qualquer livraria revela os milagres prometidos para todos os gostos, propósitos e crenças. Alguns títulos no Brasil são: Viva Melhor com a Dieta do Tipo Sanguíneo (seu tipo de sangue determina o que você vai comer), Emagreça Naturalmente com a Dieta da Lua (quando a lua muda, você só ingere líquidos por 24 horas), A Dieta do Abdome (programa de 6 semanas, foca em 11 alimentos que magicamente tiram gordura só da barriga), A Dieta da Zona Ayurvédica (baseada em princípios da medicina milenar indiana), A Dieta do Mel (duas colheres de mel antes de dormir queimam gordura). Se você prestou atenção até aqui, já sabe que é picaretagem.
A variedade de títulos vem no embalo dos best sellers do gênero. Os 7 livros do cardiologista americano Robert Atkins emplacaram, desde 1972, 30 milhões de cópias. A edição revisada do primeiro livro encabeçou a lista de mais vendidos do New York Times por 300 semanas seguidas entre 1999 e 2004. Já a série da Dieta de South Beach, lançada em 2003, vendeu 22 milhões de cópias. Uma piadinha do meio diz que a indústria da dieta anda em muito melhor forma que seus consumidores.
O fato é que nós também fazemos nossa parte nesse jogo de me-engana-que-eu-gosto. Trocamos o açúcar da caipirinha por adoçante para beber sem culpa um copão de pinga supercalórica. Pagamos a academia para não ir, mas sentir que já demos o primeiro passo. Seguimos as dietas das revistas porque preferimos comprar motivação a encarar um esforço consciente e de longo prazo. "É mais fácil entrar numa dieta com a esperança de que ela fará você se sentir melhor do que tentar entender a sua ansiedade", alerta Carol Munter.
Lógica aparente
Mas o que explica o sucesso da literatura de autoajuda nutricional? Fora alguns absurdos escancarados, o fato é que as dietas de sucesso vendem ideias que aparentemente fazem sentido. Aparentemente.
A Dieta de Atkins, por exemplo. Seu pulo-do-gato seria um processo chamado cetose, que ocorre quando o corpo não tem seu combustível preferido, a glicose, e é forçado a se manter basicamente convertendo as reservas de gordura em energia. De brinde, a cetose ainda libera cetonas, substâncias que tirariam o apetite. Mas estudos já mostraram que essa excreção de calorias pode ser muito baixa, cerca de 100 por dia. O fato é que a Dieta de Atkins costuma emagrecer rápido no começo porque boa parte do peso que se perde é músculo e água - sem falar que o cardápio é muito monótono. Outro equívoco de Atkins e seus derivados é dizer que carboidratos não dão saciedade, apenas gorduras e proteínas.
Outra confusão que virou lei é comer de 3 em 3 horas, o que manteria o organismo gastando energia. Ok, nutricionistas e endocrinologistas concedem: comer mais vezes pode ajudar a controlar a fome. Mas não acelera o metabolismo e, a longo prazo, dificilmente emagrece. Aliás, essa prática incentiva o consumo de snacks calóricos e as compulsões alimentares.
Outro problema são as dietas que liberam os líquidos. Sim, mesmo os sucos naturalíssimos, repletos de vitaminas. "Nosso organismo não tem a mesma capacidade de identificação de saciedade com líquidos e sólidos", diz Patrícia Jaime. Compare um suco de maçã e uma maçã, por exemplo. A maçã tem fibras (o que manda sinais de saciedade) e você a mastiga (o que manda sinais de saciedade também). No suco, as fibras foram perdidas, ao extrair o sumo da polpa você tem um concentrado de açúcar de várias maçãs (é mais calórico). Apesar das calorias, a bebida ainda vai deixar bastante espaço para a comida.
Nas prateleiras
A indústria alimentícia é outro ator central desse jogo. Para a OMS, há evidências de que o aumento da obesidade é influenciado pelo marketing agressivo das cadeias de fast food - lembra-se do ambiente obesogênico, contribuindo sutilmente para engordar?
Outros vilões são os alimentos de alta densidade energética. Normalmente industrializados, eles concentram muitas calorias em pouco volume e confundem nosso corpo, que vai engordando sem nos avisar para parar. Quem já mandou um pacote de biscoitos recheados para dentro sabe bem.
Por outro lado, as prateleiras são inundadas com opções que protegem contra aumento de peso. Como os alimentos adicionados de fibras e com selo de "baixo índice glicêmico" piscando no rótulo. Estamos exagerando no açúcar? Nos dão versão diet. Precisa-se de Omega-3? Compre margarinas enriquecidas dele. Muita gordura? Vá de livres de trans. É acender uma vela para Deus e outra para o Diabo.
Quer exemplos? Dois gigantes do mercado de refeições light, as multinacionais Jenny Craig e Slim-Fast (o carro-chefe são os shakes, também vendidos no Brasil), foram comprados pela Nestlé e pela Unilever (dona da marca Kibon), respectivamente. Já a multinacional Heinz, famosa pelas mostardas de grife, é também a dona do negócio de refeições prontas dos Vigilantes do Peso, cujos encontros semanais envolvem 1,5 milhão de pessoas e que faturaram perto de US$ 1,5 bilhão em 2007.
Por fraqueza sua ou astúcia dela, a indústria da dieta está aí, firme e forte, enquanto a gente está aqui, inseguro e guloso.
A dieta na sua vida
Emagrecer é simples e não é fácil. Mas não é impossível. Seus pneus só precisam de um empurrão firme para rodar
Insegurança e gula são boas palavras para começar a concluir esta conversa. Você já aprendeu que as dietas radicais não funcionam. E que imaginar o emagrecimento como um processo de duas etapas separadas - a perda de peso e a manutenção do peso - é autoengano. As duas são a mesma coisa: você precisa ter sucesso na decisão de comer menos e gastar mais calorias sempre. E, para que isso aconteça e dure, é preciso que você entre num processo constante e paulatino de mudança de hábitos alimentares e de atividade física, para emagrecer devagar.
Além disso, você pode melhorar sua saúde comendo alimentos variados, em porcentagens balanceadas - levando em conta que há carboidratos melhores do que outros (grãos integrais, frutas, legumes em vez de pão branco e doces) e gorduras melhores do que outras (azeites, castanhas, peixes em vez de carnes vermelhas e laticínios). Por fim, já sacou que ao longo de todo esse processo você vai precisar lidar com sua insegurança e gula diante das dificuldades emocionais, sociais e biológicas que, você já sabe, são parte da vida. Ah, também é preciso resistir aos ataques de ingenuidade diante da indústria para perder peso.
Após tantas respostas (algumas que talvez você já conhecesse), cabe uma pergunta: por que você quer emagrecer?
Cuidado com as expectativas. Não dá para virar a Fernanda Lima quando o espelho sempre mostrou uma silhueta de Preta Gil. Especialistas garantem que todo mundo pode emagrecer para ser mais saudável, mas nem todos conseguem ser magrinhos.
Perder peso e manter o resultado é um objetivo difícil e não tem receita de sucesso. É uma decisão de longo prazo e é você com você mesmo. Você com sua carga genética, seus vícios e seus prazeres.Vale a pena esquecer por um minuto a modelo perfeita do outdoor, os números desanimadores das pesquisas e olhar para a sua vida. Se está obeso ou com peso extra, tem hipertensão, se sente uma lesma, vá buscar aí dentro o que impede você de se motivar a mudar de vida. Se quer viver bem, é bom focar no seu bem-estar e se mexer, porque ninguém vai te pegá-lo pela mão. Agora, se você é parte dos 57% de brasileiros que têm um peso normal, mas passou a vida fazendo dieta em busca de um peso ideal, pense bem.
São 3 as alternativas. Você pode gastar o resto da vida entrando em dietas furadas, passando a sopinha toda semana pré-Réveillon e se sentindo loser depois do 1º de janeiro. É possível perder peso assim. Só não é possível virar magro. E cada vez vai se tornar mais difícil.
O segundo caminho é encarar o problema de frente, escolher um plano alimentar sensato, sem metas irreais. Dedicar tempo aos esportes, contar calorias, controlar a balança e - inevitável - rejeitar alguns convites para a churrascaria rodízio. Se essa é a sua escolha, que seja convicta. E consciente de que ter o corpo sarado (ou quase) vale mais do que (quase) qualquer feijoada.
A terceira opção é você descobrir que só vale fazer sacrifício se a questão for de saúde, que você quer continuar comendo o que gosta. Mesmo que isso não o deixe tão magro, você é capaz de aceitar esses pneuzinhos que nunca o largam, não fazem inveja a ninguém, mas que são seus. E, no conjunto, até que bem simpáticos.
AutoConhecimento
Nenhuma dieta vai para a frente se não forem consideradas as manhas, manias, desejos e limites de uma pessoa: você. Só sabendo e respeitando seus hábitos você vai encontrar uma dieta para chamar de sua.
Calendário
O jeito garantido para emagrecer é devagar e sempre - se correr, o corpo estranha; se parar, o peso volta. Faça planos de longo prazo, coisa de 1 kg por mês.
Companhia
Dieta boa é dieta acompanhada - seja por um especialista, um companheiro de corte de calorias e de exercícios, seja só por alguém que dê apoio. Um estudo de Harvard mostrou que quem faz regime com acompanhamento emagrece mais que o dobro do que quem tenta fazer sozinho.
Exercícios
Má notícia: provavelmente não vão fazer você emagrecer. Boa notícia: mantêm peso que é uma beleza.
Expectativa
Seja sincero com você mesmo: é fundamental não criar metas irreais. Você não vai ficar magro e sarado de uma hora para outra e, dependendo dos seus genes, é possível que nunca consiga.
Fome
Se a gente fosse máquina, ela viria só quando a gente precisasse de energia, mas há fatores externos na equação, que só agora começam a ser compreendidos.
Genética
Sim, tem quem coma um monte e não engorde. Ou quem faça dietas malucas - dessas que você acaba de ler que não funcionam -, e emagreça. Esses malditos são beneficiados por fatores genéticos pouco compreendidos e não reproduzíveis. Inveje e siga contando suas calorias.
Músculos
Valem quanto pesam. Depois de criado, só por existir, 1 kg de músculos consome cerca de 80 calorias por dia - ou dois chocolates Bis. Só para efeito de comparação, 1 kg de gordura queima 5 calorias diárias.
Platô
Existe um ponto chamado "platô da dieta", em que o corpo já sacou que vai faltar comida e começa a estocar gordura. É importante não desistir, pois o corpo está programado para engordar rapidamente.
Saciedade
Basicamente, é a sensação de matar a fome, provocada por um hormônio chamado leptina. Se você come rápido demais, não dá tempo de ela se manifestar, e alimentos de alta densidade calórica a deixam confusa. Preste atenção nela se quiser emagrecer.
Zíper
Fechá-lo é a maior recompensa de toda a dieta.
Para saber mais
Coma, Beba e Seja Saudável
Walter Willet, Campus, 2004.
Rethinking Thin
Gina Kolata, Farrar, Straus and Giroux, 2007.
Dieta do Mediterrâneo
Org. Rolf Zelmanowicz, Equipe ABC da Saúde, 2005.
www.who.int/topics/obesity/en/
Obesidade e Dieta segundo a Organização Mundial da Saúde.
http://super.abril.com.br/alimentacao/dieta-segredo-619322.shtml
Comida é tudo
Foi ele que espalhou humanidade pelo mundo e que possibilitou a civilização, a cultura e a industrialização - mas ele também nos transformou em uma comunidade de gordos.
por Rodrigo Velloso
Nosso apetite é mais forte que nós. Foi ele que espalhou humanidade pelo mundo e que possibilitou a civilização, a cultura e a industrialização - mas ele também nos transformou em uma comunidade de gordos. Conheça essa história e entenda como a indústria se aproveitou da nossa fraquezaA porta do forno se abre e o aroma de pão francês invade as narinas. A visão daquela montanha de pães na cesta desperta fantasias. Manteiga fresca derretendo entre os picos e vales do delicado miolo. Um monte branco de requeijão erguido sobre um pedaço da casca dourada e crocante. Que atire o primeiro tomate quem nunca foi seduzido pelo pão quentinho numa manhã de padaria. Poucos alimentos são tão simples, tão corriqueiros e, ao mesmo tempo, tão apetitosos. Como é que essa mistura banal de farinha, sal, óleo e fermento pode exercer tamanho poder sobre nossos sentidos?
O apetite é, antes de tudo, um instinto. Precisamos comer para sobreviver, assim como precisamos respirar, beber e dormir. É um instinto tão poderoso que pessoas esfomeadas não conseguem pensar em outra coisa senão em comida. Mas os seres humanos, ao longo de sua evolução, transformaram o ato de comer em algo muito mais significativo que a mera satisfação de uma necessidade. Comer é prazer. É uma das mais ricas experiências sensoriais que podemos ter. Comer é, também, um ato emocional. Traz conforto, tranqüilidade e, às vezes, culpa. Influencia nosso humor e disposição. Para alguns, chega a ser uma experiência espiritual.
Nossa sociedade se mobiliza em torno da comida. A cultura de cada país se define, umas mais que outras, por sua gastronomia. Quase não reparamos nisso, mas a produção, a distribuição e o preparo de alimentos são, há muito tempo, as principais atividades econômicas da humanidade. E nossa relação com a comida ainda comanda boa parte da atenção de governos, da mídia, da comunidade científica e de outras instituições.
O apetite e a maneira pela qual o satisfazemos são questões muito mais complexas do que se pode imaginar. Antes que você dê uma mordida num hot dog completo, ocorrem dezenas de transações comerciais enquanto centenas de fatores ambientais influenciam milhares de processos biológicos e psicológicos no seu corpo. Compreender como essas forças interagem e como são capazes de nos afetar pode ter um profundo impacto na qualidade e quantidade de vida que teremos. E, afinal, quanto mais vivermos, mais poderemos comer.
Mas as mudanças mais expressivas em nossa relação com a comida ocorreram ao longo dos últimos mil anos. A evolução tecnológica e científica, a urbanização, a industrialização e a automação foram tornando os alimentos cada vez mais variados e disponíveis. Aliás, a busca por mais e melhor comida foi o motor de muitos processos históricos. As grandes navegações do século 14, que levaram à descoberta das Américas pelos europeus, buscavam caminhos para as Índias, de onde vinham os temperos. “Durante o período moderno, o capitalismo mercantil se expandiu traficando as especiarias, e, mais tarde, o açúcar, do mundo colonial para a Europa”, escreveu o historiador Henrique Carneiro, no livro Comida e Sociedade. Também a migração forçada dos africanos para trabalharem como escravos foi resultado direto da crescente demanda européia por açúcar.
Os avanços dos últimos 200 anos e sua aplicação à alimentação foram essenciais para o desenvolvimento da civilização moderna. A conservação de alimentos em recipientes hermeticamente fechados, a pasteurização e a refrigeração aumentaram a vida útil dos alimentos, acabaram com a escassez e permitiram, entre outras coisas, o surgimento de grandes cidades. É possível dizer que a proliferação da nossa espécie nesse planeta se deve quase exclusivamente ao fato de termos dominado técnicas de produção e distribuição de alimentos.
James Neel, geneticista da Universidade de Michigan, Estados Unidos, foi o primeiro a lançar a hipótese que vem sendo comprovada por sucessivos estudos em genética e endocrinologia. Em 1966, ele postulou a existência de um “gene econômico” – um conjunto de fatores genéticos que predispõem o indivíduo a converter calorias em gordura e que diminuem a sensibilidade a inibidores naturais do apetite. Desde então e cada vez mais, a ciência vem confirmando que não somos de todo culpados por nossas gordurinhas. Somos vítimas de uma composição genética obsoleta, pouco adequada ao ambiente de abundância no qual vivemos. Há quem comemore essa absolvição comendo bolo de chocolate.
Antes de cortarmos o bolo, porém, vale lembrar que a mera disponibilidade de comida não é a única responsável pelo acúmulo de estoques de energia por nossos corpos. A questão é: o que nos leva a ingerir mais calorias do que gastamos? Ralph Norgren, cientista comportamental da Universidade da Pensilvânia, tem uma resposta. “Quando as pessoas comem suas comidas preferidas, o nível de dopamina e serotonina em seus cérebros aumenta e isso lhes dá uma sensação de prazer. O consumo de drogas como cocaína e heroína causa essa mesma reação”, afirma. Ou seja, alguns tipos de comida causam dependência.
Sarah Leibowitz, neurologista da Universidade Rockefeller, em Nova York, comprovou que a ingestão de gorduras aumenta nosso apetite, não só por gorduras, mas por carboidratos também. Outro estudo da Universidade da Pensilvânia, realizado em 2001, documentou nossa tendência a comer mais diante de porções maiores, independentemente da fome. Ou seja, a obsessão por comida é mesmo um mal de nossos tempos. E, pior, é improvável que a ciência desenvolva medicamentos eficientes para curar isso. Os mecanismos do apetite são tão básicos e complexos que levaremos décadas para decifrá-los e séculos para controlá-los.
Mas isso não quer dizer que estejamos todos fadados a conviver com a compulsão por comida. Em circunstâncias normais qualquer um de nós é capaz de resistir à tentação. Porém, há vários fatores que diminuem nossa resistência. Entre eles, tristeza, medo, tensão e preocupação. O estresse em todas suas formas nos causa desconforto, nos desequilibra e nos leva a tentar encontrar um novo equilíbrio por meio de algo que nos dê prazer. “Frustrações, tristezas e ansiedade acabam sendo compensados por consumo maior de alimentos do que o necessário”, diz a nutricionista Claudia Cezar, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Obesidade e Exercício da Universidade de São Paulo. Em 2001, nas semanas que sucederam os ataques terroristas em Nova York, o consumo de guloseimas aumentou 12% nos Estados Unidos. Comida alivia o estresse e vivemos numa sociedade em que tanto comida quanto estresse são abundantes.
Um jeito de contrabalançar a energia que consumimos é gastá-la. Podemos comer nosso bolo de chocolate, mas vamos ter que fazer meia hora de esteira depois. Acontece que a maioria de nós é dependente também das tecnologias que nos levam à inatividade. O carro, o elevador, o computador e a televisão são algumas das maravilhas tecnológicas que nos ajudam a levar a vida com um mínimo de esforço. E talvez seja por isso que esteja ocorrendo uma verdadeira epidemia de obesidade no mundo.
Epidemia. Você já deve ter ouvido falar dela, mas talvez não conheça sua gravidade e a velocidade com que se alastra. Em 1975, o Brasil tinha dois casos de subnutrição para cada caso de obesidade. Em 1996, a situação se inverteu: eram dois gordos para cada desnutrido. No mundo, são 1 bilhão de obesos. Ou seja, mais de 15% da população está muito acima do peso. Outros 35% estão acima do peso ideal embora não possam ser considerados obesos. Isso não seria tão grave se a obesidade não trouxesse consigo tantos problemas. Além de condições psicológicas como a depressão, ela está associada à incidência de diabetes, problemas cardíacos, hepáticos e até câncer.
Aparentemente, estamos diante de um paradoxo. Foi a crescente abundância de comida que levou a espécie humana a se multiplicar e a dominar o planeta inteiro. E essa mesma abundância, se continuar nos engordando, poderá acabar por nos destruir.
Os alimentos, hoje, são bens de consumo. Essa condição acelerou sua metamorfose. Somos bombardeados com mensagens sobre novos e deliciosos petiscos que não podemos deixar de experimentar (mensagens que, graças ao nosso passado de escassez, somos incapazes de ignorar). Isso ocorre porque as indústrias de alimentos têm, essencialmente, dois objetivos: fazer cada vez mais produtos e nos levar a consumir mais de cada um deles. Não são esses os objetivos de qualquer indústria? Nos mercados globalizados e competitivos de hoje, esse imperativo as incentiva a tomar decisões que pouco têm a ver com a saúde dos consumidores. E não há qualquer lei ou regulamentação governamental nesse sentido. Essas indústrias são incentivadas a se preocuparem apenas com a segurança alimentar, não com longevidade. Ou seja, elas se esforçam para evitar que seus produtos causem uma dor de barriga, mas não dão a mínima se o consumo constante causa diabetes. As empresas não fazem isso de propósito.
Estão apenas respondendo aos incentivos que nós mesmos lhes damos. E o que temos dito a elas, condicionados que somos por um passado de escassez, é que queremos comida mais gostosa, mais barata, mais conveniente. E só.
Os seres humanos, independentemente de sua cultura, têm preferência por alimentos doces, gordurosos ou salgados. E a indústria de alimentos, tentando nos dar o que queremos, tratou de desenvolver mais produtos com essas características. É assim porque compramos esses produtos. Compramos porque são gostosos, mesmo que não sejam saudáveis. E também porque, além de gostosos, são baratos. Acontece que, para torná-los baratos, as indústrias se valeram, em muitos casos, da troca de ingredientes naturais por manufaturados.
Assim, por meio de estudos em laboratório, foi possível baratear o custo de produção de algumas comidas mantendo-as ao gosto dos consumidores. Basta ler a lista de ingredientes de qualquer alimento industrializado para perceber que comemos muita coisa que não existe na natureza. O problema é que a maneira como esses ingredientes são processados em nossos corpos e o impacto que podem causar em nossa saúde no longo prazo não são inteiramente conhecidos.
A busca por comida barata e conveniente também é o que vem impulsionando o crescimento da indústria de fast food. Lanchonetes que servem sanduíches ou outros quitutes não se preocupam em oferecer refeições balanceadas e saudáveis. De novo, isso não é uma conseqüência da vontade delas, mas da nossa. Se queremos comer besteira, é isso que nos vão fornecer. E, para que tenhamos a impressão de que as refeições dessas redes são baratas, elas tratam de nos dar muita comida em troca de nosso dinheirinho. As porções cada vez maiores de batatas fritas, por exemplo, são fruto de uma simples equação econômica. Boa parte do custo de um restaurante vem do espaço que ele ocupa e dos empregados que ele tem. O custo dos ingredientes é marginal. Ou seja, a diferença entre o custo de uma batata média e o de uma batata gigante é tão pequena para o restaurante que faz todo sentido oferecer a maior porção possível, de forma a criar uma percepção de valor que faça o cliente voltar.
Por isso as porções vêm crescendo e, como já vimos, quando temos uma porção maior à nossa frente, nossa tendência é comer mais. Em 1960, uma porção típica de batatas fritas no McDonald’s tinha 200 calorias. Hoje tem 610. Assim, as empresas que nos fornecem alimentos pouco saudáveis vêm conseguindo nos levar a consumir cada vez mais de seus produtos. E, se nós não nos preocupamos com o impacto em nossa saúde de comer coisas menos naturais em quantidades maiores, isso é problema nosso. Não vai ser a rede de fast food que vai nos alertar disso, pode ter certeza.
Pesquisas abrangentes que levem em conta vários aspectos são difíceis de realizar e de financiar e têm menos chances de sair na mídia. É que qualquer repórter que se preze valoriza o furo acima de tudo. Prefere reportagens sobre um alimento milagroso àquelas que dão a receita tradicional para a saúde: dieta balanceada e exercício moderado. Prefere publicar o regime de um mês que a Claudia Raia fez a prescrever uma dieta rica e equilibrada para toda a vida. É por isso que o noticiário de saúde é tão ilógico: toda semana algo que fazia mal passa a fazer bem, e vice-versa, deixando o público cada vez mais confuso. São os repórteres furando uns aos outros, cada um olhando apenas um aspecto e ignorando o todo.
A culpa, de novo, não é do jornalista. É de cada um de nós. O repórter também está nos dando o que demandamos. E preferimos nos iludir com receitas milagrosas e ingredientes mágicos a nos disciplinarmos para adotar o tipo de dieta que sabemos ser a ideal. No fundo, o que queremos é ter o prazer de comer sem conseqüências. E isso, desculpe, é impossível.
Mas, se queremos nos iludir, a indústria de alimentos, como já vimos, está pronta a atender nossos desejos. Prova disso é a enxurrada de comida diet e light que inundou as prateleiras de supermercados ao longo dos últimos dez anos. Foi a categoria de alimentos que mais cresceu durante esse período. Acontece que no mundo dos produtos diet e light tudo é relativo ,e os governos não ajudam a tornar as coisas mais transparentes. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão responsável pela regulamentação do setor alimentício no Brasil, um produto é light quando tem 25% menos calorias que sua versão original ou quando tem 25% menos de algum nutriente específico, como gordura, açúcar ou sal. Para ser diet, o produto precisa apresentar ausência total de algum nutriente. Ou seja, o simples fato de ser diet ou light não significa que um produto não engorde, apenas que engorda menos que sua versão original.
Às vezes, nem isso. Por exemplo, quando fabricantes reduzem o teor de algum nutriente para atingir a classificação, mas compensam a perda de sabor com o aumento de outros, que engordam também. Assim, até o governo acaba contribuindo para nos confundir ou permitir que nós mesmos nos enganemos.
Querem que eu engorde
Os mecanismos que a naturezainstalou em nós que não nosdeixam perder peso
Há dezenas de hormônios responsáveis por regular nosso apetite. Originalmente, eles servem para não nos deixar morrer de fome. Mas acabam nos engordando.Qual sua função? - Estimular o apetite
Como funciona? - Os níveis de grelina aumentam gradualmente à medida que o estômago se esvazia e caem rapidamente após a refeição
Qual o problema? - Pesquisadores descobriram que o nível de grelina aumenta em pessoas que perderam peso por meio de dietas. Como conseqüência, a fome aumenta
Qual sua função? - Ajuda a evitar a sobrecarga do sistema digestivo
Como funciona? - Seus níveis aumentam quando a comida passa para o intestino delgado, o que diminui o apetite. É ela que dá a sensação de estar empanturrado
Qual o problema? - Ela pára de agir assim que o intestino está liberado, abandonando você à própria sorte para resistir às tentações
Qual sua função? - Evitar que ocorra sobrecarga no sistema digestivo
Como funciona? - Quanto mais cheio o intestino, maior o nível de PYY na corrente sanguínea. É por causa dele que você sente menos fome no dia seguinte a uma orgia gastronômica
Qual o problema? - Ele não regula seu peso ou sua saúde, só o funcionamento do sistema digestivo
Qual sua função? - Ajuda a regular o estoque de energia do corpo
Como funciona? - É produzida constantemente. Quando ocorre uma perda de gordura, o nível do hormônio no corpo cai e o apetite aumenta.
Qual o problema? - Pessoas gordas têm nível elevado de leptina no corpo e um aumento nesse nível não as faz emagrecer. Mas, quando perdem peso rapidamente, o corpo reage como se estivesse passando fome
Qual sua função? - Impedir o excesso de calorias
Como funciona? - Produzida quando há excesso de glicose no sangue, seus efeitos incluem a inibição do apetite e a aceleração do metabolismo
Qual o problema? - O cérebro é bem menos sensível à insulina que à leptina
Maquiagem light
Não acredite em tudo oque você lê no rótulo. Produtos"light" podem ser ilusões
Na busca do oásis do prazer sem culpa, muitos acabam iludidos por miragens. Exemplo disso são muitos dos alimentos “light”. Acredite: boa parte deles engorda. Por isso, é preciso ler os rótulos com atenção e não se deixar enganar por letras garrafais. Conheça alguns produtos que, embora estejam de acordo com a lei, apresentam benefícios questionáveis para o consumidor.Produto: Achocolatado Light
Benefício destacado no rótulo: “43% menos calorias”
Onde está a ilusão? Para chegar a essa redução calórica, o rótulo compara um copo de leite integral com 25 g de achocolatado normal contra 16 g de achocolatado light com leite desnatado. Assim fica fácil
Produto: Pão Integral Light
Benefício destacado no rótulo: “Light”
Onde está a ilusão? A fatia do pão light tem 25 g enquanto a do normal tem 32 g. Além disso, a classificação é alcançada pela redução de gordura, que representa só 5% das calorias do pão. Os carboidratos continuam praticamente os mesmos
Produto: Leite condensado e Maionese Light
Benefício destacado no rótulo: “Menos calorias”
Onde está a ilusão? Embora tragam redução calórica efetiva em relação a suas versões normais, esses produtos continuam tendo mais calorias que a mesma quantidade de picanha ou de sorvete
Produto: Óleos Vegetais
Benefício destacado no rótulo: “Sem colesterol”
Onde está a ilusão? Nenhum óleo vegetal tem colesterol – só gordura animal tem esse componente. Colocar isso no rótulo é como escrever “não contém material radioativo” num sabonete
Para saber mais
Comida e Sociedade, Henrique Carneiro, Campus, 2003
Food Politics, Marion Nestle, University of California Press, EUA, 2002
Fat Land, Greg Critser, Penguin Books, Reino Unido, 2003
www.iotf.org, Força-Tarefa Internacional da Obesidade (em inglês)
Encolhi o gordinho: ciência descobre ligação da obesidade com genética
O que a ciência está fazendo para tentar emagrecer a humanidade sem muito esforço.
por Lúcia Helena de Oliveira, Chris Delboni,
Depois do casal Mickey Mouse e Minie, criado por Walt Disney, a dupla de camundongos mais famosa no planeta surgiu há quase três meses. O par gerado pela ciência deixou muito gorducho cheio de esperança. Não é para menos: o bicho esbelto já foi balofo como seu companheiro. Pesquisadores americanos descobriram a causa de suas banhas — falta de leptina no sangue — e corrigiram o problema. Se for obtido o mesmo sucesso com seres humanos, muitos gordos sairão ganhando. Ganhando leveza. Para eles, há também outras novidades da pesada, como uma droga que faz qualquer comida engordar menos.Por Lúcia Helena de Oliveira, com Chris Delboni, de Washington
Cair de boca numa gigantesca taça de sorvete com calda escorrendo por todos os lados sem medo de engordar é uma doce ilusão que os cientistas procuram tornar realidade. A humanidade, afinal, está cada vez mais rechonchuda. Nos Estados Unidos, por exemplo, a incidência de obesidade aumentou de 25% para 33% nos últimos dez anos. “Um quarto dos habitantes das grandes cidades brasileiras sofre do problema também”, conta o endocrinologista Alfredo Halpern, professor da Universidade de São Paulo. Combater o excesso de peso é importante, pois ele tem estreita relação com doenças graves, como as do coração. Mas, por trás da investigação de métodos de emagrecimento, há igualmente a vontade de engordar o bolso.
Em tratamentos contra os quilos extras, só os americanos gastam cerca de 30 bilhões de dólares por ano. A indústria farmacêutica conseqüentemente investe nessa área e nunca suas pesquisas renderam tanto como nos últimos meses. Em julho passado, a equipe do biólogo americano Jeffrey Friedman, da Universidade Rockefeller, em Nova York, concluiu que alguns indivíduos vivem fora de forma porque são gulosos por natureza. Eles teriam um defeito no gene Ob (nome derivado de obesidade). “Por isso, não produzem a leptina, uma proteína que regula o apetite. Sem ela, estão sempre famintos”, explica Friedman, em entrevista à SUPER. “Ao injetar a substância em ratos obesos, eles perderam 30% do peso em quinze dias.”
Se tiver o mesmo papel em seres humanos, a leptina poderá ser um excelente remédio para aquele típico assaltante de geladeira. Mas será inútil para os esforçados gordinhos que moderam na dieta e mesmo assim não vêem a cintura afinar. Para eles, a solução poderá vir de outro gene recém-identificado, o gene do receptor beta-3.
O material genético escondido no núcleo das células adiposas — aquelas que estocam a gordura no corpo — é dos fatores que mais pesam no emagracimento. No ser humano, cerca de trinta genes são responsáveis pela tendência a engordar. O endereço de todos eles no cromossomo era desconhecido até agosto passado, quando foi comprovada a culpa do gene do beta-3. “É a primeira vez que se identifica um dos causadores genéticos da obesidade no homem”, disse à SUPER o pesquisador Alan Shuldiner, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, um dos responsáveis pela descoberta.
Shuldiner investigava o beta-3 desde 1989, quando se constatou uma mutação desse gene nos índios da tribo Pima, habitantes do Arizona, nos Estados Unidos. “Metade dos Pima é obesa”, conta Shuldiner. A mesma mutação aparecia em cerca de 12% dos americanos brancos e 25% dos negros acima do peso. Exames médicos indicam uma característica comum entre Pima, brancos e negros gordos: seu corpo faz uma economia tremenda de energia no conjunto de tarefas vitais. “Mesmo moderando a quantidade de comida, eles engordam, porque gastam poucas calorias”, diz Shuldiner. “Assim, têm em média 14 quilos a mais do que indivíduos com a mesma altura e idade, mas que não trazem alteração genética.”
Segundo o pesquisador, no máximo em cinco anos deverão aparecer drogas que compensem o mau funcionamento desse gene. “O estudo, no entanto, pode ter uma aplicação imediata, viabilizando testes genéticos”, diz. “Desse modo, será possível saber se um recém-nascido terá uma enorme tendência à obesidade. E o problema, então, poderá ser controlado com dietas especiais desde os primeiros meses de idade.”
Shuldiner faz parte da corrente de pesquisadores que apostam na sobrevivência dos regimes e dos exercícios para manter a silhueta esguia. “Não existe nem existirá pílula mágica capaz de emagrecer dispensando mudanças de hábito”, afirma, para desapontamento de quem, na briga contra os ponteiros da balança, sonha com poções milagrosas. No entanto, pensar em dietas menos rigorosas, sem tantas restrições, não é querer demais. No Hospital das Clínicas em São Paulo, 120 voluntários obesos (com peso 20% acima do normal) experimentaram um remédio revolucionário, desenvolvido pelo laboratório suíço Hoffman-La Roche. Trata-se do Orlistat, droga que vem sendo testada em 4 000 pacientes da Europa, Estados Unidos e Brasil. “Quem tomou o medicamento absorveu 30% menos gordura nas refeições”, conta, animado, o professor Alfredo Halpern, que coordenou os testes brasileiros.
Para quem fizer um bom controle da alimentação, a nova droga poderá ser uma varinha mágica, capaz de tornar uma feijoada equivalente a um bom filé com salada. A Roche, no entanto, não revela a data de lançamento do produto. Ela também está patrocinando, junto com mais duas empresas, a pesquisa sobre a leptina, a substância que o cientista americano Jeffrey Friedman usou para emagrecer ratos.
Há 45 anos, roedores avantajados chamaram a atenção da comunidade científica. Na época, predominava a idéia de que as gordurinhas acumuladas no corpo eram sintomas de carências psicológicas — um tremendo engano, até hoje não de todo apagado. Eis o que se descobre: mesmo sem ter complexo de Édipo nem amargar dor-de-cotovelo, camundongos podiam ser obesos. Chamados de camundongos Ob, eles tornaram-se a prova viva de que há algo de biológico na obesidade.
Em meados dos anos 60, Douglas Coleman, pesquisador do laboratório Jackson, nos Estados Unidos, fez uma experiência criativa. Numa cirurgia, ele ligou certos vasos sangüíneos de um roedor obeso com os de um outro normal, deixando-os feito siameses. Logo o rato balofo começou a perder peso. “Desconfiou-se que havia alguma partícula no sangue do magro responsável por sua elegância”, conta Friedman.
Em 1987, ele se interessou pelo trabalho de Coleman e passou a caçar o gene defeituoso dos ratos gordos. “O material genético desse bicho contém 3 bilhões de unidades e só uma delas deveria apresentar o defeito”, explica. Friedman achou o gene Ob no ano passado e, há três meses, conseguiu isolar a leptina, a proteína do emagrecimento que esse gene comanda. Resta saber se há um gene Ob no homem, onde ele fica e, principalmente, se a leptina pode virar remédio.
Nos últimos cinco anos, a Medicina definiu a obesidade como sendo uma doença crônica. “Foi um avanço importante”, comemora o professor Halpern, da USP. “Antes, o paciente fazia tratamento e, em seguida, engordava. O sobe-e-desce do peso era frustrante e extremamente prejudicial à saúde.” Agora, um obeso é encarado como um diabético, que precisa controlar o seu problema para o resto da vida. Isso não significa apenas fechar a boca diante de um festival de guloseimas. Significa ter que engolir remédios. E há um tremendo arsenal deles.
No passado, remédio para emagrecer ou manter o peso era o famoso moderador de apetite. Atualmente, sabe-se que ele nem sempre funciona. A fome pode driblar esse tipo de droga. É o que acontece quando há insuficiência de serotonina, uma das principais mensageiras das células cerebrais, os neurônios. Ninguém percebe essa dificuldade de comunicação porque o cérebro, esperto, dispara a sensação de fome antes de qualquer confusão. O objetivo é, por meio da comida, extrair a matéria-prima para o corpo fabricar mais moléculas de sua preciosa serotonina. Já surgiram exames capazes de dosar essa substância no organismo — e, uma vez diagnosticada a falta, o ex-gordo tem de tomar serotonina diariamente para se manter na linha.
Em agosto passado, a Hospital Littlemore, em Oxford, na Inglaterra, anunciou outra descoberta importante a respeito da mesma substância. Os pesquisadores submeteram 120 mulheres a uma dieta de 600 calorias por dia durante uma semana; outras duzentas gorduchas puderam saborear 1 200 calorias por dia. Passados os sete dias, claro, o primeiro grupo havia emagrecido muito mais — em compensação, suas participantes foram vitimadas por uma fome incontrolável. Os pesquisadores concluíram que o cérebro não suporta uma medida tão rigorosa e parte para o contra-ataque — mais uma vez, em nome da serotonina.
Estudos como esse também servem para reafirmar o que, no fundo, todo mundo sabe, mas, no desespero de entrar em um manequim pequeno, prefere esquecer: “Regimes extremamente rígidos — ou porque limitam a variedade de alimentos ou porque derrubam drasticamente a quantidade de calorias — estão fadados ao fracasso”, alerta o endocrinologista Antonio Roberto Chacra, professor da Universidade Federal de São Paulo. “Outro problema grave é o uso de medicamentos por quem só está um pouco acima do peso.” De fato, sete em cada dez pessoas que fazem regime para emagrecer são, do ponto de vista da Medicina, magras.
Para saber mais:
A batalha da balança
(SUPER número 5, ano 3)
Mania de magreza
(SUPER número 12, ano 6)
O mensageiro da fome no sangue
O que se sabe sobre a ação da leptina, a proteína que emagreceu ratos.
1 - Supõe-se que exista dentro das células de gordura de certos obesos um gene defeituoso, como o gene Ob dos ratos.
2 - Em indivíduos magros, esse gene é perfeito e comanda a liberação da leptina, uma proteína secretada sempre que se engorda. Ao alcançar o cérebro, mais especificamente a região do hipotálamo, ela diminui a sensação de fome. Com isso, a tendência é perder os quilos recém-adquiridos.
3 - Nos gordos, porém, a ausência da substância, causada pelo defeito genético, não só aumenta o apetite como induz o corpo a gastar menos calorias, porque o cérebro se engana e interpreta a falta de leptina como
sinal de magreza.
4 - Os cientistas pretendem injetar genes perfeitos em bactérias, para que os microorganismos passem a ser verdadeiras usinas de leptina.
5 - A substância extraída desses micróbios poderia ser injetada em seres humanos como um remédio que, no cérebro, despertaria a sensação de desdém pela comida.
Quem é gordo, quem é magro
Há oito anos, pesquisadores do Instituto de Psiquiatria de Londres, na Inglaterra, vêm analisando a atitude de homens, mulheres e crianças em relação ao seu peso. “No início queríamos apenas entender melhor o comportamento dos obesos por meio de entrevistas”, conta Elisabeth Bishop, participante da equipe de investigadores ingleses. “Mas, para nosso espanto, ao solicitar voluntários para o estudo, recebemos um número enorme de candidatos que não eram nem sequer gordinhos, mas tinham mania de magreza.” Obesos, gorduchos e magros são adjetivos que, muitas vezes, mudam de significado conforme o estado de espírito de quem está diante do espelho. Do ponto de vista médico, porém, o conceito é exato como um cálculo matemático. Quer ver? Divida o seu peso pelo quadrado da sua altura. Por exemplo, alguém com 70 quilos e 1,75 de altura deve dividir 70 por 3,065 (1,75 x 1,75). O resultado, no caso, é 22,8 quilos por metro quadrado de corpo. Ou seja, esse indivíduo é magro como todos que obtêm pontuação até 25. Entre 25 e 30 é gordo. Acima de 30, obeso. “É preciso prestar atenção nas crianças”, alerta a nutricionista paulista Regina Fisbergh. Segundo ela, hoje no Brasil três em cada dez garotinhos entre zero e dez anos de idade são obesos.
http://super.abril.com.br/ciencia/encolhi-gordinho-ciencia-descobre-ligacao-obesidade-genetica-441125.shtml
Resista às tentações
Por que é tão difícil resistir às tentações à mesa?
Porque quando a gente toma uma decisão, como a de começar a fazer uma dieta, as frustrações cotidianas aparecem para derrotar nossas intenções. Usar aquele vestido preto, justo e decotado implica em fazer renúncias diárias. No momento em que você toma uma decisão convicta, esquece dos tropeços que podem ocorrer. Para mudar o comportamento, é preciso descobrir que fome é essa, o que seu corpo está pedindo tanto. Antes de expulsar a gordinha dentro de você, converse com ela. Compreenda quem é a pessoa que está se enterrando atrás dos pratos de comida. Às vezes, as respostas honestas são o primeiro passo para uma resistência serena.
http://www.goodlight.com.br/Sinta/artigos/resista_as_tentacoes.aspx
Saúde sem esforço
Hipertensão, colesterol alto, doenças cardíacas,problemas respiratórios... Os perigos que rondam o organismo humano não têm fim. O bom é que, para se manter saudável, basta fazer o básico e se prevenir.
Se alguém lhe pedisse para listar quatro ou cinco hábitos simples para conservar a boa saúde, provavelmente você teria na ponta da língua uma receita. Seria mais ou menos assim: realizar atividades físicas, manter um peso adequado, evitar o estresse, não fumar e não abusar do álcool. Poderíamos acrescentar outras medidas, como fazer visitas periódicas ao médico, vacinar-se mesmo na fase adulta e cultivar bons relacionamentos afetivos com a família e os amigos. Está aí um conjunto de hábitos saudáveis amplamente conhecidos de todos nós. O ponto é que muitas vezes deixamos esse receituário básico de lado. É como se esquecêssemos de que nossa condição de saúde – daqui a cinco, dez, 20 ou 30 anos – está em grande parte em nossas próprias mãos. Os médicos não cansam de repetir: podemos nós mesmos evitar muitos males, dores, problemas crônicos e até enfermidades fatais.Uma rápida olhada em algumas estatísticas pode ajudar a convencer de que é você quem faz sua saúde: no Brasil há 12 milhões de pessoas hipertensas, mais de 35 milhões têm colesterol alto e 7,5 milhões sofrem de doença pulmonar relacionada ao tabagismo. Claro que as dificuldades e as restrições impostas pela rotina atrapalham muitas vezes a adoção de hábitos saudáveis. Mas o fato é que uma boa parcela do que acontece com nossa saúde depende de nós. Parte importante da população, por exemplo, só recorre ao médico quando sente uma dor persistente ou quando suspeita que possa estar sofrendo de algo grave. Algumas vezes, os sintomas são apenas a conseqüência de um probleminha passageiro qualquer. Outras vezes, são os sinais de um processo avançado e irreversível. É a velha história: com uma prevenção correta, o médico teria detectado a doença precocemente e, em muitos casos, ela nem sequer teria aparecido. Essa é a vantagem da medicina preventiva.
Além disso, os exames de rotina permitem identificar precocemente desde problemas de visão, cardíacos e metabólicos até câncer e Alzheimer. A mamografia pode adiantar em dois ou três anos a detecção do câncer de mama e reduzir a mortalidade em até 40%. A visita periódica ao ginecologista e o estudo citológico de secreção de colo de útero e vaginal (papanicolau) reduziram em até 60% a incidência de câncer do colo do útero. Os exames de toque retal e a ecografia transretal estão permitindo o diagnóstico do câncer de próstata em seus estágios iniciais. Há também estudos baseados no DNA que possibilitam o diagnóstico prematuro de um número cada vez maior de enfermidades genéticas.
De sua parte, a pesquisa epidemiológica moderna já relacionou uma ampla variedade de hábitos pessoais com o início de diversas doenças. Os exemplos são muitos: o abuso dos banhos de sol como causa do melanoma maligno, o consumo excessivo de álcool como causa de tumores respiratórios e digestivos, cirrose hepática, lesões cerebrais e acidentes de trânsito. O tabagismo é o principal desencadeador do câncer de pulmão, de enfermidades respiratórias crônicas e de cardiopatias coronárias. Uma dieta rica em gorduras saturadas e pobre em frutas e verduras é um dos fatores que influenciam no aparecimento de problemas cardiovasculares e de câncer no intestino, de mama e de pâncreas. Ninguém questiona que uma alimentação excessivamente calórica, aliada ao sedentarismo, se traduz em obesidade, que, por sua vez, é um fator de risco para o surgimento de hipertensão, diabetes, câncer uterino e problemas de articulação. Todos sabem também que o sexo sem proteção é a principal causa das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como aids, sífilis e hepatite C.
O tabagismo talvez seja o exemplo mais paradigmático da prevenção: apesar das campanhas de saúde pública, nada menos que um terço da população adulta do mundo (ou seja, 1,3 bilhão de pessoas) tem o hábito de fumar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, segundo levantamento recente do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer, 19% da população é fumante. O cigarro está associado a mais de 50 doenças, como câncer de pulmão, de boca e cardiopatias, e mata por ano 4 milhões de pessoas no mundo – o equivalente à população de Salvador e Porto Alegre somada.
Em resumo: corrigindo alguns dos maus hábitos e assimilando as recomendações de saúde, é possível melhorarmos, sim, muito nossa qualidade de vida e chegarmos com boa saúde pelo menos aos 71,5 anos, que é a esperança de vida ao nascer dos brasileiros. Com esse objetivo, convidamos você a fazer um auto-exame. Nas próximas páginas, descubra como anda sua saúde e o que pode ser feito para viver mais e melhor. Para isso, você também deverá contar com a ajuda de seu médico de confiança.
Adaptação Marcos Moura e Souza
Quantos anos você vai viver?
Este teste foi preparado porespecialistas da Guidance Financial Consultants, do Texas, EUA, e permite estimar sua expectativa de vida
Geneticamente, estamos programados para viver 120 anos, mas a interação dos genes com o meio em que vivemos e com nossos hábitos pode nos tirar alguns anos de vida. Para calcular sua expectativa de vida, comece com 76 anos e vá somando ou subtraindo conforme a resposta que escolher nas 20 frases a seguir.1. Tem entre 30 e 50 anos [+2]. Tem entre 51 e 70 [+4]
2. É homem [-3] ou mulher [+4]
3. Você vive em uma área urbana com mais de 1 milhão de habitantes [-2] ou em uma pequena cidade [+2]
4. Um de seus avós viveu até os 85 anos [+2] ou dois avós viveram até 80 anos [+6]
5. Um de seus pais morreu de doença cardíaca ou de um infarto cerebral antes dos 50 anos [-4]
6. Algum de seus irmãos tem câncer, sofre de doença cardíaca ou de diabete desde a infância [-3]
7. Você ganha cerca de um salário mínimo por mês [-2]
8. Você estudou até o primário [+1] ou fez o ensino médio e superior [+2]
9. Você já completou 65 anos ou mais e continua em atividade [+3]
10. Vive com sua companheira ou companheiro ou com um amigo [+5]
11. Vive sozinho [-3] ou já viveu sozinho durante muito tempo depois de ter completado 25 anos [-3]
12. Você trabalha em um escritório [-3] ou exerce uma atividade que requer grandes esforços físicos [+3]
13. Faz exercício físico intenso durante 30 minutos cinco vezes [+4] ou duas ou três vezes por semana [+2]
14. Você costuma dormir mais de dez horas por dia [-4]
15. Você se considera uma pessoa tranqüila [+3] ou estressada [-3], feliz [+1] ou infeliz [-2]
16. Você recebeu alguma multa nos últimos anos por excesso de velocidade [-1]
17. Consome álcool uma ou mais vezes por dia [-1]
18. Você fuma mais de dois maços de cigarro por dia [-8], um ou dois [-6] ou meio maço ou menos que isso [-3]
19. Seu sobrepeso é de 5 a 13 kg [-2], de 14 a 49 kg [-4] ou de 50 kg ou mais [-8]
20. Se você tem 40 anos, passou recentemente por uma consulta médica e, se mulher, faz um check-up ginecológico anual [+2]
Teste
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Muitas doenças têm relação com o que você faz. As perguntas a seguir permitem verificar se seus hábitos são saudáveis ou não – e se isso aumenta ou diminui sua expectativa de vida.Não [+10]
Não [+1]
Não [0]
Não [0]
Não [+3]
Não [-4]
Não [-3]
Não [-2]
Não [0]
Não [0]
Não [0]
Não [-1]
Não [-2]
Não [-7]
Não [0]
Não [-4]
Não [-4]
Não [+2]
B [+7]
Não [+3]
Não [+3]
Não [0]
Não [0]
Não [+6]
Não [+5]
Não [+3]
Não [+1]
Não [+2]
Não [+2]
As perguntas deste questionário foram elaboradas por uma equipe médica e revisadas pelo coordenador do Departamento de Clínica Médica do Hospital das Clínicas de são paulo, Milton de Arruda, pelas nutricionistas Cláudia Teixeira e Vanderli Marchiori e pela médica especializada em medicina preventiva Ana Cláudia Camargo Gonçalves Ferreira.
...E calcule seu capital de saúde
Cada resposta às perguntas da página anterior tem um valor estimado em unidades de saúde. Some todos os pontos (positivos e negativos) e leia o texto abaixo, em que você vai receber pontos extras ou penalizações. Some esses pontos aos da primeira contagem e divida o resultado por 5. As mulheres devem adicionar 87 pontos à cifra. Os homens devem acrescentar 84. A pontuação que você obtiver é o seu capital de saúde, expresso em anos de vida. Se o total ultrapassar sua idade atual, significa que você tem uma constituição fora de série.2. Os poluentes atmosféricos são um dos fatores que levam ao aparecimento de numerosos tipos de câncer e ao agravamento de certas doenças.
3. A ingestão excessiva de carnes vermelhas e embutidos é prejudicial ao coração e aumenta o risco do surgimento de câncer de cólon. Se a fonte principal de proteínas em sua dieta vem de carnes brancas – frango e outras aves – ou da associação de cereais e leguminosas, some 3 pontos.
4. O cozimento em temperaturas muito altas gera moléculas tóxicas ou cancerígenas. Se você costuma cozinhar no vapor (95º C), ganha 3 pontos.
5. Os derivados de leite de vaca são muito ricos em gorduras saturadas, que aumentam o risco de câncer, obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Os alimentos industrializados contêm gordura animal em excesso. Se você consome queijos de leite de ovelha e cabra, bem como azeite cru, adicione 3 pontos.
6. O consumo de frutas, legumes e cereais integrais só traz benefícios.
7. O atum, a sardinha e outros peixes gordurosos são ricos em ácidos graxos ômega-3, que têm o comprovado efeito cardioprotetor.
8. O azeite de oliva é rico em ácidos oléico e linoléico, mas não é tão rico em outros ácidos também saudáveis, o ômega-3 e o ômega-6, presentes no óleo de girassol e em peixes como sardinha e atum. O ideal é combiná-los.
9. O consumo de um ou dois copos de vinho por dia é recomendado, mas o abuso do álcool aumenta o risco de câncer de mama e cirrose.
10. A cafeína é um bom diurético, mas em excesso favorece o estresse e a insônia. O aspartame dos refrigerantes pode provocar dores de cabeça, insônia e alteração de humor.
11. Alguns estudos apontam que o chá verde diminui o risco do surgimento de diversos tipos de câncer, do mal de Parkinson, do infarto, da artrite reumatóide, de alergias e de infecções.
12. Essas plantas aceleram o processo de digestão, promovem a desintoxicação e são excelentes antioxidantes.
13. Beber água é extremamente benéfico à saúde. Acredita-se que isso amenize os problemas de memória.
14. O excesso de peso e a obesidade estão relacionados com uma longa lista de patologias: diabete, hipertensão, cardiopatias, artrose, câncer...
15. A atividade física regular melhora o sono, combate a osteoporose, ajuda a manter o peso e potencializa o funcionamento de todos os órgãos.
16. Sexo sem proteção e promiscuidade aumentam o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo aids e hepatite C.
17. Os relacionamentos afetivos, principalmente com família e amigos, desempenham um papel protetor contra o estresse social e psicológico.
18. Os riscos de câncer intestinal diminuem se o alimento não permanecer no organismo por mais de 20 horas.
19. Urinar com freqüência durante a noite pode ser um sinal de diabetes. A urina escura pode indicar que você não está bebendo água em quantidade suficiente. A urina transparente e da cor de chá forte é característica de hepatite viral aguda ou de cirrose. E um cheiro anormal pode indicar insuficiência hepática ou fístula retal.
20. O estresse e a depressão fazem com que nossas defesas baixem a guarda. Pense positivo.
21. O excesso de raios ultravioleta causa câncer de pele e aumenta o risco do surgimento de catarata e degeneração muscular.
22. Somente um sono de qualidade é realmente renovador para o organismo. E mais: evite a automedicação.
23. A diabete tem um forte componente hereditário. A detecção precoce é fundamental para conter as complicações diabéticas.
24 e 25. Um bom patrimônio genético é igualmente determinante. Se seus pais ou irmãos gozam de boa saúde, sua expectativa de vida aumenta consideravelmente.
26 e 27. O câncer é mais rebelde entre os jovens. A cura e a sobrevida a longo prazo de crianças tratadas por câncer nos Estados Unidos oscila de 50 a 90% dos casos, de maneira geral.
28, 29 e 30. O tratamento desses problemas crônicos tem um impacto negativo sério na qualidade de vida. http://super.abril.com.br/saude/saude-esforco-446368.shtml
Quer resistir a uma tentação? Ser racional nem sempre funciona
Ana Carolina Prado
Segundo os pesquisadores, as pessoas tendem a pensar que a racionalidade é oposta aos desejos proibidos e pode vencê-lo se nos esforçarmos. Mas eles descobriram que nem sempre é assim – e que o seu pensamento pode jogar no time da tentação em algumas situações.
O resultado pode ser surpreendente, mas a literatura científica envolvendo tentações e prazeres também é bastante contraditória. Um lado defende que a presença da tentação distorce a cognição de modo a provocar o comportamento impulsivo. Outro diz que as tentações na verdade fortalecem os processos que promovem o autocontrole. Loran Nordgren e Eileen Chou, líderes da pesquisa, resolveram colocar essas duas vertentes à prova. Segundo Loran Nordgren, o grande problema é que os dois lados deixam de fora um fator importantíssimo: a interação entre a tentação e o chamado “estado visceral” (fome, sede, desejo sexual, saciedade e desejo), que determina se os processos cognitivos serão orientados em relação ao comportamento impulsivo ou ao autocontrole.
Os experimentos testaram, então, diferentes mecanismos cognitivos, incluindo a atenção e a “avaliação motivada” (o quanto nos preocupamos com algo, dependendo das recompensas) para ver como eles foram afetados pela tentação. Para um dos testes, foram recrutados 49 estudantes do sexo masculino que tinham namoradas. Parte deles tiveram que assistir a um filme erótico que os deixou em um estado que os cientistas consideraram excitado ou “quente”; os outros assistiram à gravação de um desfile de moda, criando um estado “frio”. Os pesquisadores, em seguida, lhes mostraram imagens de mulheres atraentes e observaram por quanto tempo eles olharam para elas. O procedimento foi repetido uma semana depois, mas com uma diferença: desta vez, foi dito aos voluntários que as mulheres das fotos eram estudantes solteiras e disponíveis – ou seja, eram “tentações”. Resultado: os homens em estado excitado olhavam as fotos por mais tempo. Neste caso, mais tentação promoveu menos fidelidade quando somado a uma situação em que já estavam num estado mental mais “quente”. Já os homens em estado “frio” fizeram o oposto: olharam por menos tempo para elas.
Em um segundo teste, 53 fumantes foram instruídos a fumar imediatamente antes do experimento, enquanto o resto se absteve por três horas. Em seguida, ambos os grupos – os saciados e os não saciados – avaliaram o prazer de fumar, mostrando o quanto eles valorizavam os cigarros. Numa segunda fase, repetiram-se as mesmas condições e as mesmas perguntas, mas todos tiveram que fazer uma escolha: esperar 40 minutos para fumar e ganhar 3 euros ou fumar imediatamente e não ganhar nada. Resultado: os fumantes saciados adiaram a gratificação mais facilmente – e também deram uma avaliação inferior ao prazer de fumar em relação à primeira vez, enquanto aqueles que estavam com vontade de fumar o classificaram como superior a antes. O grupo “frio”, ou saciado, se deu razões para esperar; o “quente”, para se entregar.
Razão x paixão
Segundo os pesquisadores, as pessoas têm a tendência de pensar que a razão sempre serve a interesses de longo prazo e a paixão serve a gratificações imediatas – algo como o anjinho em um ombro e o diabinho no outro. Então, quando você está com fome ou com certas vontades (no estado “quente”, digamos), você acaba ignorando o anjo e sucumbindo ao diabinho.
O estudo sugere, porém, que não é sempre assim: “Necessidade ou desejo corrompem os processos cognitivos que ajudam você a interromper esse comportamento”, exmplica Nordgren. “Quando você está desejando algo e sendo tentado, a sua racionalização sucumbe. Assim, em um estado quente, você tem o diabinho em ambos os ombros.” Então, meu chapa, nem adianta muito contar com o seu cérebro para ajudá-lo a tomar um decisão. O ideal é fugir da situação, mesmo.
Do MedicalXpress
P.S.: Nessa pegada de tentações e desejo, você já leu a SUPER de novembro que acabou de chegar? A matéria de capa traz esse tema e ainda dá umas dicas de como desenvolver o autocontrole.
Tentação - Por que resistir é tão difícil
A ciência já sabe que o autocontrole é uma das atitudes mais importantes na vida. Veja como cultivá-lo.
Obesidade causa danos ao cérebro
Estudo revela que comer demais provoca inflamação cerebral - e pode deixar a pessoa neurologicamente incapaz de controlar seu apetite
por Texto Salvador Nogueira e Bruno Garattoni
Todo mundo conhece os riscos trazidos pela obesidade - diabetes, doenças cardiovasculares, menor expectativa de vida. Mas uma nova descoberta está surpreendendo a comunidade científica: a gordura também causa danos ao cérebro. Pesquisadores da Universidade de Nova York estudaram o cérebro de 63 pessoas - 44 delas tinham sobrepeso ou obesidade e as demais eram magras. A experiência constatou que, nos indivíduos obesos ou acima do peso, o cérebro apresentava duas alterações importantes: tinha níveis mais altos de fibrinogênio, uma proteína que causa inflamação, e menor córtex orbitofrontal - região cerebral que coordena a tomada de decisões. Os cientistas ainda não sabem explicar exatamente como esse processo se desenrola. Mas apostam no seguinte: obesidade gera fibrinogênio, que gera inflamação, que gera danos ao córtex. E tudo isso gera consequências permanentes - e terríveis. "Essa inflamação, ao afetar a integridade do córtex orbitofrontal, pode reduzir o controle da pessoa sobre seus hábitos alimentares", afirma o estudo, coordenado pelo psiquiatra Antonio Convit. Ou seja: indivíduos acima do peso poderiam se tornar neurologicamente incapazes de comer menos. Escravos do próprio apetite.E com dificuldade para se lembrar das coisas. Uma pesquisa recém-publicada nos EUA constatou que a obesidade afeta a capacidade de memorização. A diferença é que, nesse caso, a sequela não é permanente (perder peso reverte o efeito).
http://super.abril.com.br/alimentacao/obesidade-causa-danos-ao-cerebro-628823.shtml
Fim da obesidade
Biólogos procuram a molécula mágica que permitirá que as pessoas comam à vontade sem engordar
por Texto Reinaldo José Lopes
"Problema com obesidade: um dia você vai ter o seu" poderia ser um ótimo slogan para as campa-nhas de saúde pública do futuro. Não que isso fosse adiantar muito, claro. Embora muita gente ainda sofra com a falta de comida, o fato é que a oferta excessiva de calorias é um desafio muito mais sério, e vai matar cada vez mais gente ao longo deste século. Recomendar alimentação mais saudável e vida menos sedentária não está resolvendo o problema. O jeito talvez seja intervir nos mecanismos básicos que controlam o armazenamento de energia no corpo.Vencer a obesidade pelos métodos convencionais é especialmente complicado porque estamos brigando com milhões de anos de evolução. Desde tempos imemoriais até um ou dois séculos atrás, os seres humanos e seus antepassados viviam debaixo da ameaça da escassez. A regra era comer o máximo possível, já que ninguém sabia quando uma refeição farta estaria à disposição novamente. Com a quantidade absurda de gorduras, proteínas e carboidratos nas prateleiras dos supermercados de hoje, o perigo de morrer de fome foi para o espaço, mas nosso organismo não teve tempo de "desaprender" sua mania de armazenar o máximo possível de calorias. Resultado: seja bem-vindo ao planeta dos fofinhos. A necessidade de comer demais está tão encravada no DNA, que, para muitas pessoas, nenhum tipo de informação sobre dietas, exercícios e o perigo do diabetes e das doenças cardíacas é capaz de suprimir o desejo inconsciente por comida gorda.
O melhor dos dois mundos
Para esses comilões incorrigíveis, o jeito é procurar estratégias de emagrecimento que não dependam da força de vontade do paciente. Muitos medicamentos disponíveis no mercado já fazem isso, moderando o apetite da pessoa, mas eles geralmente levam a uma série de efeitos colaterais comportamentais e até psiquiátricos, como ansiedade e irritação. Para contornar isso, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Scripps, na Califórnia, estão começando a testar em animais o que, para todos os efeitos, seria uma vacina contra a obesidade. O alvo deles é a grelina, um hormônio estimulador do apetite. A ideia é "grudar" a substância a um pedaço de proteína de bactéria, de forma que o organismo reconheça o conjunto como um corpo estranho e desenvolva anticorpos contra ele, diminuindo a vontade de comer do gordinho em questão. A vantagem é que a vacina provavelmente teria efeito rapidamente reversível.
Mas o que os pesquisadores realmente adora-riam encontrar é alguma substância que permita a ingestão de calorias sem muito controle e, ao mesmo tempo, impeça que o excesso de alimentação se transforme em acúmulo de gordura. Esse tipo de estratégia imitaria, de certa maneira, o organismo de pessoas ou animais com metabolismo rápido, que não têm problema na hora de perder peso.
Candidatos a essa função não faltam. A equipe de Joseph Besharse, da Universidade de Wisconsin (EUA), está estudando o Nocturnin, um gene ligado tanto à alimentação quanto ao relógio biológico de mamíferos. Camundongos cuja versão do Nocturnin foi desligada continuaram fininhos mesmo após uma dieta altamente calórica. O mesmo acontece com roedores sem o gene MGAT2, que ajuda a assimilar a gordura da dieta, diz Chi-Liang Eric Yen, da Universidade da Califórnia em São Francisco. Resta saber quai serão os efeitos de longo prazo desse tipo de abordagem em seres humanos.
http://super.abril.com.br/ciencia/fim-obesidade-619274.shtml
Como nos tornamos gordos?
Para a jornalista inglesa Felicity Lawrence, a indústria da alimentação transformou tanto a nossa comida que mal sabemos o que estamos ingerindo
por Eduardo Szklarz
A jornalista inglesa Felicity Lawrence percebeu que havia algo errado com seu gato. O bichano não parava de engordar. Ela resolveu saber por que e descobriu que era culpa da ração, que levava quase os mesmos ingredientes das comidas prontas do supermercado: farinha de milho, derivados de soja, arroz, gordura vegetal hidrogenada, concentrado de proteínas, beterraba desidratada, um plus de ômega 3 e um delicioso sabor de atum. Gatos de antigamente não comiam essas coisas – e nós tampouco. Felicity resolveu investigar o tema e descobriu que a incidência de diabetes em gatos cresce pelo mesmo motivo que a diabetes em seres humanos. “Nossa dieta mudou completamente nos últimos 50 anos. Parece que nunca tivemos tanta escolha, mas na verdade um pequeno grupo de ingredientes – alguns nem usados como comida no passado – está presente em quase tudo o que comemos”, diz Felicity. “Mais de 60% da comida processada na Inglaterra contém soja em alguma forma, de queijos a sorvetes, de biscoitos a barras de cereal.” Segundo ela, acreditamos na aura saudável dos nutrientes que surgem todo dia nas embalagens, sem saber que essa dieta industrial tem provocado obesidade, diabetes, câncer e doenças do coração.Regime de engorda
Para Felicity, esta é a receita que está tornando o mundo obeso
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Felicity Lawrence
• É repórter especial do jornal inglês The Guardian, especializada em temas do consumidor.• Ganhou prêmios investigando a relação da produção de alimentos com a mudança climática, as migrações em massa e a exploração da mão-de-obra.
• Nos anos 90, passou dois anos trabalhando com refugiados afegãos na fronteira com o Paquistão.
• Para escrever os livros, ela conversou com africanos que colhem tomate na Itália, ouviu agricultores poloneses e brasileiros de plantações de soja da Amazônia.
• Adora cozinhar receitas tradicionais inglesas para seus 3 filhos: peixe é o prato mais comum. http://super.abril.com.br/saude/como-tornamos-gordos-447750.shtml
Demita seu médico
A ciência descobre que ter saúde é simples erequer pouco esforço. Conheça os truques que garantem uma vida longe das doenças.
por Rafael Kenski
A medicina passou por uma grande revolução na última década. Enquanto o Projeto Genoma, as invenções do Prozac e do Viagra e os transplantes milagrosos preenchiam as manchetes, descobertas simples e de grande impacto transformavam a maneira como os médicos tratavam os problemas de saúde e tentavam evitá-los. Foi preciso que surgissem medicamentos para alguns dos males que mais atacam a humanidade – hipertensão, derrame, diabete, depressão – para perceber que esses problemas podem ser curados antes mesmo que apareçam, e sem precisar de remédio nenhum. “Até então, os médicos esperavam a doença surgir para depois medicá-la. Hoje, os profissionais de saúde estão mais preocupados em promover saúde que em eliminar a doença”, afirma o médico Victor Matsudo, do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs), em São Paulo.O que causou essa mudança? “Foi uma evolução natural da medicina”, diz Michael Pratt, chefe da divisão de atividade física e nutrição do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos. As doenças que mais preocupavam há 100 anos eram infecções como poliomielite, tétano ou sarampo e foram drasticamente reduzidas com a utilização de vacinas e antibióticos. Por outro lado, doenças decorrentes do estilo de vida atual subiram ao topo do ranking entre os agentes que mais matam, não importa a origem ou a classe social.
“Descobrimos que prevenir as doenças crônicas é muito mais fácil do que imaginávamos”, afirma Pratt. Não é preciso ser nutricionista para ter uma alimentação adequada, nem esportista profissional para ter boa aptidão física. Na verdade, os melhores resultados requerem muito pouco esforço e precisam apenas de medidas que faziam parte do nosso dia-a-dia há algumas décadas, mas que o estilo de vida na sociedade pós-industrial tratou de eliminar. Ao mesmo tempo, a importância da ingestão de remédios está sendo revista. Percebeu-se que utilizar medicamentos, em muitos casos, faz mais mal do que bem.
Nas páginas a seguir você verá qual é esse novo retrato da medicina. Se tudo der certo, é possível que os remédios e curas espetaculares que aparecerão nas próximas décadas não impressionem mais ninguém. O que chamará atenção é o fato de alguém ficar doente.
Apesar da evolução dos medicamentos, existe um outro lado das lições de Paracelso que tem ganhado cada vez mais importância. Ele dizia que a diferença entre um remédio e um veneno é a quantidade que se toma. Pesquisas recentes mostraram o quanto ele estava certo. Descobriu-se, por exemplo, que nosso corpo é muito sensível a alguns metais. Sabe-se agora que o limite de chumbo que uma pessoa pode carregar no corpo humano é quatro vezes menor do que se acreditava há 20 anos. Uma reavaliação drástica ocorreu também com o mercúrio, o que levou à retirada das farmácias de curativos como o Merthiolate e de outros remédios que eram administrados sem critério a crianças até há bem pouco tempo. As descobertas também levaram a uma maior preocupação com a poluição ambiental, uma vez que a absorção desses componentes maléficos ocorre muitas vezes por água contaminada.
Da mesma forma, ficaram cada vez mais claras as conseqüências do uso incorreto de remédios. Uma pesquisa realizada na Universidade do Texas no ano passado com 307 pessoas com danos graves no fígado mostrou que 35% dos casos estavam associados ao uso excessivo de paracetamol, o princípio ativo de analgésicos como o Tylenol.
Os médicos sempre souberam que essa substância libera subprodutos tóxicos que devem ser metabolizados pelo fígado e que, se ingerida em excesso, pode danificar o órgão. O que surpreendeu foi a quantidade de pessoas que a ingeriam sem controle. “Não há remédio que possa ser tomado em grandes doses. Cada um tem seu efeito tóxico”, afirma o clínico geral Flávio Dantas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Analgésicos e antiinflamatórios, tomados em excesso, causam danos renais. Tranqüilizantes, por sua vez, podem gerar dependência.
O uso indiscriminado de medicamentos pode causar danos tão graves quanto os males que eles deveriam prevenir. “Proteger demais o organismo pode desequilibrá-lo”, diz Flávio. Sabe-se, por exemplo, que o uso de antibióticos para tratar infecções durante os primeiros seis meses de vida aumenta a probabilidade de asmas e alergias. Há também evidências de que indivíduos que crescem em ambientes excessivamente higienizados e com pouco contato com outras pessoas têm maior probabilidade de ter asma, diabete tipo 1 e esclerose múltipla.
“Remédios só devem ser receitados por médicos”, afirma Flávio Dantas. Mesmo assim, deve-se evitar um número enorme de medicamentos. “O médico deve dar chance para a pessoa resolver o próprio problema. Há pacientes que chegam tomando 20 ou 30 pílulas e saem com duas ou três, que resolvem o essencial”, diz Antonio Carlos Lopes, chefe da disciplina de clínica médica da Unifesp. O importante é prestar atenção ao que acontece com seu corpo e não superprotegê-lo. Perceba quais sintomas são normais e procure um médico se sentir uma dor diferente, com duração ou intensidade maiores.
Continua valendo a orientação de check-ups anuais para mulheres acima de 45 anos e homens acima de 40 anos. O que mudou foi a importância que a família tem nessa questão. “A avaliação e a abordagem das doenças mudam de acordo com o histórico de cada um”, afirma Antonio Lopes. Se a família possui uma tradição de problemas como colesterol alto ou alguns tipos de câncer, os testes devem ser feitos ainda antes. A medicina já evoluiu a ponto de ver diretamente no código genético a propensão a determinadas moléstias. “Já foram identificados os genes responsáveis por mais de mil doenças, como cânceres, males neurológicos e psiquiátricos”, afirma a geneticista Cassandra Corvello, coordenadora do centro de genética molecular do laboratório Fleury, em São Paulo.
Existem testes – que ainda custam milhares de reais – que identificam muitos desses males e, dentro de alguns anos, é possível que a lista de doenças com um diagnóstico genético inclua também diabete, problemas cardíacos, mal de Alzheimer, esquizofrenia e depressão. “O teste apenas indica um fator que aumenta certos riscos. O desenvolvimento da doença depende de como a pessoa se comporta ao longo da vida”, diz Cassandra Corvello.
É recomendável, no entanto, buscar outras soluções. “Às vezes, os remédios só disfarçam os sintomas. Uma água de coco ou uma laranja podem bastar para resolver o problema”, diz Antonio Lopes. A receita varia de acordo com o mal. “Para insônia, por exemplo, o melhor remédio é meditação”, diz Anthony Wong.
Já existem empresas que mapeiam o genoma de qualquer pessoa por algumas centenas de milhares de dólares. Quando o método baratear, será possível obter o perfil genético não só de cada paciente como também do vírus ou bactéria que o infectou. “Os medicamentos de hoje são um sucesso para alguns pacientes e um fracasso para outros. No futuro, eles serão projetados de acordo com o perfil do paciente”, diz o clínico geral Antonio Lopes, da Unifesp.
Na hora de ministrar os remédios, chips microscópicos implantados no organismo poderão distribuir os medicamentos na hora, na dose e no local exato em que sejam necessários. Já existem vários protótipos em teste, mas ainda há dificuldades a serem superadas, como a garantia de que eles funcionarão sempre e não serão rejeitados pelo organismo.
“O brasileiro trocou o arroz e feijão – que equilibra as proteínas de origem vegetal e é uma boa fonte de fibras, ferro, minerais e outros nutrientes – por carboidratos simples e gorduras”, afirma a engenheira agrônoma Elizabeth Torres, da Universidade de São Paulo (USP). A troca faz sentido sob o ponto de vista do prazer da refeição: gorduras são mais gostosas e melhoram a textura dos alimentos. O problema é que, assim como as comidas, a barriga do brasileiro também ficou mais adiposa.
“Estamos em uma fase de transição da desnutrição para a obesidade”, afirma Ana Maria Lottemberg. Cerca de 23% das mulheres e 17% dos homens brasileiros já são considerados obesos, e esses índices crescem rapidamente, acompanhando uma tendência internacional. “A obesidade é uma epidemia mundial. Assim como os ricos, há uma enorme massa urbana pobre nos países em desenvolvimento que é obesa”, diz Michael Pratt, do CDC.
Junto com o peso, aumentou a incidência de doenças como hipertensão arterial, excesso de colesterol e diabetes. O que caiu foi o astral dos que se enquadram nesses problemas. Está cada vez mais clara a relação entre obesidade e problemas psicológicos, especialmente em menores de idade. Uma pesquisa realizada esse ano na Unifesp mostrou que 80% dos jovens acima do peso apresentavam sintomas de depressão, contra 21,7% daqueles que tinham o peso normal. “Crianças obesas têm mais vergonha de si mesmas e estão mais sujeitas a gozações por parte de seus colegas. A conseqüência é que elas tendem a se isolar socialmente”, afirma o pediatra Oded Bar-Or, da Universidade de McMaster, no Canadá, considerado um dos maiores especialistas mundiais em atividade física para adolescentes.
A pior heresia alimentar é comer e ver TV ao mesmo tempo. “Pessoas diante da televisão não percebem o que estão comendo e ficam espantadas quando informamos o quanto de alimento elas ingeriram enquanto viam os programas”, afirma Oded Bar-Or. Além de distrair o espectador, a televisão estimula a ingestão dos alimentos errados. Uma pesquisa realizada na USP em setembro mostrou que 25% dos comerciais televisionados eram de produtos alimentícios e, dentre as comidas que eles promoviam, 57% tinham altos teores de gordura ou açúcar. O mal à saúde que esses anúncios causam fez a União Européia estudar restrições – semelhantes às impostas aos cigarros – a propagandas de bebidas açucaradas e de fast-foods dirigidas a crianças.
A ótima notícia é que explodiram em todo o mundo pesquisas que afirmam que certos alimentos, além dos nutrientes, possuem substâncias especiais capazes de prevenir doenças e melhorar a saúde. Não são capazes de evitar doenças quando elas já se manifestaram, mas se tomadas na dose certa diminuem bastante a chance de que elas apareçam. Veja abaixo alguns desses alimentos:
Tomate – contém licopeno, um poderoso antioxidante que ajuda a combater cânceres como o da próstata. Outra boa fonte desse composto é a melancia.
Óleo de canola – rico em ômega 3, um tipo de gordura que ajuda na coagulação, evita trombose e reduz moderadamente os triglicérides. A substância é também encontrada em peixes de água fria, como o salmão.
Castanha-do-pará – é um dos alimentos mais ricos em selênio, que reduz o risco de cânceres como o do pulmão e o da próstata.
Brócolis – assim como a couve e o repolho, possui um grande estoque de fitoquímicos capazes de diminuir o risco de câncer de cólon e de mama.
Cenoura – contém betacaroteno, que retarda o envelhecimento da pele e reduz o risco de câncer.
Cereais – são riquíssimos em fibras, que melhoram o trânsito intestinal e regulam o colesterol e a glicose, além de dar a impressão de saciedade.
O essencial é conhecer cada comida e investir naquelas que previnem as doenças que mais atacam na sua família. É preciso, no entanto, ter em mente que nenhuma delas garante sozinha uma boa alimentação. “Não existem alimentos milagrosos. Uma dieta balanceada garante mais benefícios do que qualquer um desses ingredientes”, diz Ana Maria Lottemberg. Além disso, muitos desses alimentos têm gorduras que, em excesso, fazem mais mal do que bem.
Só em 1992, a Organização Mundial de Saúde reconheceu o sedentarismo como um mal em si. Até então, ele era apenas um fator que contribuía para doenças como obesidade, diabete, colesterol alto e hipertensão. Quando a falta de exercício físico foi analisada de forma independente, percebeu-se que ela figurava entre os piores flagelos da humanidade. Um estudo coordenado por Michael Pratt mostrou que as doenças causadas pelo sedentarismo consomem por ano 76 bilhões de dólares, o equivalente a 70% dos gastos hospitalares mundiais. “O prejuízo que a falta de atividade física traz para o Brasil é semelhante ao encontrado nos países desenvolvidos”, diz Pratt.
Em 1995, um estudo feito com mais de 20 mil pessoas mostrou que um obeso que faz exercícios tem uma expectativa de vida maior do que um sedentário com o peso correto. Em seguida, cientistas mostraram que indivíduos com problema de excesso de colesterol, com diabete ou com hipertensão que são ativos morrem menos do que sedentários que não possuem nenhum desses males. O sedentarismo só não mata mais do que o cigarro – quem fuma, mas se exercita, tem a mesma chance de ter doenças crônicas que um não-fumante que fica parado dentro de casa. “A diferença é que o número de pessoas que não fazem atividade física é muito maior que o de fumantes, o que torna o sedentarismo a maior epidemia do mundo”, afirma Victor Matsudo, do Celafiscs.
A lista de enfermidades causadas pela simples preguiça de se movimentar inclui ainda derrames, câncer de cólon, fraturas e artrites. Há também o perigo de doenças mentais. “Além de causar depressão, descobriu-se que o sedentarismo aumenta a probabilidade de a pessoa cometer suicídio”, diz Victor Matsudo.
Essa descoberta já foi o suficiente para aposentar os princípios da “educação física verde-oliva” – a idéia de que exercício bom era aquele que levava o corpo ao limite, tal como a preparação de soldados para a guerra – e diminuir a importância daqueles exercícios sérios e calculados dos anos 70 que deram origem às academias, bicicletas ergométricas e esteiras. O golpe final veio quando se percebeu que os 30 minutos de atividade diária poderiam ser divididos em três sessões de dez minutos, com resultados praticamente iguais. Ou seja, caminhar até a padaria de manhã, até o restaurante na hora do almoço e descer um ponto de ônibus antes ao voltar para casa garantem a saúde de qualquer um. Não é mais preciso pagar academias nem ter um planejamento detalhado de atividades físicas.
Quem optar por exercícios sérios, no entanto, só tem a ganhar. Meia hora de atividade física por dia é o limite a partir do qual surgem os benefícios à saúde, mas quem prolongar ou aumentar a intensidade dos esforços terá mais vantagens. O único problema é que exercícios intensos aumentam a pressão sobre músculos e ossos e podem levar a lesões que afastam a pessoa da atividade física. “Muitas vezes, o benefício à saúde de um treinamento de alta performance é nulo. O atleta ganha preparo físico no mesmo ritmo em que sofre lesões que o paralisam”, diz Victor Matsudo. Como a questão essencial é praticar exercícios de forma constante, atividades intensas nem sempre são uma boa opção. “O importante é fazer atividades físicas com regularidade, não com seriedade”, diz o epidemiologista Adrian Bauman, da Universidade de New South Wales, na Austrália.
Em primeiro lugar, caminhe em vez de usar o carro. Em segundo, brinque mais com seus filhos. Além de se exercitar, você estará contribuindo para que eles também não se tornem sedentários (pais pouco ativos têm maior probabilidade de ter filhos obesos). “Crianças têm um instinto natural para o movimento. É só retirá-las da frente da televisão que elas começam a se movimentar e mudar rapidamente de atividade, o que para elas é o melhor tipo de exercício possível”, afirma Oded Bar-Or (se você é daqueles pais que colocam os filhos diante da tela exatamente para eles ficarem quietos, pense de novo).
Passeie com o cachorro. “A presença de um cão na família aumenta em mais de 15% o tempo que ela dedica às atividades físicas”, afirma Adrian Bauman. Só ter o animal, no entanto, não adianta muito se ele não for levado para a rua. Segundo cálculos de Bauman, 9% das doenças cardíacas na Austrália poderiam ser evitadas se todos os donos de cachorros passeassem com seus animais.
Há como se exercitar mesmo onde não há nenhuma área verde. Em regiões de Hong Kong que possuem esse problema, uma campanha obteve sucesso estimulando os idosos a praticar caminhadas nos gigantescos shoppings da cidade. “A vida urbana tirou a atividade física da nossa realidade. Precisamos trazê-la de volta”, diz Bauman. “No Brasil, vi pessoas dançando no ponto de ônibus enquanto esperavam. Em termos de saúde pública, isso é fantástico.”
Se a descoberta for confirmada, ela mostrará que usar a escada em vez do elevador, esperar em pé no aeroporto ou estacionar o carro longe da entrada do shopping center podem trazer tantos benefícios quanto a malhação diária na academia.
Por trás da relação entre saúde e comportamento está a forma como lidamos com agentes estressantes. Eles são qualquer estímulo – como uma diminuição de temperatura ou um arranhão na perna – que force o nosso corpo a ter uma reação. Para responder a eles, o organismo libera dois tipos de hormônios. Os primeiros são adrenalina e noradrenalina, que estimulam o sistema cardiovascular e aumentam a pressão arterial. Os segundos são os corticóides, que possuem diversas funções no corpo, entre elas a de evitar inflamações.
O problema é que algumas situações do nosso dia-a-dia – como a falta de dinheiro, uma briga, uma prova ou uma reunião – são às vezes interpretadas como uma ameaça e desencadeiam os mesmos mecanismos. Para piorar, podem se estender durante meses e manter o corpo em constante estado de alerta. Os estragos são grandes. O excesso de adrenalina e noradrenalina faz o corpo funcionar em alta rotação e pode levar à hipertensão e a problemas vasculares. O excesso de corticóides, por sua vez, destrói células do cérebro (em especial do hipocampo, a região associada à formação de memória) e enfraquece o sistema imunológico, reduzindo a resistência a infecções.
“O estresse constante aumenta a probabilidade de problemas crônicos e infecciosos”, diz o psicobiólogo José Roberto Leite, da Unifesp. Na maioria das vezes, os estímulos emocionais, mais do que as pressões objetivas do dia-a-dia, são os responsáveis pelos problemas de saúde. “Um chefe arbitrário é mais perigoso do que uma navalha na mão de uma criança”, diz Antonio Carlos Lopes.
Como pouquíssimas pessoas têm disciplina para levar uma vida extremamente regrada, uma boa dica é aumentar ao máximo o nível de felicidade na sua vida. Dessa forma, você conseguirá encaixar sem dificuldade hábitos saudáveis em suas atividades diárias e evitar atitudes extremas. Conciliar trabalho com lazer, família e hobbies é a melhor forma de evitar que seu corpo fique sobrecarregado de hormônios decorrentes do estresse.
Pequenos ajustes no dia-a-dia também trazem benefícios extras. Tente, por exemplo, manter uma postura correta. Além disso, respire mais pelo diafragma, logo acima da barriga, do que pelo tórax. “A respiração torácica é muito rápida e não elimina corretamente o gás carbônico”, diz Flávio Dantas.
Quando todo o resto falhar, há a opção de rezar. “Estudos mostram que só o fato de se concentrar para orar, não importa para qual religião, melhora a saúde”, afirma José Roberto Leite. O mecanismo ainda é desconhecido – rezar pode dar uma linha de conduta ou ser só um placebo. Mas, ao que indicam as pesquisas, ajuda.
Enfim, ter uma vida longa e saudável é mais fácil e barato do que se costuma acreditar. Você não precisa abandonar todos os prazeres nem mudar radicalmente o seu jeito de ser para ganhar alguns anos a mais de vida. E, uma vez que as atividades saudáveis comecem a mostrar seus benefícios – mais disposição, mais preparo físico e uma melhor auto-imagem –, mais estímulos você terá para seguir em frente. Um brinde à saúde – à sua!
Para saber mais
www.agitasp.com.br
www.psiqweb.med.br
www.medweb,emory.edu
www.cdc.gov/nccdphp/dnpa/ http://super.abril.com.br/busca/?qu=obesidade&pg=4
Qual a maneira mais eficaz de perder peso?
por Texto Inara Campos Chayamiti
Depende do tipo de excesso de peso – para cada um, há um tratamento mais eficaz, que leva em conta quantos quilos a pessoa precisa perder, os benefícios e os riscos de cada opção. Para saber em qual categoria o gordinho se enquadra, é preciso antes descobrir qual o índice de massa corpórea (IMC) da pessoa, uma medida que leva em conta a altura e o peso (veja como se calcula no quadro ao lado). Depois do diagnóstico, é aplicar a receita certa para o combate à gordura. Como regra, uma prática recomendada é a combinação de algum tipo de reeducação alimentar com atividade física. “Boa parte daqueles que sofrem com excesso de peso se beneficiaria se fizesse exercícios e comesse muito do que engorda pouco e pouco do que engorda muito”, afirma o médico José Ernesto dos Santos, especialista em nutrição e transtornos alimentares da USP de Ribeirão Preto. Na maioria das vezes, emagrecer não é tão difícil – o problema é manter a silhueta esbelta: 95% dos obesos que emagrecem voltam a engordar.Faça a conta... e confira?
O tratamento ideal depende do resultado do cálculo acima
IMC = Peso/(altura x altura)O índice de massa corpórea (IMC) é o resultado da divisão do peso pelo quadrado da altura de uma pessoa. O ideal é que essa conta dê entre 18,5 e 24,9. Resultados abaixo de 18,5 indicam pessoas muito magras. Acima de 25 já é excesso de peso.
PERDA ESTIMADA DE PESO - Até 3,5 kg por mês.
PESQUISA QUE COMPROVA - Um grupo de 54 adultos passou dois meses comendo poucos alimentos calóricos, fez caminhada 3 vezes por semana e academia 2 vezes. Cada um perdeu em média 4 kg.
PRINCIPAL DIFICULDADE - Não exagerar na comilança e não desencanar dos exercícios.
COMO ENFRENTAR - Comer frutas, legumes e verduras, que são menos calóricos e saciam a fome.
COMENTÁRIO - “O problema é que as pessoas levam 10 anos para engordar 15 kg e querem perder tudo em dois meses. Aí, aderem às dietas da moda, que podem levar à desnutrição”, afirma o bioquímico Roberto Carlos Burini, da Unesp de Botucatu.
MELHOR TRATAMENTO - Reeducação alimentar aliada a remédios inibidores de apetite ou que diminuem a absorção de gorduras.
PERDA ESTIMADA DE PESO - Até 10% em 6 meses.
PESQUISA QUE COMPROVA - Um estudo realizado no Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, nos EUA, constatou que 67% dos pacientes que tomaram sibutramina (ativo inibidor de apetite) perderam 5% do peso inicial em 6 meses. PRINCIPAL DIFICULDADE Efeitos colaterais, como taquicardia e aumento da ansiedade.
COMO ENFRENTAR - Usar os remédios apenas pelo tempo prescrito – geralmente, de 6 meses a 1 ano.
COMENTÁRIO - “Para evitar o efeito sanfona, é preciso mudar a alimentação e fazer exercícios”, diz Rosane Ribeiro, nutricionista da USP de Ribeirão Preto.\
MELHOR TRATAMENTO - Se o paciente já está há pelo menos 5 anos tentando emagrecer sem sucesso, recomenda-se a cirurgia de redução do estômago, já que o excesso de peso compromete demais a saúde.
PERDA ESTIMADA DE PESO - De 40 a 60 kg por ano.
PESQUISA QUE COMPROVA - Pacientes mantêm 60% da perda de peso até 14 anos após a cirurgia, diz a Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica.
PRINCIPAL DIFICULDADE - O índice de mortalidade da cirurgia – até 2%, considerado alto – e os problemas pós-cirúrgicos, que vão de náuseas à anemia.
COMO ENFRENTAR - Com acompanhamento médico, nutricional e psicológico.
COMENTÁRIO - “A cirurgia é o começo do tratamento e não resolve a obesidade causada por doenças como compulsão”, diz José Ernesto dos Santos, da USP. http://super.abril.com.br/saude/qual-maneira-mais-eficaz-perder-peso-447494.shtml
Mulher engorda mais fácil que homem
Diferentemente do que afirmam namoradas, mães, tias, amigas e irmãs na frente do espelho, não é um fato que as mulheres sempre engordam mais fácil do que os homens. Em termos estatísticos, pode até ser verdade. Mas a questão não tem nada a ver com o gênero, e sim com massa muscular. Explica-se: os homens, geralmente dotados de um volume maior de ossos e músculos, apresentam um metabolismo mais acelerado do que o das mulheres. Mas mulheres musculosas também apresentam um metabolismo turbinado. E homens fracotes, sem músculos, terão um metabolismo mais lento. Resumo: quem vai ditar as regras é a constituição corporal de cada um, e não o sexo.É verdade que os homens têm alguns outros fatores a seu favor. Para começar, eles contam com a testosterona, o hormônio masculino por excelência, relacionado ao aumento de massa muscular. Elas, por sua vez, são afetadas pelo hormônio feminino estrogênio. "Essa substância trabalha para promover o aumento do peso, ou impedir a sua perda, e isso torna mais difícil para a mulher emagrecer", diz o médico britânico Ian Campbell, diretor da Weight Concern, entidade de apoio a pessoas com problemas de obesidade. Na Grã-Bretanha, índices de obesidade são similares nos dois sexos - mas há 3 vezes mais probabilidade de que uma mulher seja uma obesa mórbida do que um homem.
Uma pesquisa realizada em 2009 levantou outra hipótese para explicar a diferença entre homens e mulheres. Em estudo realizado em Nova York, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores pediram a um grupo com 23 voluntários (10 homens e 13 mulheres) que ficasse um dia inteiro sem comer. Após esse período, testes mostraram que os homens apresentaram menos atividade em regiões do cérebro associadas ao desejo por comida do que as mulheres. Se comprovada, a habilidade do sexo masculino em se "desligar" das ideias de comida poderia explicar índices menores de obesidade em homens. Mas outros cientistas já se apressaram em contestar o estudo: para o neurocientista Andy Calder, da Universidade de Cambridge, nos EUA, o número de pessoas envolvidas na pesquisa é pequeno. "Fica difícil saber se os resultados estão ligados apenas ao sexo dos participantes. É provável que haja outros fatores envolvidos."
A questão não tem nada a ver com o sexo, e sim com volume de massa muscular. Quem vai ditar as regras é a constituição corporal de cada um.
http://super.abril.com.br/alimentacao/mulher-engorda-mais-facil-homem-622338.shtml
A máquina que faz você comer mais devagar (ou: Sua mãe estava certa)
Ana Carolina Prado 14 de janeiro de 2010Por Ana Carolina Prado
Quem come rápido demais pode se dar mal. Ok, podem vencer concursos bizarros e ganhar fama entre pessoas estranhas. Mas estudos revelaram que eles têm também uma chance muito grande de se tornar comedores compulsivos porque perdem a capacidade de saber quando estão saciados. O hábito está associado à obesidade.
Para ajudar essas pessoas, pesquisadores da Inglaterra usaram uma máquina apelidada de Mandometer para gerenciar o ritmo das refeições. Ele calcula a taxa de ingestão dos alimentos e funciona como se fosse uma agradável presença materna ali do teu lado, avisando que deve comer mais rápido ou mais devagar.
Segundo a Scientific American, um estudo verificou que as pessoas com a assistência do Mandometer por um ano tiveram uma redução bem maior do seu IMC (índice de massa corporal) do que aqueles que não tiveram. Isso porque, ao comer mais devagar, elas se sentiam saciadas depois de comer pequenas porções. Quer dizer, você se irrita com a sua mãe te enchendo nas refeições, mas ó: no fim, ela está certa.
Categoria:
Por que tem gente que come muito e não engorda?
Genes, hormônios e músculos são cúmplices desse ato de covardia
por Claudia Carmello
Atenção: este texto está recheado de informações que podem causar indigestão a quem luta contra a balança. Resumindo: ou você nasce "magro de ruim" ou, sinto muito, vai ter que malhar e fechar a boca para ficar com o peso ideal.São diferenças no metabolismo que fazem com que algumas pessoas queimem mais calorias do que a média para manter o corpo funcionando, ou depositem menos gordura no tecido adiposo. "Assim como os carros enchem o tanque com gasolina ou álcool e usam esses combustíveis para rodar, nós nos abastecemos com gordura e a armazenamos, tirando dela a nossa energia", explica o endocrinologista Marcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade. "Daí, existem os carrões com motores potentes e grandes consumidores de combustível (esses são os ‘magros de ruim’) e os carros com motor de 1 000 cilindradas (esses são as pessoas com dificuldade para perder quilos)", completa.
O que fazer para ser um Land Rover e não um Uno Mille? Bem, a chance é grande de que você já nasça como um ou como outro. Estudos com gêmeos têm mostrado que a genética contribui com nosso peso corporal em 40 a 70%. Genes da obesidade têm sido identificados, o que mostra que alguns corpos já viriam programados para gastar mais fazendo as mesmas coisas. Seguindo na analogia, se seu corpo é um 4x4, você terá direito a comer mais - ou ser abastecido mais frequentemente.
E tem mais: os magros de ruim talvez sejam uma (invejada) minoria porque a seleção natural favoreceu o seu oposto, a eficiência energética. Com os grandes períodos de fome que a humanidade enfrentou, sobreviveram principalmente as pessoas poupadoras de reservas e as ávidas por comida. É isso: da próxima vez que encontrar algum magrinho mandando ver no brigadeiro, pare e pense: "Coitado, não guarda uma energia!"
Conheça os fatores que favorecem os chamados "magros de ruim".
SORTE NOS GENES
Alguns genes têm sido associados a acúmulo de gordura. O mais famoso é o FTO. Um estudo alemão recente, publicado na revista Nature, mostrou que ratos que não têm o FTO nunca ficam obesos. Mesmo comendo muito e se mexendo pouco, queimam muitas calorias. Como? Quem descobrir deve ficar muito rico.
METABOLISMO ACELERADO
Para viver, é preciso ingerir diariamente um número X de calorias. Essa é a taxa metabólica basal - a base necessária para respirar, raciocinar, manter os órgãos funcionando. Algumas pessoas nascem com essa taxa basal muito alta, o que permite botar muitas calorias pra dentro, pois elas já têm uso definido.
FOME SIM, GORDURA NÃO
Um estudo da Universidade da Califórnia mostrou que a serotonina, neurotransmissor que controla a fome e a deposição de gordura, faz as duas coisas por canais distintos. Acredita-se que alguns dos comilões que não engordam têm a sinalização da fome funcionando bem, e a da deposição de gordura com alguma falha.
DISCIPLINA
Muito "magro de ruim" por aí pode ser uma farsa. Há magrinhos que comem bastante nas refeições, mas nunca fora de hora. Já alguns com excesso de peso têm almoços e jantais frugais, mas sucumbem a ataques de fome repentinos e beliscam guloseimas entre as refeições.
MÚSCULOS
Genética não é tudo. A quantidade de músculos do corpo também faz com que alguns tenham um gasto calórico maior do que outros - e, portanto, possam comer mais sem engordar. Para ter uma ideia, 1 quilo de músculo torra 80 calorias por dia simplesmente para existir, enquanto 1 quilo de gordura gasta só 5 calorias.
JUVENTUDE
Você conhece alguém em seus 50 ou 60 anos que coma muito e nunca engorde? Ou seus exemplos são sempre de jovenzinhos? Nossa massa magra diminui paulatinamente com o avançar da idade, e a quantidade de atividade física diária também costuma diminuir. Mais magros e sedentários, deveríamos comer muito menos pra manter o peso - difícil, né?
Solidão impossível
Graças às novas tecnologias, ninguém mais precisa ficar sozinho - o problema é conseguir ficar sozinho. Saiba como chegamos à overdose de comunicação e por que é preciso aprender a ser só
por Emiliano Urbim
No começo de março, milhares de paulistanos se eriçaram com a chegada da portabilidade numérica ao seu DDD, o 11. Entre eles estavam as amigas Priscila Krieger e Cláudia Marinho, 16 e 17 anos, que dedicaram um sábado inteiro a lojas de celular atrás do melhor negócio. Priscila queria mudar de operadora "para ter um plano mais vantajoso e um aparelho mais bonito". Já Cláudia tinha um objetivo específico: "Eu preciso trocar esse lixo [mostra um modelo antigo] para poder ver e-mail no ônibus". A jovem da periferia que estuda no centro acredita que suas duas horas diárias no busão seriam bem melhores se pudessem ser online. "Meu sonho é um iPhone!", diz ela, ciente da distância do sonho, mas disposta a comprometer "o que for preciso" da mesada para bancar algum modelo de smartphone.Certa ou errada, a intenção de Cláudia representa uma tendência: estar disponível 24 horas, antes coisa de loja de conveniência, virou sonho. Para alguns especialistas, essa busca vai nos fazer perder a capacidade de ficar sozinhos. Bem, o que não falta é onde perdê-la.
Segundo o Instituto Nielsen, 70% dos internautas brasileiros participam de comunidades virtuais como o Orkut - no Brasil, 1º lugar, são 80%. Mas scraps e pedidos de "me add", junto com bate-papo no MSN, são apenas o kit básico.
Há quem visite álbuns virtuais como Flickr e Picasa para acompanhar outras vidas foto a foto. Leitores de RSS fazem delivery de qualquer atualização feita num blog, e o StumbleUpon mostra cada link que alguém achou legal. E agora vem crescendo o Twitter, cujo limite de 140 caracteres por post, longe de ser um empecilho, parece que estimula a escrever mais. A ferramenta de microblogging ainda nem consta no top 100 da internet no Brasil, mas a facilidade para publicar e seguir outros twitteiros pelo celular deve mudar isso logo - Cláudia, a moça do shopping, ficou bem interessada.
O auge dessa overdose de comunicação parece ser a ferramenta Google Latitude. Com ela, o dono de um celular com GPS permite que seus contatos saibam onde ele está (mais especificamente, onde está seu telefone). Pra quê? Bom, a ideia é que você olhe no mapa quem está perto de você e convide para um chope, peça uma carona, persiga até em casa, sei lá. O fabricante garante: só dá suas coordenadas quem quer. E muitos querem.
Claro, talvez o perfil mais comum seja o de quem entra no Orkut só de vez em quando para conferir aniversariantes e solteiros. Mas há quem seja usuário simultâneo e frequente de todos os serviços citados acima, o que leva sociólogos e psicólogos a se preocupar. Na verdade, fugir da solidão é natural: estamos apenas seguindo os nossos instintos.
"Eu quero ter um milhão de amigos"
Sempre que o rei Roberto Carlos canta a frase acima, ele fala por todos nós. Grandes predadores como ursos e tigres se isolam das suas espécies para evitar competição por comida e território. Lobos e leões caçam em grupo, mas se separam em tempos de presas magras. Já para animais sociais, como pinguins e humanos, quanto mais companhia, melhor.
Há milhões de anos, nos agregávamos para obter calor, comida, proteção na infância e amparo na velhice. Mais adiante, buscávamos cultura, dinheiro, poder, diversão - só em grupo eles fazem sentido. "Normalmente, as pessoas não buscam passar períodos sozinhas, da mesma maneira que não buscam períodos de fome, sede ou dor", diz o psicólogo da Universidade de Chicago John Cacioppo, coautor, com o jornalista William Patrick, do livro Loneliness ("Solidão", sem edição brasileira), que mostra os prejuízos da vida solitária. "Solidão é um sentimento aversivo que motiva você a fazer algo que é crucial para a sobrevivência e o bem-estar - conectar-se com os outros."
Ao longo da história, os eremitas foram sempre exceções à regra - e admirados como tal. Profetas bíblicos, brâmanes hindus, monges budistas, santos católicos - entre seus diferenciais estão a capacidade de ficar em silêncio, longe de todos. Já o resto de nós sempre encarou o isolamento como um incômodo gradativamente solucionado pelo progresso. Momentos de introspecção obrigatória (caçadas, longos deslocamentos) caíram ao mínimo (trânsito, banho). Nas grandes cidades, a não ser que você esteja dentro de um túnel (e já tem metrô com sinal de celular), cada segundo pode ser preenchido com a presença virtual do outro.
Visto dessa forma, o Twitter e o Google Latitude são só parte do capítulo mais recente de uma história que começou lá atrás, com sinais de fumaça. A questão é se essas são boas ou más notícias.
Más companhias
Se buscar amigos virtuais é um instinto natural, qual o problema? Bem, se alimentar também é, e vivemos uma epidemia de obesidade. O fato é que alguns progressos nos obrigam a ir contra a nossa intuição. "Somos programados para buscar convivência, tanto faz se real ou virtual - a princípio, nosso cérebro considera as duas a mesma coisa. Mas, se a socialização online substitui o contato humano verdadeiro, solidão e depressão podem surgir", diz o professor Cacioppo.
Para ver se as novas ferramentas de comunicação estão realmente mudando nossos relacionamentos, a pesquisadora Rhonda McEween, da Universidade de Toronto, acompanhou de perto o destino de telefonemas, torpedos, e-mails e todo tipo de socialização online de alguns estudantes de 1º ano da faculdade. Ética pedagógica à parte, o que o estudo dos calouros mostrou foi que os alunos deixam de criar laços na faculdade porque vivem online com os ex-colegas do ensino médio. Driblando momentos isolados na biblioteca e no refeitório graças a seus iPhones e Blackberrys, os alunos da senhora McEween não sabem ficar sozinhos. "Alguns estudantes não tem o conceito de uma vida off-line", diz ela no relato do experimento.
A evaporante "Capacidade de Estar Só" é justamente o nome de um artigo muito influente que o psicólogo Donald Winnicot escreveu nos anos 50. O americano considerava a habilidade de lidar com a solidão um índice fundamental de desenvolvimento emocional, algo que se começa a adquirir na primeira infância, quando o bebê descobre que ele é um e a mãe é outra. Para o sociólogo Danton Conley, da Universidade de Nova York, essa capacidade vem sendo desencorajada pouco a pouco. "Podemos estar formando uma geração incapaz de ficar sozinha, refletir, que não desenvolveu a introspecção. É cada vez mais difícil desplugar e ter só uma fonte de informação na cabeça", diz o autor de Elsewhere, USA ("Noutro Lugar, EUA", sem edição brasileira), que analisa como a comunicação online está mudando a sociedade americana. "As pessoas ficam ansiosas, com medo de ficar de fora de algum assunto, e por isso estão sempre checando seus e-mails. Mas esse hábito traz mais ansiedade."
Já que lá atrás falamos em obesidade, vale mencionar que a convivência virtual já ganhou o nome de social snacking, ou "fazer lanchinhos sociais". Lanche não é refeição, e isso explica parte do problema. Por outro lado, um jejum de comunicação, como qualquer dieta, é só uma questão de força de vontade.
Somente só
Cláudia, do início do texto, acredita que os rumores sobre sua falta de solidão foram altamente exagerados. Informada da opinião dos especialistas sobre seus hábitos, ela discorda. "Imagina... É bom poder falar com todo mundo." Pausa. "E nem é com todo mundo, é com quem eu quero. Pra mim, não é prisão, é diversão."
As pesquisas de Cameron Marlow, o sociólogo-residente do Facebook, maior rede social do mundo, corroboram o que Cláudia diz. Ainda que cada membro tenha uma média de 120 amigos - um indício que reforça a tese de mais-gente-menos-amizade - , o número de pessoas com quem eles interagem assiduamente (ou seja, um relacionamento mais parecido com amizade) fica próximo de 4 para homens e 6 para mulheres. As pessoas podem estar adquirindo mais conhecidos (é de graça, não é?), mas continuam mantendo pequenos círculos de amizade.
E quanto ao argumento de que desaprendemos a ficar sozinhos? Para Vaughan Bell, psicólogo e colaborador do premiado blog de neurociência Mind Hacks (mindhacks.com), há uma grande confusão. "Isso se baseia na ideia de que, antes da era da comunicação digital, as pessoas passavam seu tempo focadas em uma mesma tarefa por horas e raramente eram interrompidas", diz Bell. Atualmente professor visitante em uma universidade na Colômbia, ele constatou nos bairros pobres de Medellín que a vida low-tech é pródiga em distrações: vizinhos trabalhando, visitas inesperadas, vendedores ambulantes, crianças à solta. "Na verdade, a internet permite que você esteja no controle: basta apertar um botão para ter acesso a todo mundo e basta apertar de novo para ficar totalmente isolado."
Se essa overdose de comunicação vai trazer a alienação dos pessimistas ou a revolução dos otimistas, ainda não dá para dizer. Mas ninguém nega que a solidão, renegada por nossos genes, é cada vez mais valorizada por nós. Provavelmente, porque está ficando escassa.
1. De onde?
Metade dos seus e-mails diz "enviado do meu iPhone".
2. Vultos
Você não faz ideia de quem seja 1/3 dos seus amigos no Orkut.
3. Retratos
É normal virar a noite atualizando seu álbum virtual.
4. Retratos 2
Você se chateia com quem não atualiza seus álbuns virtuais.
5. Recursos
Você adoraria fazer tudo que dá para fazer no Facebook.
6. Remetente
Se você não se cuidar, ler e escrever e-mails atrasa todo o seu dia.
7. Kd vc?
Você gostaria que as pessoas ficassem mais tempo no MSN.
8. Cobrança
É normal visitar blogs e deixar comentários como: "Atualiza!"
9. Seguir
Bate a culpa de seguir mais gente do que vale a pena ler no Twitter.
10. Catálogo
Você conhece os sites que os amigos visitam melhor que eles.
11. Lucaslimaíte
Na sua lua-de-mel, você entra em seu blog para dar um alô aos fãs.
12. Coordenada
Você achou o programa Google Latitude uma ideia bacana.
Loneliness
John Cacioppo e William Patrick, W. W. Norton & Co., 2008.
Elsewhere, USA
Danton Coley, Pantheon, 2009.
The End of Alone
tinyurl.cc/fimdasolidao Compartilhehttp://super.abril.com.br/cotidiano/solidao-impossivel-619327.shtml
DIETAS NA MODA:Volumétrica, Dukan, Zona Metabólica
setembro 29th, 2011 por Renata MerlinoEssas últimas dietas têm sido bastante comentadas na mídia, então vamos falar um pouquinho delas:
VOLUMÉTRICA - Essa dieta foi criada pela nutricionista americana Barbara Rolls, autora do livro Dieta Volumétrica – Perca Peso Comendo Mais (recém-lançado no Brasil). Consiste em comer a mesma quantidade de comida mas com alimentos mais saudáveis. Por exemplo, a maior indicação do método é que se aumente o volume da refeição com alimentos ricos em fibras e/ou água e diminua bem a quantidade de alimentos gordurosos e calóricos. Eu gosto dessa dieta, ela é nutritiva.
Para quem é indicada: Especialmente para as pessoas que tem compulsão por comida ou que tem estrutura grande e precisam comer quantidades maiores de comida mas no geral, as trocas sugeridas são boas para todos nós.
DUKAN – Essa foi lançada pelo médico nutrólogo Pierre Dukan. É uma dieta de fases então na primeira fase da dieta, que pode durar de um a cinco dias, você pode comer carne magra, frango e peixe à vontade, além de porções moderadas de ovo e queijo e iogurte 0% gordura, leite desnatado e água. Na segunda fase já pode comer verduras e legumes (menos batata). A terceira fase libera fruta e porções controladas de pães e massas integrais. Os carboidratos refinados (pães, massas e biscoitos feitos com farinha branca, pobre em fibras) não estão incluídos porque eles têm alto índice glicêmico – no processo digestivo viram açúcar muito rápido, prejudicando o trabalho da insulina, o hormônio que cuida de levar a glicose para dentro das células. Com isso, sobra açúcar na circulação e esse extra é estocado na forma de gordura especialmente no abdômen. Na quarta e última fase, o cardápio volta a ter de tudo mas um dia por semana a pessoa faz a primeira fase novamente.
Para quem é indicada: Eu não sou a favor de dietas restritas demais porém se a pessoa está numa síndrome metabólica ou diabetes porque precisa perder peso, essa dieta pode ser interessante já que ajuda a perder peso mais rápido que as outras dietas.
ZONA METABÓLICA – A dieta da zona, baseia-se na redução da quantidade de carboidratos sendo composta por 40% de carboidratos, 30% de gorduras e 30% de proteinas, diferente da dieta tradicional que consiste em 55-60% de carboidratos, 15% de proteinas e 25-30% de gorduras. O objetivo da dieta da zona é estimular a queima de gordura. Este princípio é utilizado na conhecida dieta da proteina e a diferença entre as duas é que com um maior fornecimento de carboidratos, a dieta da zona, promete os mesmos efeitos em relação ao emagrecimento e um equilíbrio maior do organismo, porque dessa forma não é necessário retirar as melhores fontes de vitaminas e minerais (frutas e verduras) e não se corre o risco de haver uma sobrecarga de proteínas e gorduras, como na dieta da proteína. Fora que esses alimentos também acidificam o sangue favorecendo a formação de cálculos e outras doenças.
Para quem é indicada: Eu diria que para todos nós independente de qualquer patologia associada. Mas mesmo assim seria necessário a personalização da dieta de acordo com os hábitos e preferências da pessoa.
Se você tiver dúvidas ou quiser fazer uso dessas dietas, sugiro procurar por um nutricionista para te instruir melhor, até porque você pode precisar de algum suplemento para suprir possíveis carências nutricionais como consequência da dieta que for muito restrita. Certo?
por Renata Merlino
http://www.inteligencianutricional.com.br/?p=1010
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