A busca pela Felicidade sempre foi um objetivo humano, ou, pelo menos, a busca pelo entendimento de sua natureza. Penso que no passado, porém, se pensava menos na felicidade, até porque se prometia menos a Felicidade do que se atualmente. Hoje tudo nos promete Felicidade: o remédio para emagrecer, a griffe de roupa, o novo modelo de carro, o livro de auto-ajuda…enfim, hoje acreditamos que a Felicidade é algo externo a nós mesmos, algo que pode ser adquirido com dinheiro, atitude ou treinamento.
Pelo excesso de promessas de Felicidade, podemos pensar que ela nos falta! Se buscamos demais alguma coisa é porquê não a temos.
Ao longo da história humana, a busca por uma vida plena sempre foi motivo de reflexões filosóficas, artísticas, religiosas, etc. A conquista da Felicidade, contudo, era tida como algo inseparável da vida cotidiana, em especial entre os filósofos da Antiguidade clássica. Assim, a Felicidade era vista como sendo resultado das nossas posturas éticas, das nossas práticas na vida. Via de regra, essa visão da Felicidade, como resultante da ética, fundamentava-se nas idéias de bem e virtude como sendo valores perseguidos por todo ser humano, e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.
Não que as pessoas no passado fossem mais felizes do que nós somos hoje. O que acontece em nossos dias é que estamos perdendo essa dimensão ética da vida, cada vez mais os fins justificam os meios. Com isso, estabelecemos uma separação racional entre o que deve ser feito – o que pode ser considerado bom, adequado, justo, aceitável, etc. – , e o que pode ser feito. E o que pode ser feito nem sempre é o melhor para nós e para os outros mas, quase sempre, é o que trará mais vantagens imediatas. Do ponto de vista psicológico isso aponta para a existência de um sentimento permanente de insatisfação. É quase impossível suprir todas as demandas que se multiplicam a cada dia, há sempre algo a ser adquirido, vivido, desfrutado…
é como se por mais que fizéssemos, ou realizássemos, nunca é o bastante. É difícil dar-se por satisfeito num mundo que sempre oferece mais e mais.
Aí reside o nosso problema. Porque Felicidade não é a mesma coisa que satisfação, mas estamos tão preocupados em nos satisfazer que esquecemos de ser felizes ou, então, confudimos as duas coisas.
Ao mesmo tempo que conseguimos separar racionalmente o que deve ser feito do que pode ser feito, não conseguimos fazer isso afetivamente. Cada vez que violamos nossos princípios, crenças, esperanças e sonhos em troca de satisfação imediata entramos em conflito afetivo. Esse conflito pode nem ser percebido conscientemente mas ele está agindo dentro de nós, gerando ansiedade, medo, dúvida, ressentimento, culpa, preocupação, nos levando a uma constante insatisfação com nós mesmos e a vida que levamos….É um ciclo vicioso.
De fato, desde que se começou a investigar cientificamente a experiência da Felicidade, isso nos idos da década de 50, nos Estados Unidos, os índices de Felicidade relatados pelas pessoas não têm mostrado elevações significativas. Por um lado, do ponto de vista objetivo – acesso a serviços médicos, moradia, renda, etc. -, a vida tenha se tornado progressivamente melhor. O que implica maior satisfação. Por outro lado, do ponto de vista subjetivo – emoções, sentimentos, pensamentos, etc. -, as pessoas não se sentem mais felizes hoje do que se sentiam antes.
Psicologicamente falando: podemos mesmo dizer que a medida que as pessoas vão resolvendo seus problemas materiais mais elas podem se voltar para os problemas subjetivos, àqueles que não dependem de recursos externos para serem solucionados. Muitas vezes, é aí que a tristeza aperta porquê o que nos faz realmente felizes não pode ser comprado. Adquirir algo que desejamos muito pode elevar nosso sentimento de Felicidade por algum tempo, é o que se define em Psicologia da Felicidade como “felicidade objetiva”. Mas com o correr do calendário nossos níveis de felicidade retornam ao padrão anterior, e àquilo que nos exultava perde o encanto e o poder de nos fazer felizes. Até mesmo os políticos em época de eleição utilizam-se do fator “felicidade objetiva”, ligado à melhora de vida, para seduzir os eleitores. Acontece que a felicidade não depende apenas de recursos externos.
De certa forma, nós já sabemos de tudo isso. Tanto é que proliferam os livros de auto-ajuda, as seitas religiosas, as práticas de vida alternativa, etc. Todos recursos que nos prometem o alcance da felicidade interior, supostamente a verdadeira felicidade. Similarmente, o que entra em jogo aqui é a promessa de aquisição da Felicidade, só que, dessa vez, ela vem em modelos pré-definidos de condutas para uma vida feliz. E o equívoco de se acreditar nessas promessas é comprar a idéia de que a Felicidade possui uma fórmula que serve para todos. Há alguns séculos atrás, as doutrinas cristãs, em especial a católica, pregavam uma vida regrada, humilde e de privações como caminho seguro para a Felicidade eterna. Isso, entretanto, nunca funcionou na prática porque as pessoas têm necessidades físicas, emocionais e espirituais. Não é a toa que ainda hoje observamos as instituição religiosas lutando contra o “pecado” dentro de seus muros.
O ser humano é um conjunto complexo de desejos e necessidades, que precisam ser equilibrados para que se possa alcançar uma vida plena, e a medida desses desejos e dessas necessidades varia de pessoa para pessoa. Não há fórmulas para a Felicidade, não mesmo! Além disso há o aspecto ético, que talvez seja o único aspecto que realmente possibilite o alcance de uma vida plena, feliz. Por mais alto que nossos desejos, ou necessidades, gritem, eles não podem ser satisfeitos sem que se leve em consideração os efeitos disso sobre nós mesmos e os outros. A busca pela Felicidade, não importa a época em que se dê, é uma busca por uma vida melhor no sentido mais amplo da palavra, a busca por um ser humano melhor.
A plenitude da vida reside em viver em equilíbrio com tudo aquilo que somos e podemos ser.
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