Se você escolhe seus alimentos com base nos valores calóricos
listados na embalagem, cuidado: de acordo com o primatologista Richard
Wrangham, da Universidade de Harvard (EUA), a variação entre esses valores e os “reais” pode ser de até 30%.
Atualmente, o método usado para calcular a quantidade de calorias de
um alimento se baseia em um sistema desenvolvido há mais de um século
pelo químico Wilbur Olin Atwater. Ele estabeleceu que um grama de
carboidrato ou de proteína teria 4 kcal e que um grama de gordura teria 9
kcal.
“A Convenção de Atwater oferece valores realistas para comidas
altamente digeríveis, como pão branco”, reconhece Wrangham. Mas por
considerar que fibras seriam passadas “direto” pelo sistema digestivo,
Atwater desconsiderou valores calóricos para elas e, segundo Wrangham,
isso gera uma imprecisão em relação a certos tipos de alimentos, uma vez que as fibras são, ao menos até certo ponto, digeridas.
Além disso, Wrangham aponta que a Convenção não considera a energia
que o corpo gasta para digerir diferentes tipos de comidas – alimentos crus,
por exemplo, demandam mais energia. “Há duas razões básicas pelas quais
alimentos crus fornecem menos calorias do que cozidos – são menos
digeríveis e os pedaços que podem ser digeridos demandam mais energia
para serem quebrados. Estamos falando de uma diferença de 10 a 30%”,
aponta. “Assim, comer alimentos crus é uma boa maneira de perder peso,
mas você precisa ter cuidado quanto a isso a longo prazo, e não é uma
prática recomendada para crianças”.
Embora Wrangham ressalte a importância de se desenvolver sistemas mais
precisos, a solução não seria facilmente implantada. “Não podemos
chegar a uma situação em que os produtores de alimentos poderão usar
evidências como a digestibilidade de seus produtos para determinar
precisamente o efeito em nosso consumo de calorias, já que há uma
variante psicológica, e seria impossível recomendar, por exemplo, uma
meta diária de calorias com base nessa premissa”, aponta Catherine
Collins, nutricionista-chefe da St George’s Hospital Medical School em Londres (Inglaterra).
Além disso, o
alto custo
para se desenvolver e aplicar um sistema mais preciso de cálculo de
valores calóricos acaba dificultando a iniciativa. Seja como for, é
importante que o consumidor esteja atento a essa diferença entre os
valores calóricos anunciados e os “reais”.[
Medical Xpress] [
Science Magazine] [
The Guardian]
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