O "excesso de peso" é a principal justificativa por trás do bullying
contra crianças e alguma coisa precisa ser feita a esse respeito.
Essa é a visão predominante entre milhares de adultos de quatro países
que, quando questionados sobre porque as crianças sofrem bullying,
responderam que a justificativa mais comum não era racial, nem
religiosa, nem envolvia deficiências físicas ou a orientação sexual, mas
o peso.
Quase três quartos dos entrevistados afirmaram que as
escolas e as políticas antibullying precisam abordar essa questão, e
muitos afirmaram considerar o problema "grave" ou "muito grave".
Ainda assim, a maior parte das leis antibullying não protegem crianças
obesas, afirmou Rebecca Puhl, vice-diretora do Centro Rudd de Política
Alimentar e Obesidade da Universidade de Connecticut, em Hartford, além
de principal autora do artigo, o primeiro estudo internacional
investigando o bullying relacionado ao peso, publicado na revista
científica "Pediatric Obesity".
Não existem leis federais que
garantam o tratamento igualitários para pessoas com sobrepeso ou
obesas. "Na verdade, não é ilegal discriminar as pessoas com base em seu
peso e isso dá a entender que o preconceito, o tratamento injusto ou o
bullying com crianças acima do pesão são práticas toleráveis", afirmou
Puhl, professora de desenvolvimento humano e estudos familiares na
UConn.
À medida que os índices de obesidade aumentaram, afirmou,
tornou-se comum atribuir aos indivíduos a responsabilidade pelo excesso
de peso e pela mudança de comportamentos nocivos, "o que dá a entender
que essas pessoas são de alguma maneira culpadas pelo próprio peso e,
portanto, merecem o tratamento que recebem".
"Além disso, existe
uma noção generalizada de que o estigma talvez não seja tão ruim assim e
que as críticas servem de motivação para que as pessoas percam peso",
afirmou Puhl. No entanto, a verdade é justamente o contrário: as pessoas
que são criticadas em função do excesso de peso acabam se envolvendo em
comportamentos pouco saudáveis, afirmou. Estudantes que são chamados de
gordos durante a aula de educação física, por exemplo, acabam matando
as aulas para evitar as críticas.
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Mesmo
os pais mais preocupados com a alimentação infantil podem cometer
deslizes na hora de escolher alimentos para compor a dieta dos filhos.
Veja a seguir itens que parecem inofensivos, mas não são as melhores
escolhas | Por Catarina Arimatéia - Do UOL, em São Paulo | Consultoria:
pediatra Rubens Feferbaum, professor livre docente de nutrição infantil
da USP e vice-presidente do Departamento de Nutrição da SPSP (Sociedade
de Pediatria de São Paulo); nutricionista Cláudia Lobo, autora do livro
"Comida de Criança - Ajude seu Filho a se Alimentar Bem Sempre" (MG
Editores); Paula Castilho, nutricionista da Sabor Integral Consultoria
em Nutrição; Adriana Pessôa, endocrinologista, membro da SBEM (Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Monica Venturineli,
nutricionista clínica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo; e Vivian
Ragasso, nutricionista esportiva do Instituto Cohen de Ortopedia,
Reabilitação e Medicina do Esporte Getty Images
Segundo o novo estudo, os pesquisadores entrevistaram 2.866 adultos nos
Estados Unidos, Canadá, Islândia e Austrália. Os quatro países contam
com índices similares de obesidade na infância e na idade adulta, além
de atitudes culturais similares que incentivam a magreza e a atividade
física, afirmou Puhl.
Ao menos 70% dos participantes de todos os
países viam o bullying com crianças obesas como um problema comum, e
69% dos entrevistados acreditavam que o problema era "grave" ou "muito
grave". Embora cerca de metade dos entrevistados acreditassem que "ser
gordo" era a razão mais comum por trás das provocações, ao passo que
menos de 21% dos adultos desses países afirmaram que questões de raça,
etnia ou nacionalidade fossem as causas mais comuns do bullying. Menos
de 15% dos entrevistados listaram a orientação sexual, menos de 12%
listaram deficiências físicas, e menos de 6% listaram a religião ou o
desempenho acadêmico.
Cerca de três quartos dos entrevistados de
todos os países afirmaram que as escolas deveriam fazer esforços para
conscientizar sobre o bullying contra crianças obesas, além de
implementar políticas que protejam essas crianças. Além disso, os
entrevistados também apoiaram o desenvolvimento de leis antibullying
para combater esse ato contra crianças obesas.
Entretanto, os
americanos não são tão favoráveis ao envolvimento do governo no
problema: metade dos entrevistados afirmou que o governo deveria ter uma
postura mais ativa e apenas 47% eram favoráveis a uma lei federal que
proibisse o bullying relacionado ao peso.
A nova pesquisa não é a
primeira a relatar os mesmos dados: um estudo feito em 2011 pela
Associação Nacional de Educação revelou que 23% dos professores
relatavam que o bullying relacionado ao peso era uma preocupação nas
escolas, com percentuais mais baixos indicando a discriminação por
gênero, deficiência física, ou orientação sexual presumida.
"O
movimento do politicamente correto parece não se importar com o peso",
afirmou Deborah Carr, diretora do departamento de sociologia da
Universidade Rutgers, em New Brunswick, em Nova Jersey. "O estigma do
peso é o mais grave entre pessoas de classe média alta com formação
superior, justamente a população que mais aprecia corpos magros".
De fato, à medida que os índices de obesidade aumentaram nos últimos
anos, a percepção de discriminação por peso e altura também se tornou
mais comum, conforme mostram pesquisas.
Com cerca de um terço
das crianças e jovens americanos com sobrepeso ou obesidade, autoridades
de saúde pública temem a discriminação que podem sofrer ao chegar ao
mercado de trabalho, durante os estudos ou em ambientes médicos, além do
preconceito de colegas e até mesmo de familiares.
Jovens obesas
recebem menos apoio financeiro universitário dos pais do que jovens que
não são obesas, além disso, trabalhadores obesos recebem menos que
trabalhadores não obesos, de acordo com um relatório dos Centros de
Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) sobre o
preconceito de peso feito por Reginald L. Washington, diretor médico do
Hospital Infantil Rocky Mountain, em Denver.
O relatório do CDC
revisou políticas atuais e revelou o enviesamento de médicos,
educadores, familiares e colegas de pessoas obesas. Um estudo envolvendo
mais de 400 médicos, por exemplo, revelou que mais de 30% dos
entrevistados elencaram a obesidade como uma condição à qual reagiam
negativamente, pouco atrás do vício em drogas, de doenças mentais e do
alcoolismo. O CDC também citou uma pesquisa que revelava que as famílias
frequentemente criticavam parentes obesos; quase metade das jovens com
sobrepeso relataram provocações feitas por familiares.
Embora
alguns especialistas em saúde reconheçam que a genética individual e
diferenças no metabolismo levam algumas pessoas a engordar mais do que
outras, a ideia mais disseminada é a de que qualquer pessoa é capaz de
chegar ao peso desejado por meio de dietas e atividades físicas
regulares.
Carr afirmou que os especialistas em saúde pública
caminham sobre uma linha tênue "entre querer que as pessoas tenham
corpos saudáveis e se sintam bem com sua forma física –e desejar que
elas simplesmente controlem o peso".
http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2015/07/16/obesidade-e-principal-justificativa-por-tras-do-bullying-contra-criancas.htm?cmpid=fb-uol
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