Bernardo Staut em
13.03.2012
as 18:00
A sabedoria convencional nos diz que o ganho ou perda de peso está no
modelo de “calorias para dentro, calorias para fora”, que geralmente se
resume no refrão “coma menos, se exercite mais”. Mas uma nova pesquisa
revela que a equação é muito mais complexa do que parece, e vários
outros fatores estão em jogo.
Pesquisadores de um campo relativamente novo estão olhando para os
químicos industriais e aspectos não calóricos das comidas que
influenciam no ganho de peso. Os cientistas que estão conduzindo essa
pesquisa acreditam que essas substâncias, presentes em muitas comidas,
podem estar alterando a maneira como nossos corpos armazenam gordura e
regulam nosso metabolismo. Mas nem todos concordam.
Muitos cientistas,
nutricionistas e médicos acreditam no modelo do equilíbrio energético.
Bruce Blumberg, professor de biologia na Universidade da Califórnia,
estuda o efeito dos poluentes orgânicos que são altamente usados pela
indústria dos agrotóxicos e nos sistemas de água. Os compostos
organoestânicos “mudam a maneira como nosso corpo responde às calorias”,
ele afirma.
“Os que nós estudamos, o tributilestanho e o
trifenilestanho, geram mais, e maiores, células de gordura nos animais
expostos. Aqueles que tratamos com esses químicos não têm uma
alimentação diferente do que aqueles que não engordam. Eles estão
comendo comida comum, mas estão ficando mais gordos”.
Um estudo muito comentado de janeiro trouxe mais lenha para essa
discussão: ele confirmaria a crença no modelo do equilíbrio energético, e
foi citado por muitos pesquisadores que trabalham no campo. Quando o
autor do estudo, George Bray, foi questionado a respeito dos aditivos e
ingredientes industriais em nossa comida, ele afirmou que “não faz
diferença alguma. As calorias contam. Não há dados que comprovem o
contrário”.
Os participantes do estudo de Bray receberam quantidade baixa, normal
e alta de proteína, além de mil calorias a mais do que o necessário. O
estudo não levou em conta o conteúdo e a forma das calorias, como foram
processadas, ou quais aditivos ou químicos industriais estavam
presentes.
Bray não acredita que aditivos ou a maneira como os alimentos são
processados pode afetar o resultado do estudo. De fato, ele completou
uma pesquisa em 2007, que ele se refere como “o estudo Big Mac”, com os
participantes recebendo três refeições por dia, durante três dias, com
um grupo comendo apenas itens como o Big Mac, e outro comendo apenas
“comida caseira”. Bryan diz que o resultados não revelam nenhuma
diferença: “Pelo menos nos quesitos como tolerância à glicose, insulina,
e outros, não houve diferença. Agora, se você os alimentar por um
período maior, é claro que a quantidade vai influenciar muito”.
Outro estudo, realizado pela Universidade de Princeton, indica que o
tipo da caloria importa. Os pesquisadores descobriram que ratos que
bebiam xarope de milho, com muita frutose, ganhavam mais peso do que
aqueles que bebiam água com açúcar, mesmo que o número de calorias fosse
o mesmo. Os primeiros animais também exibiram sinais de síndrome
metabólica, como ganho de peso anormal, especialmente gordura visceral
ao redor da barriga, e aumento significativo dos triglicérideos.
Miriam Bocarsly, autora principal do estudo, afirmou: “A questão das
calorias para dentro, calorias para fora, é muito boa e muito debatida
no campo. Mas nós temos esse resultado que aconteceu com ratos. Algo é
obviamente diferente entre o xarope e a água com açúcar, mas o que
será?”.
Blumberg comenta que a frutose, por si só, já é um obesógeno. “A
frutose cristalizada não existe na natureza, nós estamos fabricando
isso”, afirma. “A frutose não é comida. As pessoas pensam que ela vem da
fruta, mas não. A que comemos é sintetizada. Sim, é derivada da comida.
Mas cianeto também vem da comida. Você chamaria ele de comida?”.
O neuroendocrinologista Robert H. Lustig também acredita que a
frutose é um elemento relacionado à obesidade. “Eu pessoalmente coloco a
frutose nos obesógenos. Como a frutose engana o cérebro para que coma
mais, ela possui propriedades consistentes para a obesidade”, diz.
Lustig é outro, entre os pesquisadores e médicos, que enxerga o
modelo do balanço calórico como falso. “Eu não acredito nesse modelo,
centralizado nas calorias”, comenta. “Acredito no do depósito de
gordura, que é centrado na insulina. A razão é que, ao alterar a
dinâmica da insulina, você pode mudar o consumo calórico e o
comportamento relacionado às atividades físicas.
Isso tem sido minha
pesquisa pelos últimos 16 anos”, conta. A ideia de Lustig é que, ao
aumentar a circulação de insulina – geralmente um resultado do consumo
exagerado de frutose – as pessoas ficam mais esfomeadas e cansadas, o
que resulta em excesso de alimentação e falta de motivação para se
exercitar.
Outro possível elemento obesógeno é o bisfenol A (BPA), encontrado em
muitos alimentos e materiais de embalagens. O professor Frederick S.
vom Saal, da Universidade de Columbia/Missouri, vem estudando isso.
O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou que
quase todos os americanos testados tinham BPA na urina, “o que indica
que há grande exposição da população ao BPA”. Algumas marcas já se
pronunciaram, e planejam parar de usar o produto nas latas e embalagens
dos alimentos.
Vom Saal acredita que o BPA é apenas o exemplo mais proeminente das
várias substâncias presentes em nossa comida que podem nos deixar
obesos. “Se as pessoas realmente querem resolver a obesidade, diabetes, e
doenças cardiovasculares, não é inteligente ignorar um contribuinte
como esse. E nós não estamos obesos apenas por causa do BPA. Também sei
que a nicotina e outros químicos influenciam na diabetes e nas doenças
metabólicas”.
Se a teoria dos “obesógenos” for aceita, a indústria da comida estará
com problemas. Seria difícil promover alimentos diet e “saudáveis” que
podem ter menos calorias, mas contém uma série de substâncias que podem
contribuir para o aumento de peso.
A ênfase que a indústria coloca nas escolhas pessoais põe o ônus no
individuo, e deixa o consumidor com difíceis decisões para fazer sobre
os produtos e aditivos industriais. E os produtos não vêm com essas
substâncias listadas, já que não é obrigatório.
“As pessoas dizem para mim o tempo todo: ‘O que eu faço?’”, comenta
vom Saal. “E a resposta é, não há muito que fazer, porque a indústria
não é obrigada a te contar sobre esses químicos. Como evitar algo que
você não enxerga?”.
O modelo do equilíbrio energético também coloca a responsabilidade no
consumidor, porque a sabedoria convencional é de que as pessoas comem
demais.
Será que podemos continuar essa discussão simplesmente em termos de
calorias ingeridas? Ou olhar apenas para as categorias tradicionais,
como gorduras, proteínas e carboidratos, e lacticínios, carnes, grãos e
vegetais? Como há uma proliferação de poluentes industriais nos
alimentos ultraprocessados, muitos especialistas acreditam que não. [
TheAtlantic]
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