Bruno Calzavara
O pano de fundo da reprodução humana pode provocar questionamentos
sobre alguns dos mistérios mais íntimos da vida. Toda chegada de um bebê
provoca uma série de perguntas do tipo “como conseguirei tomar conta de
uma criança?” ou “serei capaz de ser uma boa mãe?”.
Papais de primeira viagem à parte, o início de uma nova vida pode
também levantar questões que são de grande importância prática na vida
cotidiana. Entre elas:
5. Por que os testículos de um homem ficam do lado de fora do corpo?
Na maior parte dos mamíferos, incluindo nos primatas, os testículos
descem da sua posição inicial, ao lado dos rins, para uma bolsa
escrotal, localizada fora do corpo. A descida dos testículos já foi
explicada de várias maneiras.
O motivo mais amplamente aceito tem relação com a temperatura
corporal elevada, típica dos mamíferos. É um consenso científico que a
produção de esperma em humanos não pode ocorrer em um ambiente com a
temperatura tão elevada quanto a média do corpo. Sabe-se, por exemplo,
que os casos em que os testículos de um homem permanecem na cavidade do
corpo resultam em infertilidade.
No entanto, a produção de espermatozoides claramente pode ocorrer
dentro do corpo, porque alguns mamíferos – como golfinhos, rinocerontes e
elefantes – produzem sêmen em testículos que não descem. Em vez disso,
parece que uma temperatura mais baixa é melhor para o armazenamento de
esperma. Mamíferos com testículos que não descem possuem várias
adaptações especiais para armazenar o esperma em locais onde a
temperatura corporal é mais baixa.
4. Quantos espermatozoides são necessários para garantir a fertilização?
A resposta é curta e fácil: um. Apenas um espermatozoide é necessário
para fertilizar um óvulo. Na verdade, é desastroso se um óvulo é
fertilizado por mais de um espermatozoide, já que apenas um conjunto de
cromossomos paternos deve ser fornecido. Tanto que existem mecanismos especiais para evitar que mais de um espermatozoide fertilize um óvulo.
No entanto, cada ejaculação humana contém, em média, 250 milhões de
espermatozoides. Então, por que tantos? Várias pesquisas têm mostrado
que os homens que expelem menos de 60 milhões de espermatozoides por vez
tendem a ter problemas de fertilidade. Além disso, os tratamentos
contra a infertilidade conseguem elevar a contagem de espermatozoides de
60 milhões para cerca de 200 milhões de espermatozoides a cada
ejaculação. Porém, qualquer aumento adicional parece não ter nenhum
efeito sobre a fertilidade.
Nós sabemos que a grande maioria dos espermatozoides ejaculados se
perdem pelo caminho e apenas algumas centenas acabam perto do óvulo.
Parte dessa redução no número serve claramente para eliminar o esperma
inadequado. Por exemplo, os espermatozoides deformados são filtrados
pelo muco no colo do útero e parece provável que uma nova seleção
aconteça nas tubas uterinas. Dessa forma, um grande número de
espermatozoides são necessários para garantir que aquele um
espermatozoide geneticamente perfeito atinja o alvo.
3. É verdade que a contagem de espermatozoides humanos está em declínio?
Desde 1974, várias pesquisas têm indicado que a contagem de
espermatozoides humanos foram reduzidos pela metade em várias populações
em regiões industrializadas nos últimos 60 anos ou mais.
Entretanto, essa conclusão tem sido contestada por várias razões,
principalmente pelo fato de que alguns estudos não encontraram nenhuma
evidência de um declínio na contagem de esperma. Verificou-se que isso
acontece porque há diferenças marcantes na contagem de esperma de
populações de locais e épocas diferentes. Também foi sugerido que a
redução no número de espermatozoides decorreu de mudanças nos métodos de
contagem.
No entanto, esses mesmos métodos foram utilizados para avaliar as
contagens de esperma em animais de fazenda tais como bois, ovelhas e
porcos, e nenhum declínio foi constatado no número de espermatozoides
entre os animais. A boa notícia é que a contagem nos humanos ainda não
caiu para níveis que ameacem severamente a fertilidade, e essa
diminuição pode se estabilizar logo.
O mais preocupante, neste ponto, é que o declínio da contagem de
esperma está acompanhado por um aumento acentuado em anormalidades do
sistema reprodutor masculino – testículos que não descem para o saco
escrotal e desenvolvimento anormal do pênis – em conjunto com taxas mais
elevadas de câncer no testículo e de próstata.
As evidências sugerem um efeito ambiental de algum tipo, que afeta
apenas os seres humanos. Vários fatores têm sido indicados como os
grandes vilões, mas os candidatos mais prováveis são as toxinas
ambientais que imitam a ação dos hormônios esteroides.
2. O ciclo reprodutivo da mulher é regular?
O modelo do ciclo menstrual humano, com a ovulação e a concepção
acontecendo regularmente perto da metade do ciclo, formou a base para o
pensamento médico desde 1930. Este modelo, porém, necessita de uma
revisão radical.
A noção de ovulação regular no meio do ciclo é em si apenas uma
abstração estatística. Ciclos menstruais apresentam variações
consideráveis tanto em duração, rotineiramente variando entre três e
cinco semanas, quanto no momento exato da ovulação, em relação à
menstruação.
Um importante fato sobre esse assunto em particular tem sido estudado
por cientistas e pode levar a uma descoberta revolucionária. Pesquisas
apresentam evidências de que o esperma pode ser armazenado por dias
dentro no útero humano. Isto significa que a relação sexual necessária à
concepção pode ocorrer até 10 dias ou mais antes da ovulação.
Isto levanta grandes problemas para o “método do ritmo” de
contracepção, que conta com a sabedoria até agora aceita que o esperma e
os óvulos possuem duração de vida estritamente limitada, sobrevivendo
apenas dois dias e um dia, respectivamente. Na prática, o método do
ritmo (mesmo com melhorias) é muito pouco confiável.
O pior de tudo é que a evitar a relação sexual na época da ovulação
acaba, na realidade, aumentando o risco de fertilização de
espermatozoides ou óvulos “velhos” e, por conseguinte, o risco de
anomalia fetal. Vários estudos indicam que isto é, de fato, o que
acontece.
1. Por que o parto humano é um processo tão longo e doloroso?
O nascimento de um ser humano é um processo desafiador, que
geralmente dura várias horas, ao invés de apenas uma ou duas horas como
em macacos. Isto se dá basicamente porque os nossos recém-nascidos são
extraordinariamente grandes – duas vezes maior que os bebês de grandes
macacos – e têm cérebros particularmente grandes.
Durante o nascimento, o bebê humano gira de uma forma complexa, com o
resultado que sua cabeça normalmente acaba voltada para as costas da
mãe, em vez de para a frente, como em outros primatas. As medições
médicas revelam que, no momento do parto, o tamanho da cabeça do
recém-nascido é levado ao limite.
As dimensões biológicas dos seres humanos geralmente possuem um
formato padrão de sino, que os estatísticos chamam de uma distribuição
normal. Na hora do parto, entretanto, duas curvas à primeira vista
incompatíveis se encontram: a extremidade larga da cabeça do
recém-nascido com a extremidade estreita do canal pélvico.
Em um processo chamado de “poda genética”, a seleção natural
infelizmente agiu contra as cabeças grandes dos bebês e os canais
pélvicos pequenos das mulheres. O ajuste é tão apertado que o cérebro
humano ainda tem muito o que crescer após o nascimento. Em outros
primatas, o cérebro do recém-nascido é cerca de metade do seu tamanho
adulto, mas em seres humanos, o cérebro possui apenas um quarto do
tamanho do órgão adulto. [CNN]
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