O engenheiro Fauzer Simão se superou correndo maratonas com mais de 100 kg. Mas só fez as pazes com a balança após a operação
Yara Achôa, iG São Paulo
Foto: Arquivo pessoal
Antes e depois: com a corrida e a cirurgia bariátrica, Fauzer Simão venceu a obesidade
O engenheiro Fauzer Simão Abrão Jr., hoje com 42 anos, sempre
teve tendência a ganhar peso. Durante algum tempo ainda conseguiu manter
certo controle sobre a forma, movimentando-se em partidas semanais de
futebol com os amigos. Duas fraturas no braço sofridas no ano 2000, no
entanto, o afastaram do esporte.
Logo o ponteiro da balança subiu – rapidamente ele ultrapassou a
marca de 100 kg, excessivos para seu 1,70m de altura. E com isso também
surgiram os problemas de saúde: colesterol alto, triglicérides nas
alturas, pré-diabetes e diversas lesões ortopédicas nos dois joelhos e
em um tornozelo.
Disposto a mudar, começou a correr em 2005.
A atividade deu-lhe novo ânimo. Entusiasmado, começou a participar de
várias provas. “Meu sonho passou a ser correr a São Silvestre. Treinava
para colocar meu peso para a casa dos dois dígitos e terminar bem a
corrida”, conta. Com apoio médico, atingiu a marca de 97 kg e concluiu a
tradicional corrida do dia 31 de dezembro em 1h53m.
Mas a batalha contra a obesidade estava longe de ser vencida. Até
porque Fauzer novamente recuperou o peso, chegando a 110 kg. “Mesmo
assim corri a Maratona de São Paulo”. Superação para ele e surpresa para
quem não acreditava que o engenheiro pudesse realizar a proeza de
finalizar os 42 km de prova.
Em 2008, problemas de saúde afastaram Fauzer das corridas. “Fiquei um
ano e meio longe do esporte, pois precisei fazer cinco cirurgias, sendo
três delas nos joelhos, por desgaste da cartilagem, uma reconstrução
dos ligamentos do tornozelo esquerdo, pois todos foram rompidos numa
torção do pé e a
cirurgia bariátrica. Para completar, tive duas tromboses”, explica. O resultado: 120 kg acusados na balança.
Porém, nem mesmo nessa fase crítica, ele abandonou o desejo de
voltar a correr uma São Silvestre – sendo inclusive alvo de piada de um
colega de trabalho. “Ele não cansava de tripudiar toda vez que me
encontrava e eu dizia que voltaria a correr”.
A São Silvestre de 2009 serviu para que ele calasse os maldosos:
“Completei a prova em 1h48min e me senti realizado por ter passado por
tudo aquilo, ter conseguido voltar a correr e por ter completado essa
prova novamente”.
Fim da obesidade
Com o índice de massa corporal (IMC) acima de 40 (indicativo de
obesidade grau III) e com todas as comorbidades já adquiridas, Fauzer
tinha uma indicação cirúrgica direta. Segundo os médicos, se não
realizasse a operação naquele momento, tinha 80% de chances de retornar
depois de dois anos para realizar o procedimento, porém já diabético.
“Demorei a aceitar porque achava que a cirurgia bariátrica era coisa
para derrotado que não se esforçava para perder peso. Mas, esclarecido
pelos especialistas, pude entender que eu tinha um problema e não
conseguiria emagrecer de outra forma”.
O ano de 2010 foi marcado por altos e baixos. Com um novo corpo de 73
kg e postura vitoriosa, Fauzer correu novamente a Maratona de São
Paulo. Só que, algumas semanas após a prova, teve uma insuficiência
renal aguda. Ficou um mês entre a vida e a morte em um hospital fazendo
diálise, recebendo transfusão de sangue e rezando para que seus rins
voltassem a funcionar. “Foram dias terríveis e só me recuperei graças à
volta do funcionamento dos rins, que era incerta, e ao apoio da esposa e
dos filhos”, relembra.
A história em livro
E se a corrida ensinou alguma coisa para o engenheiro foi superação,
tanto que ele resolveu retratar sua história no livro “42,195 – A
Maratona de Desafios que Superei nos Meus 42 Anos e 195 Dias de Vida por
meio da Corrida!”, que será lançado pela Ícone Editora nesta
sexta-feira, dia 1º abril, em São Paulo. “Também tenho falado da minha
experiência em palestras de motivação em empresas. O retorno tem sido
surpreendente”, conta, orgulhoso.
O título do livro foi cuidadosamente pensado. “42.195 metros é a
distância oficial de uma maratona; em 2 de dezembro de 2010 completei 42
anos e 195 dias de vida e foi a data em que terminei de escrever o
livro; e a história conta passagens pelas quatro maratonas que corri,
fechando um ciclo entre minha história, minhas maratonas e minha idade”,
explica.
Ele resolveu compartilhar sua história após receber o incentivo dos
amigos. “Sou uma pessoa comum, que trabalha, tem seus problemas de
trabalho e família e ainda arruma tempo para se preparar para uma
maratona. Além do mais, falo da persistência de um obeso, que chegou aos
120 kg, mas não desistiu do sonho de enfrentar os 42 km de asfalto.
Ninguém acreditava que isso era possível – e eu consegui”.
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