*Mariana Fusco Varella
As mulheres em geral entram na
menopausa
por volta dos 50 anos. Um pouco antes dessa idade, costumam
experimentar, algumas de forma devastadora, sintomas como diminuição da
libido, ondas de calor alternadas com arrepios de frio, astenia, secura
vaginal, depressão, entre outros.
A
intensidade dos sintomas varia, mas eles afetam por volta de 80% das
mulheres. Apesar de poucas passarem imunes a eles, não se sabia muito
sobre sua duração até a divulgação, este ano, do maior estudo sobre
saúde da mulher (
SWAN, sigla em inglês), publicado na revista científica americana JAMA.
Os
pesquisadores analisaram 1.499 mulheres na perimenopausa (fase que
antecede a menopausa) por pouco mais de 7 anos, nos Estados Unidos.
Os
resultados revelaram, por exemplo, que os calores, um sintoma que
costuma incomodar bastante, só começaram depois da parada das
menstruações em 20% dos casos; em 66%, o início se deu no período em que
as menstruações se tornaram irregulares; e em 13%, surgiram ainda na
vigência dos ciclos menstruais.
O fato surpreendente do estudo foi
mostrar que o período das ondas de calor, que é desagradável para a
maioria das mulheres, pode ser longo: em metade das participantes, não
chegou a durar 7,4 anos, mas na outra metade, ultrapassou esse período.
Na
década de 1960, quando a expectativa de vida era de 48 anos (dado do
IBGE), a mulher que entrava na menopausa já estava próxima do fim da
vida. A maioria tinha netos, e pouco se esperava dela além de que se
comportasse como uma avó carinhosa e acolhedora.
Portanto,
pouco importava se a mulher precisava conviver com sintomas como secura
vaginal, pele ressecada e flácida, queda de cabelo e depressão. Os
calores, então, que muitas vezes chegam a ponto de molhar a roupa, eram
algo constrangedor com que se tinha de conviver, de preferência sem
fazer alarde.
Hoje a expectativa de vida no Brasil, ainda segundo o
IBGE, é de quase 75 anos. Pressupondo que a mulher entre na menopausa
ao redor dos 50 anos e que seus sintomas se iniciem até alguns anos
antes desse período, a mulher terá de conviver com a menopausa por pelo
menos 25 anos.
É bastante tempo. Pedir que ela abra mão de uma
vida sexual satisfatória e que aceite se sentir mal física e
psicologicamente por tantos anos é no mínimo cruel.
Os sintomas da menopausa, portanto, são um problema que ela não deve mais enfrentar sozinha e escondida.
Contudo, se
esse aspecto da fisiologia humana não é bem conhecido, por que se
demorou tanto para lançar um estudo completo como o SWAN e se investe
pouco em pesquisas nessa área?
A resposta é simples, embora
constrangedora: porque a menopausa acontece com as mulheres. E elas vêm
enfrentando essa fase da vida caladas e resignadas.
A menopausa,
contudo, não deve ser encarada como o fim da vida, mas como um período
longo e importante dela, em que ainda há muito a se fazer.
Para
enfrentar seus sintomas desagradáveis, as mulheres precisam estar
amparadas por profissionais de saúde que saibam identificá-los e
tratá-los, quando for o caso. E ela deve exigir isso.
A mulher tem
de se recusar a viver infeliz consigo mesma, aceitando menos do que
merece: percorrer o último terço da vida de forma plena.
*Editora do site drauziovarella.com.br e do blog
Chorumelas
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