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Sáb, 29 de Março de 2014 11:52
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Priscila Nayade
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No final da Segunda Guerra Mundial, a notícia de que certas pessoas nos
territórios ocupados estavam tendo uma “dieta de fome” se espalhou.
Pesquisadores norte-americanos queriam estudar os efeitos da fome e, por isso, recrutaram voluntários famintos.
O Experimento da Fome de Minnesota, que se iniciou em 1944, na
Universidade de Minnesota, durou bastante tempo e queria descobrir os
efeitos da fome e como reabilitar uma pessoa severamente faminta. Foi
uma experiência motivada por notícias sobre as condições de vida na
Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O horror dos campos de
concentração ainda estava por vir, mas as pessoas, em territórios
devastados pela guerra, já estavam sofrendo com dietas severamente
restritas.
De um grupo de 400 voluntários, 36 homens foram escolhidos. Todos
tinham entre 22 e 33 anos, e estavam em boas condições de saúde. Eles
foram informados de que o experimento iria passar por qua |
tro fases.
Durante três meses, eles iriam comer um número específico de calorias,
de modo que os pesquisadores poderiam levá-los a um peso saudável e ter
uma linha de base para sua dieta (eles foram mantidos ativos, e a
dieta que foi dada foi de 3.200 calorias). Uma vez que tinha chegado
até o seu "peso ideal", sua ingestão calórica foi reduzida quase para a
metade. Eles ingeririam 1.560 calorias por dia, todos os dias, e nada
mais. Eles tiveram uma dieta comparável ao que o povo na Europa teria
disponível: vegetais de raiz e amidos com carne, ocasionalmente, ou
gelatina. O objetivo da dieta era fazer os homens perderem um pouco
mais de dois quilos por semana e 25% do seu peso corporal em seis
meses.
Após
seis meses, eles passaram por uma fase de reabilitação de três meses, a
qual seria permitido mais alimentos. Eles seriam divididos em vários
grupos, com diferentes quantidades de calorias e proteínas, gordura e
vitaminas. Finalmente, eles seriam permitidos, durante oito semanas,
comerem o que quisessem.
Durante este tempo, eles foram mantidos em dormitórios no campus, com
testes regulares de sangue, de resistência, mentais e muitos outros
tipos de testes. Eles receberam o trabalho administrativo no
laboratório, que permitiu que eles frequentassem as aulas na
universidade. Acima de tudo, eles eram vigiados. Para os testes serem
bem sucedidos, os pesquisadores tiveram de ter certeza de que os
participantes não estavam os enganando.
A dieta de reabilitação não permaneceu como interesse geral para as
gerações seguintes, embora tenha ajudado os cientistas a entenderem que
as pessoas que sofriam com a fome precisavam ser superalimentadas, em
vez de apenas alimentada, para ajudá-los a reconstruir seus corpos. É o
efeito que retêm fascínio duradouro para os cientistas e para o
público. Primeiramente, os participantes apenas reclamaram de fome, de
uma incapacidade de concentração e da falta de bom senso. Se os homens
não perderam bastante peso, suas “rações” foram reduzidas, ou seja,
alguns tinham mais comida do que outros. Todos comeram juntos,
observando quem tinha o que. Sem surpresa, o ressentimento surgiu e
havia um monte de lutas nos dormitórios.
Depois, veio a depressão extrema. Vários membros foram hospitalizados
por problemas psiquiátricos. Alguns chegaram a se mutilar. Um homem
amputou três dedos com um machado, embora tenha dito posteriormente que
ele não sabia se tinha feito isso de propósito ou se simplesmente não
conseguia pensar claramente. Considerando que ele havia machucado os
dedos uma vez antes, deixando um carro passar sobre eles, os
pesquisadores pensavam que a nova lesão foi provocada por problemas
psiquiátricos e ele foi encaminhado para tratamento.
Depois
veio fraqueza. Quando um homem traiu a dieta, os pesquisadores exigiram
que o resto dos homens fosse a qualquer lugar com um amigo. Anos mais
tarde, um dos participantes disse que estava grato pelo sistema de
amigos, já que é impossível enfrentar algo assim sozinho. Os homens
perderam o cabelo, ficaram tontos, sentiam frio o tempo todo, e seus
músculos doíam. Muitos desistiram das aulas. Os cientistas observaram
que a frequência cardíaca de repouso e a taxa de respiração também
caíram. O corpo faminto estava tentando usar o mínimo de calorias
possível. Por um tempo, eles mascavam chicilete. Eles mastigaram até
quarenta pacotes todos os dias, até que os cientistas decidiram retirar
completamente a goma.
Tornaram-se obcecados pela comida que tinham, segurando-a na boca e
tentando prolongar as refeições. Um dos homens disse que o que o
incomodava mais do que tudo foi o fato de que o alimento tornou-se o
ponto central em sua vida. Ele não se importava mais com nada, somente
com a comida. Ele assistia a filmes com cenas de comida e lia revistas
só pelos anúncios de alimentos. Outro homem disse que tinha começado a
odiar as pessoas que foram capazes de ir para casa e ter um bom jantar.
A comida tornou-se sua maldição e obsessão. Isso foi surpreendente e
também como uma boa parte dos homens ultrapassou a meta projetada de uma
perda de 25% do peso corporal. Muitos homens caíram para 44 ou 45 kg.
Durante o período de reabilitação de três meses, os diferentes grupos
de homens deveriam receber quantidades diferentes de alimentos. Os
pesquisadores rapidamente abandonaram a ideia depois de perceberem que
os homens com pequenas calorias na dieta não mostravam sinais de
recuperação. Alguns até perderam peso mesmo depois do aumento da
ingestão de calorias.
Apesar
dos esforços sinceros dos pesquisadores, praticamente não havia homens
que se sentiram recuperados depois de apenas três meses. No dia em que
eles foram autorizados a comer novamente, alguns comeram tanto que
ficaram doentes. Ele ficaram bem além do peso. Alguns disseram que não
conseguiram parar de comer obsessivamente por um ano. Nenhuma
quantidade de comida era suficiente para eles.
Hoje, os resultados do Estudo da Fome em Minnesota servem, em sua
maioria, de nota para as pessoas que estudam transtornos alimentares.
Muitos dos comportamentos dos homens famintos exibidos, tais como a
diluição de alimentos com água para torná-la ‘recheados’, ou comer
devagar para prolongar as refeições, também são exibidos por pessoas
que sofrem de anorexia.
Subsequente, a alimentação implacável dos homens é semelhante à
compulsão alimentar. Embora eles se tornassem doentes fisicamente, eles
não conseguiam obter comida suficiente para fazê-los se sentirem
satisfeitos.
Quando contatados anos depois, muitos dos homens disseram que o
experimento foi a coisa mais difícil que já tinha feito, mas estavam
felizes por terem participado e disseram que fariam novamente.
Fonte: Io9 Foto: Divulgação / Domínio Público
http://www.jornalciencia.com/sociedade/comportamento/3768-eua-deixou-homens-passando-fome-quase-ate-a-morte-durante-a-segunda-guerra-mundial-para-fazer-experiencias-cientificas
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