Por que eu não vou te visitar na maternidade
Rita Lisauskas
30 dezembro 2014 | 08:00
Criança nasce e começa o oba-oba da família e dos amigos. E a
pergunta mais ouvida no cafezinho do escritório, elevador do prédio ou
nas rodinhas de conhecidos do casal é uma só: “Já foi visitar o bebê?” O
que muitas mães, principalmente as que não são de
primeira viagem, pensam, mas não dizem, é que não querem que você vá. E
não porque não gostam de você. Não dizem por vergonha mesmo, já que
ninguém em sã consciência recusa uma visita cheia de boas intenções,
flores e presentes. As de primeira viagem querem que você vá porque não
têm a mínima ideia do que vem por aí então até capricham na encomenda
dos “bem-nascidos” para receber a galera (e tem casais que contratam
buffet para os convidados com a concordância do hospital – que muitas
vezes não permite acompanhante, não permite doula, não permite parto na
banheira. Mas permite buffet. )
As primeiras horas de um bebê costumam ser trash, rock´n roll, uma
coisa “Living la vida loca” do Ricky Martin (já assistiu ao clipe?). Mas
quase ninguém admite isso com todas as letras. Como agora eu já sei
disso vocês não me verão em uma maternidade tão cedo. A não ser que eu
decida ter outro filho (porque daí eu sou obrigada já que, infelizmente,
não tenho coragem para um parto domiciliar) ou minha irmã ou melhor
amiga decida ter um bebê.
Tive um parto normal super legal e tranquilo, mas que durou quase DEZ
horas. Cheguei no quarto com o bebê às nove da noite e não consegui
dormir porque estava naquela adrenalina e também porque fiquei abraçada
ao meu filho durante a madrugada toda. O dia amanheceu e começou uma
maratona de visitas que começou às nove da manhã e terminou às dez da
noite. Eu queria muito aprender a amamentar, mas não me sentia à vontade
em continuar a testar formas de fazer ele pegar meu peito com tanta
gente dentro do quarto. Precisava de sossego. E não tinha. (Mães de
cesárea ainda têm que lidar com os pontos – e são vários, já que sete
camadas de pele e músculo são cortadas, vai vendo.)
Segundo dia de maternidade, a mesma coisa. Visitas e mais visitas e a
amamentação ainda na estaca zero. A pediatra mandou trazer um bico de
silicone que pelos mesmos motivos eu também não conseguia testar (só
muito tempo depois soube que foi neste exato momento que minhas chances
de me dar bem no quesito amamentação foram por água abaixo, assunto para
outro post). Muitos de vocês podem dizer: “Mas por que não pediu para
as pessoas saírem alguns minutos do quarto?”. Você conseguiria se
dedicar em paz a qualquer projeto na sua vida sabendo que há pessoas
esperando por você do outro lado da porta, olhando para o relógio?
Então.
Os primeiros dias em casa também não foram fáceis. Com a chegada da
bombinha de tirar leite já que meu projeto amamentação estava
naufragando eu tinha que estar de pé de duas em duas horas – uma hora
antes do horário que o bebê costumava acordar – para ordenhar leite
materno. Como decidi não ter babá que dormisse em casa: “onde já se viu
meu filho chorar e não ser eu a socorrê-lo?” virei uma morta-viva. E
pedia para que meu marido gentilmente encontrasse desculpas para eu não
ter de receber as pessoas. Eu só queria dormir todo tempo que fosse
possível para me recuperar. E as visitas chegando em casa, em looping. E
quando eu estava sozinha com o bebê? Telefone tocando
in-sis-ten-te-men-te, que eu quase nunca conseguia atender e quando
podia era brindada com um: “Nossa! Por que você não atende esse
telefone?” Compreensão com a puépera mandou um beijo, não é mesmo?
Por isso eu não vou te visitar na
maternidade. Também não vou aparecer na sua casa nos primeiros meses.
Mas é só por isso, já que te mandei flores e felicitações pelas redes
sociais. Quando você estiver bem, recuperada e seu bebê tiver tomado
todas as vacinas, prometo aceitar um convite para um passeio na
pracinha. Mas espero você me ligar, combinado?
PS: Para as pessoas que viram meu bebê em casa e na maternidade,
obrigada. Mesmo. Eu me senti muito amada e lembro com muito carinho de
todos vocês. Vocês não sabiam como eu estava me sentindo. Agora sabem.
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