É essa a primeira dica do americano Shawn Achor, especialista em psicologia positiva: sucesso não traz felicidade. Mas felicidade, essa sim, pode trazer sucesso.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal.
No contexto, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida (tradução livre):
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A conotação satírica da frase, no sentido de que seria bom ter também uma mente sã num corpo são, é uma interpretação mais recente daquilo que Juvenal pretendeu exprimir. A intenção original do autor foi lembrar àqueles dentre os cidadãos romanos que faziam orações tolas que tudo que se deveria pedir numa oração era saúde física e espiritual. Com o tempo, a frase passou a ter uma gama de sentidos. Pode ser entendida como uma afirmação de que somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mens_sana_in_corpore_sano
segunda-feira, 27 de abril de 2015
3 dicas da ciência para se dar bem na vida (e que não são sobre dinheiro e poder)
É essa a primeira dica do americano Shawn Achor, especialista em psicologia positiva: sucesso não traz felicidade. Mas felicidade, essa sim, pode trazer sucesso.
O peso de viver em um corpo obeso*
2. Enfermeira. Professora Adjunta III da FAEN/UFMT e membro do GPESC. Cuiabá, MT - Brasil
Submetido em: 30/03/2012 Aprovado em: 27/11/2013
[...] Aí de lá pra cá ela começô a se largar na vida, assim. Não queria mais sabê de saí [...] Aí ela foi deixando de saí, foi deixando de vivê, né? Isso aí foi quando ela foi só se envolvendo com comida. Comida, comida[...] comida[...] e esqueceu que ela tinha que vivê, [...] Aí foi aonde ela chegô a obesidade que ela tava, né? E em seguida engravidô. Aí passô da gravidez e teve o acidente que ela teve. E esse acidente aí teve que quebrou a coluna, né? Aí foi só prejudicando, só prejudicando[...] porque daí já tinha dia que ela não aguentava nem andá direito. Entortava, entortava[...] entortava[...] e não conseguia andá.[...] (Mãe de Flor-de-Lis).
Eu comecei a engordar quando eu engravidei da primeira gravidez. Eu fiquei oito anos sem ter filho, né? Eu fiz muito tratamento e comecei a engordar (Amarílis)
A gente é discriminada! [...] Eu já entrei muito em loja [...] da guria olhá em você assim [mostrando de cima a baixo] – "seu número não tem"! Nem interessa sabê ou procurá se é prá você ou não é, né! Só fala isso (Amarílis).
Virava e mexia eu tava observando os outros falando e rindo, comentando, fazendo aquelas piadinhas. Que todo o gordo passa por esta fase, né? Esse momento de piada. E eu já tinha passado bastante por esse momento já. Os apelidos[...] imensos!!! Um monte! (Flor-de-Lis).
Diminuiu bastante a minha amizade, assim [...] Eu não procurava, me oprimia. Tinha vergonha de saí, conversá, procurá novas amizades! [...]. Aí eu pensava: "Ah! Então vô ficá em casa". Então eu me prendi, eu mesmo me prendia em casa. Não queria saí, não queria. Eu me considero, assim, numa fase meio depressiva. [...] Num saía, me fechei no meu cantinho. Quando eu comecei a engordá, me fechei no meu canto (Flor-de-Lis).
Eu corri muito atrás mesmo [...] Me vejo melhor, né!, [...] Mas eu procurei mais por estética. Estética não, necessidade (Flor-de-Lis).[...] Aí ela falô [para o cirurgião] que a psicóloga não tinha liberado. Aí foi onde ele [o cirurgião] respondeu pra ela: "quem vai te operá sou eu! Eu preciso da colaboração deles, mas quem vai te operá sou eu! Quem sabe o que precisa ou não sou eu!". E vai fazê os exames, né? E já encaminhô os exames né? [...] Fez os exames. Soltô lá na Central de vagas. Que eu achei que ia levá uns dois, três anos, e Deus foi tão maravilhoso pra nóis que não demorô. Aí fui, ela foi no[...] ortopedista dela pediu pra ele ajudá, né? Ele foi deu um laudo pra ela, né, falando do problema da coluna dela. E esse documento ajudô bastante. Ajudô muito, muito mesmo! Quando ela assustô, ela já tava operada. Ela nem acreditô! Já tava operada (Mãe de Flor-de-Lis).
Eu tive hemorragia intestinal[...] eu tive uma trombólise, quase perdi a perna. Eu tive muitas coisas lá naquele hospital, eu fiquei quase quatro meses, eu vinha eu voltava, internava de novo, eu vinha voltava, internava de novo. Sofri muito, sofri muito! [...] Chegava em casa ficava ruim e voltava de novo interná. Aí, depois disso, eu ainda fiquei internada duas vezes porque me deu anemia, né? Tive que volta[...] tomá sangue! (Amarílis).
Mas graças a Deus eu tenho muito a agradecê, porque se eu fosse gorda eu faria tudo de novo. Fazia tudo de novo! Ah, se eu não fazia! Às vezes eu vejo mulher gorda aí novinha "ah!, eu não tenho coragem, não!", não tem porque você é boba? Né? É tão bom ficá magrinha! (Amarílis).
[...] a psicóloga lá do hospital é brava, é brava pra você lidá com ela. Aquela é. Aí ela pegô e falô pra menina que ela não ia liberá. Falô pra ela: "eu não vô liberá porque você tem condições de emagrecê". Ela falô: "bom, eu acho que não, né?" Porque eu já tomei medicamento, eu já fiz acompanhamento. Eu já fiz o regime e eu não consegui. Aí ela foi e falô assim: "não, você vai tê que consegui, e eu não vô liberá". E não liberô. Essa menina entrô numa depressão que daí pronto, foi aquele desespero (Mãe de Flor-de-Lis).
Tenho vontade de saí [...] Agora quero saí, quero, não é nem, muitas pessoas falam agora qué exibí que tá magra, né? Não é isso que eu, eu penso que eu tenho vontade, né, eu sinto que agora eu posso (Flor-de-Lis).É tão bom ficá magrinha. Tão gostoso. A gente trabalha tão gostoso! Veste a roupa que qué. Hoje eu visto calça 42. Ah, delícia! Eu nunca visti uma calça jeans na minha vida (Amarílis).
[...] agora mudô completamente. Tenho mais vontade, tenho mais ânimo, quero conversá, quero falá que eu fiz a cirurgia, que eu pesava tanto e agora eu tô tanto! Gosto quando os outros falam: "nossa, não parece que você pesava tudo isso". Pesava! [com voz de orgulho, satisfação]. [...] peguei gosto pela vida de novo. Porque antes eu vivia por vivê, agora eu tenho prazer de vivê! (Flor-de-Lis, notas de observação).
[...] eu não me vejo magra, né? Só me vejo quando pego uma roupa, quando os outros falam: "tá muito magra". Mas eu não me acho ainda, né?. [...] "Tá parecendo os seus osso aqui". Mas eu falo só na hora que eu pego que eu sinto, mas não me vejo, não consigo me vê magra ainda (Flor-de-Lis).
OBESOS PEDEM SOCORRO!
sábado, 23 de novembro de 2013
10 razões pelas quais aparelhos móveis devem ser proibidos para crianças menores de 12 anos!
Estes dias foi publicado um artigo no site Info Exame (Editora Abril), sobre a idade ideal para as crianças terem acesso à aparelhos móveis.
Não é uma tarefa fácil proibir as crianças do uso de qualquer tipo de aparelho móvel (celular, tablet e jogos eletrônicos) antes dos 12 anos. Acho, na verdade, até um pouco radical, apesar de ter todo um embazamento e mil estudos por trás destas afirmações. Eu mesma não consigo ter essa disciplina com meus filhos.
Dar celular próprio para os filhos apenas com essa idade também deve ser super difícil porque é uma forma de controlarmos nossos pequenos, mas concordo que este é o ideal. Afinal, nós passamos nossa infância e adolescência inteira sem a existência desse aparelho e vivemos muitíssimo bem!
Achei interessante e pertinente compartilhar com vocês este texto! Vejam o que acham e deem suas opiniões a respeito!
Mil Bjss
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A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria afirmam que crianças de 0 a 2 anos não devem ter nenhuma exposição à tecnologia, crianças de 3 a 5 anos devem ser limitadas à uma hora de exposição por dia e crianças e adolescentes de 6 a 18 anos devem ser restritas a duas horas por dia (AAP 2001/13, CPS 2010). Crianças e jovens usam de quatro a cinco vezes a quantidade de tecnologia recomendada, provocando consequências graves e, em muitos casos, colocando suas vidas em risco (Fundação Kaiser 2010, Active Healthy Kids Canada 2012). Aparelhos eletrônicos móveis (telefones celulares, tablets, jogos eletrônicos) aumentaram muito o acesso e uso de tecnologia, especialmente por crianças muito pequenas (Common Sense Media, 2013). Como terapeuta ocupacional pediátrica, convoco pais, professores e governos a proibir o uso de todos os mobiles para crianças com menos de 12 anos. Seguem dez razões, todas apoiadas em pesquisas, para justificar essa proibição. Para ter acesso às pesquisas com referências, procure o Zone’in Fact Sheet no site zonein.ca.
1) Crescimento cerebral acelerado
Entre 0 e 2 anos de idade, o cérebro da criança triplica de tamanho, e ele continua em estado de desenvolvimento acelerado até os 21 anos de idade (Christakis 2011). O desenvolvimento cerebral infantil é determinado pelos estímulos do ambiente ou a ausência deles. Já foi comprovado que o estímulo a um cérebro em desenvolvimento causado por superexposição a tecnologias (celulares, internet, iPad, TV) é associado ao déficit de funcionamento executivo e atenção, atrasos cognitivos, prejuízo da aprendizagem, aumento da impulsividade e diminuição da capacidade de se autorregular, por exemplo, acessos de raiva (Small 2008, Pagini 2010).
2) Atraso no desenvolvimento
O uso de tecnologia restringe os movimentos, o que pode resultar em atraso no desenvolvimento. Hoje uma em cada três crianças ingressa na escola com atraso no desenvolvimento, o que provoca impacto negativo sobre a alfabetização e o aproveitamento escolar (HELP EDI Maps 2013). A movimentação reforça a capacidade de atenção e aprendizado (Ratey 2008). O uso de tecnologia por menores de 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento e aprendizado infantis (Rowan 2010).
3) Obesidade epidêmica
Existe uma correlação entre o uso de televisão e videogames e o aumento da obesidade (Tremblay 2005). Crianças às quais se permite que usem um aparelho digital no quarto têm incidência 30% mais alta de obesidade (Feng 2011). Uma em cada quatro crianças canadenses e uma em cada três crianças americanas são obesas (Tremblay 2011). 30% das crianças com obesidade vão desenvolver diabetes, e os obesos correm risco maior de AVC e ataque cardíaco precoce, resultando em grave redução da expectativa de vida (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, 2010). Em grande medida devido à obesidade, as crianças do século 21 talvez formem a primeira geração da qual muitos integrantes não terão vida mais longa que seus pais (Professor Andrew Prentice, BBC News 2002).
4) Privação de sono
60% dos pais não supervisionam o uso que seus filhos fazem de tecnologia, e 75% das crianças são autorizadas a usar tecnologia no quarto de dormir (Fundação Kaiser 2010). 75% das crianças de 9 e 10 anos têm déficit de sono em grau tão alto que suas notas escolares sofrem impacto negativo (Boston College 2012).
5) Doença mental
O uso excessivo de tecnologia é um dos fatores responsáveis pelas incidências crescentes de depressão infantil, ansiedade, transtorno do apego, déficit de atenção, autismo, transtorno bipolar, psicose e comportamento infantil problemático (Bristol University 2010, Mentzoni 2011, Shin 2011, Liberatore 2011, Robinson 2008). Uma em cada seis crianças canadenses tem uma doença mental diagnosticada, e muitas tomam medicação psicotrópica que apresenta riscos (Waddell 2007).
6) Agressividade
Conteúdos de mídia violentos podem causar agressividade infantil (Anderson, 2007). A mídia de hoje expõe as crianças pequenas a cada vez mais violência física e sexual. O game “Grand Theft Auto V” retrata sexo explícito, assassinato, estupros, tortura e mutilação; muitos filmes e programas de TV fazem o mesmo. Os EUA classificaram a violência na mídia como Risco à Saúde Pública, devido a seu impacto causal sobre a agressividade infantil (Huesmann 2007). A mídia informa o uso crescente de restrições físicas e salas de isolamento para crianças que exibem agressividade descontrolada.
7) Demência digital
O conteúdo de mídia que passa em alta velocidade pode contribuir para o déficit de atenção e também para a redução de concentração e memória, devido ao fato de o cérebro “podar” os caminhos neurais até o córtex frontal (Christakis 2004, Small 2008). Crianças que não conseguem prestar atenção não conseguem aprender.
8) Criação de dependência
À medida que os pais se apegam mais e mais à tecnologia, eles se desapegam de seus filhos. Na ausência de apego parental, as crianças podem apegar-se aos aparelhos digitais, e isso pode resultar em dependência (Rowan 2010). Uma em cada 11 crianças e jovens de 8 a 18 anos é viciada em tecnologia (Gentile 2009).
9) Emissão de radiação
Em maio de 2011 a Organização Mundial de Saúde classificou os telefones celulares (e outros aparelhos sem fios) como risco de categoria 2B (possivelmente carcinogênico), devido à emissão de radiação (OMS 2011). Em outubro de 2011, James McNamee, da Health Canada, lançou um aviso cautelar dizendo: “As crianças são mais sensíveis que os adultos a uma série de agentes, porque seus cérebros e sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento.” (Globe and Mail 2011). Em dezembro de 2013 o Dr. Anthony Miller, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Toronto, recomendou que, com base em pesquisas novas, a exposição a frequências de rádio seja reclassificada como risco de categoria 2A (provavelmente carcinogênico), não 2B (possivelmente carcinogênico). A Academia Americana de Pediatria pediu uma revisão das emissões de radiação de campo eletromagnético de aparelhos de tecnologia, citando três razões relativas ao impacto sobre as crianças (AAP 2013).
10) Insustentável
O modo em que as crianças são criadas e educadas com a tecnologia deixou de ser sustentável (Rowan 2010). As crianças são nosso futuro, mas não há futuro para crianças que fazem uso excessivo de tecnologia. É necessária e urgente uma abordagem de equipe para reduzir o uso de tecnologia pelas crianças.
As Diretrizes de Uso de Tecnologia para crianças e adolescentes, vistas abaixo, foram desenvolvidas por Cris Rowan, terapeuta ocupacional pediátrica e autora de Virtual Child; o Dr. Andrew Doan, neurocientista e autor de Hooked on Games; e a Dra. Hilarie Cash, diretora do Programa reSTART de Recuperação da Dependência da Internet e autora de Video Games and Your Kids, com contribuições da Academia Americana de Pediatria e da Sociedade Pediátrica Canadense, no intuito de assegurar um futuro sustentável para todas as crianças.
http://www.justrealmoms.com.br/10-razoes-pelas-quais-aparelhos-moveis-devem-ser-proibidos-para-criancas-menores-de-12-anos1/
sábado, 18 de abril de 2015
A hora da fome: porque precisamos comer?
A hora da fome: porque precisamos comer
O organismo humano tem necessidade contínua de energia. Pode ficar até dois meses em abstinência porque, além de certo estágio, passa a se alimentar de si mesmo.
por Flávio Dieguez e Marcelo Affini
Nos três primeiros dias, a sensação é terrível. A vontade de comer, persistente e angustiante, alia-se ao aumento de saliva na boca, à secreção de sucos gástricos e roncos do aparelho digestivo. É sinal de que este recebeu o alerta geral do cérebro, informando que há falta de combustível nas artérias, e se coloca em estado de prontidão — totalmente inútil, pois não há o que digerir. “De imediato, os sentidos ficam muito mais aguçados, como a visão, a audição e principalmente o olfato”, diz a fisiologista Naomi Shinomiya Hell, da Universidade de São Paulo (USP). “Como um radar, ele tenta captar o cheiro de alguma coisa para comer. Isso vale tanto para o homem como para os outros animais, domésticos ou selvagens.”
Mas, apesar do sentimento de alarme, o organismo está longe de correr perigo. Por incrível que pareça, um indivíduo adulto e saudável pode ficar até dez ou vinte dias em completa abstinência de comida sem risco de sofrer danos irreversíveis — desde que beba água. É o que diz o anatomista Edson Liberti, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (o ICB, onde também trabalha Naomi). Isso acontece, em primeiro lugar, porque o corpo sempre guarda alguma reserva energética — algo em torno de 6 000 calorias, o suficiente para três ou quatro dias em repouso e em circunstâncias normais.No caso de grande necessidade, diz Liberti, esse estoque pode durar bem mais de uma semana.
Em seguida, começa uma forma suave de canibalismo interno: o organismo consome suas próprias proteínas, obtidas à custa de “desmontar” tecidos e órgãos, para suprir a inadiável necessidade de energia. Trata-se de um recurso extremo, empregado apenas quando as perdas já ocorridas ameaçam parar a máquina viva. Afinal, após meros dez dias sem comer, um indivíduo emagrece na proporção de até 10% do total de seu peso, ou cerca de 7 quilos num homem de 70 quilos. Os batimentos cardíacos caem em taxa ainda maior — de 74 para 61 por minuto — e a própria temperatura do corpo pode oscilar de alguns décimos de grau.
Esses números aparecem num livro clássico, adotado há décadas em muitas escolas de Medicina — Fisiologia Humana, do cientista argentino Bernardo A. Houssay (1887-1971), ganhador do Prêmio Nobel de 1947. Ele lembra fatos curiosos — como o de que o organismo “desaprende” a gerar energia pela via costumeira do aparelho digestivo, e se receber comida, adoece. Há um aumento da quantidade de açúcar no sangue, apresentando pressão alta e sintomas semelhantes aos do diabete — como o de verter o açúcar glicose junto com a urina. Conta também que a fome intensa dos primeiros dias logo desaparece e é substituída por uma gradual debilitação física e mental.
Seja como for, num estágio mais avançado de privação alimentar, a pessoa certamente morrerá de indigestão se receber um farto prato de comida, porque suas vilosidades, ou reentrâncias da parede dos intestinos, já foram destruídas. Na Somália e no Sudão, as pessoas submetidas a prolongada insuficiência alimentar precisam passar por extenso tratamento médico antes que possam receber comida. Os técnicos da Organização das Nações Unidas recomendam grande cuidado ao se socorrer qualquer flagelado pela fome. É óbvio que a essa altura o corpo já não se encontra apenas debilitado, mas começa a sofrer conseqüências que podem ser irreversíveis.
Depois de no máximo quinze dias de jejum, as proteínas dos músculos passam a ser queimadas para gerar energia; a musculatura perde o relevo e se atrofia. E isso não vale apenas para os músculos estriados, ou voluntários (os responsáveis pelos movimentos externos do corpo): também podem ficar comprometidos alguns músculos involuntários, como os existentes nas paredes do estômago, veias e outras vísceras. Entre os somalis, muitos já não têm as contrações do aparelho digestivo e há exemplos de vasos dilatados, o que provoca problemas cardíacos. Em animais com dois meses de jejum, verifica-se degeneração das fibras do coração. O pulmão e o cérebro são outros órgãos prejudicados.
É espantoso, portanto, que muitos homens passem trinta ou cinqüenta dias ingerindo apenas água. Houssay conta que a Medicina registra inúmeros casos assim, e cita pelo menos um grevista — o irlandês Mac Swiney — que resistiu até os 74 dias sem comer. De maneira geral, porém, se considera que a morte é inevitável após sessenta dias, mais freqüentemente em quieto coma e às vezes em convulsões. A ciência ainda não descobriu a gênese da fome, ou seja, exatamente o que faz o organismo buscar e ingerir alimentos. Os pesquisadores afirmam que essa sensação está prioritariamente ligada à glicemia, a quantidade de glicose dissolvida no sangue.
Até meados dos anos 80, acreditava-se que a fome crescia à medida que a glicemia caía. “Mas não é assim”, diz o fisiologista César Timo-Iaria, do Laboratório de Neurologia Experimental da Faculdade de Medicina da USP. A fome, diz ele, é um sintoma de que o fígado está trabalhando demais para manter a concentração normal de glicose na corrente sangüínea. Não é difícil entender isso, já que esse órgão é o responsável pelo patrimônio de glicose — o principal combustível usado pelas células — disponível no sangue. Normalmente, há cerca de 1 grama de glicose para cada litro de sangue, o que dá perto de 5 gramas dissolvidos nesse líquido contido em todo o sistema cardiovascular, de acordo com o livro de Houssay. Ele diz que o corpo dispõe de mais 15 gramas de glicose dissolvida nos líquidos entre as células, os chamados líquidos intersticiais.
Parece pouco, mas 1 grama de açúcar, depois de queimado com 0,75 litro de oxigênio, gera nada menos que 3 750 calorias, e aquelas quantidades se referem apenas à glicose pronta para chegar às células. O mais importante é que o fígado armazena perto de 200 gramas daquele combustível, numa forma compactada, denominada glicogênio. Assim, ele controla o suprimento de glicose no corpo, transformando glicogênio em glicose sempre que necessário. Para isso, conta com células chamadas glicorreceptoras, que funcionam como sensores e indicam a todo momento a concentração de glicose na circulação.
Segundo Timo-Iaria, foram encontrados glicorreceptores em três partes do organismo: “Os mais potentes estão no hipotálamo, mas também estão presentes no fígado e na região denominada núcleo do trato solitário, localizados na parte mais caudal do encéfalo, sob a nuca”. Tudo isso funciona mais ou menos como o sistema hidráulico de um edifício, compara o cientista. Em cima do prédio há uma caixa, dotada de bóia que indica o nível de água, e no subsolo, um imenso reservatório. Quando a caixa se esvazia além de um ponto crítico, repõem-se as perdas por meio de uma bomba que capta água do reservatório. A bóia, com isso, volta a mostrar que o nível de água está normal. “Os glicorreceptores correspondem à bóia. A bomba de água e o reservatório correspondem ao fígado”.
Num organismo sem alimentos, o intestino não fornece ao fígado matéria-prima para produzir a glicose, mas a concentracão de açúcar no sangue não chega a cair devido ao contra-ataque acionado pelas células glico-receptoras. No edifício, seria a hora em que a bomba de água começa a funcionar. No corpo humano, o fígado entra em hiperatividade e passa a gastar suas reservas. Não é à toa que existe tão complicado sistema de controle e de alarme para garantir o suprimento de energia. É que ela é absolutamente essencial — a ponto de o corpo se autodestruir para evitar sua falta. Proteínas e vitaminas também são importantes, e sua carência, a longo prazo, cria distorções terríveis, como atrofia muscular, cegueira e outros males. Mesmo assim, o organismo corre o risco, apenas porque não pode parar sequer por um momento.
Basta pensar no coração, um músculo fortíssimo, que mantém sob pressão constante algo como 5 litros de sangue. Quando se reflete um pouco, percebe-se quanto movimento existe num organismo, mesmo quando todas as suas partes externas estão imóveis. O pulmão precisa bombear oxigênio e gás carbônico sem cessar; os intestinos e o estômago realizam contrações complexas; o suor é outra óbvia fonte de movimento, pois representa água quente bombeada para fora, através da pele, de modo a manter constante a temperatura. É claro que, se uma pessoa se alimenta mal, todas essas funções ficam potencialmente prejudicadas. Mas tudo se faz para que não cessem, porque isso seria o fim.
O fato de o organismo se agarrar à vida por longo tempo depois de ter sido privado de combustível só pode ser motivo de profunda admiração. Ainda mais quando se pensa que ele é formado por um condomínio de simples células microscópicas, organizadas em número inimaginável — o corpo humano contém 60 trilhões delas. Em conjunto, diz Naomi Hell, elas se tornam a mais formidável e perfeita máquina existente no planeta.
Para saber mais:
Força, fígado
(SUPER número 6, ano 3)
A dura jornada de um sanduíche boca adentro
(SUPER número 12, ano 4)
Como o brasileiro se alimenta
(SUPER número 6, ano 5)
Começo de vida saudável (SUPER número 4, ano 6)
A trilha da energia
Em várias etapas, o corpo humano retira de tudo o que ingere as matérias-primas para a sua existência
Boca
É só pensar em comer e ela se enche de saliva, que dá início à digestão
Estômago
Transforma o alimento num líquido viscoso, fragmentando-o quimicamente para facilitar a absorção pelo intestino
Fígado
Armazena, sob a forma de glicogênio, toda a glicose não utilizada pelas células periféricas da circulação. Isso faz as pessoas não sentirem fome a toda hora.
Célula
Captura a glicose em circulação e, por meio de uma reação com o oxigênio, a transforma em energia.
Cérebro
Agrega os mais potentes sensores que medem continuamente a concentração de glicose no sangue, pois é o órgão que mais a utiliza.
Suco gástrico
Composto de ácidos que quebram as longas cadeias de átomos que compõem os alimentos em pequenas moléculas
Intestinos
Onde se completa a digestão: proteínas são fragmentadas em aminoácidos, carboidratos em glicose e frutose, e a gordura torna-se hidrossolúvel. Tudo isso cai na corrente sangüínea.
Energia na medida certa
Tudo que o corpo humano ingere — seja um pedaço de lasanha, um sanduíche, doces, sorvetes, pipoca ou refrigerantes — é tratado por ele, indistintamente, como alimento. Um organismo plenamente desenvolvido utiliza esse alimento como matéria-prima para regenerar boa parte de suas células e para gerar a energia que o conserva vivo. Em repouso absoluto, ele tem a potência de uma lâmpada: consome 100 watts de energia, o correspondente a 2 100 quilocalorias por dia. Cerca de 20% dessa energia é utilizada pela musculatura esquelética, 5% pelo coração, 19% pelo cérebro, 10% pelos rins e 27% pelo fígado e pelo baço.
Dependendo do tipo de atividade que exerce, o organismo gasta mais ou menos energia, diz a nutricionista paulista Flora Spolidoro. Ela deve saber, pois criou a dieta mais adequada para o aventureiro Amyr Klink realizar suas proezas pelos oceanos. “O corpo de um atleta precisa de muito mais energia que o de uma recepcionista. Um operário de construção tem muito mais chance de ser magro que um executivo.”
Quando Klink atravessou o Atlântico a remo, a partir da África até a América do Sul, seu consumo de energia era grande durante as oito horas diárias que re-mava. Mas nas outras 16 horas, ele ficava muito mais parado que qualquer cidadão, pois tinha os movimentos limitados pelo pequeno barco, diz a nutricionista. “A dieta teve que ser balanceada de forma que o gasto energético fosse reposto sem excessos.” Flora conta que o essencial era a cota de calorias, e acabou fixada de acordo com o há-bito de Klink: 2 900 por dia, embora 4 000 fosse o número teórico. De resto, ele comeu de tudo, do macarrão ao bife grelhado e leite.