Entenda o papel da genética e da alimentação no surgimento da doença
As
causas do câncer ainda intrigam os especialistas, enquanto alguns
hábitos são notadamente perigosos (caso do tabagismo, por exemplo),
ainda existe dúvida em relação ao peso de fatores genéticos no
surgimento da doença. A falta de repertório não afeta só a população
leiga, mas também os profissionais da saúde - o assunto, inclusive, foi
tema destaque no último congresso da Sociedade Europeia de Oncologia
Clínica, realizado na Áustria. Conscientes de que há carência de
informações seguras, principalmente, no que se refere à prevenção do
câncer, os especialistas dedicaram horas para apresentar o que já se
sabe - as revelações foram baseadas num estudo que avaliou as principais
dúvidas de 748 pessoas quanto ao tema, a seguir você confere as
principais novidades.
Genética
No Congresso, os especialistas apresentaram um
estudo com 748 pessoas, incluindo profissionais de saúde, e 90% do grupo
disse acreditar que a genética aumenta significativamente o risco de
câncer. "Na realidade, apenas 5% a 8% dos tipos de câncer são,
dependendo de sua localização, de fato causados por um gene herdado",
afirma o oncologista Artur Malzyner, da Clinonco, de São Paulo. De
acordo com o oncologista, a confusão provavelmente se dá porque existem
fatores externos, como o tabaco, o álcool e substâncias presentes no
plástico (como o bisphenol A) que causam a mutação dos genes, servindo
como gatilho para um câncer. "Mas existem tipos de câncer com
predisposição mais alta em caso de doenças de cunho genético, é o caso
da polipose familiar do cólon (crescimento que se projeta da parte
interna do cólon ou do reto)", diz o especialista.
Dieta desintoxicante
Quando questionados sobre como reduziriam seu
risco de câncer, 27% dos entrevistados acreditavam que colocar em
prática uma dieta de desintoxicação seria um bom método, enquanto 64%
achavam que a comida orgânica protege contra o câncer. O nutricionista
Fábio Gomes, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), explica que o
agrotóxico provoca vários problemas de saúde, mas a relação entre eles e
o aparecimento do câncer ainda não é certo. Na dúvida, alimentos
orgânicos continuam sendo a opção mais segura.
Carne vermelha
Cerca de 40% dos entrevistados desconhecia a relação entre o consumo da
carne vermelha
e o aumento do risco de câncer. Vários estudos já revelaram que comer
muita carne vermelha pode ser prejudicial à saúde. Um deles, realizado
pela Universidade de São Paulo e apresentado no Congresso da Sociedade
Americana do Câncer, aponta o alimento como fator de risco para o câncer
de intestino. A pesquisa revelou que quem consome carne bovina ou suína
diariamente, em qualquer quantidade, apresenta 35% mais chances de
desenvolver câncer de intestino grosso.
Carne processada
Está aqui um dos fatores de risco mais
conhecidos, 85% dos participantes sabiam do risco de ingerir carne
processada. O nutricionista Fábio Gomes explica que linguiça, salsicha,
bacon e até o peito de peru contêm quantidades consideráveis de nitritos
e nitratos. Essas substâncias, em contato com o estômago, viram
nitrosaminas, capazes de promover mutação do material genético. "A
multiplicação celular passa a ser desordenada devido ao dano causado ao
material genético da célula. Esse processo leva à formação de tumores,
principalmente do trato gastrointestinal", explica Fábio Gomes.
Telefone celular
Para 68% dos participantes da pesquisa, existe
relação entre a radiação liberada pelo telefone celular e o
desenvolvimento de câncer. O oncologista Artur explica que, de fato,
existe tal associação (principalmente com tumores cerebrais) e que,
apesar de discreta, ela merece atenção. A pedido da Organização Mundial
de Saúde, 31 cientistas de 14 países revisaram estudos sobre a segurança
do uso de telefones celulares. Os especialistas encontraram evidência
suficiente para caracterizar o uso do aparelho como "possivelmente
cancerígeno para humanos".
Obesidade
Apenas 32% dos participantes da pesquisa e 41% dos profissionais de saúde sabiam que a
obesidade
é um fator de risco para o câncer. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), cerca de um terço dos casos de câncer no mundo podem ser
relacionados à obesidade. O oncologista Artur lembra que a obesidade,
além de ser um hábito passado de pai para filho, também pode ser
transmitida geneticamente. "Os hábitos que causam a obesidade, como a
alimentação rica em gorduras e a falta de atividade física, afetam a
família inteira", diz o médico.
Estresse
Mais de 90% dos participantes do estudo apontaram que o
estresse
pode ser o causador de câncer e eles estão certos. Alguns estudos já
demonstraram que o estresse pode causar câncer indiretamente por
enfraquecer o sistema imunológico e encorajar a formação de novos vasos
sanguíneos para vascularizar o tumor. Outro estudo, publicado no
The Journal of Clinical Investigation mostrou
que hormônios como a adrenalina, liberada no momento de estresse, podem
influenciar o crescimento e a metástase do tumor. A dica no
especialista, entretanto, é para evitar o alarme exagerado. "Você
precisa se autoconhecer, diferenciando situações de tensão comuns no dia
a dia do estresse crônico, que causa alterações no organismo", afirma o
oncologista Anderson Arantes Silvestrini, presidente da Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica.
Roupas apertadas
Roupas apertadas também foram citadas pelos
participantes da pesquisa como um fator que aumenta a incidência do
câncer. Segundo os pesquisadores do estudo e os especialistas
entrevistados, não existe qualquer relação entre roupas apertadas e o
desenvolvimento de tumores. O oncologista Anderson conta ainda que não
há qualquer ligação entre a compressão, no caso o sutiã, e o câncer de
mama.
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