Algumas pessoas obesas que se exercitam regularmente conseguem ter um
metabolismo saudável, sem risco maior de desenvolverem doenças
vasculares, diabetes ou câncer do que pessoas magras, segundo um grande
estudo divulgado hoje na revista científica European Heart Journal. A
conclusão, polêmica, afirma que é possível, sim, estar acima do mesmo e
ao mesmo tempo permanecer saudável – mas, para isso, é preciso ser
fisicamente ativo.
Ou seja, a pesquisa não defende a obesidade, menos ainda o
sedentarismo ou a má alimentação. Ela apenas relativiza um dogma atual
da medicina, que afirma que para ser saudável é preciso ter determinados
índices de gordura no corpo – calculados geralmente pelo IMC (índice de
massa corporal).
No estudo, o que os autores defendem é que os médicos avaliem as
condições clínicas de seus pacientes para, então, recomendarem alguma
intervenção – quem está acima do peso, mas tem seus índices de pressão
arterial, colesterol, glicemia e triglicérides normais, por exemplo,
talvez não precise sair do consultório com a indicação de perder peso.
“Sabemos bem que a obesidade está associada a um número grande de
doenças crônicas, como problemas cardiovasculares e câncer. No entanto,
há pessoas obesas e ativas que aparentemente estão protegidas dessa
associação”, afirma um dos autores do estudo, o médico do esporte
Francisco Ortega.
Ele explica que a grande diferença entre esses obesos ‘saudáveis’ e
os obesos não saudáveis era a capacidade física gerada pela prática
regular de exercícios. “Nosso estudo mostra que os médicos precisam
levar em conta que nem todos os obesos têm o mesmo prognóstico.”
A pesquisa foi realizada pela Universidade da Carolina do Sul
(Columbia) e avaliou dados de 43.265 participantes entre 1979 e 2003 –
ou seja, um grande número de pessoas avaliadas e por um bom período de
tempo, o que dá credibilidade às conclusões. Do total de pessoas
analisadas, 46% eram obesos e metabolicamente saudáveis – e com mesmo
risco de pessoas magras de desenvolverem doenças crônicas.
Vários estudos sérios e de longo prazo já mostraram que pacientes com
câncer que praticam atividades físicas regulares vivem mais. O
exercício ajuda no tratamento, na recuperação e reduz a chance de
reincidências – em mulheres com tumores de mama, por exemplo, estudos
mostraram que a atividade física ajudou a reduzir a chance de uma nova
ocorrência em 50%.
No entanto, mesmo com tantas evidências benéficas, oncologistas ainda
falam pouco sobre o assunto em seus consultórios e muitos ainda são
relutantes na hora de mandar seus pacientes para a academia ou o parque,
segundo
estudo da
Mayo Clinic divulgado nesta semana.
Em
um dos maiores levantamentos já feitos sobre os benefícios da atividade física para pacientes com câncer, pesquisadores do
Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos
analisaram dados disponíveis desde 1950, encontraram essa relação
positiva entre longevidade após a doença e uma rotina de exercícios.
O que falta é entender ainda exatamente porquê isso ocorre. E também
avaliar quais são as atividades mais indicadas para cada tipo de
paciente, com cada tipo de tumor, de tratamento e de estado clínico
geral – cada condição exige um tipo de exercício, bem mais leve ou um
pouco mais intenso, e não há uma receita única para cada um.
Justamente por isso é tão importante a orientação médica, que nem
sempre, segundo o estudo da Mayo Clinic, é feita com atenção. Os
pesquisadores, até agora, descobriram que, em geral, os pacientes são
aconselhados sobre remédios, alguns efeitos colaterais e quase nada
sobre estilo de vida, incluindo o exercício.
Uma abordagem que, para eles, poderia ser mais ampla e mais didática,
num aconselhamento que ouvisse os pacientes e entendesse a sua rotina,
para sugerir melhorias.
“Como médicos, costumamos dizer aos pacientes que praticar atividade
física é importante. Mas não vamos além e não sabemos o quanto os
pacientes são informados a respeito”, afirma Andrea Chevill, do
departamento de Medicina e Reabilitação da clínica. Andrew afirma que
quando os oncologistas fazem a recomendação, os pacientes em geral levam
a indicação mais seriamente, e realmente se engajam em alguma atividade
física.
Como não custa relembrar, exercícios melhoram a mobilidade do
paciente, fortalecem sua musculatura (importante para quem faz
quimioterapia, por exemplo), ajuda na sensação de bem-estar (pela
liberação de neurotransmissores), ajuda a combater a sensação de fadiga
comum a pacientes oncológicos e melhora a qualidade do sono.
Por isso, reproduzo aqui algumas orientações do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos:
- Questionar o médico sobre a prática de exercícios
- Começar num ritmo lento e intensidades leves
- Reconheça as limitações do momento, e faça adaptações de acordo com orientação profissional
- Quem enfrenta problemas de equilíbrio ou tonturas, deve preferir atividades na piscina
- Quem está com sistema imunológico enfraquecido, mais suscetível a
infecções, deve tomar cuidado com academias e aparelhos de uso comum
Mulheres grávidas que praticam séries de ioga por pelo menos dez
semanas apresentam melhora do humor, afirmam se sentir mais conectadas
com seus bebês no útero e reduzem os sintomas e o risco de depressão
antes e após o parto, segundo pesquisa da Universidade de Michigan
divulgada nesta semana (
artigo completo aqui).
Quando se pensa que 1 em casa 5 mulheres grávidas apresentam algum
sintoma de depressão, um resultado como esse pode ajudar médicos e
gestantes a adotarem as aulas de ioga como medida preventiva, que não
envolve medicações (de uso mais restrito durante uma gestação) e
praticamente não tem efeitos colaterais.
É claro que qualquer atividade física precisa ser antes discutida com
o médico que acompanha a mulher e até mesmo as posturas feitas precisam
ser avaliadas previamente. Cada gestação é uma gestação e muitas
mulheres têm diversos tipos de restrições e precisam de um
acompanhamento especial – por isso, novamente, é importante conversar
com médico e também procurar instrutores de ioga que sejam
especializados em aulas para gestantes antes de começar qualquer
prática.
A imagem aí de cima, belíssima, é da americana
Lisa Down Angerame,
uma ex-funcionária do JP Morgan que largou tudo para se tornar uma
instrutora de ioga, hoje especializada em aulas para mulheres.
Voltando para a pesquisa, publicada no periódico científico
Complementary Therapies in Clinical Practice, foram
avaliadas mulheres que afirmaram se sentir muito irritadas, ansiosas e
estressadas durante a gestação, resultado de mudanças hormonais e
demandas familiares e profissionais.
“Sempre vimos mulheres grávidas procurando aulas de ioga para
tentarem reduzir o estresse, mas não havia nenhuma informação sobre a
eficácia do método”, afirma a principal autora do estudo, a psiquiatra
Maria Muzik, do Centro para Crescimento e Desenvolvimento Humano da
universidade. ”Com nossos resultados, percebemos que a ioga pode ser
uma alternativa para tratamentos farmacêuticos para mulheres grávidas
que começam a apresentar sinais de depressão”, completa ela.
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