Como
já se sabe, os regimes restritivos demais fracassam. Só emagrece e se
mantém magro quem come de tudo um pouco - e tem gente ganhando dinheiro
com o óbvio.
Neste exato momento 50 milhões de brasileiros fazem algum tipo de dieta,
em guerra comtra a balança. Em apenas dois meses, contudo, metade terá
abandonado os esforços por uma silhueta mais alinhada e uma vida mais
saudável. Outros quatro meses, e uma pequena parte (somente 2%)
continuará firme e forte no ingrato propósito de perder os quilos em
excesso. Preguiça? Falta de força de vontade? "
A maior parte das
dietas que a imensa maioria das pessoas se propõe a seguir é radical
demais, muito restritiva,. e por isso não funciona". diz o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clínícas (CPClin).
É assim desde a década de 70, quando o cardiologista americano Robert
Atkins condenou os carboidratos e incensou as as proteínas (leía-se
comidas gordurosas) como aliadas dos corpos esbeltos. Depois dele,
vieram os programas de Beverly Hills e seu cardápio à base de abacaxi (e
aftas). Em seguida, surgiu um tal de doutor Ornish, com a redenção das
massas e pães integrais. Ah!, e apareceram também os regimes da Lua, do
tipo sanguíneo e mais recentemente, da princesa. Bobagens em série. "
A única maneira de perder peso de forma duradoura e saudável é comer de tudo um pouco, sem radicalismo", completa Eliaschewitz.
A dieta ideal é a do bom·senso, aquela que nossas avós recomendam desde
sempre. A primeira vista. parece simples, mas há quem se perca no
momento de definir as porções exatas. Para muitos, uma colher de sopa de
arroz ou uma fatia média de pizza não são informações suficientemente
precisas. A colher pode ser cheia? Quão médio deve ser o pedaço? Para
navegar no mar de dúvidas,dois americanos bronzeados da Califórnia
descobriram o ovo de Colombo.
O personal trainer Steven Kates e o cinasta Myles Berkowitz estão
engordando suas contas bancárias ao vender o óbvío: medidores para os
adeptos da sensatez alimentar. Batizada de Lifesize, a feiosa traquitana
vem com oito recipientes - para carboidratos (batata frita. arroz e
massas), pratos picantes (comida chinesa ou indiana), assados (quiche,
bolo e brownie), carnes (vaca,frango, peixe, pato e nuggets) laticínios
(derivados do leite) petiscos (de homus a marshmallow), extras (geléia,
maionese, manteiga e croutons) e líquidos. Os medidores devem ser
utilizados nas três principais refeições diárias. Há um grupo de
alimentos que pode ser consumido à vontade. É o caso das frutas,
vegetais, condimentos como ketchup e mostarda (sim!) e, pasmem, açúcar e
sal.
Lançado há um ano como uma tola coleção de potinhos, o Lifesize virou
sucesso popular. Pagam-se 93 dólares pelos medidores associados a três
DVDs que explicam o método, além de uma tabela que deve ser colada na
parede e mostra os itens que integram cada um dos grupos alitnentares do
Lifesize. "Queremos livrar as pessoas da obsessão de contar calorias",
disse Berkowitz a VEJA. A evidente recomendação do Lifesize não é o que
se come, mas quanto se come. No último ano, foram vendidos cerca de
7000 kits da invenção - só nos Estados Unidos e Canadá já que, por
enquanto, não há como ditribuir o produto em outros países.
Em breve, a dupla de empresários pretende lançar um aplicativo para
smartphone com fotos das quantidades sugeridas pelo divertido programa. O
Lifesize começou a nascer há cinco anos, quando Kates e Berkowitz foram
apresentados por um amigo comum. Acima do peso, o cineasta Berkowitz
pediu conselhos ao magérrimo e tatuadíssimo (um rato morto no pescoço,
inclusive) personal trainer. Kates sugeriu a mera diminuiçao de
quantidades, mas nadinha ele privação. O cineasta duvidou da proposta,
mas seguiu o conselho e - mágica - emagreceu. Houve a ideia de escrever
um lívro, mas decidiu-se por algo mais palatável. Novidade alguma, a não
ser a inteligente sacada. "Determinar o tamanho das porções dos alimentos com base nesse sistema é o mesmo que medi-las com colheres, xícaras ou copos" diz o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento.
É dura a vida em busca da esbelteza. Depois de dois ou três meses, as
dietas restritivas demais estão fadadas ao fracasso não somente por
causa da redução no consumo de calorias, mas também, porque apregoam a
eliminação de um grupo alimentar inteiro do cardápio. É evidente que
uma pessoa acostumada a comer um chocolate no meio da tarde tem muito
mais chance de seguir uma dieta que lhe permita continuar a desfrutar
seu doce do que um regime em que ela é incentivada a trocar o
chocolatinho por sementes de Não há quem aguente passar muito tempo à
base somente de salada com filé de frango grelhado. A explicação está
nos mecanismos de defesa da espécie.
O apetite está associado à produção do hormônio grelina. Sintetizada no
estômago, A substância tem seus níveis naturalmente elevados diversas
vezes ao dia, sobretudo antes das refeiçôes. Quando a restrição de pelo
menos 600 calorias do total ingerido diariamente ou quando se exclui
toda uma categoria de alimentos o organismo entra em estado de muita,
mas muita fome. Nessas condições, cai a produção de outroo hormônio
essencial ao sucesso de um programa de emagrecimento a serotolina, a
substância do prazer. Por isso a possibilidade de comer de tudo, embora
menos, nos faz sorrir e acreditar que existe dietas agradáveis.
Texto de Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale, publicado na revista
"Veja" de 12 de setembro de 2012, edição 2286, ano 45, n. 37. Digitado,
adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.