Aos 54 anos de idade o advogado empresarial era obeso
mórbido. Aos 59, coleciona medalhas de provas no Brasil e exterior, dos
10kms à maratona
Por Carla Gomes
Rio de Janeiro
Walquer levou a bandeira do Brasil até a África do Sul (Foto: arquivo pessoal)
Quando
recebeu nosso convite para participar do
Minha História Walquer Figueiredo
estava na Cidade do Cabo, África do Sul.
Correu os 21Km da Two Oceans, e poucos dias depois emendou mais 21km na
Golden
Four do Rio de Janeiro. Uma rotina que só passou a fazer parte da vida
deste advogado há cinco anos.
- Com
54 anos de idade eu era obeso mórbido. Pesava 140 quilos e era sedentário
"peste negra", daqueles que não fazem nenhuma atividade física-
contou, comparando a falta de exercícios ao mal que matou milhões de pessoas na
Idade Média.
E o termo
não parecia exagerado para o Walquer de 2008. Depois de passar por uma cirurgia
abdominal complicada para retenção de uma hérnia, ouviu do médico um alerta em
forma de pergunta: "Walquer você quer morrer? Porque você ainda é novo, mas com esse peso
vai morrer!".
A resposta
foi "não", em uníssono com a filha Maria Cynthia, que se apressou em
apresentá-lo ao professor Ricardo Sartorato, da assessoria Filhos do Vento. Ela
mesma havia encontrado a paz com a balança depois de muito tempo.
- Eu fazia
ginástica olímpica na infância, mas sofri dois atropelamentos que me impediram
de continuar. Fui engordando e ainda tive uma fratura no pé que me deixou seis
meses cima da cama. Ao voltar a andar busquei algo que me motivasse e conheci o
professor Ricardo na avaliação da academia –relembrou Cynthia, ao explicar que
não seria fácil convencer o pai e seguir uma orientação.
Mas o
educador físico Ricardo Sartorato e o historiador e advogado Walquer Figueiredo
tinham em comum o gosto pelos estudos e logo se entenderam. Os primeiros passos
para uma vida nova foram de mãos dadas.
- Muitas vezes o Ricardo segurou, literalmente, meu pai na esteira para que
ele não caísse e sentisse seguro. A estreia em provas foram 5km de caminhada na
corrida dos Advogados, e nos emocionamos juntos com sua primeira medalha
–contou a filha.
Walquer com 140kg; pouco acima dos 80kg; e com Cris Perrone nos 18km de Paraty (fotos:arquivo pessoal)
O próximo
passo foi apresentá-lo à nutricionista Cristiane Perrone
(especialista Eu
Atleta) para dar fim aos 23 quilos que ainda sobravam. O plano era chegar
aos 80 quilos e ficar neles.
- Ele tinha
muita determinação, mas também um grande medo da comida. O trabalho mais
difícil foi ensiná-lo a fazer entre cinco e seis refeições diariamente, levar
lanches e frutas para as longas jornadas de trabalho e escolher os alimentos
mais saudáveis nos almoços de negócios. E tudo isso sem perder o prazer de comer
–contou a nutricionista, que também deu seu empurrão para que o Walquer
começasse a correr.
A
quilometragem foi aumentando, o peso diminuindo e a coleção de medalhas só faz
crescer.
-
Corro para conquistar saúde física e
emocional. Corro para ver belezas e sentir belezas. Nunca,
nunca, nunca pensei em desistir!- disse Walquer
O meu médico, doutor Eduardo Canaã, me perguntou se eu queria morrer. Disse que
eu ainda era novo aos 54 anos, mas que, com 140 quilos não iria viver muito.
Sempre achei o obeso mórbido um ser desproporcional e estranho, ainda que meus
exames indicassem índices normais.
Foi correr a Maratona de Nova York no dia sete de
novembro de 2010. Nunca tinha estado em qualquer país estrangeiro e só usava o
avião até então para rotas entre Rio, Brasília e São Paulo. As lágrimas
já rolavam dos meus olhos nos treinos (antes, durante e depois) e foi um
impacto emocional e físico muito forte chegar lá. Mas o prazer da conquista foi
imenso e vieram muitos outros depois.
Em
2011 corri a Meia
Maratona de Buenos Aires, na Argentina, e Maratona de Berlim, na
Alemanha.
Em 2012 corri a Maratona de Amsterdã, na Holanda. Em 2013 corri a Meia
Two Oceans, na África do Sul e estou inscritos na Maratona de Buenos
Aires, em outubro, só pra ficar nas provas internacionais.
APRENDI E QUERO COMPARTILHAR
O sentimento de alcançar o objetivo, de ser maratonista e magro é
fantástico. Conhecer vários países fazendo maratonas é lindo, os objetivos são
coroados com muita alegria.
O meu conselho é: faça uma ótima alimentação e pratique caminhadas e mais
caminhadas, seis dias na semana. A corrida de rua nascerá naturalmente.
A alegria, a determinação e a força interna são fundamentais.
"Preciso
contar que o Walquer sempre fez mais do que o treino previsto na planilha.
Fazia seus treinos depois caminhava mais 10km! É muito determinado,
disciplinado, excelente paciente, querido amigo e companheiro de
corridas", Cristiane Perrone, nutricionista.
"A
corrida transformou meu Pai, fundamentalmente tornando-o uma pessoa mais
espirituosa. A corrida tem esse poder de nos fazer conectar, quase que de
imediato, a nós mesmos. Minha maior alegria é correr ao lado dele. Sou muito
grata a essas pessoas que ajudaram a prolongar meus dias com meu pai na
Terra", Maria Cynthia Figueiredo, filha.
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