By chrisclimaco on 31 de outubro de 2011 Grupos de Reeducação Alimentar: determinantes, resultados e percepções.
Christiane Clímaco
1
Tatiana Rúbia Rengel
2
RESUMO
Atualmente em decorrência dos altos índices de obesidade, tem
aumentado a procura por grupo de reeducação alimentar. Esse grupo reúne
pessoas diferentes, cada uma com sua subjetividade, seus potenciais e
limitações, facilidades e dificuldades na busca de melhor qualidade de
vida. Esta pesquisa teve como objetivo examinar a importância de um
programa de reeducação alimentar em grupo, considerando pontos como a
adesão, resultados e o significado do grupo na percepção dos
participantes. Para realização da pesquisa, foram selecionados dez
participantes, sendo seis mulheres e quatro homens. A coleta dos dados
ocorreu por meio de entrevistas semi-dirigidas. A interpretação dos
mesmos deu-se de forma qualitativa e demonstrou que grande parte dos
participantes buscou o grupo por não ter tido sucesso ao realizar outro
tipo de dieta feita individualmente ou por motivos de saúde e melhora na
qualidade de vida.
Palavras-chave: Grupo, reeducação alimentar, obesidade
ABSTRACT
Currently in result of the high indices of obesity, it has
increased the search for group of alimentary re-education. This group
congregates people different, each one with its subjectivity, its
potentials and limitations, easinesses and difficulties in the search of
better quality of life. This research had as objective to examine the
importance of a program of alimentary re-education in group, considering
points as the adhesion, results and the meaning of the group in the
perception of the participants. For accomplishment of the research, ten
participants had been selected, being six women and four men. The
collection of the data occurred by means of half-directed interviews.
The interpretation of the same ones was given of qualitative form and
demonstrated that great part of the participants searched the group for
not having individually had success when carrying through another type
of done diet or for reason of health and improves in the quality of
life.
Keywords: Group, alimentary re-education, obesity.
A busca, de algumas pessoas, por grupos de reeducação alimentar para
perda de peso e melhora na qualidade de vida, tem aumentado muito nos
últimos anos em decorrência dos altos índices de excesso de peso,
obesidade e em função dos padrões de beleza valorizados pela sociedade.
Em função de a comida ter um sentido diferente para cada pessoa, não
basta simplesmente modificar um hábito alimentar, deve-se possibilitar
que a pessoa compreenda o significado que o comer representa, bem como o
lugar que ocupa na sua vida. É importante entender e aceitar o seu
padrão alimentar para permitir uma alteração nesta relação com a comida.
A reeducação alimentar em grupo tem um papel importante neste
processo de transformação, proporcionando aos participantes
conhecimentos necessários para que eles mesmos adotem hábitos e práticas
alimentares saudáveis. O contato com outras pessoas que apresentam as
mesmas dificuldades ajuda os participantes a quebrar barreiras criadas
por sentimentos de solidão, isolamento e frustração. Assim o
questionamento que se pretende responder neste trabalho é, qual é a
importância do grupo de reeducação alimentar para os seus participantes?
Na busca de um entendimento sobre a temática, a pesquisa tem como
objetivo verificar a importância do grupo de reeducação alimentar para
os seus participantes.
A pesquisa realizada foi de cunho qualitativo, entrevistando-se 10
(dez) participantes e realizando-se posteriormente a análise dos dados. A
interpretação dos dados demonstrou que grande parte dos participantes
busca o grupo por não ter tido sucesso ao realizar outros tipos de
dietas feitas individualmente ou por motivos de saúde. As maiores
dificuldades apontadas pelos mesmos foram o cumprimento do cardápio
contendo uma alimentação mais saudável e balanceada nos finais de
semana, ocasiões especiais e festas; a restrição a alimentos calóricos; a
falta de compreensão dos familiares; as mudanças drásticas dos hábitos
alimentares e os resultados lentos. Os participantes atribuíram ao seu
aumento de peso o comodismo, a falta de cuidado com sua própria saúde e a
ansiedade.
GRUPO TERAPÊUTICO
O grupo terapêutico tem como objetivo a busca de autoconhecimento de
seus participantes e a promoção na mudança da personalidade dos mesmos. A
terapia de grupo deseja proporcionar sentimentos de conforto e
acolhimento, através de um ambiente de suporte e respeito.
A troca de experiências contribui para que cada participante observe
os seus próprios sentimentos e comportamentos, ouvindo e sendo ouvido em
um espaço de interação, dessa forma possibilitando que repense sobre
aspectos próprios de si, que trazem sofrimento e comprometem a sua
qualidade de vida. Através de técnicas que vão ao encontro do tema para o
qual o grupo se propôs a "trabalhar".
Conforme Zimmerman (1998. p.225), "os grupos terapêuticos têm como
objetivo principal a melhora de alguma patologia dos indivíduos, seja no
aspecto da saúde orgânica ou psíquica, ou em ambas". O formato de um
grupo possibilita sentimentos de inclusão, de pertencer, ser valorizado
pelos outros participantes, oportunizando que cada um consiga perceber,
confirmar e solidificar a sua própria identidade.
O grupo é compreendido como um espaço onde a pessoa tem a
possibilidade de refletir, trocar experiências e onde adquire a vontade
de melhorar sua auto-estima. Segundo Ribeiro (1999. p 156) "o grupo
terapêutico é uma miniatura da vida quando permite a reexperiência do
cotidiano nos relacionamentos humanos". Neste espaço o indivíduo
consegue desabafar, falar de suas angústias relacionadas ao papel da
comida em sua vida, sem que se sinta constrangido, por exemplo. Através
deste contato com outras pessoas no grupo, os participantes quebram
barreiras criadas por sentimentos de solidão, isolamento e frustração,
principalmente pela possibilidade de receber sugestões construtivas de
outras pessoas que vivem os mesmos problemas.
Segundo Vinogradov e Yalom (1992), existem fatores terapêuticos
presentes no contexto grupal que favorecem a troca de experiências, o
autoconhecimento e a busca por melhor qualidade de vida, aumentando as
formas de lidar com as situações vividas.
De acordo com Zimmerman (1998. p. 240): "' [...] há uma melhor
compreensão e aceitação da parte dos integrantes do grupo, quando
percebem que usam a mesma linguagem e compartilham das mesmas
experiências". Isto facilita a adesão ao tratamento, permitindo que
pessoas "doentes" aceitem e assumam sua deficiência, de forma menos
conflituosa e humilhante. Possibilitando um envolvimento comunitário,
favorecendo a socialização e permitindo o surgimento de novos modelos de
identificação.
OBESIDADE
A obesidade pode ser definida, de forma resumida, como o grau de
armazenamento de gordura no organismo associado a riscos para a saúde,
devido a sua relação com várias complicações metabólicas.
Conforme Kaplan & Sadock:
A obesidade refere a um excesso da adiposidade corporal. Em
indivíduos sadios a gordura corporal é responsável por cerca de 25% do
peso corporal em mulheres e 18% em homens. Sobrepeso se refere ao peso
acima de uma norma de referencia, mais especificamente padrões
derivados de dados atuariais ou epidemiológicos. Na maioria dos casos o
aumento do peso reflete obesidade crescente. (KAPLAN e SADOCK, 1999. p.
801)
O desenvolvimento da obesidade e ou sobrepeso, podem estar associados
a uma imagem corporal altera. Segundo Schilder (1994. p11) "Entende-se
por imagem do corpo humano a figuração de nossos corpos formada em nossa
mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós". O
obeso, na maioria das vezes, apresenta uma noção de sua imagem corporal
distorcida e essa distorção fica mais presente e intensa quanto mais
tempo à pessoa encontra-se no quadro de obesidade. Desta forma, muitas
vezes o indivíduo não se "percebe" como obeso mantendo um estilo de vida
onde combina o excesso de ingestão de alimentos com a falta da prática
de atividades físicas.
Abreu (1998) sugere que algumas situações vitais podem ser favoráveis
às crises existenciais, que muitas vezes provocam nas pessoas uma
modificação do hábito alimentar e conseqüentemente do seu peso corporal,
pois muitas pessoas encontram no comer uma forma de aliviar a ansiedade
frente as suas dificuldades. A alimentação envolve um conjunto de
valores e significados, que podem ser de ordem cultural, psicológica e
social. E nossa relação com o prazer e a comida é muito próxima, pois a
alimentação é uma necessidade biológica assim como respirar e ingerir
água. Desde que nascemos o ato de comer é envolvido por sentimentos de
afeto, como pontua Franques:
[...] a relação emocional tem início no aleitamento materno ao
receber os alimentos dos adultos, em uma perpetuação da relação de
bem-estar advinda do ato de ser alimentado, cuidado e presenteado com
alimento. Essa relação com o alimento começa nas relações primárias
mãe-bebê, mas acompanha o
indivíduo por toda a vida em todas as suas relações afetivas. (FRANQUES, 2006, p. 64).
Neste sentido, o fato da pessoa atribuir afeto ao ato de comer pode
ter relação com distorções do afeto desde os primeiros meses de nossa
vida, sendo que muitas vezes a criança está chorando em função de alguns
desconfortos, frio, ou somente para pedir atenção da mãe e esta por não
saber interpretar este choro, oferece o seio como forma de
compensação. Desta maneira, o alimentar-se adquire significado mais
amplo do que a satisfação e pode ser entendido como uma forma de aliviar
outros desconfortos, o comer compulsivamente também pode ser uma busca
por preencher um vazio, um sentimento de insatisfação, ansiedade,
nervosismo.
A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR
Segundo o manual técnico de promoção da saúde e prevenção de
riscos e doenças na saúde suplementar (ANS, 2007. p. 18) "a promoção da
alimentação saudável visa contribuir para a prevenção e o controle de
doenças como a obesidade, diabetes, hipertensão, câncer, entre outras".
A reeducação alimentar é um instrumento de grande importância na
manutenção do peso e qualidade de vida, além disso, significa uma
mudança permanente, podendo ser necessário algum tempo para que a pessoa
se habitue a ela. Seus efeitos são de grande valia, o aumento de
vitalidade e a perda de peso estabelecem um poderoso incentivo para
insistir, mesmo que ocorram deslizes ocasionais.
Conforme Rotenberg e Vargas (2004) a educação alimentar, exerce um
papel de grande importância em relação ao processo de transformação e
mudanças de hábitos alimentares, proporcionando ao indivíduo,
conhecimentos necessários para que ele tenha a possibilidade de
adquirir, hábitos e práticas alimentares sadias e variadas.
GRUPO DE REEDUCAÇÃO ALIMENTAR
O grupo de reeducação alimentar tem como objetivo contribuir para que
os participantes compreendam seus comportamentos alimentares, fazendo
com que reconheçam a sua imagem corporal, com a finalidade de melhorar
assim a auto-estima, o autocontrole e principalmente modificar os
hábitos alimentares, não só momentaneamente, mas para o decorrer da
vida.
Vinogradov e Yalom destacam que:
Os pacientes com transtornos alimentares – seja obesidade mórbida,
anorexia ou bulimia – mantêm segredo quanto ao seu comportamento
alimentar anormal e sobre suas preocupações obsessivas sobre a imagem
corporal e alimentos. Um importante objetivo da terapia de grupo é
ajudá-los a compartilhar essas preocupações. Em segundo lugar, o grupo
objetiva ajudar os pacientes a avaliar e entender seus comportamentos
alimentares. (VINOGRADOV e YALOM 1992 . p.178)
Os participantes de um grupo de reeducação alimentar compartilham
suas experiências e dificuldades visando através da vitória de todos,
perderem peso, modificar hábitos alimentares e cuidar da saúde.
Atualmente vem surgindo diversos grupos para reeducação alimentar, o
que traz uma nova proposta na assistência à saúde e qualidade de vida.
Cada grupo apresenta uma metodologia diferente, mas em geral oferecem
apoio nutricional e psicológico. Todavia, é evidente que a
responsabilidade de decidir sobre sua alimentação, cabe ao indivíduo. É
ele que deverá processar as alterações que irão ajudá-lo a melhorar seu
estado de saúde e alcançar seu bem estar.
MÉTODO
A coleta de dados deu-se através de entrevistas individuais, onde
os participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, para respectiva assinatura. Todas as entrevistas foram
gravadas e transcritas na íntegra.
Os dados coletados foram analisados de forma qualitativa utilizando
como referência a seqüência das questões realizadas na entrevista.
Visando compreender o significado que os acontecimentos e interações têm
para os indivíduos, em situações particulares. Esse tipo de pesquisa
trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e
opiniões e não requer uso de métodos e técnicas estatísticas. Segundo
Minayo (2007) a pesquisa qualitativa pretende examinar a relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, o que não pode ser traduzido em
números.
Na visão de Gualda e Hoga (1997), a pesquisa baseada na abordagem
qualitativa, busca enfocar a investigação de significados dentro de um
contexto social, aproximando o pesquisador e os informantes. Os métodos
qualitativos possibilitam o conhecimento dos significados para os
pesquisados, uma vez que descrevem suas experiências tal como são
vividas.
Os critérios de inclusão dos participantes na pesquisa foram: idade
entre 16 e 60 anos, que não fazem uso de medicamentos para perda de peso
e participarem do grupo a mais de 2 (dois) meses.
Foram sujeitos deste estudo 10 pessoas, sendo 6 (seis) participantes
do sexo feminino e 4 (quatro) participantes do sexo masculino. Abaixo
descreveremos todos os participantes da pesquisa, através de dados
coletados na entrevista. Todos os participantes do grupo, segundo o
calculo de IMC estavam acima do peso quando iniciaram no grupo de
reeducação alimentar, sendo considerados obesos. O Índice de massa
corporal (IMC), conforme Kaplan & Sadock (1999, p. 801), "é
calculado dividindo-se o peso em quilogramas pela altura em centímetros
ao quadrado [...] um valor de 20 a 25 kg/m2 representa um peso sadio".
Participante
|
Sexo
|
Idade
|
Peso
|
Altura
|
IMC
|
S1
|
Masculino
|
24
|
110
|
1,87
|
31,5
|
S2
|
Masculino
|
48
|
115
|
1,68
|
40,4
|
S3
|
Masculino
|
54
|
110
|
1,64
|
40,9
|
S4
|
Feminino
|
49
|
96,5
|
1,66
|
35,0
|
S5
|
Feminino
|
36
|
115
|
1,70
|
39,8
|
S6
|
Feminino
|
44
|
136
|
1,60
|
53,1
|
S7
|
Feminino
|
17
|
96
|
1,63
|
36,1
|
S8
|
Feminino
|
56
|
125
|
1,78
|
39,5
|
S9
|
Masculino
|
40
|
104
|
1,70
|
36,0
|
S10
|
Feminino
|
37
|
70
|
1,63
|
26,3
|
Tabela 1 – participantes da pesquisa
OS GRUPOS CONTATADOS
Inicialmente, contataram-se três grupos para participar da
pesquisa, sendo que um deles de imediato informou que por normas do
grupo, não participaria da pesquisa. Os outros dois grupos se mostraram
interessados em participar.
Foram visitados dois grupos que acontecem em bairros distintos na
cidade de Joinville, SC., sendo que um localiza-se no bairro Boa Vista e
o outro grupo no bairro Costa e Silva.
O grupo do Bairro Boa Vista é coordenado por uma equipe
multidisciplinar, os participantes são indicados a participar do
programa de reeducação alimentar posteriormente a consultas médicas.
Após o primeiro contato com este grupo, surgiram alguns impedimentos,
sendo que as entrevistas não foram realizadas, apenas uma visita que
ocorreu no mês de junho, mas em função de ser o período de férias do
grupo, estavam presentes apenas os participantes que foram desligados do
programa de reeducação alimentar. Estas pessoas informaram, nesta única
visita, que foram desligadas por estarem há muito tempo no grupo e já
terem alcançado seus objetivos, como também, serem sabedores de todas as
orientações para a reeducação alimentar e manutenção do peso. Outra
informação relatada por elas é que, demonstraram certa dependência do
grupo, sendo sugerido que se reunissem em outro grupo, a dança sênior.
Nesta visita, imediatamente após a apresentação da pesquisadora para o
grupo, percebeu-se que os participantes e a coordenadora do grupo
ficaram surpresos com a estrutura física da mesma, por tratar-se de uma
pessoa magra, chegando a comentar como alguém tão magro estaria
interessado em pesquisar sobre reeducação alimentar. Parece que os
objetivos do grupo de reeducação alimentar estavam sendo interpretados
de forma errônea, pois os participantes entendem que a reeducação
alimentar, só pode ser praticada por indivíduos que apresentem obesidade
ou sobrepeso e não por pessoas que buscam uma melhora nos seus hábitos
alimentares.
Uma das participantes relata que quando não consegue comparecer aos
encontros chega a se sentir mal. Outra destaca que o grupo significa um
porto seguro, um lugar onde fez muitos amigos. Corrobora-se que muitos
participantes acabam dependentes do grupo, perdendo-se o foco do mesmo,
pois o grupo de reeducação alimentar tem objetivo pré-estabelecido,
tendo início, meio e fim, e não visa substituir uma dependência por
outra, no caso à comida pelo grupo.
Sendo assim, a pesquisa foi realizada em um único grupo de reeducação alimentar devido à desistência de outros dois grupos.
O GRUPO PARTICIPANTE
O grupo participante da pesquisa é do bairro Costa e Silva, da cidade
de Joinville, SC. A coordenadora deste, prontamente depois do primeiro
contato demonstrou grande interesse na realização da pesquisa,
enfatizando a importância da psicologia no processo de reeducação
alimentar
O grupo está formado a cerca de cinco anos, sendo coordenado por uma
profissional que não tem formação na área da saúde. Os participantes
buscam pelo programa por livre e espontânea vontade, geralmente chegam
ao grupo através de algum conhecido.
Apresenta como característica o fato de ser um grupo de formação
espontânea, é composto por pessoas que se identificam por algumas
características semelhantes, como o excesso de peso e a dificuldade de
redução do mesmo. Trata-se de um grupo aberto, que segundo Ribeiro:
É aquele em que os membros entram e saem com facilidade. Não existe
um compromisso rígido de freqüência e de permanência. Estes grupos
funcionam freqüentemente como grupos de espera, de reflexão, onde ao
efeito terapêutico secundário pode acontecer. (RIBEIRO 1999. p.94)
O grupo é conduzido somente por uma coordenadora, como citado
anteriormente não tem formação profissional na área da saúde. Os
encontros ocorrem semanalmente e levam em média de 1 a 2 horas de
duração. No primeiro encontro, são registradas medidas como altura, peso
e também solicitado ao participante qual a meta de perda de peso que
deseja atingir e através dos dados altura e peso, faz o cálculo do
índice de massa corporal ideal para cada participante. Ao iniciar no
grupo o participante paga um valor referente à sua matrícula no programa
e a cada semana cobra-se também uma taxa. A coordenadora ainda informa
como funciona o programa, onde o participante após atingir a meta
estabelecida, recebe um certificado de "vencedor do peso" e o benefício
de participar do grupo sem nenhum ônus financeiro, por mais 8 (oito)
semanas, chamadas de "semanas de equilíbrio".
A cada encontro, os integrantes do grupo participam da verificação do
peso corporal e recebem um cardápio a ser seguido a cada duas semanas.
Posteriormente são transmitidas informações sobre hábitos alimentares
saudáveis, a importância de exercícios físicos e o cuidado com a saúde.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a transcrição das entrevistas deu-se início ao processo de discussão dos dados apresentados.
Inicialmente, por meio dos relatos dos participantes, evidenciam-se
algumas questões do grupo de reeducação alimentar, caracteriza-se por
ser um grupo onde os participantes acreditam que o sucesso depende das
características individuais como força de vontade, determinação e desejo
e necessidade de emagrecer, os participantes acreditam que o grupo
serve de apoio e incentivo, onde, os integrantes, compartilham suas
experiências e dificuldades. O objetivo comum dos mesmos é conseguir
emagrecer, cuidar da saúde, controlando doenças crônicas, evitando
outros tipos de doenças; melhorar a estética, a disposição física e a
auto-estima.
O primeiro ponto a ser discutida foi: Porque o participante buscou o
grupo de reeducação alimentar? Nas respostas desta questão, os 10 (dez)
participantes entrevistados expuseram que sua opção em buscar o grupo,
deu-se em função de tentativas frustradas para perda de peso
individualmente, seja por utilização de medicamentos ou outros tipos de
dietas. Como relata S1: "Ah, por duas razões, primeiro porque eu já
tinha tentado outros métodos para emagrecer, tomei fórmulas, fiz dietas,
mas não conseguia atingir meus objetivos, perdia peso, mas era
momentâneo, superficial, depois de 2 ou 3 meses voltava tudo".
Dos dez (10) participantes, seis (6) relatam que além do insucesso em
outras dietas, também buscaram ajuda no grupo para solucionar problemas
de saúde, pois o excesso de peso acaba prejudicando-os no
desenvolvimento de tarefas do dia-a-dia, profissionais. "Precisava
emagrecer, por problemas de saúde. Já tinha tentado fazer dietas, mas
nunca levava muito a sério." (S2) e (S9): "Vim para o grupo por
problemas de saúde e já tentei emagrecer com dietas e também fórmulas,
mas não dei certo".
A utilização de dietas "milagrosas" prometem uma perda de peso rápida
e, geralmente, com um mínimo de esforço. No entanto, na maioria das
vezes, este pode ser o caminho mais curto para o retorno ao peso
anterior e o início do efeito "sanfona", tão indesejável quanto
frustrante (SILVA & POTTIER, 2004. p. 377-38). Após se submeterem a
vários tipos de dietas e também utilização de medicamentos para
emagrecimento, os participantes optaram pelo programa de reeducação
alimentar, que é ferramenta de grande utilidade tanto para promoção de
hábitos alimentares saudáveis quanto para a prevenção e o controle do
excesso de peso. Neste sentido a reeducação alimentar parece substituir a
forma de proibição que marca as dietas tradicionais para a forma de
"controle", onde a base é a responsabilização dos indivíduos e o seu
poder de iniciativa.
Quando questionados sobre o que o grupo representa para eles, 9
(nove) dos 10 (dez) participantes comentam que o grupo é sinônimo de
apoio, . Conforme os relatos: "Aqui é o único lugar que está dando
certo, sozinha tu não consegue, o grupo incentiva a gente, é mesmo um
apoio, na verdade eu não tenho esse apoio em casa e aqui um vai ajudando
o outro, tá todo mundo se ajudando"(S6). "O grupo é importante, porque
um apóia o outro para continuar, pois é difícil emagrecer, deixar de
comer algumas coisas que gostamos bastante. Aqui no grupo todos passam
as mesmas dificuldades e um incentiva o outro, por isso fica mais fácil
continuar se esforçando"(S8).
Conforme pontua Ribeiro (1994, p.46), "o grupo terapêutico é um campo
onde a realidade acontece [...] uma realidade única, feita de momentos e
possibilidades infinitas, que se organiza como um campo, com um espaço
vital unificado". O grupo é o local onde a pessoa se revela e se faz
compreensível
O apoio que o indivíduo busca no grupo de reeducação, possibilitará
que ele aprenda a desenvolver recursos para lidar com suas questões,
tornando-o mais reflexivo diante das dificuldades e na busca por
soluções. Também ajudando o indivíduo a superar conflitos emocionais,
colaborando para a ampliação da consciência sobre si mesmo, promovendo
equilíbrio emocional e desvendando o que "ativa" a ansiedade que leva a
compulsão alimentar e entre outras coisas, ajuda o indivíduo a aprender a
lidar e controlar o que o angustia, para não buscar refúgio na comida.
Muitos indivíduos obesos ou com sobrepeso, encontram a motivação e
energia necessárias para manter seus planos de alimentação saudável por
meio do apoio de seus "iguais".
O benefício do grupo, de acordo com Mello (2007):
Reside no apoio mútuo e compartilhamento de experiências entre
pessoas que vivem situações semelhantes, com potencial para prevenir o
desenvolvimento de padrões mal adaptados de enfrentamento e estimular
comportamentos saudáveis. (MELLO 2007.p 114)
Esse apoio, em conjunto com as orientações sobre saúde e alimentação
saudável, ajuda a vencer a obesidade. Inserido no grupo, percebem que
outros também sofrem com a obesidade e as dificuldades para conseguir
modificar os hábitos alimentares e que isso não acontece somente com
ele. A principal certeza dos membros desses grupos é que eles podem ser
mais ajudados por quem já viveu ou está vivendo uma experiência como a
sua, do que por aqueles que nunca passaram por ela.
Ribeiro afirma:
O grupo é uma realidade maior e diferente da soma dos indivíduos que o
compõem. [...] o grupo é um fenômeno cuja essência reside no seu poder
de transformação, no seu poder de escutar, sentir, de se posicionar, de
se arriscar a compreender o processo de significação do viver e do
responsabilizar-se (RIBEIRO, 1994, p10).
Os participantes destacam que o grupo é um espaço onde conseguem
desabafar, trocar experiências sobre suas dificuldades, falar de suas
angústias relacionadas ao papel da comida em sua vida, sem que se sinta
constrangido. Segundo (S2): "Aqui no grupo todos passam as mesmas
dificuldades e um incentiva o outro, por isso fica mais fácil continuar
se esforçando". Pontua também (S8): "Ouvimos as historias de outras
pessoas, que elas também têm a mesma dificuldade que a gente, mas é bem
importante ver que todos conseguem, se não em uma semana, mas na outra,
isso é um incentivo para sempre continuar".
Segundo Yalom (2006), a necessidade de pertencer, de ser aceito e
estar inserido em algo maior é uma característica do ser humano. Quando
inserido em um grupo o que está em jogo é o compartilhar seu mundo
interior, ter o apoio e a aceitação dos outros participantes.
A segunda pergunta da pesquisa foi: O que o mantém no grupo? As
respostas dos participantes foram semelhantes à questão anterior, onde
os participantes comentam que percebem o grupo como um local de apoio e
incentivo, aberto a trocar experiência e angústias, No grupo,
identificam-se com os outros e percebem que cada participante é de
grande importância para o outro, o que pode ser observado nos relatos de
S1 e S2: "Gosto de vir aqui, onde encontro outras pessoas que estão
também buscando ajuda … o grupo é bem importante para a gente não querer
desistir apesar das dificuldades". (S2). "[...] vejo que os outros
também passam por problemas semelhantes ao meu, todos temos o mesmo
objetivo de emagrecer e aprendemos com os outros, ouvindo o que cada um
traz para o grupo, vir aqui ajuda a não desistir" (S1).
O grupo representa, muitas vezes, para os participantes o único lugar
onde eles percebem que tem potencial para atingir seu objetivo de
perder peso, comentam que sem o grupo não conseguiriam continuar. Como
aponta Ribeiro (1999. p.51) "No grupo as pessoas se mostram
intensamente, sem a necessidade de máscaras. O cara a cara facilita o
encontro com a verdade".
Pode-se observar então que os participantes do grupo de reeducação
alimentar, de diversas maneiras, passam a significar muito uns para os
outros. Sete (7) participantes comentam que percebem o grupo como de
grande importância em sua vida. Relatam que sem o grupo não conseguiriam
o progresso que estão conseguindo participando do mesmo, S8 diz: "Sem o
grupo, não vejo nenhuma perspectiva de continuar mantendo a restrição
na minha alimentação e talvez voltaria a engordar"
A coesão também foi uma característica apresentada no grupo, onde os
participantes se identificam com o outro, aceitando-os e
compreendendo-os. Como deixam claro Vinogradow e Yalon (1992. p. 25), "a
coesão do grupo refere-se à atração que os membros têm entre si e pelo
próprio grupo". A identificação com o grupo parece ser imprescindível
para o fortalecimento e promoção da integração e de um relacionamento de
confiança entre os membros. Isso faz com que o grupo tenha um
significado de apoio e acolhimento. Fica evidente nas falas de 4
(quatro) participantes:"No grupo, tem várias pessoas com o mesmo
problema, o mesmo objetivo, é um ambiente onde o assunto emagrecer é
prioridade e interesse de todos" (S1). "O grupo é importante, porque um
apóia o outro para continuar, pois é difícil emagrecer, deixar de comer
algumas coisas que gostamos bastante. Aqui no grupo todos passam as
mesmas dificuldades e um incentiva o outro" (S2). "Aqui eu vejo que tem
mais pessoas que estão passando pela mesma coisa que eu e isso dá
vontade de continuar. Ver que outros já conseguiram"(S4) e "Ouvimos as
historias de outras pessoas, que elas também tem a mesma dificuldade que
a gente, mas é bem importante ver que todos conseguem, se não em uma
semana, mas na outra, isso é um incentivo para sempre continuar" (S8).
Não se pode deixar de considerar a importância dos participantes do
grupo perceberem que é necessário a existência de um limite para a
orientação e apoio que eles recebem do outro, pois para que se apropriem
do processo de reeducação alimentar, é primordial que eles sejam os
principais agentes da sua própria mudança. Conforme Vinogradow e Yalon
(1992) é de grande significância que o indivíduo perceba-se como
responsável pelas modificações na sua forma de se alimentar e na relação
com a comida e seu corpo.
Ao observar o processo grupal, evidenciou-se que a coordenadora do grupo reforça aos participantes a função do grupo como apoio.
Os participantes também foram questionados a respeito da meta
estabelecida para perda de peso e se a mesma estava sendo atingida.
Nesta questão, todos estavam perdendo peso, mas apenas dois (2) deles já
haviam atingido a meta estabelecida ao iniciar no grupo. As maiores
reduções de peso foram de S1 reduziu 30 kg em 5 meses e quando respondeu
a pesquisa estava em seu último mês de participação no grupo. S3 foi o
participante que teve maior redução de peso, 31,5 kg em 10 meses, mas
continua participando do grupo para manutenção de seu peso.
Quando questionados sobre o que os leva a comer, nove (9) dos dez (10) participantes entrevistados relatam que:
1 – Comem com intuito de amenizar outros problemas:
Percebe-se através das falas dos participantes que muitas vezes o
alimentar-se representa a principal fonte de prazer e consolo ou
utilizam-se da obesidade como escudo para esconder outras dificuldades
enfrentadas. Os participantes trazem que quando estão passando por
alguma situação difícil, estão tristes ou deprimidos, encontram no comer
um alivio para esses sentimentos e sensações. S1 relata que: "Desconto
na comida, os problemas financeiros também me fazem comer". A
participante S4 também traz que utiliza o comer para "aliviar" os
problemas: "Quando tem alguma coisa incomodando, ou nervosa eu vou lá e
como" Através dos relatos podemos identificar o que afirma Perls:
[...] a mente do guloso, encher a boca é tão "figura" quanto o bonde é
para alguém esperando impacientemente por ele. Em ambos os casos, a
confluência, aqui o fluxo conjunto de imagem e realidade, é esperada e
permanece o impulso principal. O ato de encher a boca não recua para o
fundo, como deveria, e o prazer de saborear e destruir o alimento não se
torna o centro de interesse – a "figura". (PERLS, 2002 . p.168-9).
De acordo com Chimicati apund Leal, a relação de dependência
desenvolvida com o alimento por muitos obesos e de grande representação
para ele: Ao desenvolver uma doença compulsiva, cria-se um vinculo de
dependência com o objeto; no nosso caso, com a comida. Passamos, assim a
ser dependentes dela, não para nos alimentarmos, que é uma necessidade
vital, mas para satisfazer outras necessidades psicológicas que passam a
ser sentidas como vitais. Fazemos loucuras para conseguir o nosso
objeto de dependência: assaltamos a geladeira, mentimos, desmaiamos,
chantageamos, fazemos melodramas, enfim, usamos todos os recursos
imagináveis e inimagináveis para conseguir uma porção mais.(CHIMICATI,
2005 apud LEAL, 2007, p. 21).
2) Comem por não perceberem que já estão satisfeitos:
Um participante relatou que a falta de percepção de saciedade. S9
fala: "Comi muita comida. Comia até chegar ao ponto de não agüentar
mais". Essa falta de percepção que extrapola o limite entre comer para
nutrir-se faz com que a pessoa passe a comer sem uma descriminação
daquilo que precisa, sem a percepção de que a quantidade de comida
ingerida já é suficiente.
Kaplan e Sadock destacam que:
O comprometimento da saciedade é um problema particularmente
importante. Pessoas obesas parecem suscetíveis, de forma incomum, a
indícios de alimentos em seu ambiente, a palatabilidade dos alimentos e a
incapacidade de parar de comer quando o alimento se encontra
disponível, são sensíveis a todos os tipos de estímulos externos para a
alimentação. (KAPLAN e SADOCK, 1999. p. 803).
3 ) Comem por compulsão:
Dos dez (10) participantes, quatro (4) comentam que o comer faz parte
da nossa vida e que sempre que são convidados ou convidam alguém para
fazer algum programa, este envolve a comida. Pontuam também que a comida
acaba sendo utilizada como forma de comemoração e confraternização. O
que fica evidente na afirmação de Carneiro (2003. p. 2). "O que se come é
tão importante quanto quando se come, onde se come, como se come e com
quem se come".
As pessoas que apresentam perturbações alimentares podem buscar na
comida a satisfação para diversas necessidades, mesmo quando não
corresponde ao que efetivamente necessita. Sendo assim, as reais
necessidades não são satisfeitas e continuam buscando o alimentar-se
para tentar solucionar seus problemas, isso fica claro no seguinte
relato de S2: "Comia muito, a toda hora, sempre precisava estar
mastigando alguma coisa, para suprir alguma falta talvez".
4 ) Comem por ansiedade:
A ansiedade foi outro ponto atribuído ao questionamento feito sobre o
motivo que os leva a comer, 9 (nove) dos 10 (dez) participantes da
pesquisa contam que comem quando estão ansiosos. Alguns relatos
enfatizam: "Como muito por ansiedade" (S7) e "Sou muito ansioso e
quando como parece que alivia, preenche um vazio" (S1).
Abreu
apund Capitão e Tello (2004) sugerem que "algumas
situações do nosso cotidiano, favorecem o surgimento de crises
existenciais, que muitas vezes provocam nas pessoas uma modificação do
hábito alimentar e conseqüentemente do peso". Muitas pessoas encontram
no comer a maneira para aliviar a ansiedade frente às mudanças do
cotidiano. A ansiedade provoca várias reações físicas e está presente em
nossas vidas, pois no decorrer do nosso desenvolvimento, nos deparamos
com muitas mudanças e situações novas e ameaçadoras. Isto fica claro no
relato de todos os participantes da pesquisa, que dizem comer
compulsivamente quando estão ansiosos, e que o comer diminui os sintomas
de ansiedade. Afirmam ainda que procuram compensar os seus problemas
através do ato de comer.
Outra pergunta feita aos participantes foi se estão mantendo hábitos
alimentares saudáveis. Após os relatos conclui-se que os mesmos não
entendem o objetivo real do programa de reeducação alimentar em grupo,
que visa à mudança nos hábitos alimentares. Pois atribuem ao grupo o
objetivo de reduzir e manter seu peso corporal e não a modificação da
sua relação à comida, ou seja, eles não modificam seus hábitos, apenas
deixam de comer para perder peso em função do grupo, mas não "tratam" o
que faz com que comam compulsivamente. S9 comenta que fica muito ansioso
no momento da pesagem: "Se não eliminei peso, ao menos preciso manter o
mesmo da semana passada [...] é bem frustrante quando aumentamos de
peso, não só pra mim, mas para todos do grupo".
S5 relata que segue os cardápios às vezes, mas não modificou toda sua
alimentação: "Mudei algumas coisas, inclui frutas e verduras, mas não
deixei de comer tudo que gosto. Na segunda e na terça feira eu como
menos para quando me pesar pelo menos ter mantido o peso e não ter
engordado".
Outros 2 (dois) participantes também trazem da dificuldade da mudança
na alimentação nos fins de semana: "Restringir a alimentação,
principalmente nos fins de semana". (S5) e "É difícil, no final de
semana é complicado, é o resumo da semana inteira de estress, e reúne à
família toda, a gente come mais" (S10).
Todavia, percebeu-se que a experiência no grupo faz com que alguns
participantes experimentem outras maneiras de relacionar-se com o
alimento e com o que ele representa. Conforme discurso de S1: "Mudei
minha forma de pensar, de me alimentar, a preferência por alimentos mais
saudáveis, prática de exercícios, melhorou também meu desempenho no
trabalho e a minha auto-estima.Agora percebo que posso comer de tudo,
mas controladamente e o grupo foi muito importante para isso".
Outra pergunta feita aos participantes trata da questão sobre o que
aconteceu para que o participante chegasse ao peso que iniciou no grupo.
Um dos pontos levantados foi o sedentarismo, 8 dos 10 participantes
relatam que não tinham o hábito de praticar nenhum tipo de atividade
física antes de freqüentar o grupo, mas que agora praticam caminhas,
corridas e outros exercícios.
O participante S9 relata: "Agora não ando mais de elevador, subo
escadas e não fico mais sentado como antes, estou me movimentando
bastante e isso tem melhorado muito minha condição física".
A prática de atividade física, julgada como possível de ser incluída
na rotina pelos participantes, tem sua efetividade descrita pela
literatura, segundo Kaplan e Sadock (1999. p. 805) "atividade física
pode atenuar a ingestão de alimentos e a combinação com o aumento do
dispêndio calórico auxilia a manter a perda de peso".
Outro ponto abordado na pesquisa refere-se às maiores dificuldades
encontradas após o início no programa de reeducação alimentar. A
pergunta feita aos participantes foi à seguinte: Qual a maior
dificuldade enfrentada após iniciar sua participação no grupo de
reeducação alimentar. As respostas apontadas pelos participantes foram:
dificuldade de realização do plano alimentar principalmente nos finais
de semana, festas e ocasiões sociais, falta de compreensão da família,
mudança drástica dos hábitos alimentares, os resultados lentos e
ansiedade. Por outro lado, a inclusão de frutas, legumes, verduras e
alimentos integrais bem como o fracionamento da alimentação em quatro a
seis refeições por dia e a prática diária de atividade física foi
considerada fácil por 4 dos 10 participantes entrevistados.
Assim como destaca Rito (2004), as mudanças nos hábitos de vida dos
participantes, não devem ser vistas como um processo de normatização e
muito menos como de culpa do indivíduo. O que está em jogo não se
restringe apenas à mudança do consumo de alimentos, de atividade física,
mas tem influência sobre todos os significados ligados ao comer, ao
corpo, ao viver.
Os participantes relatam que é muito difícil restringir a alimentação
quando recebem visitas ou aos domingos onde toda a família tem o hábito
de se reunir para as refeições e que isto já é "costume" que vem desde
quando crianças.
S10 enfatiza: "É difícil no final de semana, é complicado, é o resumo
da semana inteira de estress, e também onde reúne a família e o hábito é
sempre de sentar na mesa e comer, é uma forma de aproximar as pessoas".
Outra dificuldade apontada pelos participantes da pesquisa, nesta
pergunta, diz respeito a demora do resultado no processo de reeducação
alimentar, diferente das dietas que utilizam medicamentos. Dois
participantes relatam que por ser um processo mais lento, no inicio até
pensaram em desistir, mas no decorrer do processo, perceberam que a
reeducação é muito mais eficaz que nas dietas com medicações, pois
quando deixavam de tomar o medicamento engordavam muito. S1 diz: "Já
tomei medicamento, emagreci bastante e bem rápido, mas depois quando
parei engordei o dobro".
Este imediatismo na busca do emagrecimento contribui para que o
processo de reeducação alimentar seja mais penoso, como no discurso de
S4: "Sou ansiosa e aqui demora para perder peso, com fórmula é mais
rápido, às vezes penso em desistir".
Com a reeducação alimentar a própria pessoa tem que controlar sua
alimentação, até comendo o que gosta, mas controladamente. Compreendem
também que agora que se alimentam com comidas mais leves e saudáveis não
sentem aquele "peso no estomago" que sentiam antes.
Alguns participantes falam, ainda na mesma pergunta, que quando
iniciaram a reeducação alimentar acreditavam que precisariam restringir
tudo o que gostavam de comer, mas depois de alguns encontros, através
das informações trocadas com os outros participantes, perceberam que nem
tudo que é gostoso engorda ou é caro.
Conforme dito por S10: "Até conseguimos economizar um pouco, porque
não compro mais tanta comida, e não jogamos tanta coisa fora, também não
compramos comidas prontas que são mais caras que as frutas, é só saber
comprar coisa da época".
Nos encontros a coordenadora e os próprios participantes trocam
informações sobre possíveis alternativas para que o indivíduo se habitue
a uma alimentação rica em alimentos saudáveis e de baixa caloria
(frutas, legumes e verduras, leguminosas, cereais integrais, leite e
derivados, carnes com pouca gordura), saborosa e com o mesmo orçamento
familiar.
Fica claro que a reeducação alimentar deve ser gradativa, negociando
as substituições alimentares, despertando novos prazeres, sugerindo
alimentos, preparações saudáveis, mas também acessíveis e prazerosas,
considerando os aspectos econômicos, culturais e sensoriais do sabor e
da aparência. Para ter uma alimentação saudável não é preciso excluir
"coisas gostosas", mas é preciso saber equilibrar evitando os exageros e
o consumo freqüente de alimentos altamente calóricos.
Nos relatos, fica evidente que alguns participantes percebem a
importância do grupo, mas que, além disso, é preciso que eles mesmos
tenham força de vontade e determinação para atingir os seus objetivos.
Segundo Ribeiro (1999. p. 152) "o grupo funciona como uma escola da vida
[...] as lições são aprendidas e de acordo com a capacidade de
percepção de cada um de seus membros".
A restrição de determinados tipos de alimentos como chocolates,
doces, carnes gordurosas e massas também foram atribuídas pelos
participantes como uma dificuldade para a adesão ao programa de
reeducação.
Quando questionados sobre as principais mudanças que percebem após
freqüentar o grupo. Compreende-se através do relato de 7 dos 10
participantes entrevistados que eles sentem-se bem com a alimentação
mais saudável e grande parte deles estende essa alimentação para a sua
família, mas mesmo assim demonstram uma grande dificuldade de deixarem
de comer em grandes quantidades determinados tipos de comidas, ou deixar
hábitos alimentares antigos. S10 expõem que na sua casa todos
acrescentaram mais grãos, cereais, frutas e verduras: "Mudamos a
alimentação, tá bem melhor, mas é difícil no final de semana quando
reúne toda a família". Outros participantes falam: "Já melhorei minha
saúde, minha condição física e também minha família mudou também a
alimentação" (S1) e "Percebi muitas mudanças na saúde, alimentação
também da minha família"(S4).
Os participantes vivem uma experiência positiva, mas estão
atrelados ao modo de alimentação antiga, demonstrando a possibilidade de
ter que manter um controle na maneira de se alimentar por um grande
período, relacionando-se com a alimentação como se fosse uma norma a ser
seguida ou então acabam abandonando, com o tempo, por não agüentar o
controle.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após as visitas e entrevistas com os participantes de grupos de
reeducação alimentar, percebeu-se que a adesão a um programa de
reeducação alimentar é eficaz na maioria dos casos.
Verificou-se que os participantes que buscam por grupos de reeducação
alimentar vão desde aqueles que desejam perder peso por razões
estéticas, até aqueles que sofrem de vários problemas de saúde
decorrentes da obesidade, pouquíssimas pessoas buscam o grupo apenas
para reaprender a se alimentar de forma mais adequada.
No grupo, os participantes, encontram aquilo que buscam para
conseguir atingir seus objetivos, o emagrecimento, a mudança de hábitos
alimentares, melhora na auto-estima e na qualidade de vida. E este é
compreendido como um espaço educativo, de reflexões, de troca de
experiências e anseios, de melhoria da auto-estima e construção de
cidadania. O sentimento de pertencer a um grupo específico ajuda a
desenvolver estratégias para o indivíduo enfrentar a obesidade ou
sobrepeso e os problemas sociais e de saúde relacionados a ela.
A coesão é um ponto de grande importância na continuidade do grupo,
pois se refere à atração que os membros têm entre si e pelo próprio
grupo. Os membros de um grupo coeso aceitam uns aos outros, oferecem
apoio e estão inclinados a formar relacionamentos significativos dentro
do grupo. Isto ficou claro na maioria dos relatos dos participantes, que
dizem que no grupo são aceitos, se sentem a vontade e recebem muito
apoio, e isso que faz com que emagreçam e continuem buscando alcançar
seus objetivos. Percebe-se que o grupo oferece aos participantes
condições de aceitação e compreensão que muitas vezes não encontram na
família, e em outros grupos sociais.
Pode-se observar que as mudanças de hábitos alimentares não são
fáceis, pois envolve alterações nos hábitos que foram estabelecidos ao
longo dos anos. Assim como também dissociar o ato de comer do prazer e
dos problemas, frustrações e ansiedades. Manter a mudança do
comportamento é ainda mais difícil e requer motivação, controle
comportamental e apoio social.
Tão importante quanto reconhecer a mudança, é saber que esta pode ser
interrompida por recaídas, durante as quais ocorre uma regressão. Mas
isto não significa que tudo está perdido: as recaídas não devem ser
vistas como um fracasso consumado, mas sim como uma oportunidade de
aprendizado para que se evitem erros futuros.
Observou-se ainda nas entrevistas e também nas visitas ao grupo, que
não tratar do aspecto emocional que desencadeia o comer compulsivo
parece manter a dificuldade que os participantes relataram a respeito de
aderir em sua rotina à alimentação saudável como uma fonte de prazer e
não de restrição ao que engorda. Esta pode ser uma questão para outra
pesquisa. Percebeu-se também que o grupo não está estruturado
didaticamente, tendo uma proposta de início, meio e fim aonde o
participante possa se apropriar do que aprendeu e senti-se seguro para
deixar o grupo.
A reflexão sobre a experiência com o grupo demonstrou que o mesmo
configura-se numa oportunidade de expressão das vivências e de troca de
experiências, tornando-se uma valiosa fonte de aprendizagem, promotora
de crescimento.
Sendo assim, fica evidente o programa em grupo trouxe aos
participantes um resultado mais eficaz, já que participando do grupo, os
indivíduos ganham não só com a redução de peso, mas também com a
melhora da sua auto-estima, do humor, da qualidade de vida e
principalmente da saúde.
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