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Foto: Alfredo Franco
Por enquanto, apenas duas substâncias especificamente emagrecedoras
estão liberadas no Brasil: a sibutramina e o orlistate. Mas outras vêm
ajudando quem vive em guerra contra a balança, e tem novidade por aí.
Será que elas podem resolver o seu problema? Três especialistas
respondem:
Quem deve recorrer a remédios para perder peso?
O endocrinologista e nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da
Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), recomenda o uso de
substâncias emagrecedoras para pessoas com IMC (índice de massa
corporal) acima de 27, desde que sejam portadoras de doenças associadas
(como diabetes e hipertensão), ou acima de 30 quando não houver outras
complicações. É o que preconiza a International Obesity Task Force
(Força Tarefa Internacional Contra a Obesidade, em tradução livre),
rede de especialistas que assessora a Organização Mundial da Saúde
quando o assunto é obesidade. "Fora isso, o ideal é buscar uma dieta
adequada para reeducar os hábitos alimentares, além de fazer exercício",
aconselha. Já a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
Síndrome Metabólica (Abeso), em diretriz disponível no seu site, indica
esses medicamentos para casos de IMC acima de 25 quando há doenças
associadas (inclusive colesterol elevado) ou acima de 30. A obesidade é
uma doença crônica que precisa de tratamento, afirma o
endocrinologista Alexander Benchimol, diretor da entidade.
O que são medicamentos de uso off-label para emagrecer?
São aqueles que funcionam para outra finalidade que não aquela que está
na bula. É o caso da liraglutida (vendida sob o nome comercial de
Victoza), remédio para diabéticos que produz perda de peso, e do
topiramato, um anticonvulsivante indicado para a prevenção de enxaqueca,
que também tem efeito contra a obesidade. "Essa prática é permitida por
associações médicas, mas, como em qualquer tratamento, pode haver
efeitos colaterais", alerta o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do
Grupo de Obesidade da Disciplina de Endocrinologia do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. "Os remédios off-label só devem ser prescritos após exames clínicos e exigem acompanhamento rigoroso."
A sibutramina continua liberada pela Anvisa. Isso significa que é um medicamento seguro?
Realizado em 2009, o estudo internacional Scout, sigla para Sibutramine
Cardiovascular Outcome Trial (efeitos cardiovasculares da sibutramina,
numa tradução livre) revelou um risco aumentado de infarto para
portadores de doenças cardiovasculares que receberam essa substância por
cinco anos seguidos. "Para quem não tem problema cardíaco, porém, esse
medicamento sempre foi seguro. Não é um anorexígeno, ou seja, não tira a
fome. É um sacietógeno, isto é, age no sistema nervoso central,
aumentando a saciedade. Assim, a pessoa come menos. Também tem leve ação
termogênica, acelerando o gasto calórico", explica Durval Ribas Filho.
No entanto, é preciso existir supervisão médica constante e pode haver
efeitos colaterais, como boca seca, aumento da pressão arterial, dores
de cabeça e náusea. Os profissionais ouvidos para esta reportagem
lembram que, qualquer que seja a substância escolhida para emagrecer, é
importante associar seu uso a uma mudança de hábitos alimentares e à
prática de atividades físicas regulares.
O orlistate ainda é uma boa alternativa?
Diferentemente da sibutramina, que atua no sistema nervoso central, o
orlistate (princípio ativo do Xenical) tem ação local, no intestino,
impedindo a absorção de cerca de 30% da gordura ingerida. Também diminui
a produção de glicose pelo fígado, com efeitos benéficos no metabolismo
dos glicídios. Em algumas pessoas, provoca diarreia e flatulência. "É
bom lembrar que quem sofre mais com a diarreia são pacientes que
continuam ingerindo muita gordura, daí a importância de aliar o remédio a
uma mudança alimentar", diz Alexander Benchimol.
Quem já perdeu o que precisava com remédios deve continuar tomando para manter o novo peso?
Depende de cada caso, diz Marcio Mancini. Uma mulher que sempre foi
magra, ganhou peso na gravidez e usou remédios para livrar-se desses
quilos extras provavelmente não precisará mais de medicamentos após o
tratamento. Já um paciente que é obeso há 20 anos possivelmente terá que
tomar a vida inteira, compara o endocrinologista.
O que é melhor: o manipulado ou o industrializado?
Há alguns anos, fórmulas que misturavam substâncias permitidas, como a
sibutramina, a componentes nocivos à saúde, como hormônios tiroidianos,
ou outros apenas mal indicados, como diuréticos, fizeram a má fama dos
manipulados. "Mas pode ser o caso de manipular, dependendo do perfil do
paciente", diz Durval Ribas Filho. O importante é que a prescrição seja
feita por um médico de confiança.
Remédios para emagrecer causam dependência?
Durval Ribas Filho responde: "Esse é um mito que precisa ser desfeito.
Há trabalhos científicos consistentes demonstrando a segurança dos
medicamentos aprovados para uso no Brasil. O que acontece é que, se não
tiver havido uma mudança de hábitos, a obesidade pode voltar".
Dá para confiar em remédios emagrecedores vendidos pela internet?
Não. A obesidade é considerada uma doença e o tratamento deve ser prescrito por profissionais da área de saúde.
Os suplementos termogênicos funcionam?
Para Durval Ribas Filho, eles têm uma "eficácia discreta" e, mal
administrados, trazem prejuízos à saúde. "São perigosos", concorda
Marcio Mancini. "Eles podem acelerar o coração e provocar arritmias,
colocando a vida em risco."
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