Saúde
Remédio da moda, topiramato deve ser usado apenas em casos específicos
1.jun.2011
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Atualizada em 4.nov.2011
por Alexandre Aragão
Enquanto as academias da cidade ficam abarrotadas de candidatos a ter
uma silhueta esguia, alguns procuram caminhos menos exaustivos para
atingir o corpo perfeito. O topiramato, remédio produzido para combater
convulsões, ataques de epilepsia e enxaquecas, virou o queridinho de
quem quer emagrecer sem suar.
Após também se mostrar útil na redução de peso e no combate à
compulsão alimentar em estudos produzidos nos Estados Unidos, a pílula
passou a ser parte do repertório de endocrinologistas — e pacientes mais
sedentos por novidades passaram a marcar consultas para requisitar
receitas.
“O topiramato deve ser usado apenas em casos pontuais de obesidade”,
afirma Márcio Mancini, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (Sbem). “Não funciona com todo mundo”, endossa Alfredo
Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas.
No 14º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica,
organizado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso)
entre os dias 25 e 28 de maio deste ano, o uso do topiramato foi um dos
tópicos mais debatidos. “As pessoas estão usando mais, isso é
indiscutível”, conta Halpern, que presidiu o evento. “Nos últimos três
anos, o aumento do consumo foi significativo não apenas no Brasil.” O
especialista atribui o fato ao maior número de estudos clínicos que
comprovam a eficácia do topiramato no tratamento de compulsão alimentar e
na perda de peso.
Nos Estados Unidos, a combinação do remédio com a fentermina, um tipo
de anfetamina, apresentou resultados ainda melhores para o
emagrecimento. “Essa associação diminui os efeitos colaterais de cada um
dos medicamentos”, explica Halpern. A FDA, agência que regulamenta
medicamentos naquele país, requisitou mais estudos para aprovar o uso
comercial desta combinação. No Brasil, a fentermina é proibida, o que
impossibilita o uso combinado dos medicamentos. “Cerca de metade dos
brasileiros têm sobrepeso, o assunto deveria ser levado mais a sério”,
diz Macini.
A principal diferença entre os possíveis usos do topiramato é a
dosagem. Para pessoas que desejam perder peso, a ingestão de 25 a 100
miligramas por dia é suficiente. Já a quantidade recomendada aos fins
originais do remédio chega a 400 miligramas diários. Alguns dos sintomas
possíveis são perda de memória, formigamento, sonolência,
irritabilidade e tonturas.
O dramaturgo Gerald Thomas: uso de topiramato durante 9 anos
(Foto: Alexandre Schneider)
Nas dez farmácias visitadas pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, a
caixa de 60 comprimidos de 25 miligramas custava, em média, 53 reais. O
preço variou entre 39 e 69 reais. Usuário do topiramato durante oito
anos, o dramaturgo Gerald Thomas interrompeu o ciclo em maio do ano
passado. Utilizado por ele como um modulador de humor — foi prescrito
por um médico americano após os ataques às Torres Gêmeas, que ele viu da
janela de seu apartamento —, o remédio apresentou dois efeitos
colaterais: perda de peso e mudança na temperatura corporal. “Tomava
quatro comprimidos de 100 miligramas cada um por dia, o que tirava meu
apetite. Tinha que me forçar a comer”, conta.
Acima do peso e sofrendo de compulsão alimentar, a publicitária
Marcela Pierin, de 32 anos, começou o tratamento com topiramato há dois
anos e meio. Por recomendação de seu médico, ela também tomou, combinada
à medicação, a sibutramina, remédio que tem como principal objetivo o
emagrecimento. Dos 78 quilos que tinha, sobraram 57. “Mas, sem mudar a
alimentação, não adianta nada”, alerta Marcela. “Fiquei um ano sem comer
doces”, diz. A publicitária conta que integrou ao seu dia a dia
corridas no parque e outros exercícios aeróbicos na academia. Quando
tentou passar a dose do topiramato de 25 para 50 miligramas diárias,
sentiu aumentar o único efeito colateral que sofreu durante o
tratamento: a sonolência. “Por isso, tomo sempre à noite.”
Para não errar na hora de indicar o remédio, médicos têm adotado um
expediente para aumentar sua eficácia. “Prescrevo o topiramato apenas
quando há alguma outra condição para o uso da substância, como enxaqueca
constante”, explica Rosana Radominski, presidente da Abeso. Antônio
Roberto Chacra, chefe do departamento de endocrinologia da Unifesp, faz
uso de procedimento semelhante: “O topiramato pode ajudar no processo de
emagrecimento de pacientes em que o excesso de peso está associado à
ansiedade.” Outros candidatos a usuários da medicação são pacientes com
compulsão alimentar e obesos com diabetes ou problemas cardíacos.
Em meio ao debate, a melhor fórmula para perder peso continua sendo a
de sempre: “Mudança de hábito, com exercícios físicos e adequação da
dieta”, diz Rosana. Enquanto os laboratórios não descobrem o elixir do
emagrecimento, o jeito é subir nas esteiras.
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