por Nutricionista Marcella Lamounier
- CRN1 3568
A alimentação durante a infância, ao mesmo tempo em que é importante
para o crescimento e desenvolvimento, pode também representar um dos
principais fatores de prevenção de algumas doenças na fase adulta. Dessa
forma, o comportamento alimentar ocupa um papel central na prevenção e
tratamento de doenças.
Assim, os alimentos ou o tipo de alimentação consumida rotineiramente
e repetidamente no cotidiano caracterizam o hábito ou o comportamento
alimentar. No entanto, não é simplesmente a repetição do consumo do
alimento que desenvolve o comportamento, pois alguns fatores podem
influenciar a aquisição deste. A disponibilidade e o acesso ao alimento
em casa, as práticas alimentares e o preparo dos alimentos influenciam o
consumo da criança.
A população infantil é, do ponto de vista psicológico, socioeconômico
e cultural, influenciada pelo ambiente onde vive, na maioria das vezes
constituído pelo ambiente familiar. Quando o ambiente é desfavorável, o
mesmo poderá propiciar condições que levem ao desenvolvimento de
alterações alimentares que, uma vez instalados, poderão permanecer ao
longo da vida.
As crianças, especialmente aquelas na fase pré-escolar, têm o hábito
alimentar caraterizado fundamentalmente pelas suas preferências. As
crianças desta faixa etária acabam consumindo somente alimentos de que
gostam, recusando aqueles de que não gostam. Isso porque o gosto dos
alimentos pode ser associado a situações boas ou ruins. Esta é,
provavelmente, a base do “efeito de familiaridade”, sendo mais evidente
nas crianças.
Processos de aprendizagem na alimentação
1 – Sabor-sabor: Neste tipo de aprendizagem, o sabor
está associado ao prazer. A percepção dos sabores compreende a sensação
do doce, salgado, azedo e amargo e alguns outros associados a
aminoácidos (estruturas básicas das proteínas). A sensibilidade ao sabor
doce já aparece na fase pré-natal, possivelmente sendo estimulada pelas
substâncias do líquido amniótico durante a gestação, tornando-a uma
preferência natural.
2 – Nutriente-sabor: Ocorre num padrão similar a
anterior. Uma substância nutritiva com mais calorias promove uma
saciedade, e associada ao sabor aumenta a aceitação do alimento
desconhecido. Os alimentos com alta taxa de gordura geralmente fazem
parte do grupo de alimentos mais consumidos (e são os mais calóricos).
Esses alimentos também são os mais palatáveis, e a gordura dá uma
textura cremosa e fofa ao alimento, o que provavelmente conquista a
preferência da criança.
3 – Exposição repetida e mera exposição: São
processos de familiarização com alimentos que se iniciam com o desmame e
a introdução dos alimentos sólidos durante o primeiro ano de vida.
Embora as qualidades sensoriais do leite materno permitam à criança o
primeiro contato com os sabores e cheiros variados, possibilitando o
aumento da aceitação dos novos alimentos durante o desmame, é a
aprendizagem pela exposição repetida aos alimentos que proporciona a
familiaridade necessária para a criança estabelecer um padrão de
aceitação.
Contexto familiar, atitudes e estratégia dos pais
As crianças aprendem a respeito do alimento não somente por suas
experiências, mas também observando os outros. Dessa forma, a família
fornece amplo campo de aprendizagem, no qual a alimentação se torna um
dos principais focos de interação entre pais e filhos. Os pais e outros
familiares estabelecem um ambiente que pode ser propício à alimentação
excessiva ou a um estilo de vida sedentário. Pais que comem demais,
muito rápido ou ignoram os sinais de saciedade oferecem um pobre exemplo
a seus filhos. Por outro lado, os pais podem promover opções
alimentares nutritivas às crianças, por seleções sadias de uma
alimentação equilibrada.
Estudos sugerem que os alimentos com baixa palatabilidade (como os
vegetais) são oferecidos normalmente envolvendo coação para a criança
comer. Já os alimentos ricos em açúcar, gordura e sal são oferecidos em
um contexto positivo (como recompensa ou em festas) aumentando a
preferência por estes. À medida que as crianças são pressionadas a comer
um determinado alimento que os pais acreditam ser bom para elas,
diminui a sua preferência pelo alimento/sabor. Pais que abordam em
família o conhecimento sobre nutrição têm crianças que apresentam um
maior conhecimento referente à alimentação, aumentando o interesse pelo
alimento e sua aceitação.
Outra estratégia também usada pelos pais é o controle exercido em
relação ao consumo durante as refeições, impedindo que a criança aprenda
sobre a sensação da fome e saciedade. Isso afeta o seu próprio controle
de ingestão, podendo alterar o grau de controle interno da criança e
resultando em alterações de peso. Por exemplo, quando a criança fala que
não quer mais comer porque está satisfeita, e os pais dizem “termine o
que está no prato”, a mensagem fica clara para a criança de que a sua
sensação de saciedade não é relevante para a quantidade de comida que
ela precisa consumir.
Concluindo…
A tendência das preferências alimentares das crianças conduz ao
consumo de alimentos com quantidade elevada de carboidrato, açúcar,
gordura e sal, seguido de baixo consumo de vegetais e frutas. Essa
tendência é originada na socialização alimentar da criança, e em grande
parte depende dos padrões da cultura alimentar e do grupo social ao qual
ela pertence.
A adequada introdução de novos alimentos com uma correta socialização
alimentar, bem como a disponibilidade variada de alimentos saudáveis,
permite a promoção do comportamento alimentar nessa fase, que poderá
permanecer ao longo da vida. Fazer escolhas alimentares é um processo
complexo e tem consequências a curto e longo prazo para a saúde.
Excelente, amiga, excelente ! Beijo.
ResponderExcluirQue bom que você gostou! Abraços!
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