Manter
o bom humor frente a qualquer doença crônica é muito difícil. Assim
também ocorre com a obesidade. Na maioria das vezes, a doença
vence
o paciente pelo cansaço e impõe um enfrentamento com limitações,
fraquezas e até com o próprio desconhecimento da medicina de como tratar
individualmente cada caso de obesidade, já que eles são tão diferentes
entre si.
“Médicos e pacientes, muitas vezes, se constrangem frente à
impossibilidade de resolver o problema, pois a derrota, quando ela
ocorre, é de todos nós”, afirma a endocrinologista Ellen Simone Paiva,
diretora do
Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
A cada dia, mais endocrinologistas atendem obesos deprimidos nos
consultórios. Nos divãs dos analistas é grande a incidência de obesos
também. “Não há dúvida quanto a associação das duas doenças.
Aproximadamente 30% das pessoas que procuram tratamento para emagrecer
apresentam depressão. Além é claro dos inúmeros casos de melancolia e
tristeza em lidar com algo tão difícil, gerado pela rotina de ter que
lutar contra a balança, de se policiar sempre, de não poder se soltar
nunca. Nas consultas médicas que tratam o assunto, o choro é a regra”,
revela Ellen Paiva.
A idéia que temos de nós mesmos é um grande impulso para o
sucesso ou para a derrota em todos os embates da vida. Os obesos
carregam “o peso” de que não são capazes de
vencer
a guerra contra a balança, principalmente após inúmeras tentativas
frustradas de emagrecer. “Eles até continuam tentando perder peso, mas
sem nenhuma confiança de que isso seja possível. Quando eles vêm ao
consultório, o grande desafio dos profissionais ligados ao tratamento da
obesidade é fazê-los acreditar que podem perder peso”, diz a médica.
Um ciclo pouco virtuoso
As primeiras dietas são sempre coroadas de êxitos. A perda de peso
que ocorre na maioria das primeiras tentativas de perda de peso é
facilmente compreendida pelo maior engajamento dos pacientes nas dietas
propostas e nas várias mudanças de estilo de vida que eles se dispõem a
fazer.“Como a manutenção de peso ainda é o calcanhar de Aquiles dos
tratamentos para a obesidade, os pacientes voltam a engordar. E novas
dietas são implementadas trazendo à tona a noção da fragilidade da perda
de peso. A explicação dada pelos pacientes de que as dietas vão ficando
mais difíceis porque eles vão envelhecendo não procede. Na verdade,
eles se tornam mais e mais descrentes da possibilidade de emagrecer e
mais e mais propensos à depressão”, contextualiza a endocrinologista.
As frustrações em relação à imagem corporal começam no
enfrentamento da criança obesa com os vários apelidos na escola, avançam
pela puberdade, onde já existe uma insatisfação com as formas corporais
e alcançam o adulto que sofre preconceitos velados e dificuldades reais
como se posicionar em assentos públicos,
comprar
roupas adequadas à sua numeração e em se enxergar tão fora dos
rigorosos padrões de beleza corporal. Tudo isso concorre para uma
atitude de isolamento social e baixa auto-estima.
Apesar de muitas vezes não ser perceptível, a obesidade
infantil afeta a auto-estima e a sociabilidade da população
infanto-juvenil. Pesquisas recentes sugerem que há três variáveis
psicossociais que podem afetar negativamente a qualidade de vida das
crianças
obesas, podendo inclusive dificultar mudanças em seus estilos de vida,
como fazer dieta ou praticar atividade física. Essas dificuldades
impostas pela obesidade podem coexistir na vida de muitas delas, embora
elas se sintam relutantes em discutir o assunto com os pais, professores
ou profissionais de saúde envolvidos em seus tratamentos. São elas:
- Dificuldade de enfrentarem gozações e brincadeiras de seus colegas
relacionadas ao seu peso corporal, o que causa estresse psicológico
intenso, piora da auto-estima e piora da sua auto-avaliação da imagem
corporal;
- Isolamento social, redução considerável da capacidade de fazer
amigos e de aproveitar as oportunidades de praticar atividade física em
grupos, com o consequente aumento do consumo de alimentos;
- Depressão, que pode ocorrer como causa ou consequência da obesidade na infância e adolescência.
“As consequências da obesidade na infância e na adolescência
não param por aí. Outras pesquisas têm documentado alterações
comportamentais até então desconhecidas como influenciadas pela
obesidade. Parece que a obesidade na população infanto-juvenil está
ligada ao comprometimento do desempenho escolar, à maior vulnerabilidade
para os transtornos alimentares do tipo bulimia, a comportamentos de
risco como tabagismo, alcoolismo, atividade sexual prematura e a
práticas nutricionais erradas e sedentarismo”, alerta a endocrinologista
Ellen Simone Paiva. Várias atitudes de risco e de desorganização na
vida pessoal têm maior propensão de se agruparem na
criança e nos adolescente obesos.
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