Complexidade do Comportamento Alimentar Dra. Zuleika Salles Cozzi Halpern
Mariana Del Bosco Rodrigues A obesidade, como sabemos, é uma doença multifatorial determinada, basicamente, pelo balanço energético positivo.
O comportamento alimentar é controlado pelas sensações de fome, apetite e saciedade e estas são decorrentes da interação de diversos fatores tais como hábito, disponibilidade de alimentos, fatores sociais e culturais, ritmo circadiano e da interação de diversos sinais fisiológicos de regulação.
A descrição das inúmeras substâncias envolvidas na regulação do apetite e no controle do peso, a identificação dos centros envolvidos e as evidências de suas inter-relações, demonstram a complexidade do comportamento alimentar e da homeostase energética.
A leptina e a insulina são hormônios secretados em proporção à massa adiposa e atuam, perifericamente, estimulando o catabolismo.
No sistema nervoso central, a insulina e a leptina interagem com receptores hipotalâmicos favorecendo a saciedade. Indivíduos obesos têm maiores concentrações séricas destes hormônios e apresentam resistência à sua ação.
A leptina parece atuar ainda na homeostase energética. Observou-se que, com um balanço energético positivo, tem-se discreto aumento dos níveis de leptina, independentemente de alterações prévias no tecido adiposo. Essa alteração parece ser responsável por um aumento do consumo de oxigênio tissular e por um aumento da termogênese. Estudos experimentais demonstraram que a insulina tem uma função essencial para também aumentar o gasto energético e regular a ação da leptina.
Os peptídeos intestinais, combinados a outros sinais, podem estimular (grelina e orexina) ou inibir (colecistoquinina e oximodulina) a ingestão alimentar. Todos atuam nos centros hipotalâmicos, que é o grande responsável pelo comportamento alimentar.
No hipotálamo há dois grandes grupos de neuropeptídeos, os orexígenos (NPY e AgRP) e os anorexígenos (MSH e CART).
Evidências demonstram que a saciedade prandial é atribuída predominantemente à ação da Colecistocinina (CCK), que é liberada pelo trato gastrointestinal em resposta à presença de gordura e proteína.
Juntamente com a distensão abdominal, a CCK é a maior responsável pela inibição da ingestão alimentar em curto prazo. Parece que a ação da CCK é potencializada pela distensão, indicando um sinergismo entre seus receptores (além dos receptores de outros moduladores) e os mecanoceptores do trato gastrointestinal.
Outro inibidor da ingestão alimentar é o peptídeo YY, ou PYY.
Esse peptídeo é expresso pelas células da mucosa intestinal e sugere-se que a regulação é neural, já que seus níveis plasmáticos aumentam quase que imediatamente após a ingestão alimentar.
Obesos apresentam menor elevação dos níveis de PYY pós prandial, especialmente em refeições noturnas, levando a uma maior ingestão calórica.
A oxintomodulina (OXM) foi recentemente identificada como um supressor da ingestão alimentar.
Esse peptídeo é secretado na porção distal do intestino e parece agir diretamente nos centros hipotalâmicos para diminuir o apetite, diminuir a ingestão calórica e diminuir os níveis séricos de grelina. A OXM atua principalmente em condiçõesespeciais, tais como após cirurgia bariátrica.
A grelina é um dos mais importantes sinalizadores para o início da ingestão alimentar. Sua concentração mantém-se alta nos períodos de jejum e nos períodos que antecedem as refeições, caindo imediatamente após a alimentação, o que também sugere um controle neural.
Esse peptídeo também está envolvido na secreção do hormônio de crescimento (GH) e no depósito de gordura .
A ação no controle do apetite e dos depósitos energéticos depende da ação hipotalâmica e do estímulo para secreção do neuropeptídeo Y e do peptídeo agouti (AgRP).
As orexinas A e B, como a grelina, são secretadas pelo trato gastrointestinal e elevam-se nos períodos de jejum. Atuam estimulando receptores vagais e reduzindo a descarga de CCK.
Em humanos, doses fisiológicas de grelina e orexinas estimulam o apetite enquanto que a leptina, o PYY e a OXM, inibem.
Para regulação da ingestão de alimentos e de armazenamento de energia, uma série de fatores neuronais, intestinais, endócrinos e adipocitários atuam e interagem, e a identificação de todos os centros envolvidos e as evidências de suas inter-relações demonstram a complexidade do comportamento alimentar e da homeostase energética. Essa elucidação pode facilitar o tratamento da obesidade, além de estimular pesquisas para novas medicações que poderiam ser mais efetivas para o controle desta epidemia.
http://www.abeso.org.br/pagina/145/mecanismos-de-regulacao-de-apetite.shtml |
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