O efeito das suas escolhas.
Contar calorias é uma bela jogada para perder peso. Então, tanto faz comer um brigadeiro ou uma maçã, se ambos têm o mesmo valor calórico. Mas em longo prazo a historia é outra. A seleção dos pratos do seu cardápio vai ditar se você estará em forma no futuro.
Gordura, proteína ou carboidrato: na hora de emagrecer, é melhor eliminar o quê?
Tanto faz. Eis a resposta de um estudo da Escola de Saúde Publica da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que comparou, durante dois anos, o desempenho dos nutrientes na batalha pela perda de peso de 811 gordinhos. No final das contas, independentemente do tipo de alimento mandado para escanteio, todos se livraram de 4 quilos. Ou seja, para afinar a silhueta, basta restringir a quantidade calórica, não importa o item excluído.
Mas, se pensarmos bem, a conclusão abre alas a duas interpretações. A primeira é que as dietas da moda que preconizam um nutriente em detrimento de outros não têm tanto fundamento. E a segunda brota na cabeça dos espertinhos: se o que vale é comer menos, vamos nos entregar ao fast food, só que em porções modestas.
Será, então, que as escolhas do que comemos, desde que com igual valor calórico, não fazem diferença? Pode apostar que fazem. E o efeito, meu caro, você talvez não sinta agora, mas lá na frente. “Qualquer dieta com baixa ingestão de calorias emagrece em curto prazo. O problema é que, se a alimentação não for saudável, o prejuízo vem depois”. Prejuízo inclusive em termos de emagrecimento.
Ninguém discorda de que, no caso de quem luta contra o ponteiro da balança, a restrição calórica em si já traz benefícios. “Perder 10% do peso inicial diminui o risco cardiovascular”. E isso nem significa fechar completamente a boca. Há uma formula usada pela Organização Mundial da Saúde que estima a quantidade de calorias necessárias a casa um diariamente. De acordo com ela, um homem sedentário de 40 anos e 90 quilos, por exemplo, deve se abastecer com até 2300 calorias diárias.
Agora imagine que, o nosso personagem esta acima do peso. “Para emagrecer com segurança, recomenda-se cortar em média 500 calorias diárias, o que resultaria em cerca de meio quilo a menos por semana.” Das refeições, o homem do nosso exemplo deveria retirar algo equivalente a um filé grelhado, um ovo frito, um copo de refrigerante e um bombom. Assim, ele se limitaria a 1800 calorias. A questão é que o corpo dele – e o nosso – não depende apenas dos números. Não adianta preencher a cota diária só com pastéis naquela visita ao bar com os amigos.
Uma das descobertas de cientistas da Universidade Estadual de Campinas reforça a idéia de que, mesmo enxugando calorias, é preciso estar ciente da escolha dos nutrientes. Eles estudaram o impacto da gordura saturada das carnes vermelhas (e dos benditos pastéis) sobre o hipotálamo, área do cérebro que, entre tantas funções, controla a saciedade. E desvendaram um mecanismo capaz de explicar por que apostar nesse ácido graxo é um prato cheio para a obesidade. Eis a triste constatação: gordura chama gordura.
A dieta adequada é a que, segundo a boa e velha pirâmide alimentar, dispõe de 30% de gordura em geral. “E a fatia das saturadas não deve ultrapassar 10% de todo o cardápio”.
Pessoas que se empanturram de carnes, manteiga e frituras ou até mesmo aquelas que comem porções mais humildes, mas recheadas do tal ingrediente, acabam inevitavelmente extrapolando essa cota de 10%. E a sobrecarga  não é inócua para o hipotálamo. “Em excesso, o nutriente dispara inflamações ali”, ”Quando fogem do controle, essas reações propiciam a morte de neurônios, prejudicando o controle sobre o apetite”, ai não tem volta, o sujeito passa a conviver com uma fome difícil de ser aplacada.
Como a comunicação entre o hipotálamo e o resto do corpo fica comprometida, a vontade de comer de quem sofreu essas lesões não cessa. “Essa região do cérebro envia estímulos para a periferia, disparando, por exemplo, aquela salivação”. Com a água na boca, vai ser difícil resistir a mais um pedaço de picanha – ou seja lá o que for.
Sem exageros, o organismo não se tornará refém dos malefícios da gordura. Aliás, ele até precisa delas para preservar a membrana das células. O que você não deve é conceder a qualquer nutriente exclusividade no cardápio. No máximo, papel coadjuvante. Viver a base de proteína, por exemplo, até acelera a perda de peso nos primeiros meses. Mas e depois? “O abuso do nutriente esta associado, a longo prazo, à sobrecarga dos rins”.
A mesma mensagem é destinada aos fiéis seguidores do carboidrato. A pessoa com padrão formiga, que come muitos doces de olho apenas nas calorias, cai numa emboscada. Esses tipos de alimentos, em exagero, destrambelham os mecanismos que regulam o hormônio insulina. “Passado um período, o individuo fica mais predisposto ao ganho de peso e, consequentemente, ao desenvolvimento do diabetes tipo 2”.
Mais uma vez, a ordem é seguir a recomendação diária – no caso, apenas de 50 a 55% das calorias de sua refeição devem vir dos carboidratos. Nessa fração, não entram apenas pães, massas e doces, mas também frutas e verduras. E, vale frisar, a quantidade dos carboidratos eleitos para a sua dieta também pesa. “Imagine uma pessoa que come 2000 calorias diárias, mas seu cardápio é composto de exagerados 65% de carboidratos, e outra que, apesar de balancear os nutrientes conforme a pirâmide alimentar, exagera nas garfadas e consome 3000 calorias. Quem sai prejudicado com o tempo? Os dois”. Isso porque tanto carboidrato demais – ainda que você não extrapole nas calorias – quanto o excesso de comida em geral, quando se obtém mais energia do que o corpo precisa para viver, leva o pâncreas a se matar de produzir insulina. Só esse quadro já pode acarretar numa fome danada. Sim, seu corpo entende a mensagem “preciso de comida”.
O sonho de emagrecer e manter o corpo em forma, que tanta gente compartilha, só se sustenta quando se respeitam as necessidades nutricionais. Restrição calórica sim – mas sem perder de vista a pirâmide alimentar. Essa é a verdadeira formula para brecar um efeito dominó que culminaria num sem-fim de problemas – inclusive nos quilos a mais. Você decide o que vai no seu prato.