A conclusão não surpreendeu os especialistas ouvidos nesta reportagem. "É impossível se manter fiel a dietas radicais, dessas que propõem o corte total de algum alimento", afirma, categórico, Alfredo Halpern, endocrinologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Fora que o organismo é bem mais astuto do que se imagina. Ao enfrentar uma temporada de vacas magras, ele entende que precisa se preparar melhor para enfrentar futuras contenções. Daí, quando a alimentação normal é restabelecida, sua meta passa a ser estocar energia. Somando o fato de que a maioria das pessoas volta a dar garfadas extras como antes, tudo culmina no retorno daqueles quilos eliminados. "Por isso, para ser eficiente em longo prazo, uma dieta de emagrecimento não pode se afastar muito daquilo que é familiar ao indivíduo", ensina Halpern.
Mas atenção: esse motivo, que é mais manjado, não é o único para você desistir, de vez, de aderir a planos alimentares. Sua saúde, é claro, também deve ser levada em conta. E, quando se exclui, da noite para o dia, algum nutriente, o corpo sofre. Um caso clássico é a retirada brusca de carboidratos da rotina - o que muitas dietas da moda pregam como medida básica. "Ele é fonte nobre de energia para o organismo", frisa Elisabete Almeida, diretora executiva do programa Meu Prato Saudável.
Na prática, os carboidratos são fornecedores de glicose, suprimento primário das células. Na ausência do nutriente, o organismo vai atrás de outro combustível. E, diferentemente do que reza a crença popular, os alvos não são gorduras. "Desde a época das cavernas fomos programados para guardá- las bem, pois eram mais difíceis de serem encontradas", conta a nutróloga Maria Flora Almeida, do Grupo de Estudo e Tratamento do Obeso (Gesto), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. "Portanto, quando há corte de carboidratos, é a massa magra que atua como fonte de energia", conclui.
A furada está longe de chegar ao fim. A falta de glicose também resulta em maior formação de corpos cetônicos que, em excesso, afetam o cérebro e induzem a saciedade. Mas esse efeito positivo não justifica os estragos que as substâncias causam. Em estudo quentíssimo, prestes a ser publicado, a nutricionista Vilma Blondet, professora da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, notou que a cetose mudou o pH do sangue de cobaias. "Para controlar a acidez, o organismo recorreu, então, ao cálcio, deixando os ossos fragilizados", adianta. Logo, o caminho ficou livre para a osteoporose.
Mais uma cilada: quem embarca nessa história de expulsar os carboidratos do prato naturalmente é incitado a abrir maior espaço para as proteínas. Contudo, comer além do ideal - 1 grama por quilo de peso - financia panes. "Ao utilizar proteína para gerar energia, vários compostos são liberados no corpo. E os rins, responsáveis por eliminá-los, ficam sobrecarregados", informa Vilma. Foi justamente o que ela observou nas cobaias que seguiram esse modelo alimentar.
Outro órgão que sai perdendo com uma dieta hiperproteica e pobre em carboidratos é o coração. Em um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e do Instituto Karolinska, na Suécia, pesquisadores analisaram o histórico de quase 44 mil mulheres e viram um aumento de 60% no risco de um evento cardiovascular entre as que apostaram nessa onda. "Quando se fala em proteínas, devemos lembrar que suas principais fontes são as carnes, naturalmente carregadas de bastante gordura", observa Halpern. Segundo ele, o consumo excessivo do lipídio e de ferro, mineral abundante no alimento, alavancaria as doenças cardíacas.
Agora, que fique claro: isso não é desculpa para mirar nas gorduras. "Elas fazem parte de uma série de estruturas celulares, são protetoras de vários órgãos e auxiliam na manutenção da temperatura do corpo", lista a nutricionista Liane Quintanilha Simões, do Conselho Federal de Nutricionistas. Não à toa, de 25 a 35% das calorias diárias devem vir desse grupo alimentar. "Basta preferir os tipos mono e poli-insaturados, considerados benéficos", completa. Eles estão no azeite de oliva, nos peixes de água fria, nos óleos vegetais e nas sementes como linhaça e chia.
Já a versão saturada, das carnes vermelhas e queijos amarelos, não precisam sumir, mas merecem ficar sob rédea curta devido à capacidade de elevar os níveis de colesterol. O raciocínio muda no caso da trans, encontrada em itens industrializados, a exemplo de alguns sorvetes e biscoitos recheados. Aí, sim, a proibição joga a favor da saúde. Apenas nessa situação. De resto, banir alimentos tende a ser um tiro no pé, já que a atitude não se sustenta. E se manter magro exige ajustes capazes de serem levados para a vida inteira. Sem sacrificar o prazer à mesa.
Por que a dieta dos pontos é diferente?
A resposta é simples: porque não há proibições. Na verdade, você pode comer de tudo, desde que não ultrapasse o número de pontos liberados por dia. Para fazer o controle, basta anotar o que consome e depois somar os valores de cada alimento. "O esquema dá resultado justamente porque a pessoa não sai de vez da sua rotina", observa o endocrinologista Alfredo Halpern, autor da dieta. Uma das críticas recorrentes, porém, é o fato de favorecer uma alimentação desbalanceada. "Se a pessoa quiser, às vezes, gastar os pontos com uma banana-split, tudo bem. O importante é que não fará isso todo dia. Ela aprende a se controlar", contrapõe o médico.
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