O cérebro humano foi moldado numa época de
extrema penúria. Ao longo de toda a história da evolução, a humanidade
nunca obteve alimentos com facilidade. Para consegui-los, havia que
correr atrás deles e gastar muita energia. Depois, diante da presa
abatida, era preciso comer o máximo possível para acumular reservas e
enfrentar os períodos de jejum que se seguiriam.
Hoje, os tempos são outros. Para parte expressiva da humanidade, são
tempos de fartura e comodidade. Alimentos de alto valor energético e
grande conteúdo calórico estão aí, em abundância, e podem ser
conseguidos com mínimo esforço.
Pegar um indivíduo criado em época de penúria e colocá-lo diante da
geladeira cheia, do disque-pizza, da churrascaria rodízio, de sanduíches
transbordando recheios, é expô-lo a uma tentação que não está preparado
para resistir. Por isso, a obesidade está se transformando uma doença
que acomete homens, mulheres e crianças num verdadeiro problema de saúde
pública.
HERANÇA GENÉTICA
Drauzio – O que você acha da expressão “dietas para emagrecer”?
Alfredo Halpern –
Detesto. Pior do que ela só a palavra regime. Sabe por que as detesto?
Primeiro, porque são palavras que indicam restrição. Por isso, todo o
mundo tem antipatia por regime e dieta. Segundo, porque parecem indicar
algo provisório. É uma questão de filosofia. A pessoa que nasceu para
ser gorda, se fizer qualquer coisa provisória, emagrece um pouco e volta
a engordar.
Drauzio – O que você entende por “pessoa que nasceu para ser gorda”?
Alfredo Halpern –
Atualmente está demonstrado que existem pessoas que nasceram programadas
para serem gordas. Descendem de ancestrais que sobreviveram numa época
de penúria, de falta de alimento, de vida dura, porque tinham um sistema
genético aparelhado para estocar energia a fim de usá-la nos períodos
de escassez. Quem são essas pessoas? Somos nós, é a grande maioria.
Indivíduos que não engordam, os que chamo de “magros de ruindade”, são
cada vez mais uma exceção no mundo de hoje.
No Brasil, 40% das pessoas estão com excesso de peso e, se continuar
nesse ritmo, daqui a 20 anos, vai existir mais gente gorda do que gente
magra, porque pelo menos 60% da população estará acima do peso.
Drauzio – Fiquei impressionado com um mapa
dos Estados Unidos em que estavam registrados os índices de obesidade ou
excesso de peso calculados em 1991 e 2001 em vários estados americanos.
Nesses dez anos, o peso da população aumentou mais de 50%.
Alfredo Halpern –
Conheço esses dados. O impressionante é que o ganho de peso vem
ocorrendo com mais nitidez nos últimos 10 ou 15 anos. Nesse período,
estourou a prevalência de obesidade, apesar de todas as dietas
espalhadas pelas livrarias, bancas de jornal ou divulgadas pela mídia.
VARIEDADE DAS DIETAS
Drauzio – Há inúmeras
dietas mesmo. Existem aquelas respaldadas em princípios mais sérios como
a do Dr. Atkins, por exemplo, e outras como a do abacaxi e da Lua sem
base científica alguma. Há algum denominador comum entre elas?
Alfredo Halpern –
Acho que sim. Nos livros que escrevi com o jornalista Claudir
Franciatto, “Desta vez eu emagreço!” e “Magro para sempre!”, está
contada a história real de um sujeito, o Claudir Franciatto, que
experimentou todas as dietas do mundo, porque queria emagrecer de
qualquer maneira. Ele chegava a perder peso, mas logo voltava a
engordar. Juntos, estabelecemos uma espécie de filosofia para ajudá-lo a
perder peso e a manter-se magro.
Mesmo tendo conseguido emagrecer 40kg,
só escrevemos o livro “Magro para sempre!” depois que o novo peso foi
mantido por dois anos.
Na minha opinião, a única dieta que funciona é aquela em que o indivíduo
come o que gosta, observando, porém, certa contenção. Aí, ele faz dieta
a vida inteira e não engorda mais. Já regimes e dietas milagrosas
trazem resultados temporários. O que há de comum entre eles? Em primeiro
lugar, a esmagadora maioria busca sucesso comercial. Seus autores sabem
que é vasto o campo de pessoas interessadas em emagrecer e dispostas a
fazer qualquer coisa para alcançar esse propósito. Segundo, são dietas
sem nenhuma base científica e que não surtem efeito a longo prazo.
A dieta que proponho nada tem de especial. A pessoa pode comer de tudo.
Simplesmente, são atribuídos pontos aos alimentos para poder medir,
contar o conteúdo energético daquilo que é ingerido.
Drauzio – A curto prazo, no entanto, essas dietas fazem perder peso, porque se baseiam na restrição calórica.
Alfredo Halpern –
Sempre brinco que a dieta do brigadeiro é excelente. A pessoa emagrece
comendo brigadeiro. Come seis por dia e mais nada! Houve um tempo, por
exemplo, em que uma dieta chamada Beverly Hills fez muito sucesso. Era
mais ou menos assim: você pode comer o que quiser, desde que seja
abacaxi. Desse jeito, qualquer um emagrece. O segredo é continuar magro.
Usei o termo magro, embora não o considere o mais adequado. Às vezes, o
indivíduo não consegue tornar-se magro, mas emagrece bastante e mantém o
novo peso para o resto da vida.
DENSIDADE ENERGÉTICA DOS ALIMENTOS
Drauzio – O excesso de peso tem
duas vertentes. Uma é a ingestão de alimentos altamente calóricos. Você
pode comer um queijo que tenha 50% menos calorias do que outro. A outra é
a quantidade daquilo que se come. Como você orienta as pessoas nesse
sentido?
Alfredo Halpern – O
que está assumindo importância agora é o que se chama de densidade
energética, ou seja, quantas calorias existem em determinada porção de
alimentos. Por exemplo, o queijo tem alta densidade energética, porque
um pedaço pequeno contém muitas calorias. Alface, couve, verduras (em
geral o menos gostoso) têm poucas calorias em grandes volumes. O ideal é
comer um volume maior de alimentos com poucas calorias para satisfazer o
estômago. Isso não quer dizer que não se possa comer queijo, feijoada e
churrasco. A questão é ter bom senso para equilibrar as refeições.
Drauzio – Você vai a um jantar e servem uma
salada. Você está morrendo de fome e come um bom prato. Depois servem a
carne e só de olhar a boca enche de água. Você não acha que existe uma
motivação interna selecionada evolutivamente que nos leva a preferir
alimentos altamente calóricos?
Alfredo Halpern –
Disso eu tenho certeza. O estudo da obesidade está evoluindo de tal
maneira, que já não se discute mais a existência de neurônios no cérebro
que reagem à visão da carne ou de um doce e despertam o desejo de comer
esses alimentos. Por isso, não acredito e não gosto quando dizem que o
gordo é sem-vergonha porque come muito. Ele come porque tem fome ou
apetite. A necessidade de comer doce, por exemplo, é comuníssima
principalmente nas mulheres. Ela é provocada pela diminuição das
concentrações cerebrais de uma substância chamada serotonina.
RESISTÊNCIA AO APELO DA FOME
Drauzio – Parece que o ser humano resiste
menos à fome do que à dor. Muita gente com dor na coluna toca a vida
normalmente. Com fome, a impressão é que fica difícil fazer alguma
coisa.
Alfredo Halpern – O
grande problema é que, se não comer, a pessoa morre, o que na maioria
das vezes não acontece quando ela sentir dor. Comparar, por exemplo,
comer com fumar é outro erro. Não existe necessidade biológica para
fumar, mas para comer existe. Se a pessoa consegue deixar de fumar, sua
vida melhora muito. Se parar de comer, definha e morre. A alimentação é
indispensável para sobrevivência de todos nós.
Além disso, estamos cada vez mais aparelhados para engordar não só pela
fartura de comida como pela fartura de conforto. Hoje, tudo é projetado
para moderar o gasto de energia. Os carros têm direção hidráulica, são
hidramáticos e os vidros sobem e descem com um simples apertar de
botões. Já foi calculado, por exemplo, que uma única extensão telefônica
numa residência representa um ganho de peso de 1,100 kg por ano.
Antigamente, só existia um aparelho telefônico em cada casa. Alguém
chamava – “Fulano, telefone para você” – e a pessoa tinha de se
movimentar até o lugar onde estava o aparelho. Andava, subia ou descia
escadas, atendia o chamado e percorria o caminho de volta.
Agora o celular está ao alcance da mão. Não é preciso dar um passo para
atendê-lo. Se não houver uma profunda reformulação no estilo de vida,
todo o mundo vai ser gordo em poucos anos.
DIETA DO DR. ATKINS
Drauzio – O que você pensa a respeito da dieta do Dr. Atkins? Eu mesmo já vi várias pessoas perderem peso com ela?
Alfredo Halpern -
Certa feita fui convidado para falar num congresso sobre diabetes. O
tema proposto era a dieta do Dr. Atkins analisada sob critério
científico. Minha primeira reação foi recusar o convite – não vou falar a
respeito de charlatanices. Depois, decidi pesquisar intensamente o
assunto e fui ao congresso que redundou num artigo publicado no The New Engandd Journal of Medicine.
Conclusão: a dieta do Dr. Atkins funciona, faz perder peso.
A curto
prazo faz perder mais peso do que as outras dietas. A longo prazo,
porém, o resultado não é diferente. As pessoas voltam a engordar, porque
ninguém aguenta comer o mesmo tipo de alimento indefinidamente. Só
funciona a dieta que permite comer de tudo, mas com parcimônia e
moderação.
Além disso, a longo prazo, dietas ricas em gordura como a do Dr. Atkins
predispõem a doenças cardiovasculares e ao diabetes, porque acabam
comprometendo as funções do pâncreas, órgão que produz insulina.
SISTEMA DE PONTOS
Drauzio – Que tipo de orientação você dá aos pacientes? Você lhes diz o que e quanto podem comer por dia?
Alfredo Halpern – Não gosto de dietas muito estruturadas. Por isso criei o Sistema de Pontos há mais de 30 anos.
Drauzio – Em que consiste esse sistema?
Alfredo Halpern - O
Sistema de Pontos é uma filosofia, não uma dieta. Eu me formei em 1966
e, quando fui trabalhar no consultório, em 1969, já tinha feito
residência em clínica médica, estava fazendo endocrinologia e aprendia
de tudo, menos como resolver o problema da maioria de meus pacientes: o
excesso de peso. Na verdade, de 70% a 80% da clientela de um
endocrinologista é constituída por gente que quer emagrecer. Diante
disso, pensei: já que o problema é esse, vou tentar resolvê-lo direito.
Naquela época havia pouco material sobre obesidade. Agora, há uma
enxurrada tão grande que não é mais possível acompanhar tudo o que se
publica a respeito do tema.
Observando o que acontecia, minha primeira conclusão foi que todo o
mundo fazia uma dieta burra, parecida com a do Dr. Atkins: carne,
verdura, duas colheres de arroz, uma de feijão, salada e quatro frutas
por dia. Consequentemente, ninguém aguentava segui-la por muito tempo.
Foi, então, que me surgiu a ideia de que uma dieta só funciona se o
indivíduo puder comer de tudo.
Comecei, então, a catalogar os alimentos
atribuindo a cada um deles uma unidade chamada pontos. Não se trata de
nenhuma novidade, porque quem inventou os pontos foi Deus quando criou
as calorias. Cada ponto vale 3,6 calorias. Atualmente, no meu site
www.emagrecendo.com.br existem mais de 4.000 itens relacionados.
No Sistema de Pontos, a pessoa pode comer de tudo, mas precisa ir
anotando o que comeu para controlar o número de pontos ingeridos num dia
e que não pode ultrapassar uma quantidade previamente calculada de
acordo com seu peso, idade, sexo e atividade física.
Não adianta nada a pessoa conhecer a tabela de pontos se não houver
certa interação com uma nova filosofia que pressupõe conhecimento do
processo e determinação.
”Hoje vou comer feijoada, mas amanhã farei refeições menores para compensar.”
Nas dietas tradicionais o que acontecia? O sujeito quebrava o regime e
comia feijoada. Pronto! Achava que tinha estragado tudo e desistia da
dieta. No Sistema de Pontos, feijoada não é um prato proibido, desde que
no dia seguinte a pessoa consiga compensar a extravagância ingerindo
menos calorias.
QUOTA PESSOAL DE PONTOS
Drauzio – Sou médico formado há mais de 30 anos e quando alguém me pergunta quantas calorias pode ingerir por dia não sei responder.
Alfredo Halpern –
Estabelecer esse dado é complicado e depende do peso, altura, sexo,
atividade física e de quantos quilos a pessoa quer perder. A regra
básica é que homens devem comer mais ou menos 30 calorias por quilo de
peso. Se pesam 80 kg, portanto, devem ingerir 2.400 calorias. Saber isso
não adianta praticamente nada se a pessoa não souber quantas calorias
cada alimento contém.
A imprensa vira-e-mexe pergunta: “Dr., o que a pessoa precisa fazer quando quer emagrecer?” E eu sempre respondo: “Olhe, se fosse fácil, o Brasil inteiro seria um país de gente magra.”
É difícil encontrar uma pessoa que não saiba que alimentos ricos em
gordura e açúcar ajudam a engordar. No entanto, é preciso aprender a
enfrentar esses inimigos para vencer a batalha, porque em algum momento
eles vão aparecer na nossa frente.
Drauzio – Hoje o mercado de alimentos está inundado de alimentos diet e light. Esses alimentos podem ser ingeridos à vontade?
Alfredo Halpern – Existe um estudo mostrando que o consumo de alimentos light e diet corre
paralelo ao ganho de peso dos indivíduos. Claro que se trata de um viés
na análise. O fato é que quem se preocupa com excesso de peso, isto é,
80% a 90% da humanidade, tende a escolher esse tipo de alimentos, o que
não quer dizer que possa comê-los ou bebê-los à vontade. Nada tenho
contra eles, mas alguma coisa está errada. A oferta de produtos novos
que se encaixam nessa categoria aumenta a cada dia, embora os casos de
obesidade estejam crescendo assustadoramente.
Como médico, às vezes, me sinto frustrado. Há anos vou aos meios de
comunicação, explico o que está acontecendo e alerto a população sobre
os riscos dessa doença que é a obesidade. No entanto, me parece que as
pessoas recebem uma informação diferente daquela que os médicos tentam
transmitir.
Os laboratórios Roche e Abott, interessados no assunto porque produzem
medicamentos para controle da obesidade, fizeram uma pesquisa para saber
o que as pessoas pensavam a respeito do excesso de peso e por que
queriam emagrecer.
Descobriram que o motivo primordial não é a saúde. É a
autoestima. Elas querem sentir-se bem. Não pensam que podem morrer por
causa da obesidade. Acham que isso não vai acontecer com nenhuma delas.
Algumas chegam às minhas mãos em péssimas condições. Olho para elas e
tenho a impressão de que não vão viver um ano. Estão com diabetes,
pressão alta, colesterol elevado, respiram mal. Quando lhes pergunto
como se sentem, invariavelmente respondem: “Estou bem, doutor”. Não tenho dúvida, porém, de que se conseguirem emagrecer, o quadro clínico melhorará muito e sua qualidade de vida também.
Drauzio – Sou corredor de
maratona. Às vezes, fica difícil acreditar como certas pessoas com
excesso de peso conseguem correr 42 km sem parar. Essas pessoas precisam
emagrecer?
Alfredo Halpern –
Essas pessoas diminuíram um fator de risco que é o sedentarismo, mas
continuam expostas a outro fator de risco importante: a obesidade. De
qualquer forma, se compararmos duas pessoas com os mesmos quilos a mais,
a que não corre tem maior probabilidade de sofrer infarto ou derrame
cerebral.
Drauzio – Essa preocupação com o
emagrecimento pode virar uma neurose. O indivíduo passa a vida
perseguindo um peso ideal que nada tem a ver com suas características
orgânicas.
Alfredo Helpern – Em geral, é um
peso inatingível. Existem pesquisas, e minha experiência não é
diferente, mostrando que as pessoas estabelecem como meta a atingir um
peso impossível. Vamos citar um exemplo.
O indivíduo pesava100 kg,
emagreceu, chegou aos80 kg, mas quer pesar65 kg. Não está satisfeito
apesar de ter perdido 20% do peso, o que lhe trará benefício enorme
segundo todos os estudos a respeito do assunto. Se mantiver esse novo
peso para sempre, seu caso foi um sucesso, mas ele se sente fracassado,
porque não conseguiu pesar o que havia previamente imaginado.
DOENÇA CRÔNICA
Drauzio – Além de estar atenta aos hábitos alimentares, o que a pessoa deve fazer para manter o novo peso?
Alfredo Halpern – A
pessoa precisa saber que tem uma doença crônica, de caráter orgânico,
chamada obesidade. Ela pode não estar doente naquele momento já que
conseguiu perder peso, mas é doente, porque seus genes estão aparelhados
de tal forma que ela será obesa se não tomar cuidado.
Depois, precisa
aprender a enfrentar as “forças engordativas”, termo que criei para
designar inimigos que estarão presentes durante toda a sua vida. Se a
pessoa que emagreceu, conseguir manter o novo peso por um bom tempo, as
forças engordativas ficarão mais débeis. Caso contrário, se fortalecem. O
organismo fica impaciente e quer recuperar o que foi perdido. É o
famoso ioiô ou efeito sanfona – engorda, emagrece; engorda, emagrece –
que acontece com muita gente. Pelo que se sabe hoje, é melhor a pessoa
continuar gorda do que se expor a essa perda e ganho de peso, pois o
efeito sanfona é causa de inúmeras doenças.
Drauzio – Não se pode esquecer de que, quando ocorre perda de peso, o cérebro tende a fazer o organismo voltar ao peso inicial.
Alfredo Halpern –
Se a pessoa que pesava 120 kg chega aos 80 kg e consegue manter esse
peso por dois anos, a tendência para voltar ao peso antigo é menor.
Durante o processo de emagrecimento vão ocorrendo platôs. O inverso é
verdadeiro quando engordamos. Aos 20 anos, o indivíduo pesa 70 kg. Com
30, 75 kg. Aos 40, 85 kg, porque o organismo vai tendo memória dos novos
pesos. Quando ele chega aos 100 kg, é preciso perder peso e ajustar de
novo a sintonia. Isso exige prática. Leva tempo. O Claudir Franciatto
descreve esse processo no livro que escrevemos. Se baixar a guarda,
qualquer um recupera o peso num instante.
Drauzio – Você acha que as mães têm um pouco
de responsabilidade nesse processo de ganho de peso, já que insistem
para os filhos pequenos comerem tudo. “Olhe, menino, se não raspar o prato, hoje não tem sobremesa”.
Alfredo Halpern –
Embora os casos de obesidade infantil estejam aumentando, não acho que o
problema seja só de responsabilidade dos pais. Na verdade, o
comportamento deles está mudando. Mesmo assim, como dizia Freud, as mães
continuam sendo sempre culpadas.
ESTRESSE TAMBÉM ENGORDA
Drauzio – Os adolescentes comem muito e não engordam. Aos 50 anos, querem manter o padrão alimentar dos 20 anos e obviamente ganham peso.
Alfredo Helpern – É
uma pena, mas isso acontece. Eu, por exemplo, comia mais antes do que
agora e venho engordando. Sabe por quê? Porque à medida que o tempo
passa, gastamos menos calorias e, infelizmente, nosso organismo vai
transformando músculo em gordura. Além disso, a cada dia surgem mais
evidências de que o estresse é um fator engordativo. A elevação dos
níveis de cortisol está diretamente ligada à carga de estresse e ao
aumento de peso.
Drauzio – O estresse faz engordar porque provoca alterações no metabolismo ou porque as pessoas estressadas comem mais?
Alfredo Halpern –
As duas coisas. As pessoas pensam que estresse engorda, porque elas
comem mais. Não é só por isso. Estresse engorda, porque provoca
alterações metabólicas. Infelizmente, nossa geração e as que estão vindo
depois de nós têm que aprender a lutar contra mais essa força
engordativa que o estresse representa.
Quatro estudos esclarecedores
Drauzio Varella
Síndrome da Fome Noturna
Essa síndrome é caracterizada por falta de apetite pela
manhã, insônia e excesso de fome à noite. Descrita em 1955, a síndrome
está associada a períodos de estresse e acomete 1,5% da população geral.
Nas clínicas para tratamento de obesidade, no entanto, 12% dos
pacientes apresentam esse tipo de queixa. Entre os portadores de
obesidade mórbida esse número chega a 26%.
Num estudo conduzido na Universidade de Pensilvânia, 10
pessoas com excesso de peso foram acompanhadas durante uma semana. Os
dados obtidos incluíam a relação dos alimentos ingeridos e o número de
interrupções do sono durante a noite, detectado por sensores instalados
na cama.
Comparados com o grupo controle, os obesos se alimentaram
mais vezes por dia (9,3 versus 4,2 vezes), acordaram com maior
freqüência durante a noite (3,6 versus 0,3) e consumiram proporção mais
alta de calorias diárias no período das 8 da noite às seis da manhã (56%
versus 15%).
Na Universidade de Tromsö, na Noruega, estudo semelhante
demonstrou que nos portadores da síndrome da fome noturna, os níveis de
melatonina e de lepitina são menores do que os do grupo controle.
Níveis mais baixos de melatonina podem explicar o padrão
alterado da arquitetura do sono nos portadores da síndrome. Os níveis de
lepitina na circulação durante o sono estão associados à supressão do
apetite enquanto dormimos. A fome exagerada durante a noite nos
portadores da síndrome pode estar relacionada com a redução das
concentrações de lepitina no sangue.
A administração de melatonina e lepitina ao deitar está sendo estudada no tratamento da síndrome.
Charuto e ataque cardíaco
Para avaliar a o risco de acidentes cardiovasculares associados ao hábito de fumar charuto, pesquisadores da American Cancer Society
examinaram um banco de dados com 121.278 homens que no ano de 1982
haviam respondido a um questionário. Foram excluídos da análise: os
fumantes de cigarro ou cachimbo, os diabéticos e todos os que
apresentavam doença cardíaca prévia.
No período de 1982 a 1991, 2.508 fumantes de charuto
morreram de ataque cardíaco. Neles, o risco de doença coronariana foi
30% maior. Fumar dois ou mais charutos por dia aumenta o risco. Entre os
que abandonaram o vício, o risco desapareceu.
Mesmo sem tragar, fumantes de charuto absorvem nicotina
pelas mucosas e respiram a fumaça que exalam. Dessa forma, correm os
riscos de trombose e aterosclerose que atormentam os fumantes de
cigarro.
Frequência cardíaca pós-exercício e mortalidade
O número de vezes que o coração bate por minuto está
ligado à ação do nervo vago. Frequência cardíaca alta está associada à
ação reduzida do vago e representa maior risco de mortalidade por doença
cardiovascular.
Como a redução da frequência cardíaca imediatamente depois do exercício depende diretamente da ação do vago, pesquisadores da Cleveland Clinic decidiram submeter 2.428 pessoas saudáveis ao teste ergométrico com esteira.
Os participantes corriam na esteira até o aparecimento de
um sintoma qualquer de exaustão. A frequência cardíaca era medida
imediatamente depois da parada da esteira e um minuto após. O índice de
recuperação cardíaca foi definido como a diferença entre esses dois
valores. A média na queda da frequência cardíaca foi de 17 batimentos
por minuto. Redução abaixo de 12 batimentos foi considerada anormal. Em
26% das pessoas testadas, a recuperação foi anormal. Entre estas, o
risco de morrer por qualquer causa nos próximos seis anos foi quatro
vezes maior.
Contar o pulso ou a frequência cardíaca ao terminar o
exercício e um minuto depois é um método simples e barato para avaliar a
necessidade de procurar o cardiologista.
Infarto do miocárdio e exercício extenuante
Cardiologistas do
Hartford Hospital de Connecticut estudaram
640 pacientes internados depois de infarto do miocárdio. Deles, em 64 o
infarto havia acontecido durante exercício físico.
O risco de infarto durante exercícios vigorosos foi 10 vezes superior
ao risco corrido em repouso ou relativa inatividade. Em 26 pacientes, o
evento que deflagrou o ataque cardíaco foi andar ou correr; em 12,
levantar peso; e, em 26, uma combinação dos dois.
A probabilidade de infarto aumentou de acordo com a presença das
seguintes variáveis: fumantes, sexo masculino, obesidade, colesterol e
triglicérides elevados, ausência de angina (dor no peito) e baixos
níveis de atividade física habitual.
http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/obesidade/quatro-estudos-esclarecedores/
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