Em mais um esforço para desinflar as estatísticas da obesidade, os Estados Unidos acabam de substituir seu ícone de alimentação saudável. No lugar da velha pirâmide, que desde os anos 1990 é referência para profissionais de saúde e para a população em diversos cantos do globo, o país agora adotou a imagem de um prato. Batizada de MyPlate, a nova representação gráfica pega carona nas últimas diretrizes dietéticas americanas, divulgadas em janeiro deste ano. Ela é dividida em quatro partes, nas proporções que você vê na foto ao lado. Frutas e vegetais ocupam metade do espaço, enquanto grãos e proteínas ficam com a outra parcela. À direita, um copo lembra a importância dos laticínios na dieta.

A ideia, segundo a primeira-dama Michelle Obama, que anunciou o lançamento do novo padrão, é usar um desenho facilmente compreensível até mesmo para uma criança. “Sem dúvida, o prato é mais eficiente para atingir a população como um todo”, afirma Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia. A principal crítica às pirâmides — no plural, porque existem diferentes versões — é justamente a dificuldade que pessoas comuns enfrentam para decifrá-las e colocar seus preceitos em prática. “Visualmente, a proporção dos grupos alimentares e o tamanho das porções parecem estar mais claros agora”, opina Rosana Perim, gerente de nutrição do Hospital do Coração, em São Paulo.
Mas o MyPlate também tem seus problemas. Um texto publicado pela Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, dá exemplos: à primeira vista, não há como saber que os grãos integrais são melhores que os refinados, ou que feijão, peixe e frango são fontes menos gordurosas de proteína. Sem falar que o prato alude a uma única refeição, quando na verdade a distribuição dos alimentos deve se estender ao longo do dia.
Controvérsias à parte, a missão de todo guia alimentar é incentivar escolhas mais saudáveis e ajudar na prevenção de enfermidades crônicas — se um indivíduo já tem uma doença, deve ter as recomendações ajustadas à sua condição. Nos últimos anos, a prioridade tem sido frear a epidemia mundial de obesidade e reduzir a prevalência de males relacionados ao excesso de peso, como problemas cardiovasculares, diabete e câncer. Por enquanto, a tarefa está longe de ser cumprida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, em 2015, serão 700 milhões de obesos em todo o mundo. Em terras brasileiras, quase metade da população está acima do peso e 15% dos adultos são obesos, segundo dados recentes do Ministério da Saúde.
Como deveria ser o prato verde-amarelo
Apesar dos pontos em comum com os vizinhos ao norte do continente, não custa lembrar que o MyPlate foi desenvolvido com base na realidade daquele país, e que, portanto, não pode simplesmente ser emprestado por quem está abaixo da linha do Equador. “É preciso olhar para as nossas questões”, pondera a nutricionista Renata Padovani, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Alimentação da Universidade Estadual de Campinas, no interior de São Paulo. Mas, afinal, o que falta e o que está sobrando no nosso prato?
“O consumo de frutas e vegetais aqui é baixíssimo”, alerta Cyntia Carla da Silva, coordenadora do Setor de Promoção à Saúde do Hospital do Coração, na capital paulista. De acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, esses alimentos representam apenas 2,8% do total de calorias médio que o brasileiro consome diariamente. Isso equivale a um quarto da recomendação, que é de 400 gramas diários. Consequentemente, estamos longe de ingerir a quantidade ideal de fibras, que, aliás, dão uma bela força para quem precisa murchar os pneus.


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A nutricionista Mariana Del Bosco, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, menciona outros dois desajustes da nossa dieta que preparam o terreno para os quilos a mais: os excessos de açúcar e gordura. No caso dos doces, o exagero sempre é negativo. “Essa mania potencializa o risco de diabete, gordura no fígado e colesterol elevado”, avisa. Portanto, moderação no consumo.
Sobre a gordura, o problema também está no tipo. E adivinhe com qual nos esbaldamos. Na saturada, que é supercalórica e favorece o entupimento das artérias. Maneirar na ingestão pode ser mais fácil do que parece. Acompanhe a conta que Mariana propõe. Se uma família de quatro pessoas reduzir o uso mensal de óleo de três latas para uma e meia, cada um deixaria de ingerir 112 calorias por dia. Em dois meses, essa pequena mudança resultaria em quase 2 quilos a menos na balança para cada indivíduo.
Usar o prato como modelo de dieta balanceada não é exatamente uma novidade. Reino Unido, Austrália, Suécia e outros países já trabalham com esse recurso gráfico. No Brasil, apesar da popularidade da pirâmide alimentar, o governo não emprega nenhum ícone oficial. No dia a dia, entretanto, são muitos os profissionais de saúde que lançam mão de desenhos e esquemas para orientar seus pacientes. Um exemplo é o que se ensina no Hospital do Coração, em São Paulo. Lá, a sugestão de menu é um prato em que metade deve ser reservada aos vegetais, um quarto a uma porção pequena de carne magra e o quarto restante à dupla arroz com feijão.
Resgatar essa parceria, que por tanto tempo protagonizou a nossa dieta, é, também, uma maneira de controlar o ataque aos snacks, processados e afins, fontes inesgotáveis de carboidratos refinados. Esses nutrientes elevam rapidamente os níveis de açúcar no sangue e estimulam a produção de insulina, o hormônio que coloca a glicose dentro das células. Com a insulina à solta, o organismo é convidado a estocar gordura.
Em busca da redução do sódio
“Não dá para voltar atrás em relação aos industrializados, mas é possível buscar soluções para tornar seu consumo menos prejudicial”, acredita a nutricionista Beatriz Botéquio, da Equilibrium Consultoria em Nutrição e Bem-Estar, em São Paulo. Uma ideia, ela diz, é dar preferência a produtos que levam o selo Minha Escolha. Eles cumprem critérios estabelecidos pela Fundação Internacional Choices para nutrientes como gordura saturada, gordura trans, açúcar e sódio.
E, para dar um basta ao sódio nosso de cada dia, o Ministério da Saúde e a indústria de alimentos assinaram em abril um termo de compromisso que prevê a redução desse ingrediente em 16 alimentos, começando por massas instantâneas, pães e bisnaguinhas. A quantidade diária de sódio disponível nos domicílios do país hoje é de 4,5 gramas, mais que o dobro do limite estipulado pela OMS, de 2 gramas.
Dá para simplificar sem perder qualidade? Essa é a pergunta que, no fundo, todo mundo se faz frente a tantas recomendações, cuidados e medidas. Será que existe um jeito simples de se alimentar da forma adequada? De acordo com o trabalho coordenado pela psicóloga alemã Jutta Mata, do Max Planck Institute for Human Development, em Berlim, descomplicar é o melhor caminho para garantir o sucesso de uma dieta. “Descobrimos que o nível de complexidade cognitiva está totalmente ligado à adesão a um regime”, conta a pesquisadora. Em outras palavras, quanto menos elementos, cálculos e demais informações tiverem que ser processados, maior é a chance de sucesso inclusive na manutenção de peso. Nesse caso, ponto para o novo prato americano, que confia na simplicidade para orientar a população.
O estudo conduzido por Jutta e seus colegas também pesa em favor do que a maioria dos especialistas está cansada de pregar: dietas mirabolantes não são capazes de garantir uma vida mais saudável. E aí chegamos à já conhecida conclusão de que o segredo está mesmo no equilíbrio. “O que falta é parar e pensar no que vamos comer”, resume o nutrólogo Durval Ribas Filho.
Como o principal desafio é derrubar o ponteiro da balança, não dá para ignorar que o excesso de peso é um problema multifatorial. “Um levantamento do governo inglês faz um paralelo entre a obesidade e o aquecimento global, porque ambos são problemas complexos que exigem não só mudanças de comportamento mas econômicas e sociais”, afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Patrícia Jaime, coordenadora de alimentação e nutrição do Ministério da Saúde, concorda. “As taxas de obesidade no país só poderão ser reduzidas com ações em diversos âmbitos”, diz. Que tal começar pelo seu prato?
A gente come assim
Este ano, o Ministério da Saúde divulgou os resultados do Vigitel 2010, uma pesquisa que avalia fatores de risco e proteção para doenças crônicas, com base em entrevistas feitas por telefone. Veja o que dizem os brasileiros sobre seus hábitos alimentares
56% dos brasileiros afirmam tomar leite integral
34% consomem carne com excesso de gordura
66% consomem feijão cinco ou mais vezes por semana
18% consomem cinco ou mais porções de frutas e hortaliças por dia
O que mudou
Nosso padrão alimentar está se transformando. Observe o que houve com a participação de alguns alimentos na média diária de calorias entre 2002 e 2009
Embutidos
Aumento de 23,5%
Pães
Aumento de 12%
Biscoitos
Aumento de 10%
Arroz
Queda de 7%
Feijão
Queda de 18%
Farinha de mandioca
Queda de 20%

A pirâmide no tempo

Diversas versões foram criadas antes da recente implosão. Conheça as principais
1992 • O Departamento de Agricultura americano desenvolve
a primeira referência triangular do garfo saudável.
1999 • A nutricionista Sônia Tucunduva Philippi, da Universidade de
São Paulo, adapta a pirâmide americana aos nossos hábitos.
2000 • A Clínica Mayo, nos Estados Unidos, cria uma
variante que resgata a importância da atividade física.
2001 • Especialistas de Harvard fazem a sua e enfatizam
o consumo de cereais integrais e óleos vegetais.
2005 • A MyPyramid distribui os alimentos verticalmente
e traz orientações conforme o perfil de cada pessoa.
À brasileira
Desde 2006, as diretrizes do governo brasileiro estão reunidas no Guia Alimentar para a População Brasileira, que indica porções diárias para oito grupos de alimentos. A nutricionista Beatriz Botéquio, da Equilibrium Consultoria em Nutrição, em São Paulo, criou um cardápio baseado nessas recomendações
Grupos Alimentares e porções recomendadas
Cereais, tubérculos, raízes e derivados – 6
Feijões – 3
Frutas e sucos de frutas naturais – 3
Legumes e verduras – 3
Leite e derivados – 3
Carnes e ovos            – 1
Óleos, gorduras e sementes oleaginosas – 1
Açúcares e doces – 1

Café da manhã
• 1 copo (200 ml) de leite desnatado
• 2 fatias de pão integral
• 1 colher de chá de margarina
• 1/2 unidade de mamão papaia

Lanche da manhã

• 1 goiaba vermelha pequena
Almoço
• 1 pires de salada de folhas verdes
• 2 colheres de sopa de cenoura
• 1 colher de sobremesa de azeite
• 4 colheres de sopa de arroz integral
• 1 concha de feijão
• 2 unidades de almôndega de
carne recheada com espinafre
• 1 copo (200 ml) de suco de maracujá
Lanche da tarde
• 4 torradas integrais salgadas
• 1 iogurte desnatado de frutas
Jantar
• 1 prato de sobremesa de alface
roxa com minicenoura e cubos
de abacaxi
• 3 colheres de sopa de batata corada
• 1 unidade pequena de filé de frango
grelhado com molho barbecue
Lanche da noite
• 1 copo de leite desnatado
Fonte: Revista Saúde
http://blog.jasminealimentos.com/a-dieta-do-prato-ideal/