Esta matéria da Veja traz informações muito boas, por isto, partilho com vcs:
burlam as restrições e voltam a engordar
– alguns até enfrentam a cirurgia de novo
Mariliz Pereira Jorge
Roberto Setton |
Sueli: operou, emagreceu, teve um bebê, relaxou e agora luta para evitar a segunda cirurgia: "Emagrecer de novo está sendo um martírio" |
Cortar, costurar e emagrecer. A cirurgia do estômago, que começou a se propagar na virada da última década, trouxe uma solução para a obesidade que parecia definitiva. Indicada apenas para casos extremos, com fatores de risco ainda muito altos (2% de mortes, 10% de complicações pós-operatórias), a redução significava, de um lado, cuidados para sempre – comer muito pouco, conviver com náuseas e diarréias – e, de outro, a possibilidade de perder algumas dezenas de quilos e não voltar a engordar. Afinal, como ganharia peso uma pessoa com capacidade estomacal reduzida para o equivalente a uma xícara de café? Passados quase dez anos e cerca de 80.000 cirurgias, as primeiras estatísticas de longo prazo feitas no Brasil mostram que a cirurgia bariátrica, como é chamada pelos médicos, não é, infelizmente, uma solução mágica. Segundo dados do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, um terço dos pacientes recuperou em sete anos bem mais peso do que o esperado. Destes, 5% a 10% voltaram a ser obesos mórbidos, aqueles cujo índice de massa corporal fica acima de 40, quando o desejável é entre 18,5 e 25. "A obesidade é uma doença crônica. A cirurgia é um artifício para controlá-la, mas os mecanismos metabólicos, psicológicos e sociais envolvidos são muito resistentes. O paciente precisa ser acompanhado pelo resto da vida", diz o cirurgião do aparelho digestivo Thomas Szegö, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em São Paulo.
Mirian Fichtner |
Sandra, duas cirurgias, 12 quilos a mais depois da segunda: "Quando me dou conta de que estou engordando ou alguém comenta, fico deprimida e busco refúgio na comida" |
Atualmente são feitas cerca de 25.000 cirurgias de redução de estômago por ano no Brasil (nos Estados Unidos são 180.000). A duração caiu de quatro horas para menos de duas, os procedimentos se aprimoraram e os cirurgiões são mais hábeis e experientes do que nos primórdios da técnica. Por isso, os riscos de complicações graves caíram para 2% e a taxa de mortalidade não ultrapassa 1%. Apesar da insistência dos médicos na necessidade de acompanhamento pós-operatório constante, passados dois anos metade dos operados deixou de ir ao consultório. É justamente nesse período que se dá a maior perda de peso; depois, a balança se estabiliza e a tendência é relaxar – e engordar. A dona-de-casa Sandra Kerber, de Porto Alegre, é um caso clássico. Pesava 154 quilos ao fazer a cirurgia, em 2001. Perdeu 65 quilos em dois anos; ainda tinha 10 a perder quando começou a comer mais do que devia, a ponto de o anel restritivo se romper. "Não eram grandes quantidades, mas eu comia o dia inteiro, um pouquinho de cada vez, coisas que engordam mesmo", reconhece. Veio a segunda cirurgia, e Sandra chegou a 82 quilos. Hoje, pesa 94. "Tenho pavor de engordar e sei que posso recuperar tudo se não controlar minha compulsão. Mas, cada vez que me dou conta de que estou engordando ou que alguém faz algum comentário, fico deprimida, ansiosa e acabo sempre buscando refúgio na comida", diz. Perder peso na escala exigida pelos obesos mórbidos fica mais difícil a cada tentativa. A coordenadora comercial Sueli Cardoso Coca, 44 anos, pesava 135 quilos quando foi operada, há sete anos. Em dois anos, baixou para 76. Com acompanhamento nutricional e endocrinológico, engravidou e engordou apenas 9 quilos. Depois do parto, ela abandonou as aulas de dança de salão, esqueceu a nutricionista e engordou. "Comia o dia inteiro, inclusive a papinha do bebê", conta. Não quer nem pensar numa segunda cirurgia e voltou a se tratar, mas reconhece: "Na primeira vez, perdi peso rapidamente. Agora, está sendo um martírio".
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