Quando o assunto é um novo método de emagrecimento, não importa quantos quilos a pessoa precisa ou quer eliminar, a ansiedade é sempre a mesma. Atualmente, dois procedimentos para o tratamento de obesidade estão na moda. O balão intragástrico (BIB) e a banda gástrica ajustável. Por terem efeitos colaterais mais amenos do que a cirurgia de redução de estômago, estão sendo utilizados também para fins estéticos, o que é um erro, segundo especialistas. Os procedimentos não são milagrosos, portanto só são recomendados a pessoas com reais problemas de excesso de peso. Para aquelas que não se enquadram nas características, a fórmula milagrosa para emagrecer é composta por dois ingredientes — a reeducação alimentar e a prática de exercício físico.
O problema das dietas é sempre o mesmo: a fome acarretada pela diminuição da ingestão de alimentos. Ao atuar exatamente no xis dessa questão, os dois procedimentos conquistaram a fama da eficácia. O BIB é uma prótese de silicone, uma espécie de bolinha de ar ou cheia de soro fisiológico e azul de metileno — corante bacteriológico usado para tornar visível o objeto caso o balão estoure —, que, ao ser introduzida no tubo digestivo por meio de endoscopia, ocupa cerca de 40% do estômago (veja arte). Ela é feita para ficar na cavidade estomacal por um período de quatro a seis meses.
Já a banda gástrica ajustável, popularmente conhecida como cirurgia do anel, é colocada na parte superior do estômago por cirurgia videolaparoscópica. A banda provoca a diminuição de parte do estômago e os efeitos do balão acabam por produzir uma saciedade precoce no indivíduo, fazendo com que o paciente adquira hábitos alimentares saudáveis. Parece simples, mas não é.
O professor de gastroenterologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-SP), Hércio Cunha, explica que, para utilizar uma das técnicas, é necessário estar com o índice de massa corpórea (IMC) acima de 35, mas com comorbidades associadas — por exemplo diabetes, hipertensão arterial e apneia do sono. “São indicados principalmente para pessoas que não obtêm o emagrecimento desejado com medicações. O balão é dirigido a um público específico, é uma terapia temporária e ambulatorial”, descreve o médico.
Orientação e esforço
A servidora pública Aline Moura, 1,65m, 102kg e IMC 37,5 conta que sua vida foi marcada pelo temido efeito sanfona. De tempos em tempos ela emagrecia e, não demorava muito, engordava de novo. Mas isso ocorre por motivos óbvios: “Eu não consigo manter o peso. Já tomei remédio, fiz dietas, mas, sempre paro no meio dos tratamentos”, relata.
Agora, após ser aconselhada por amigos, Aline procurou orientação médica para saber sobre qual dos procedimentos seria mais adequado ao perfil dela. Atualmente, espera os resultados de exames para se submeter à cirurgia da banda gástrica. “Hoje frequento palestras e vou me esforçar para dar tudo certo. Além disso, vou começar o acompanhamento psicológico e nutricional. Acredito que dessa vez vou fazer a coisa certa”, espera.
Com o balão, o paciente pode eliminar cerca de 10% a 15% do peso inicial e, em média, 25% com a banda. Talvez seja por isso, pela perda de peso mais rapidamente, que as pessoas estejam em busca dos métodos com intenções estéticas. No entanto, Hércio Cunha explica que antes de indicar os procedimentos é necessário realizar uma avaliação do perfil do paciente. “O balão deve ser usado somente para tratamento da obesidade”, salienta. O especialista afirma que sempre alerta os pacientes na primeira consulta que não existe mágica ou milagre e que qualquer método de emagrecimento deve ser aliado a mudança de hábitos, incluindo alimentação e prática de exercícios físicos.
Asma, gordura no fígado e o desconforto dos quilos extras fizeram André Alves Guimarães, 33 anos, 108kg, a querer usar o balão intragástrico. Em seis meses com o mecanismo no corpo, o engenheiro emagreceu 27kg. Quando retirou, eliminou mais 6kg. “No começo é horrível, enjoava como mulher grávida. Mas, no quarto dia, passou”, recorda. Guimarães conta que não tinha outra alternativa, tinha que emagrecer mais rápido e conseguiu de uma forma equilibrada. “Eu recomendo”, aconselha.
Reeducação
O gastroenterologista Lucas Seixas é rígido em relação à indicação dos procedimentos. Ele destaca que não realiza as técnicas quando o IMC é menor do que 30, para fins estéticos, quando a pessoa submeteu-se à cirurgia abdominal. “Digo não também para aqueles que não desejam participar de programas de mudanças alimentares e comportamentais”. Segundo ele, é necessário ter cautela, participar de reuniões de grupo, discutir o assunto com o médico para avaliar as vantagens e as desvantagens de cada procedimento, pesar os riscos e benefícios e escolher com o médico o melhor método porque cada caso exige uma solução individual.
Dessa forma, o médico explica que prepara o paciente para uma vida diferente. Como o balão é temporário, produz bons resultados na reeducação alimentar. Já a banda gástrica beneficia doentes com síndrome metabólica da obesidade, IMC mais altos e que não conseguem controlar o distúrbio. “Há protocolos de cirurgia plástica que colocam o balão no obeso para perder peso, com orientação nutricional, antes de fazer uma cirurgia plástica”, diz.
De acordo com Seixas, é inegável que, além da saúde, os pacientes também queiram obter um ganho estético — o que em geral a perda de peso proporciona. Os efeitos de um tratamento com bons resultados para o obeso, segundo o médico, melhora a saúde mental, insere os pacientes novamente no convívio doméstico, social e possibilita muitas vezes um recomeço com a autoestima elevada.
Lucas Seixas alerta que o Brasil vive uma epidemia de obesidade e os números são preocupantes. Segundo pesquisas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país já tem 17 milhões de habitantes acima do peso (9,6% da população). “Este um problema sério de saúde pública, pois representa a gênese de patologias cardiovasculares e oncológicas, principais causas de mortes no mundo”. Para Seixas, é importante seguir fazer um programa alimentar saudável, consumir alimentos frescos e praticar atividades físicas. Além disso, dormir bem, trabalhar o suficiente, comer lentamente e ainda ingerir bastante água são recomendações básicas para um processo de reeducação de hábitos.
“Estamos vivendo em um mundo que exige produção, consumo e isso só estimula uma péssima alimentação. Falta tempo para atividades físicas, para a saúde mental e a ausência de uma boa educação alimentar, desde a infância, significam o que chamo do mal do século”, adverte, numa referência à necessidade, urgente, da montagem de uma política de saúde pública que funcione.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário