O aumento das taxas de sobrepeso e de obesidade no mundo inteiro tornam a adoção de uma alimentação saudável um tema cada vez mais preocupante para autoridades, profissionais de saúde e para a própria população, pelas graves conseqüências que uma alimentação inadequada pode trazer à saúde. Conhecer o papel de determinados alimentos no funcionamento do corpo, evitar outros ricos em açúcar, gorduras e sal e saber a melhor forma de compor as refeições contribui bastante para uma rotina com mais saúde.
"Uma alimentação saudável deve ser saborosa, variada, colorida, acessível do ponto de vista físico e financeiro, equilibrada em quantidade e qualidade e segura sanitariamente", explica Dillian Goulart, consultora técnica da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde. Para ela, em um país como o Brasil, com vasta diversidade natural e cultural, uma dieta balanceada deve se basear em hábitos alimentares regionais e que atendam às necessidades nutricionais de cada fase da vida. "O adjetivo "balanceada" refere-se ao equilíbrio entre as quantidades dos diferentes grupos de alimentos que precisam estar presentes em nossa rotina. E é importante que as pessoas tenham acesso à informação sobre como deve ser esse equilíbrio", observa.
Para ajudar os profissionais de saúde a informar o brasileiro sobre a importância de se adotar uma alimentação saudável, o Ministério da Saúde lançou em 2006 o Guia Alimentar para a População Brasileira. Esta publicação é distribuída a profissionais de saúde e também está disponível no portal do Ministério (www.saude.gov.br/nutricao). O Guia classifica os alimentos por grupos, divididos de acordo com os nutrientes presentes em sua composição e o papel destas substâncias para o organismo. O grupo das frutas, legumes e verduras, por exemplo, apresenta como nutrientes predominantes vitaminas e os minerais.
Segundo os profissionais de saúde, de maneira geral, uma refeição deve conter de duas a três porções de alimentos do grupo de cereais, raízes e tubérculos; uma porção do grupo dos feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas; de duas a três porções de frutas, legumes e verduras e uma de carne, peixe ou ovo. Recomenda-se que a carne tenha pouca gordura e que se dê preferência às preparações cozidas, assadas ou grelhadas, ao invés das fritas.
Além do conteúdo das refeições, o número também deve ser balanceado. Os nutricionistas indicam três refeições diárias, intercaladas por pequenos lanches. Para iniciar a rotina, os nutricionistas sugerem um café da manhã saudável, que garanta a energia necessária à realização das atividades durante todo o dia, com cereais, raízes e tubérculos - fonte principal de energia - e alimentos do grupo do leite e derivados. Aos adultos, aconselha-se escolher leite e derivados com quantidades menores de gordura. As frutas também são indicadas como parte de um café da manhã saudável e podem ser consumidas na sua forma natural ou como salada de frutas ou sucos.
Para os lanches, uma fruta, um iogurte sem açúcar, um sanduíche natural sem maionese ou uma fatia de bolo caseiro sem cobertura constituem alternativas consideradas saudáveis. "Pode-se variar os tipos de frutas ou de ingredientes, mas é preciso procurar sempre aqueles com menores quantidades de gordura, sal e açúcar", assinala Dillian Goulart.
Almoço e jantar - Para o jantar, recomenda-se uma refeição mais leve que o almoço, já que à noite, geralmente, o ritmo das atividades diminui e o metabolismo do corpo torna-se mais lento. Em conseqüência disso, a digestão e a absorção dos alimentos tendem a demorar mais e a serem mais difíceis, principalmente em caso de uma refeição pesada. Verduras e legumes refogados, cereais integrais como arroz ou macarrão com um molho de tomate - ou um sanduíche natural são boas alternativas para esta refeição. É importante também não exagerar na quantidade de alimentos consumida à noite, pois as calorias em excesso podem ser acumuladas sob forma de gordura corporal.
A adoção de uma alimentação saudável - aliada a hábitos como a prática regular de atividades físicas, a moderação no consumo de bebidas alcoólicas e não fumar - contribuem para evitar doenças muito perigosas, como a obesidade, a hipertensão, o diabetes e o câncer. Esses problemas provocam a morte de milhares de brasileiros todos os anos e geram enormes custos para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Integrais, diet e light na quantidade certa
Uma alternativa para dietas especiais, os alimentos diet e light precisam ser consumidos com moderação. Ao contrário do que muita gente pensa, esses produtos não podem ser consumidos livremente e, em excesso, também engordam.
Alimentos diet são especialmente formulados para grupos da população com condições específicas de saúde. Diet é o alimento do qual algum nutriente foi totalmente retirado, como acontece com produtos sem açúcar, destinados a diabéticos. A linha light reúne alimentos com a quantidade de algum nutriente ou valor energético (calórico) reduzido, quando comparado a outro na versão convencional. É o caso de um iogurte com redução de 30% de gordura. Tanto os alimentos diet quanto light podem não ter necessariamente o conteúdo de açúcar ou de energia reduzido; podem ter alteradas as quantidades de gordura, proteínas, sódio e outros componentes. Por essa razão, deve-se ler atentamente os rótulos com a composição dos produtos.
Uma boa pedida para uma dieta balanceada são os alimentos integrais, que sofreram menos processamento industrial. Por este motivo, mantêm preservados vários nutrientes, como fibras, vitaminas e minerais. Se consumidos em quantidades adequadas, alimentos como arroz e pão integral ajudam no controle do peso. Algumas das funções das fibras presentes nos alimentos integrais e em frutas, verduras e legumes reduzem a sensação de fome, contribuem para o bom funcionamento do intestino e ajudam a diminuir a absorção de gorduras e açúcares pelo organismo.
Um produto muito presente em restaurantes naturais e que também merece atenção em seu consumo é o açúcar mascavo, aquele de cor marrom. Embora mais saudável que o açúcar refinado, continua sendo um açúcar. Sua composição de glicose é a mesma que a do açúcar branco. Por isso, os diabéticos devem evitá-lo, e também o mel e o melado.
Fuja da gordura trans
Restaurantes, lanchonetes e fabricantes de alimentos do mundo inteiro vêm mudando seus cardápios e a receita de alguns de seus pratos por conta de substâncias conhecidas como gorduras trans. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que todos os alimentos tragam em sua embalagem a quantidade de gordura trans presente em suas fórmulas.
Formada por um processo de hidrogenação, as gorduras trans servem para melhorar a consistência e aumentar a vida de prateleira de alguns produtos. O aspecto crocante de certos biscoitos, por exemplo, vem do uso desse tipo de gordura. O consumo excessivo de alimentos ricos em gorduras trans tende a aumentar o colesterol total e o colesterol "ruim" (LDL) e a diminuir os níveis de colesterol "bom" (HDL). A conseqüência dessas alterações no sangue, a longo prazo, pode ser a formação de placas nas artérias (aterosclerose) e o surgimento de doenças como infarto e derrame cerebral.
"Felizmente, há uma preocupação e uma tendência por parte da indústria de alimentos e de alguns restaurantes no mundo inteiro, principalmente de grandes redes, de substituir gradualmente a gordura trans por outro tipo de gordura em seus produtos, para causar menos danos à saúde da população", observa a consultora técnica Dillian Goulart, do Ministério da Saúde. "É importante investir em pesquisas sobre maneiras de tornar os alimentos industrializados mais saudáveis", ressalta.
O Ministério da Saúde vem construindo propostas de pactos com as indústrias de alimentos para redução do teor de alguns nutrientes nos seus produtos, como o sódio, largamente consumido pela população brasileira e que contribui para o aumento dos níveis de pressão arterial, que pode levar à hipertensão e a outras doenças crônicas.
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PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA
Promovendo a Alimentação Saudável
SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA
COORDENAÇÃO-GERAL DA POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO E
NUTRIÇÃO
O que é uma alimentação saudável?
Considerações sobre o conceito, princípios e características:
uma abordagem ampliada.
Maio 2005
A alimentação não se delineia enquanto uma “receita” préconcebida
e universal para todos, pois deve respeitar alguns atributos
coletivos e individuais impossíveis de serem quantificados de maneira
prescritiva. Contudo, identifica-se alguns princípios básicos que devem
reger esta relação entre as práticas alimentares e a promoção da
saúde e a prevenção de doenças.
Uma alimentação saudável deve ser baseada em práticas
alimentares assumindo a significação social e cultural dos alimentos
como fundamento básico conceitual. A alimentação se dá em função
do consumo de alimentos (e não de nutrientes). Os alimentos têm
gosto, cor, forma, aroma e textura e todos estes componentes
precisam ser considerados na abordagem nutricional. Os nutrientes
são importantes contudo, os alimentos não podem ser resumidos a
veículos destes. Os alimentos trazem significações culturais,
comportamentais e afetivas singulares que jamais podem ser
desprezadas. O alimento como fonte de prazer também é uma
abordagem necessária para promoção da saúde.
Neste sentido é fundamental resgatar as práticas e valores
alimentares culturalmente referenciados bem como estimular a
produção e o consumo de alimentos saudáveis regionais (como
legumes, verduras e frutas), sempre levando em consideração os
aspectos comportamentais e afetivos relacionados as práticas
alimentares.
O setor público precisa assumir a responsabilidade de fomentar
mudanças sócio–ambientais, em nível coletivo, para favorecer as
escolhas saudáveis no nível individual. A responsabilidade
compartilhada entre sociedade, setor produtivo e setor público é o
caminho para a construção de modos de vida que tenham como
objetivo central a promoção da saúde e a prevenção das doenças.
Assim, é pressuposto da promoção da alimentação saudável ampliar e
fomentar a autonomia decisória por meio do acesso a informação para
a escolha e adoção de práticas (de vida) alimentares saudáveis.
O estado nutricional e o consumo alimentar interagem em
conjunto de maneira multifatorial e sinérgica como os outros fatores de
risco para doenças crônicas não - transmissíveis. Os diferentes fatores
de risco como inatividade física, uso de tabaco, entre outros precisam
ser abordados de maneira integrada a fim de favorecer a redução de
danos e não a proibição de escolhas. O conjunto das ações adotadas
pelos estilos de vida é que produzem um perfil de saúde mais ou
menos adequado e neste enfoque não é possível particularizar os
fatores de risco sem enxergá-los sinérgica e simultameamente
associados no âmbito do desenvolvimento da vida.
Uma alimentação saudável, de um modo geral, deve favorecer o
deslocamento do consumo de alimentos pouco saudáveis para
alimentos mais saudáveis, respeitando a identidade cultural-alimentar
das populações ou comunidades.
As principais características de uma alimentação saudável
devem ser:
1. Respeito e valorização as práticas alimentares culturalmente
identificadas: o alimento tem significações culturais diversas que
precisam ser estimuladas. A soberania alimentar deve ser fortalecida
por meio deste resgate.
2. A garantia de acesso, sabor e custo acessível. Ao contrário do
que tem sido construído socialmente (principalmente pela mídia) uma
alimentação saudável não é cara, pois se baseia em alimentos in
natura e produzidos regionalmente. O apoio e o fomento à agricultores
familiares e cooperativas para a produção e a comercialização de
produtos saudáveis como legumes, verduras e frutas é uma
importante alternativa para que além da melhoria da qualidade da
alimentação, estimule geração de renda para comunidades. A
ausência de sabor é outro tabu a ser desmistificado, pois uma
alimentação saudável é, e precisa pragmaticamente ser, saborosa. O
resgate do sabor como um atributo fundamental é um investimento
necessário à promoção da alimentação saudável. As práticas de
marketing muitas vezes vinculam a alimentação saudável ao consumo
de alimentos industrializados especiais e não privilegiam os alimentos
não processados e menos refinados como por exemplo, a mandioca
que é um (tubérculo) alimento saboroso, muito nutritivo, típico e de
fácil produção em várias regiões brasileiras e tradicionalmente
saudável.
2. Variada: fomentar o consumo de vários tipos de alimentos que
forneçam os diferentes nutrientes necessários para o organismo,
evitando a monotonia alimentar que limita o acesso de todos os
nutrientes necessários a uma alimentação adequada.
3. Colorida: como forma de garantir a variedade principalmente em
termos de vitaminas e minerais, e também a apresentação atrativa das
refeições, destacando o fomento ao aumento do consumo de
alimentos saudáveis como legumes, verduras e frutas e tubérculos em
geral.
4. Harmoniosa: em termos de quantidade e qualidade dos alimentos
consumidos para o alcance de uma nutrição adequada considerando
os aspectos culturais, afetivos e comportamentais;
5. Segura: do ponto de vista de contaminação físico-química e
biológica e dos possíveis riscos à saúde. Destacado a necessidade de
garantia do alimento seguro para consumo populacional.
As práticas alimentares saudáveis devem levar em consideração
também algumas modificações históricas que ocorreram com a
transição nutricional relativa a vários aspectos como:
A modificação dos espaços físicos no compartilhamento das
refeições e nos rituais cotidianos acerca da preparação dos alimentos;
As mudanças ocorridas nas relações familiares e pessoais com a
diminuição da freqüência de compartilhamento das refeições em
família (ou grupos de convívio) cotidianamente;
A perda da identidade cultural das preparações e receitas com a
chegada do “evento social” da urbanização/globalização e
conseqüente industrialização de alimentos que hoje se apresentam
pré-preparados ou prontos para o consumo;
A desagregação de valores sociais e coletivos que vem
culturalmente sendo perdidos em função das modificações acima
referidas e;
O papel do gênero neste processo quando a mulher assume a
vida profissional como extra- domicílio, porém continua historicamente
acumulando a responsabilidade sobre a alimentação da família. A
atribuição feminina no trânsito entre o ambiente do trabalho e
doméstico se coloca como um novo paradigma da sociedade moderna
que não tem criado mecanismos de suporte social para a
desconcentração desta atribuição enquanto exclusivamente feminina.
A II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
ocorrida, em Olinda-Pe, em março de 2004, em seu relatório final
assume efetivamente a obesidade juntamente com a desnutrição uma
manifestação de Insegurança Alimentar e Nutricional tendo no seu
escopo ações estratégicas para a formulação da Política Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional.
A inclusão da obesidade no contexto da Segurança Alimentar e
Nutricional(SAN) agrega o valor a dimensão qualitativa, já explicitada
no conceito de segurança alimentar e nutricional. Segurança Alimentar
e Nutricional (SAN) é a realização do direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade
suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais, tendo por base práticas alimentares promotoras de saúde,
que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e
ambientalmente sustentáveis. Desta forma fica claro que além das
dimensões de quantidade, regularidade e dignidade a qualidade tornase
também uma referência objetiva, por meio da Alimentação
Saudável. A partir desta conferência, a alimentação saudável se
incorpora definitivamente a busca pela garantia da SAN.
Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição
Anelise Rizzolo de Oliveira Pinheiro
Elisabetta Recine
Maria de Fátima Carvalho
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