OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

Os textos a seguir são dirigidos principalmente ao público em geral e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes de cada assunto abordado. Eles não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores às informações aqui encontradas.

Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal.


No contexto, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida (tradução livre):

Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.
orandum est ut sit mens sana in corpore sano.
fortem posce animum mortis terrore carentem,
qui spatium uitae extremum inter munera ponat
naturae, qui ferre queat quoscumque labores,
nesciat irasci, cupiat nihil et potiores
Herculis aerumnas credat saeuosque labores
et uenere et cenis et pluma Sardanapalli.
monstro quod ipse tibi possis dare; semita certe
tranquillae per uirtutem patet unica uitae.
(10.356-64)

A conotação satírica da frase, no sentido de que seria bom ter também uma mente sã num corpo são, é uma interpretação mais recente daquilo que Juvenal pretendeu exprimir. A intenção original do autor foi lembrar àqueles dentre os cidadãos romanos que faziam orações tolas que tudo que se deveria pedir numa oração era saúde física e espiritual. Com o tempo, a frase passou a ter uma gama de sentidos. Pode ser entendida como uma afirmação de que somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mens_sana_in_corpore_sano


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Como ensinar seu filho a ajudar a arrumar a casa

Como ensinar seu filho a ajudar a arrumar a casa

Toalha molhada na cama, meias sujas no banheiro, restos de comida no quarto. Antes de começar a gritar, lembre-se de que é possível ensinar a criança a ser organizada.
(foto: Thinkstock/Hemera)
vida-pratica-como-economizar-com-as-despesas-da-casa-thinkstock-hemera Toda mãe vive aqueles momentos de desânimo completo diante da bagunça da criançada e da desorganização que parece tomar conta de tudo. O que fazer? Esfriar a cabeça e deixar as crianças à vontade ou adotar uma atitude severa, exigindo ordem total? A dúvida é tão comum que a psicóloga Vera Regina Miranda Gomes da Silva e a pedagoga Rosa Maria Zagonel, ambas de Curitiba, desenvolveram uma espécie de guia de orientação para pais e professores.
Ensinar a criança a se organizar, a participar da rotina doméstica, a ter horários e a formar hábitos é uma maneira de ajudá-la a desenvolver o raciocínio lógico, a adaptar-se socialmente e a definir o seu papel de aluna, explicam as especialistas. No futuro, esse aprendizado influirá em sua vida profissional. Ela se tornará um adulto capaz de realizar as tarefas que assumir e de planejar e perseguir objetivos claros. Será natural para ela considerar suas próprias necessidades, respeitar os direitos dos outros e cumprir as obrigações sem sofrimento. Além disso, estará preparada para estabelecer prioridades e enfrentar situações novas.
Com base em sua experiência, Vera Regina e Rosa Maria relacionam algumas regras que costumam dar bons resultados:
• Equilíbrio, a palavra-chave – É preciso saber quanto exigir e quanto permitir. A organização e a disciplina são necessárias para a pessoa se situar no tempo e no espaço, ter uma vida saudável e seguir as convenções e as normas sociais. O excesso de ordem, no entanto, pode se transformar em busca obsessiva da perfeição, desencadear neuroses e criar dificuldade para vencer desafios. É importante que a pessoa se permita bagunçar, se sujar, experimentar a liberdade, o desejo, o prazer, a fantasia. “A dosagem adequada tornará a criança ou o adolescente um adulto equilibrado”, dizem Vera e Rosa.
• Programa de ação – Os pais devem orientar a criança a planejar seu dia (e sua vida) formulando perguntas do tipo: o que vou usar no banho? Que livros serão utilizados na pesquisa? O que se deve levar na mala para uma viagem de fim de semana? Quem pretendo convidar para a minha festa de aniversário?
• Na hora certa – Convém estabelecer uma rotina diária e fazer com que a criança respeite o horário de dormir, de acordar e de comer, o tempo de ficar no banho, falar ao telefone, ver TV e usar o computador. Insista com seu filho que o trabalho e a tarefa vêm antes do lazer e que é preciso fazer uma coisa de cada vez.
• Mostre como arrumar – A partir dos 2 anos, a criança pode ajudar em algumas tarefas. Aos 7 ou 8 anos, será capaz de fazer tudo sozinha – e deve ser incentivada a isso, ainda que, no início, a colcha da cama não fique tão esticadinha. Itens principais:
Roupas – Ensine-a a dobrar e a guardar as que estão limpas, a deixar as sujas no lugar apropriado, a separar as que não servem mais, para ser doadas, a enrolar as meias.
Armários – Marque um dia do mês para a arrumação geral, mostrando-lhe como usar gavetas, cabides, sapateira.
Brinquedos e jogos – Peça-lhe para guardá-los depois do uso, consertar (ou mandar consertar) o que está estragado e dar o que não usa mais.
Cama – No começo, os pequenos podem ajudar a esticar os lençóis; com o tempo, deverão fazer isso sozinhos, logo depois de acordar.
• Hábitos de estudo – É importante preparar um canto para a criança fazer as lições em silêncio, com iluminação adequada. Afaste estímulos como relógios, revistas, blocos de papel, painel de fotos: eles levam à dispersão. Estabeleça um horário para o estudo e diga-lhe que, nessa hora, ela não deve ligar a TV nem o som. Explique que é importante separar com cuidado o material que terá de levar para a escola: o estojo deve estar completo e os lápis apontados. Mostre-lhe como adotar uma postura confortável ao sentar: pés apoiados no chão e uma das mãos sobre o caderno, enquanto a outra escreve.
• Respeito é bom – Há hora de falar e hora de escutar. E pessoas bem-educadas respeitam o que não é seu. Assim, nada de pegar objetos dos outros sem autorização.
• Não exagere! – Cuidado para não virar tirana. A busca extremada da perfeição gera na criança a sensação de que nunca conseguirá agradar ao adulto. Ela pode até se transformar numa pessoa organizada, mas se sentirá insegura quanto ao próprio valor.
• Elogie sempre – Reconhecer o esforço e as tentativas, mesmo as malsucedidas, é essencial para que a criança se sinta reconhecida e continue a se empenhar.
• Seja persistente – A educação envolve conflitos e exige que o adulto seja mais persistente para que a criança adquira bons hábitos.
• O modelo é você – Os filhos se espelham nos pais, embora às vezes você duvide disso. Não adianta ensiná-los a arrumar as coisas se, no seu quarto, tudo está espalhado. Eles ficarão confusos diante de mensagens tão diversas e não assimilarão a lição. O que fazemos prevalece sobre o que dizemos.

50 decisões vitais para o futuro do seu filho

50-decisoes-para-o-futuro-do-seu-filhoComo fazer as escolhas certas para que ele seja um adulto feliz e realizado? Os melhores caminhos para percorrer na educação, saúde, vida financeira e carreira.
Rita Trevisan
(Foto:)
1
// Dar uma educação multicultural
No mundo globalizado, é essencial saber conviver com o diferente e enxergar a riqueza de cada cultura. “Vale colocar seu filho desde cedo para estudar línguas, incentivar que tenha contato com gente de outras religiões, de outros países e níveis sociais, além de organizar viagens para novos lugares”, indica a doutora em educação Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco.
2
// Ser muito mais que amiga do seu filho
“Aos pais, cabe a árdua função de corrigir, de repetir as regras até que fiquem claras. Já o amigo é aquele que a tudo consente”, diz o jornalista Gilberto Dimenstein, presidente da ONG Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo.
3
// Trazer os colegas dele para perto
Abra as portas de casa para recebê-los. “A maior parte dos adolescentes que chegam para tratamento começou a usar drogas por incentivo de um amigo”, conta a psiquiatra Jackeline Giusti, especialista em dependência química do Ambulatório de Adolescentes e Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
4
// Dar mesada
Comece quando ele tiver cerca de 12 anos. “Com esse instrumento, seu filho aprenderá a fazer escolhas e planos”, diz Jurandir Sell Macedo Jr., professor de finanças pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina e autor de A Árvore do Dinheiro (Campus).
5
// Não exigir muito, nem muito pouco
Quando se cobra sempre da criança um nível muito alto de desempenho, ela se frustra e desanima, pois é impossível ser excelente em tudo. Já aquela que não tem que lidar com nenhuma exigência pode interpretar isso como desinteresse dos pais e, da mesma forma, não usará todo o seu potencial para vencer.
6
// Ensinar a ouvir
“Num cenário interdependente e multicultural, a capacidade de escutar e a sensibilidade para entender o ponto de vista do outro serão um diferencial”, diz a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora de Comunicação entre Pais e Filhos (Integrare Editora). Transmita esse valor ouvindo o que seu filho tem a dizer e ensinando-o a prestar atenção nas suas palavras.
7
// Não ter medo dos games
“Há jogos que desenvolvem lógica e raciocínio rápido, como Civilization V e Starcraft”, indica o educador Roger Tavares, pós-doutorando em tecnologias da inteligência pela Pontifícia Universidade Católica-SP.
8
// Valorizar o estudo e não o sucesso
Conte a seu filho que cada ano a mais de escolaridade corresponde a um aumento de 15% no futuro salário. “É preciso resgatar a ideia de que a educação continua sendo a principal porta de entrada para uma carreira bem-sucedida”, afirma Wanda Engel.
9
// Fazer com que ele tenha várias turmas
Não concentre as atividades na escola. Deixe o futebol para o clube, o balé ou judô para a academia. Conhecer muita gente significa ter mais oportunidades de selecionar as amizades com critério e de não se sujeitar àquelas que não lhe fazem bem. Ou seja, menos riscos de sofrer bullying.
10
// Promover o espírito empreendedor
“Isso habilitará seu filho para, aos poucos, gerenciar a própria vida”, diz Maria Tereza Maldonado. Crianças pequenas podem ser convidadas a ajudar na arrumação dos brinquedos e da cama. Já os mais velhos são capazes de assumir desafios maiores, como administrar a própria mesada.

9 presentes inesquecíveis para seu filho

Que requerem um investimento em tempo, criatividade, afeto... e uma dose de disciplina. O que você entregará é mais uma ferramenta para ele se tornar um adulto feliz
Vera Gudin | Fotos John Gertz/ Radius Images LatinStock em 24.09.2008
 
Em meio ao bombardeio de novidades nas vitrines e ao clamor infantil para ganhar a boneca que fala 800 frases ou o videogame invencível, um timaço de especialistas ouvidos por CLAUDIA sugere presentes que não pesam no bolso e alimentam a alma das crianças. São idéias simples, como passar uma tarde ao lado do filho fazendo arte ou buscá-lo na escola, com tempo para entrar e talvez até conversar com o professor. Mas cada uma dessas idéias tem um fundamento educativo e afetivo. É verdade que, no primeiro instante, a meninada pode não entender a proposta e se chatear. Afinal, vivemos num mundo em que os apelos do consumo estão por toda parte. Antes de ceder a eles tenha em mente o que a psicóloga americana Violet Oaklander escreveu em seu livro Descobrindo crianças (Ed. Summus): 

“Preciso lembrar a mim mesma que a minha tarefa é ajudar as crianças a sentirem-se fortes dentro de si”. Portanto, dê tempo ao tempo. “Ao verem a criança frustrada, alguns pais acham que estão cometendo um erro. Não avaliam que a frustração tem um papel importante na vida dela, pois não conseguirá tudo o que quer o tempo todo e terá que lidar com sentimentos adversos. Frustrar-se é tão fundamental quanto os sentimentos considerados positivos, como alegrar-se”, explica Sandra Santos, terapeuta de família, do Rio de Janeiro.

1. Jogue amarelinha
Esse tradicional jogo de rua brasileiro pode ajudar na difícil tarefa de aprender a lidar com os sentimentos. Os pais devem explicar que a amarelinha tem um desenho fixo e regras que precisam ser seguidas. “Mas es se jogo também envolve requisitos não tão concretos, como paciência, equilíbrio, medo e frustração”, ensina a psicóloga Sandra Santos, especialista em violência intrafamiliar. “A brincadeira é igual para todo mundo, mas cada um a desenvolve no seu tempo. Assim é a vida. Qualquer um pode pisar na linha, e os filhos podem se frustrar ou sentir muito medo de errar. Que bom! Dessa forma, talvez no futuro os pais e as crianças não precisem recorrer à violência ou à medicação para conter esses sentimentos ou, ao contrário, para extravasá-los”, afirma ela.
2. Leve à pracinha
“Passear é uma oportunidade única de dar mais atenção e de brincar com os filhos, além de fortalecer os laços e possibilitar que guardem boas lembranças para o resto da vida”, afirma a psicóloga Rosane Berlinski Brito e Cunha, especializada em psicoterapia infantojuvenil. Mesmo pais com pouco tempo para acompanhar a rotina dos filhos devem abrir brechas para idas à praça do bairro, à praia, a museus, a parques... Segundo a especialista, famílias que levam uma vida atribulada nem sempre percebem que não estão dando atenção ao filho. “E a criança acaba por acompanhar esse ritmo, podendo mais tarde apresentar transtorno de déficit de atenção e hiperatividade”, alerta.
3. Organize tardes artísticas
Daqui a alguns anos, nossos filhos precisarão acompanhar avanços tecnológicos impensáveis hoje e enfrentar um mercado de trabalho que tende a se tornar mais agressivo e competitivo. O psicólogo, neurolingüista e arteterapeuta Antônio Luiz Medina, do Rio de Janeiro, acredita na arte como ferramenta para uma vida mais plena. “Num mundo com mudanças aceleradas, a capacidade criativa se impõe como característica fundamental. Quem não tiver a criatividade aflorada estará fora do mercado. Não saberá como lidar com situações novas e ficará paralisado”, afirma. O presente que ele indica para este Dia da Criança – e para muitos outros dias: uma tarde de arte com os filhos, para que mantenham contato com seu potencial criativo e o desenvolvam. Para isso, não é preciso fazer coisas mirabolantes. Vale usar tintas de dedo, lápis de cor, papel machê, argila, massa de biscuit ou para modelagem. Mas um aviso: nada de interferências. “Não diga como se faz uma árvore, apenas deixe-a surgir. Evite a crítica e dê liberdade a seu filho para criar. É necessário permitir a expressão espontânea das imagens do inconsciente”, destaca.
4. Incentive o gosto pela música
Para a educadora Monique Andries Nogueira, chefe do departamento de didática da Faculdade de Educação da UFRJ, a música tem grande poder de auxiliar no desenvolvimento global da criança. “Do ponto de vista cognitivo, estimula profundamente algumas áreas do cérebro, como as ligadas à memória e ao raciocínio, como comprovam pesquisas recentes; do ponto de vista emocional, oferece a oportunidade de expressão dos sentimentos; e do social, ensina a respeitar o espaço do outro por meio da música em grupo, quando todos devem cantar em harmonia.” Por isso, ela aconselha os pais a proporcionar aos filhos momentos de vivência musical. Não é necessário saber tocar nenhum instrumento: basta cantar ou simplesmente ouvir música com eles, apresentando às crianças os gêneros mais variados, como erudito, popular e folclórico. E o que fazer quando os pais não apreciam um determinado gênero, como a música clássica? “Devem aproveitar a oportunidade para aprender a gostar junto com a criança”, pondera Monique.
5. Diga “não”
Quando um paciente mirim começa a mexer nos objetos dispostos em cima da mesa do pediatra carioca Jayme Vaisman, ele calmamente explica que aqueles “brinquedinhos” são dele e que a criança só pode brincar com os destinados a ela, espalhados estrategicamente pelo consultório. Embora, para alguns pais, essa atitude possa parecer antipática, é uma maneira sutil, porém direta, de alertá-los para a importância de dizer “não” a seus filhos. “No primeiro ano de vida, o bebê não tem como compreender o significado do ‘não’. Mesmo assim, o modo como é dito – dependendo da entonação, pode ser doce, agressivo ou apavorado – representa um freio ao desejo infantil, que é ilimitado, já que a criança acha que pode tudo. O deixar livre, sem iniciá-la no significado do ‘não’, representará uma omissão que vai repercutir mais adiante sob a forma de falta de regras na escolaridade, na vida social e no convívio em família”, diz. O pequeno pode tornar-se egoísta, agressivo e ter dificuldade em aceitar autoridade. O pediatra Vaisman vê na complacência de alguns pais uma compensação para as longas jornadas de trabalho impostas pela vida moderna, que também os obrigam a “terceirizar” sua autoridade para substitutos, como avós, empregadas, babás e professores. Para crianças em idade escolar, o “não” pode se traduzir, na hora de dormir, num “toque de recolher”, quando toda a parafernália eletrônica – computador, televisão, DVD e aparelhos de som – deve ser desligada. Sem discussão.
6. Ensine a transformar sucata
Se brincar é bom para a criança, melhor ainda se a atividade aproveitar sucata, como caixas de sapatos, papéis, recipientes plásticos. Segundo a psicopedagoga Lygia Coelho, consultora de gestão educacional e empresarial, a iniciativa vai ajudar seu filho a desenvolver a responsabilidade socioambiental – requisito básico para o futuro do planeta. A criança compreenderá na prática a teoria dos “três erres”: reduzir, reaproveitar e reciclar. “Aprenderá a reduzir a quantidade de lixo que produz, a reaproveitar materiais em vez de simplesmente descartá-los e a reciclar, transformando-os em algo útil. Isso traz para a criança o compromisso de preservação do meio ambiente”, diz.
7. Deixe brincar
Mal largaram as fraldas, muitas crianças já têm agenda de gente grande e apresentam quadros de stress e depressão. Diante disso, vários especialistas vêm alertando os pais para que deixem a criança ser criança, ou seja, que tenha tempo livre para brincar. “Na brincadeira, o pequeno reproduz suas experiências e fantasias. Ao se vestir de super-herói, por exemplo, ele se identifica com a força e o poder do personagem que escolheu e vai se conhecendo”, explica a psiquiatra Christina Campello, do Instituto Nacional de Câncer, no Rio de Janeiro. O brincar é tão bem-vindo que ajuda no bem-estar de crianças em batalha diária contra tumores ou qualquer outra doença. “O estado psíquico pode contribuir para melhorar o físico”, afirma.
8. Busque na escola
Sempre que vê uma criança sair do portão de mãos dadas com o pai ou a mãe, Telma Sampaio, diretora pedagógica do Centro Educacional da Urca, no Rio de Janeiro, sente-se duplamente gratificada. Além do elo que está sendo delineado, pais que abrem com regularidade um dia da agenda para ir até a escola contribuem para a formação educacional do filho, segundo a pedagoga. “Pais participativos, que falam com a professora e ajudam em casa nas tarefas, estimulam os filhos a ser mais participativos também”, diz Telma. Para a criança, a iniciativa é um verdadeiro presente. “Ela se sente amada; percebe que tem um parceiro no qual pode confiar. Cria-se um vínculo afetivo com os pais que ela levará para a vida inteira”, diz.
9. Restrinja o açúcar
A pediatra carioca Roseane Debatin, especializada em homeopatia, sugere um presente um tanto amargo para os pequenos: a restrição do açúcar. “Entre outros males, o açúcar abre a guarda para as infecções respiratórias, excita a criança e depois a deixa letárgica e inibe a ação da vitamina C no organismo”, afirma. Segundo a especialista, 90% dos doces têm corantes fortes, que podem desencadear alergias de pele e respiratórias, detectadas com freqüência em seu consultório. Por isso, defende que as guloseimas sejam oferecidas apenas num dia da semana, sábado ou domingo, e nos dias de festa.

Como criar filhos com inteligência financeira

Esse aprendizado é um dos mais úteis para a vida e começa (surpresa!) já na fase da mamadeira. Nossos especialistas revelam tudo o que você precisa fazer, desde cedo, para transformar seu filho num adulto que dá ao dinheiro o valor que ele tem, nem mais nem menos
por Luciana Marinelli em 19.11.2007
 
Se lidar com dinheiro já não é fácil, ensinar essa arte às crianças parece missão quase impossível. Mas não tem nada de complicado. As bases da educação financeira são transmitidas, por meio de atitudes simples, na rotina do relacionamento entre pais e filhos. Por exemplo: à primeira vista, dizer à criança que ela só poderá comer a sobremesa depois do jantar não tem nenhuma relação com cédulas e moedas. Mas tem, sim! CLAUDIA conversou com especialistas no assunto, colheu a experiência de mães e reuniu uma série de recomendações para você orientar seus filhos a cultivarem uma relação sadia, responsável e equilibrada com o dinheiro - agora e no futuro.

Os primeiros passos - A preparação começa cedo. Quando você determina que refrigerante só fará parte das refeições no fim de semana, está passando lições sobre finanças. "Atitudes cotidianas ajudam a criança a se preparar para postergar desejos e suportar a espera em nome de benefícios futuros. Isso é essencial para se relacionar bem com dinheiro", diz a educadora financeira Cássia D'Aquino. Se seu filho ganha uma caixa de chocolates, você pode mostrar que é mais prazeroso comer aos poucos do que se empanturrar de uma vez.

Você é o melhor exemplo - Mais do que qualquer conceito que tente transmitir, suas atitudes são o parâmetro mais valioso. Ele notará a incoerência se você lhe negar um tênis novo, mas tiver 300 pares no armário. Ou se o pai fizer discurso anticonsumista, mas trocar o aparelho de som cada vez que surgir um novo modelo. "Também é importante que os passeios da família não se resumam ao shopping, para que o prazer não seja associado a compras", lembra a psicopedagoga Raquel Caruso Whitaker, coordenadora do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento (CAD), de São Paulo. "Gastos equilibrados e opiniões coerentes são fundamentais para ensinar uma atitude tranqüila em relação ao dinheiro."

Videogames podem ajudar seus filhos

Os games ensinam a montar estratégias e treinam habilidades motoras e concentração, revelam pesquisas. Por isso, o que seu filho joga precisa ser acompanhado de perto.
Rita Trevisan / Foto Chris Parente em 05.10.2009
 
atualidades-e-gente-videogames-podem-ajudar-seus-filhos Gabriel Consoli, 7 anos, de São Paulo, nem imagina que sua paixão ajuda a impulsionar uma indústria superpoderosa, que movimenta 54 bilhões de dólares no mundo inteiro, sendo 540 milhões no Brasil. O garoto é aficionado por games, especialmente os de futebol. Se a mãe deixasse, passaria o dia conectado. Mas a empresária Isabel Consoli, 38, não permite. “Só deixo jogar meia hora à tarde e meia hora à noite”, diz ela. Às vezes, o filho pede jogos de luta. Isabel libera: “Aproveito para explicar que aquilo não deve ser feito na vida real.

É uma maneira de tratar a questão da violência”.
A abordagem da empresária está em sintonia com o que há de mais moderno nas pesquisas sobre games. Vilões no passado, considerados viciantes e com potencial para incitar à violência, os jogos vivem uma fase de redenção, amparada por pesquisas que comprovam seus efeitos benéficos, desde que respeitados cuidados como os que Isabel toma. “Eles representam uma forma de criar estratégias para resolver problemas e experimentar situações diferentes da realidade do jovem ou da criança sem expor a nenhum risco”, observa o educador Roger Tavares, pós-doutorando em tecnologias da inteligência da PUC-SP.

Para a psicóloga Luciana Alves, doutoranda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os games também melhoram a concentração. Comparando jogadores e garotos que nunca tiveram contato com games, ela percebeu que o primeiro grupo se saiu melhor quando o desafio era manter o foco numa atividade por um período de tempo. Estudioso da relação entre tecnologia e educação, Claudemir Edson Viana, gestor do Laboratório de Pesquisas sobre a Infância, Imaginário e Comunicação (Lapic) da USP, reconhece nos games uma ferramenta valiosa para o letramento digital – expressão que designa a capacidade de desvendar os códigos do mundo tecnológico. “Sem falar no aperfeiçoa mento de funções psicomotoras”, diz.

Com tantos advogados a favor, os games estão liberados com louvor? Nem tanto. Ao tratá-los como fonte de conhecimento em vez de apenas entretenimento, todo cuidado com o que ensinam é pouco. “É vital os pais acompanharem de perto que jogos seus filhos estão escolhendo”, alerta o pediatra Michael Rich, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
1 milhão de amigos

Se bem empregados, podem abrir a porta para amizades sem fronteiras. “Isso explica o sucesso dos jogos conhecidos como MMORPG (massive multiplayer online RPG), games de aventura para muitos usuários”, observa a antropóloga Vanessa Andrade Pereira, pesquisadora formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na família da dona de casa Eliene Pedroso, 43 anos, de São Paulo, os jogos serviram para conectar os filhos Marcos, 16 anos, e Pricyla, 19, com gente do mundo inteiro. “Ele adora jogar RPG online. Já minha filha é fã do The Sims (jogo de realidade virtual). Por causa desses jogos, os dois fizeram vários contatos na rede. Recentemente, visitamos a casa de uma amiga que a Pricyla fez via game, foi muito interessante. 

Mas é claro que eu procuro monitorar esses contatos, pois sei que também tem muita gente mal-intencionada na rede”, conta a mãe. No mercado dos games, jogos que permitem a interação de muitas pessoas são uma tendência forte. “Nas feiras internacionais, o destaque ficou com os jogos com até seis controles e possibilidade de interação online, unindo inclusive as famílias”, diz Marcos Khalil, sócio-diretor da UZ Games, rede nacional de lojas de jogos eletrônicos. 

A designer Paula Mattos, 38 anos, do Rio de Janeiro, considera que sua família se aproximou graças aos games. “Meu marido e eu somos da geração Atari e conhecemos novos jogos com a Isabela, nossa filha. Nas horas vagas, trocamos experiências e segredinhos sobre cada jogo”, diz. A filha, de 15 anos, adorou ensinar a mãe. Hoje em dia, ela é muito melhor do que eu no The Sims. Quando eu conto, meus amigos nem acreditam.”

Criança equilibrada e feliz. Qual o segredo?

A infância é o tempo de explorar o mundo ao vivo e em cores, não só por meio da TV ou do computador. Os especialistas batem cada vez mais nessa tecla e explicam por que brincar faz toda a diferença para a saúde física, mental e emocional dos pequenos
por Flávia Pinho | foto Karine Basilio em 19.11.2007

Batatinha frita,1,2,3!
"Mamãe, posso ir? Quantos passos?" "Tá comigo! Comigo não tá!" Se você acha que as brincadeiras do passado não fazem sentido em pleno século 21, é hora de repensar o assunto. Em diversos países, inclusive no Brasil, estudiosos se debruçam sobre as mudanças radicais que a rotina dos pequenos sofreu nas últimas décadas - e já admitem que hábitos colocados em segundo plano, como correr, jogar bola e fazer bolinhos de areia, são muito mais importantes para a saúde física, mental e emocional do que se podia supor. "Brincar é uma necessidade básica, como dormir e comer, e deve ser a atividade primordial até os 6 anos", afirma a assistente social Marilena Martins, sócia-fundadora da Associação Brasileira pelo Direito de Brincar, braço da International Association for the Child's Right to Play (IPA). A entidade não é a única a empunhar a bandeira. "Para se tornar um adulto equilibrado e feliz, a criança precisa viver intensamente a infância. Os pais não podem se preocupar apenas com a inteligência, com o rendimento escolar, com o futuro profissional", alerta a pedagoga Nylse Cunha, autora de vários livros sobre o tema e presidente da Associação Brasileira de Brinquedotecas, filiada à Internacional Toy Library Association, que, com 46 representações no mundo inteiro, divulga a importância do brincar. São posições que, à primeira vista, parecem óbvias. Afinal, quem vai impedir, em sã consciência, que o filho brinque? A questão, ressaltam os especialistas, é o que se entende hoje por brincadeira - em geral, apenas jogos eletrônicos e televisão.
"Essa diversão, que está na ponta dos dedos, é puramente mental. Acontece que o ser humano não muda tão radicalmente de uma geração para outra. A criançada ainda precisa correr, se pendurar, passar por baixo e por cima, se mexer", diz o psiquiatra Içami Tiba, autor do best-seller QUEM AMA EDUCA! (ed. Gente). O pesquisador britânico John Richer, responsável pelo departamento de psicologia pediátrica do hospital John Radcliffe, em Oxford, na Inglaterra, vai além. Ao participar do II Fórum de Desenvolvimento da Criança, realizado em maio, em São Paulo, ele chamou a atenção para a ausência de contato da meninada com a realidade. "O medo da violência afastou as crianças das praças, fenômeno que se repete em muitos países. As que saem de casa brincam em playgrounds que, de tão seguros, são chatos. Não oferecem estímulos e ainda impedem que elas administrem riscos. Aprender sobre o mundo real implica tocá-lo, explorá-lo", ele explica.
A infância confinada causa prejuízos em diversas áreas do desenvolvimento. Na escola Anjo da Guarda, em Curitiba, a diretora pedagógica Luci Serricchio se preocupa com o que constata diariamente. "Os alunos são bem-informados, sabem usar qualquer aparelho e compreendem um manual como ninguém. Em compensação, mal começam a fazer uma atividade e querem pular para a seguinte. O poder de concentração foi seriamente afetado."Em poucos anos, o aprendizado sofre as conseqüências, alerta a psicóloga Lorene Busquin, do colégio Miraflores, no Rio de Janeiro. A criança que não experimentou o próprio corpo nos primeiros anos de vida, que não correu, não pulou, fica com déficits no desenvolvimento motor. Lá na frente, eles interferem na coordenação motora fina, fundamental para a alfabetização." O mesmo se repete no campo emocional, diz Marilena: "Quem não brinca deixa de desenvolver áreas do cérebro responsáveis pela afetividade e sociabilidade. Terá dificuldade para se relacionar e não saberá lidar com as emoções, deficiências que só se recuperam com muita terapia". Reflexos de outro tipo são verificados nos consultórios médicos. Segundo John Richer, os países desenvolvidos são vítimas de uma verdadeira epidemia de doenças alérgicas, causada em parte pela falta de exposição a elementos - quando não se entra em contato com a boa e velha "vitamina S", de sujeira, o sistema imunológico não amadurece plenamente. "Os ambientes estão limpos demais. A sujeira do solo contém incontáveis microrganismos essenciais à vida." O fenômeno também chegou ao Brasil, garante a imunologista Ana Paula Moschione Castro, de São Paulo. "Cerca de 20% das crianças já apresentam doenças alérgicas, um número assustador. Entre as causas, está o aumento das atividades em locais fechados. Passamos mais de 90% do tempo em ambientes repletos de ácaros."
Atribuir esse confinamento às limitações da vida moderna, colocando toda a culpa na violência urbana e nos apartamentos pequenos, na opinião de Luci, é uma atitude simplista. "Estamos contaminados pelo modo de vida eletrônico. Os games substituíram as brincadeiras - e a falta de espaço, a meu ver, é o de menos. Curitiba é famosa pelos parques e áreas verdes, mas vejo poucas crianças brincando neles. Tenho alunos que vivem em casas e não conhecem o próprio quintal." Para agravar a situação, os pais se encantam ao constatar que os filhos dominam o controle remoto, o computador e as mais complexas engenhocas e acabam achando que já não se interessariam por distrações mais simples. Um equívoco, na opinião de Paula Ruggiero, coordenadora pedagógica da escola infantil Grão de Chão, em São Paulo: "O corre-corre e a amarelinha ainda fazem sucesso". Ela fala com conhecimento de causa. Diariamente, vê a criançada de 1 ano e meio a 6 anos se divertir no pequeno quintal de terra batida, sombreado por árvores cujos troncos estão gastos de tanto sobe-e-desce - em 21 anos, garante, nunca houve acidentes, salvo um ou outro joelho ralado. "Esse aprendizado é cultural, precisamos incentivá-lo."
O intervalo entre as aulas, na Anjo da Guarda, também é hora de aprender a brincar. Em cada um dos nove pátios, um professor propõe uma atividade fora de moda - tem até bambolê e perna-de-pau. "As crianças escolhem, mas precisam desse empurrão porque não dispõem de repertório. As sugestões costumam agradar", afirma Luci. Dia desses, ela presenciou uma cena que deixaria muito adulto de queixo caído. "Flagrei garotas da 7a série, de 13 anos, se divertindo na casinha de bonecas. Elas ficaram sem graça quando me viram. As meninas dessa faixa etária, hoje em dia, têm vergonha de brincar. Para deixá-las à vontade, entrei na brincadeira e rimos pra valer", conta. Para Nylse, isso acontece porque nem as crianças conseguem distinguir o que realmente gostam do que é imposto. "Elas estão espelhando a pressão da mídia e da família. Como não têm oportunidade para descobrir seus sonhos genuínos e expressá-los, refletem o que foi projetado."
Uma pesquisa do Datafolha feita em 2003 com 329 alunos de escolas públicas e privadas de São Paulo, entre 7 e 12 anos, confirma a tese: apenas metade deles declarou que brincar era a atividade favorita. "Fiquei alarmada com o resultado, somente crianças doentes ou oprimidas não gostam de brincar. Acredito que, elas respondem o que os pais gostariam de ouvir - tanto que 24% disseram que preferem estudar e 27% que já estão pensando na profissão." A interferência do adulto, avalia, também é evidente em loja de brinquedos. "Conferimos valor aos produtos, consciente ou inconscientemente. E, não raro, nos surpreendemos ao ver que a criança se diverte mais com a caixa de papelão. Quanto mais pronto o brinquedo, mais aborrecido." Com esse argumento, a atriz e diretora de teatro carioca Karen Acioly, 40 anos, conseguiu convencer o filho Ciro, 16, de que videogame não é gênero de primeira necessidade. Quando ele tinha 8 anos e pediu um de presente, respondi que, ao manipular brinquedos eletrônicos, a gente só pensa que está brincando. E que brincar de verdade é muito melhor. Sei que ele joga eventualmente na casa dos amigos, mas não é viciado e não se sente excluído", conta. Hoje, ela faz a mesma campanha com a caçula, Dora, 5 anos. "Toda sexta de manhã, antes da escola, tem a festa da boneca aqui em casa, com um lanche rápido na pracinha do prédio." Mesmo quando não pode estar presente, Karen sai para o trabalho com a sensação de dever cumprido. "Nossos desafios são muito maiores do que os de antigamente. Se preciso trabalhar em casa, espero que todos durmam primeiro. Descanso menos, namoro menos, mas somos mais felizes assim." A jornalista carioca Christina Martins, 40 anos, criou até um site, o http://www.amigasdapracinha.com.br/, para agitar a vida social de Carolina, 6. Mesmo que só consiga levar a menina à praça uma vez por semana, ela inventa moda para garantir que ninguém sofra de tédio. "Temos até um evento regular, o Sebinho nas Canelas, para que as crianças troquem livros já lidos. É uma curtição." Como vive em um edifício sem área de lazer ou vizinhos da idade da filha, ela também providencia animadas festas do pijama. "Convidamos duas ou três meninas para dormir em casa. Fazemos pipoca e é sempre aquela farra."
Não dá para fechar os olhos diante da realidade. Brincar é fundamental, mas a televisão e o computador já são parte da infância - e em caráter definitivo. Os números comprovam: segundo pesquisas da MacCann-Erickson, 63% das crianças das classes A/B, com menos de 12 anos, têm TV no próprio quarto e passam quatro horas diárias diante do aparelho. A boa notícia é que a telinha só assume o papel de vilã da história se você permitir. A televisão e o videogame são inevitáveis, o progresso está aí. Cabe aos pais iteragir, selecionar a programação, sentar no sofá ao lado do filho e conversar a respeito do que se vê. Deve ser mais um ritual em família", defende Marilena Martins. A psicanalista Ana Olmos, membro do conselho de acompanhamento da programação de rádio e TV da Câmara Federal, concorda: "É um veículo maravilhoso, apaixonante se for usado corretamente. O conteúdo deve respeitar a faixa etária e a rotina da criança, além de não tratá-la como mera consumidora". Quem abre mão dessa tarefa, ela afirma, deixa o filho na mira da artilharia pesada: "A maior parte da programação infantil é idealizada sob o prisma do consumo. O pequeno telespectador se torna consumidor não só de brinquedos e biscoitos mas de um projeto de vida pobre. Ele cresce acreditando que a imagem é o que importa".
Exposta desde cedo a personagens e tramas cada vez mais sensuais, a criança também tende a abandonar os brinquedos precocemente. Com cerca de 9 anos, já se considera pré-adolescente e se volta para outros interesses - segundo pesquisa do Instituto Ipsos Marplan, a turma de 10 a 12 anos só quer saber de carros, viagens, computação e informática, gente famosa, esportes, ciência, tecnologia e moda. O fenômeno se reflete na indústria de brinquedos. "Nosso público sofre uma forte pressão social para se tornar adulto antes do tempo, fazendo com que o mercado encolha. É assim no mundo inteiro, mas aqui, no Brasil, a erotização nos meios de comunicação acelera ainda mais o processo", atesta Aires José Leal Fernandes, diretor de marketing da Estrela. Separar o joio do trigo é mais simples do que parece. Comece observando os valores que permeiam as séries e desenhos animados a que seu filho assiste, como faz o pedagogo paulistano Pedro Paulo Demartini. Ele trabalha há quase três décadas na assessoria educacional da TV Cultura com a incumbência de analisar o conteúdo da programação infantil da emissora - e intervir, se for o caso. Preconceitos de qualquer natureza não devem ser tolerados", explica. Programas que destacam atitudes solidárias e harmoniosas são sempre recomendados, mas convém evitar aqueles que pintam o mundo com cores tênues demais. "É importante também mostrar que os conflitos existem e podem ser resolvidos com tranqüilidade. Personagens bonzinhos o tempo inteiro são irreais."
Os dramas, abordados com cuidado, têm seu lugar - desde que você leve em conta que cada criança reage de um modo a eles. "Na série com bonecos Cocoricó, por exemplo, já falamos da morte como um fenômeno natural, para que o público compreenda que ela faz parte da vida, pense e elabore os sentimentos sem se assustar." A professora curitibana Erica Mello, 23 anos, não veta nenhum tipo de programa. Amanda, 5 anos, pode assistir às notícias mais dramáticas dos telejornais com a condição de que a mãe ou o pai estejam ao lado. "Meu marido prefere que ela não fique na sala, mas eu discordo. Quero que minha filha conheça o mundo real. No fim, mostramos o que consideramos certo ou errado." Já a advogada paulistana Lourdes Campos, 45 anos, mãe de Luísa, 6, e André, 4, controla o televisor com mão de ferro. "Não permito que vejam apresentadoras com roupas apelativas e programas que não tenham nenhum valor interessante para ensinar. Sou obrigada a repetir meus argumentos 365 dias por ano, mas educar é isso mesmo."
O vocabulário é outro item a considerar - como a criançada costuma sair pelas ruas repetindo os bordões que ouve na TV, marca ponto o programa que aproveita a deixa e apresenta palavras novas. Não pense, contudo, que conteúdo educativo deve ser chato. "Nada pode ser técnico, científico, formal, como uma aula tradicional - ou a criança se desinteressa. Mais do que informar, a TV tem de despertar a curiosidade, fazer com que ela queira saber mais", defende Pedro Paulo. O mesmo vale para a escolha do repertório musical. Acredite: as canções que seu filho escuta são muito mais do que pura diversão e interferem de verdade no desenvolvimento dele, especialmente nos cinco primeiros anos de vida. "Essa é a fase do destino. O que se registra nela fica gravado para sempre", afirma a arte-educadora Margareth Darezzo, de São Paulo, especializada em psicologia do desenvolvimento infantil. Ela dá aulas de iniciação musical e recomenda aos pais de seus alunos e aos orientadores de escolas que não se limitem a analisar os refrões - não basta que a mensagem seja edificante. "A letra educa quando se usa a mesma linguagem da criança, entra no universo dela naturalmente e recorre a temas voltados para a descoberta do mundo e para o autoconhecimento - não quando simplesmente é cantada em voz infantilizada e cultua ídolos." Com 16 anos de carreira e 20 CDs, a dupla Palavra Cantada, formada por Sandra Peres e Paulo Tatit, já se tornou referência em música infantil de qualidade. Seus discos foram adotados pela rede municipal de ensino de São Paulo, que patrocinou 500 apresentações gratuitas do grupo nas escolas. A receita deles? "Não menos prezamos a inteligência da criança com tentativas bobas de obter cumplicidade, o que só funciona por um tempo e depois cai no esquecimento", assegura Sandra. O músico Hélio Ziskind, responsável pela trilha sonora dos programas infantis da TV Cultura e autor do CD-livro BANHO É BOM (ed. Melhoramentos), lembra que o universo infantil é riquíssimo e não pode ser simplificado. "O que mais vemos são cantores que compõem para crianças que estão sempre em festa. Não lembram que elas precisam parar de vez em quando e se conectar a outros sentimentos."
Entre nessa tambémConfira algumas sugestões para driblar as limitações de tempo e espaço.
"Crie um cantinho de brincadeiras em casa, nem que seja na sala ou na área de serviço. Não vai durar para sempre, em poucos anos a decoração volta a ser o que era - e esse investimento será bem recompensado no futuro."MARILENA MARTINS
"Leve seu filho ao parque pelo menos uma vez por semana. Mas não adianta soltá-lo enquanto você lê jornal - ele precisa da sua atenção. É fácil, basta que você se lembre da própria infância na hora de propor as brincadeiras."PAULA RUGGIERO
"O melhor brinquedo para a criança é o adulto disposto a brincar com ela. Mas não tente dirigir a atividade. Deixe que ela lidere o tempo todo."NYLSE CUNHA

Dizer "Não" é uma forma de amor

Luciana Marinelli em 19.11.2007

Qual o maior erro que os pais cometem na educação das crianças? A resposta da educadora carioca Tania Zagury não tem rodeios: "Pensar que farão os filhos felizes concordando com tudo o que eles querem". Filósofa, mestre em educação e autora de 12 livros, entre eles Limites sem Trauma (Record) - já na 64a edição e traduzido para o italiano, o francês e o espanhol - e Os Direitos dos Pais (Record), lançado este ano, Tania foi pioneira em defender o resgate da autoridade paterna e em discutir a importância dos limites na educação.Mãe de dois filhos, Renato, de 31 anos, dentista, e Roberto, de 22, estudante de medicina, ela reconhece que dizer "não" nem sempre é fácil. "Coração de mãe quer porque quer sempre fazer os filhos sorrirem. É mais fácil e mais gostoso", afirma. "Mas é necessário pensar a longo prazo, e assim, algumas vezes, temos que contrariá-los e fazer não o que os sentimentos impõem, mas, sim, o que sabemos justo, adequado e indispensável para que eles possam ser felizes hoje e no futuro." O maior desafio, portanto, é jogo duro: educar mesmo quando o coração quer prevalecer. Nesta entrevista a CLAUDIA BEBÊ, ela mostra o caminho para que possamos ajudar nossos filhos - desde cedo - a se tornarem adultos íntegros, capazes de lidar com as frustrações, de lutar por seus objetivos e de entender e respeitar o espaço e o ponto de vista do outro.
CLAUDIA BEBÊ - A partir de que idade a criança já entende que não pode fazer tudo o que quer?
TANIA ZAGURY - A criança começa a compreender a noção do limite a partir do momento em que já tem um nível mínimo de vocabulário, por volta de 1 ano e meio, mais ou menos. No entanto, a aprendizagem dos limites sociais e pessoais é longa e leva anos até ser aceita e interiorizada. É normal a criança pequena reagir de forma bastante obstinada a todo "não" que ouve. Então, o ideal é dizer com firmeza, mas sem agressividade e até com carinho: "Não, isso não pode", e propor, logo a seguir, outra atividade ou brincadeira. Essa troca é muito salutar, porque mostra, desde logo, que algumas coisas não podem ser feitas, mas muitas podem.
CLAUDIA BEBÊ - Existe uma corrente de educadores segundo a qual, em excesso, o "não" tem o poder de minar a criatividade e a curiosidade da criança. Como a senhora vê essa linha de pensamento? Como dosar o "não"?
TANIA ZAGURY -Tudo o que é excessivo é pernicioso. Até remédio, vacina, chocolate... Tudo tem sua hora e momento certo. Portanto, se os pais proíbem tudo, são excessivamente rígidos em situações que não trariam nenhum tipo de perigo ou prejuízo à criança apenas por comodismo ou por conservadorismo, é claro que isso poderá vir a ser um elemento negativo. O limite tem que ser compreendido como algo que é necessário em certas horas em que o filho está correndo algum risco ou colocando em perigo outros seres vivos, sejam pessoas, animais ou até mesmo vegetais. E risco não apenas em termos físicos, mas morais, éticos - qualquer atitude que prejudique ou diminua o direito dos outros. Assim sendo, pais equilibrados e justos saberão o momento do "sim" e o do "não". É preciso compreender que estabelecer limites não é proibir tudo, mas, sim, o que é preciso e quando é preciso. Costumo dizer que dar limites é dizer "sim" sempre que possível e "não" sempre que necessário.
CLAUDIA BEBÊ - Como reagir se a criança insiste em ignorar o "não" de forma desafiadora?
TANIA ZAGURY -Manter a posição é fundamental, sem agredir nem ceder. Agir com calma e firmeza, mas também com afeto. Explicar três ou quatro vezes, de formas diferentes, o porquê do não. Essa é a fase 1, do diálogo. Se não funcionar, os pais devem passar para a segunda fase, que é agir com autoridade, dizendo uma só vez que já explicaram e que agora ela deve obedecer. Se ainda assim não der certo, recorre-se à fase 3: conseqüência ou responsabilização. É o que alguns chamam de castigo, mas prefiro a outra denominação, porque a sanção deve sempre ser vista pela criança como uma conseqüência do que ela fez. Se ela se irritou e atirou longe o joguinho de montar, a sanção adequada seria guardar o brinquedo e dizer: "Você não agiu de forma correta, então agora não poderá mais brincar com isso até se controlar". O importante é manter a postura. É muito comum dois minutos depois a criança vir pedir desculpas para poder voltar a brincar. Por isso, estabeleça desde o início quanto tempo durará a conseqüência: hoje (o resto do dia), por exemplo. E aí desculpe a criança, mas mantenha o que disse e só a deixe brincar de novo no dia seguinte. Lembre-se, porém, de que quanto menor for seu filho, mais curta deve ser a sanção, e sempre relacionada à falta cometida.
CLAUDIA BEBÊ - No caso das crianças mais velhas, castigos como impedir de ver televisão, mandar para o quarto ou proibir o videogame funcionam? Quando devem ser usados?
TANIA ZAGURY - As sanções devem ser aplicadas como conseqüência de faltas relacionadas a elas. Por exemplo: você combinou com seus filhos que até tal hora eles têm de estudar e só depois poderão ver televisão ou jogar videogame. Porém, quando chega em casa, fica sabendo que eles não cumpriram o combinado. Então, é adequado proibir essas atividades e deixar bem claro o motivo: "Hoje não tem internet, joguinho nem TV. Vocês não cumpriram suas obrigações, então não têm direito ao lazer". Mas não precisa ser por uma semana ou um mês. Basta ser naquele dia. Castigos muito longos tendem a perder o efeito. A criança nem se lembra mais por que não pode entrar na internet. O que se quer aqui é fazê-la compreender que tem deveres e direitos, e não somente direitos.
CLAUDIA BEBÊ - Ainda com relação à TV, qual tem de ser a postura dos pais? Deve-se controlar desde cedo o que os filhos vêem?
TANIA ZAGURY - Isso está diretamente relacionado à idade. Deixar uma criança de 2 anos assistir a qualquer programa é buscar problemas no futuro. Fazer uma seleção do que os filhos assistem e estabelecer limites de horário é muito importante. Quanto menores eles forem, mais necessária é essa supervisão. Os limites irão diminuindo à medida que crescem e que os pais notem que estão adquirindo maturidade e responsabilidade. Isso não é ser arbitrário - é uma forma de cuidado, de amor. Só se deve evitar exageros, como não permitir à criança ver TV nunca. Existem ótimos programas educativos e também outros, de lazer e entretenimento, muito bons.
CLAUDIA BEBÊ - O que fazer diante de um escândalo em público, no meio do supermercado, por exemplo, porque a criança quer determinada coisa?
TANIA ZAGURY - Os escândalos públicos são os que mais afetam e inibem os pais. Com toda a razão, aliás, porque criam situações profundamente desagradáveis. Mas não se deve ceder a esse tipo de chantagem, porque, se os pais se comportarem dessa maneira, ela só tende a aumentar. Se estamos imbuídos de objetivos educacionais e sabemos que o que a criança está querendo é errado ou abusivo, temos que manter nossa posição. Agindo assim, a tendência é que os escândalos gradualmente diminuam até sumirem completamente. Se dizemos "não" com convicção, porque sabemos de fato que não é possível nem aceitável fazer o que a criança está pedindo, não nos sentiremos impelidos a ceder.
CLAUDIA BEBÊ - O que torna alguns pais mais manipuláveis do que outros aos olhos dos filhos? Como na questão da comida: há crianças que parecem intuir o quão importante é para a mãe que comam bem e chantageiam-na comendo mal ou recusando vários alimentos. Como não ser presa fácil de bebês muito espertos?
TANIA ZAGURY - Sendo adultos e mais espertos que seus bebês, somente isso. Devemos ter segurança das nossas metas. O bebê, a criança e o jovem só conseguem manipular o adulto que está inseguro quanto aos seus propósitos. A mãe que não percebe que está sendo manipulada será manipulada sempre. É preciso que ela repense os seus objetivos, afinal, nenhuma criança que tem comida morre de fome. Às vezes, a mãe é muito dedicada e amorosa e não nota que está colocando todas as suas fichas num assunto que é relevante, mas nem tanto - comer ou não. O que sugiro é: tire de casa os petiscos que acabam com o apetite, prepare a refeição balanceada, gostosa e nutritiva de que seu filho precisa e apresente-a na hora certa. Se ele não comer, não insista, mas ofereça comida de novo apenas na próxima refeição, e de preferência a mesma. Agora, já com fome, ele achará tudo uma de-lí-cia!!! Se demorar um pouco mais, talvez uma ou duas refeições, não se deixe intimidar. Logo adiante ele estará com tal apetite que até jiló terá sabor de chocolate!
CLAUDIA BEBÊ - Até que ponto a dificuldade dos pais em dizer não está relacionada com um sentimento de culpa provocado pelos períodos de ausência por causa do trabalho?
TANIA ZAGURY -Tem muita relação. Hoje, tanto o pai quanto a mãe ficam muitas horas fora de casa e a tendência é se sentirem culpados por isso. Tentam então compensar evitando brigar ou educar. Mas não é isso o que deve ocorrer. Essas horas, ainda que poucas, precisam ser qualitativamente insubstituíveis para a criança. Os pais, nesses momentos, têm de dedicar-se integralmente a ela, em atividades variadas. É importante jantarem todos juntos, relatando o que aconteceu na vida de cada um, ouvir as proezas e dificuldades dos filhos. Ter um tempo para supervisionar as tarefas escolares, tirar as dúvidas. O ideal é que a TV fique desligada por uma ou duas horas para que as pessoas da família possam conversar olhando-se nos olhos, sentindo umas às outras, verdadeiramente presentes. Depois pode-se também assistir a um programa de TV juntos. É nesses momentos que os valores vão sendo automaticamente passados, as atitudes adequadas incentivadas e as inadequadas desestimuladas, discutidas e até criticadas. Ninguém precisa ficar fisicamente junto 24 horas por dia para ter uma relação autêntica e feliz, mas quando se está junto de coração as coisas acontecem e a educação verdadeira encontra seu espaço, especialmente pelo exemplo dado pelos pais.
CLAUDIA BEBÊ - A senhora recomenda que as atitudes adequadas das crianças sejam reforçadas por recompensas. Isso não pode produzir um adulto que só age na base da troca?
TANIA ZAGURY - Isso só ocorre quando as recompensas são materiais. Por isso recomendo sempre que elas sejam uma palavra de estímulo, um elogio, um beijo, um abraço carinhoso, uma frase que denote o quanto você está contente com a atitude da criança. O ser humano tende a repetir as atitudes que produzem efeitos positivos em relação à auto-estima, bem como ir abandonando as que trazem conseqüências negativas. Ao longo dos anos, o prazer pelo "bem-feito" será assimilado e as recompensas externas serão menos necessárias.
CLAUDIA BEBÊ - Como encontrar o equilíbrio entre uma educação liberal e uma educação autoritária?
TANIA ZAGURY - Basta, a meu ver, que se tome como eixo de nossas vidas o antigo pressuposto do Velho Testamento: "Não faça ao outro o que não desejas que façam a ti". Simples, não? Parece, mas na verdade não é. Porque hoje o ser humano está tão imediatista, consumista e individualista que, em geral, quer que o seu filho e a sua família possam tudo; já os outros devem seguir rigidamente a lei. Por isso se assiste a tantos casos de corrupção, de desentendimentos, de brigas. Enquanto não conseguirmos olhar os outros como continuação de nós mesmos, será muito difícil praticar o meio-termo ideal entre liberalismo e autoritarismo.
CLAUDIA BEBÊ - Pais de crianças até 2 anos têm alguns dos "direitos paternos" que a senhora define em seu livro? Quais?
TANIA ZAGURY - Todo ser humano tem deveres e direitos, ninguém pode ter apenas um ou o outro. Os pais precisam ter direitos até para que possam concretizar seus deveres. Até os 2 anos, no entanto, a criança é totalmente dependente e necessita muito, mas muito mesmo dos pais. É uma fase de mais deveres do que direitos, mas acredito que, olhando para essas coisinhas maravilhosas que são nossos filhos, para o seu fantástico despertar para a vida, para o milagre da aprendizagem e do desenvolvimento que ocorre nesses primeiros anos, a maioria nem sinta os deveres como deveres, antes como um prazer renovado a cada dia.
FOTO RODRIGO LOPES / REALIZAÇÃO CHRISTINA BÖLLER / CABELO E MAQUIAGEM AURORA PORTO / TANIA VESTE ONE WAY

Como ter conversas difíceis com seus filhos

O mal, a morte, o tempo. Nesta crônica, o escritor e pai José Ruy Gandra aponta uma saída para as conversas mais difíceis que precisamos ter com nossos filhos.
José Ruy Gandra em 01.08.2011

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familias-e-filhos-educacao-conversa-dificil-com-filhos O escritor e pai José Ruy Gandra, autor de Coração de Pai - Histórias sobre a Arte de Criar Filhos (Livros de Safra), transmite seu ambicioso legado a Paulo e Pedro: sabedoria para viver bem e intensamente.
A Pedro e Paulo
Talvez por ter chegado aos 50 anos, esse outonozinho da alma de dias quentes e noites frias, muitas coisas dão sinais de ter clareado na minha cabeça irrequieta. Gostaria que meus filhos soubessem disso. Soubessem que, tão logo nasceram, se tornaram o sentido, a prioridade absoluta e a principal fonte de alegria de minha vida. Queria que perdoassem meus tropeços, incertezas e imprevidência. E que aceitassem meus desejos e votos a seguir como um presente singelo que, sem saber, vim fabricando até aqui a cada um de meus dias.
Entre tantas outras coisas que, como pai, lhes desejo, gostaria que Paulo e Pedro descobrissem que o infinito é uma palavra séria. Que certas estrelas ficam tão longe nos confins do Universo que, no momento em que as vemos, a luz delas já se apagou há muito, muito tempo. Muito além do que conseguimos enxergar, elas já morreram. Mas continuam e continuarão brilhando, céu afora, sabe-se lá por quantos milhões de anos ainda.
Considerem, filhos, que nesse infindável vazio flutuante, nosso planetinha gira, banhado pelos raios do sol. E que nesse planetinha - e, por enquanto, ao que se saiba, apenas nele - a vida se entrelaça de bilhões de formas imagináveis. Como, talvez, em nenhum outro lugar de toda essa vastidão misteriosa que nos circunda.
Nunca se esqueçam de que essa explosão de vida, a natureza, é tão fascinante quanto cruel. Pode ser a paisagem irretocável que nos comove - e também a fúria que, num piscar de olhos, a devasta. São os filhotes com sua doçura cativante e frágil - mas também criaturas que devoram implacavelmente umas às outras. Na natureza, a curto, médio ou longo prazos, depende, toda forma de existência vive ao relento. Feito as estrelas, estão condenadas a um dia deixar de brilhar. Tudo passa. Tudo precisa passar. Não tem jeito. É assim.
Que essa aparente fatalidade, filhos, não os assuste. Ao contrário. Tomara que ela os faça perceber quanto nós, seres humanos, somos privilegiados. Por podermos contemplar a criação e a evolução sentados num camarote. Por estarmos no topo de uma cadeia alimentar, uma vantagem que, na pior das hipóteses e na imensa maioria dos casos, nos poupa da condição de presas.
Em compensação, somos os piores predadores de nós mesmos. Mas desfrutamos a bênção de, bem ou mal, compreender o mundo que nos cerca. E a de, mesmo que aos trancos e barrancos, evoluir. Um dia tenho certeza de que vocês perceberão quanta grandeza e quanta miséria resultam dessa nossa supremacia biológica. Nada disso, porém, nos desvia do próprio destino. Um dia, como tudo, feito uma bandeirinha que o vento faz desprender de seu mastro, também nós passaremos.
Espero que, sempre que se defrontarem com essa verdade, vocês sigam em frente. Tenham em mente que, cedo ou tarde, o tempo dissipa até a mais entranhada tristeza. Por isso, filhos, não se entreguem jamais à amargura. Como tudo, a dor que os colher também passará. Portanto, não percam com ela mais do que o tempo estritamente necessário. Invistam sempre mais na esperança que na desilusão. Mais na confiança que no temor. E, seja lá como for, perseverem em seus caminhos.
Aliás, filhos, a cada oportunidade que tiverem, agradeçam. A cada manhã que despertarem, pensem no fato de que todas as suas moléculas permanecem agrupadas. Que as células de seus corpos continuam funcionando como devem. Agradeçam, rapazes. Brindem por esse milagre cotidiano. Cada dia é uma dádiva - e saber vivêlo sem lentidão nem pressa é uma arte valiosa.
Paulo. Pedro. Haja o que houver, lembrem-se de que carregam nas veias o mesmo sangue. Não permitam que a vida, com suas mesquinharias, atribulações e voracidade, os afaste. Nunca, Paulo. Nunca, Pedro. Poucas coisas conseguem ser tão profundas quanto o amor de um irmão. Ombro algum é mais amigo. Mantenham, em seus corações, um lugar reservado para o outro. Descubram- se, amparem-se e fortifiquem-se reciprocamente.
Sejam previdentes, mas não deixem de realizar os seus sonhos. E nunca se considerem imunes a nada. Tudo, absolutamente tudo nesta vida é possível. Alegrias extremas. As dores mais lancinantes. Agradeçam aquilo que o destino lhes reservar. Os bons momentos alegram a alma. Os ruins ajudam a lapidá-la. Ambos um dia acabam ficando para trás e cada qual traz as próprias lições. Persigam sempre o discernimento. É ele que lhes permitirá essa fotossíntese renovadora que transforma lágrimas em risos. E em luz a obscuridade.
Meus amados: vivam atentos ao que diz o coração. Ele conhece os caminhos, mesmo que desconheça o destino. Bebam do riozinho de suas vidas sem medo. Como tudo, montanhas, impérios, nosso planeta, suas águas um dia também passarão. Mas o que importa é que, agora, neste momento, elas correm bem diante de seus olhos abertos. São suas. Estão ali para que vocês, todo santo dia, possam saciar a sede. Bebam da existência, meus filhos. E, sempre que a barra da vida pesar, lembrem- se, por favor, das estrelas que já se apagaram. Reparem como elas ainda brilham no céu.
 

Mulheres com filhos X mulheres sem filhos

Fomos investigar quem leva vantagem na hora de ouvir o cobiçado "Você está contratada" e encontramos ressentimentos e acusações nessa que promete ser uma grande briga.
Daniela Venerando em 19.11.2007
carreira-mulher-com-filho-ou-sem A gerente de marketing Cíntia*, 30 anos, de São Paulo, solteira e sem filhos, comanda um grupo de seis mulheres. Ela está aflita para fechar um projeto que será implementado na semana seguinte. Uma de suas subordinadas, Carolina*, não poderá ficar até mais tarde, pois avisou que precisa levar o filho ao pediatra. Cíntia tem consciência da dedicação da funcionária, mas não deixa de pensar: Puxa, as coisas aqui estão pegando fogo e ela sai bem agora? Não poderia pedir a alguém para levar o bebê?" Em outra companhia, Alessandra*, gerente de logística, grávida de cinco meses, fica sabendo que a empresa oferecerá um curso de uma semana num hotel fora de São Paulo e enxerga aí uma oportunidade de aprimorar seus conhecimentos. Quando seu chefe se dirige à equipe para decidir de quem é a vaga, uma colega já dispara: "Não manda a Alê, porque ela está grávida". Furiosa e frustrada, ela chega em casa e cai em prantos. "Essa não foi a primeira vez em que fui tirada de algum projeto ou de um curso por causa da minha gravidez. Não sei se querem me proteger ou pegar o meu lugar. Fico superinsegura. O que acontecerá então quando eu sair de licença?"
Um embate, na maioria das vezes velado, está em curso entre profissionais com e sem filhos. De um lado do ringue, estão mães exaustas, se desdobrando para dar conta da família e do trabalho, cheias de culpa. Do outro, mulheres sem filhos, disponíveis para focar todo o tempo e a energia na carreira e alheias aos dilemas das mães que trabalham fora. Será que a ascensão profissional nos próximos tempos será determinada pelo fato de a mulher ter ou não ter filhos? A questão é polêmica e divide quem trabalha com recrutamento. "Vai depender da posição da empresa em relação a essas duas profissionais e da estrutura que a própria mãe vai montar para manter o ritmo de trabalho", afirma Patrícia Epperlein, sócia e diretora-geral da Mariaca/InterSearch, empresa de recrutamento de executivos.
Mães no trabalho
A gerente de controladoria Mariana*, 41 anos, acredita nessa competição. Quando não tinha filhos, ela cansou de ouvir críticas dos colegas ao comportamento das mães em relação ao trabalho. Hoje, uma vez por mês, ela sai meia hora mais cedo para levar a filha, de 8 meses, ao médico. "Pelas conversas paralelas, sei que sou criticada pelos meus pares, mas acho injusto. Eu não fumo e produzo o dia inteiro, enquanto meus colegas fumantes acabam matando uma hora por dia só nessas escapadas. Afinal, estou saindo por um motivo sério", desabafa. A relações-públicas Vanessa*, 28 anos, solteira, sem filhos, reclama dos privilégios que as casadas desfrutam, como tirar férias em janeiro e julho junto com os pequenos em idade escolar. Cheguei a perder dinheiro com passagem por que priorizaram uma colega com filhos. Eu também tenho meus motivos. Por que não posso folgar nesses meses?" Em compensação, acha que leva vantagem numa possível promoção. "Percebi a irritação da chefia em relação a funcionários - na maioria mães - que batem o ponto no horário certo." Será? "Não concordo. As grandes empresas levam em consideração a competência em primeiro lugar e não fazem esse tipo de discriminação. Minha consultoria, por exemplo, nunca deixou de recrutar uma mulher por esse motivo", afirma Gutemberg de Macedo, presidente da Gutemberg Consultores, empresa especializada em recolocação e aconselhamento de carreira. José Augusto Minarelli, presidente da consultoria de carreira Lens & Minarelli, admite que, numa disputa entre duas profissionais com a mesma competência, é possível que quem não tem filhos saia na dianteira."Eles podem ser uma restrição. Se a concorrente com a mesma competência não tem um impedimento como esse, ela é quem leva a promoção." Na contratação de executivas, também há uma predileção pelas sem filhos. Segundo a consultora Zenilda Castilho, da RH Internacional, empresa da área de recursos humanos, elas levam vantagem. "Para alguns cargos, meus clientes pedem para não selecionar profissionais com crianças menores de 7 anos. A idade dos filhos é uma barreira e um ponto a ser levado em consideração. A idéia é que a mulher, para cumprir todas as demandas domésticas, não conseguirá dispor de todo o tempo que a companhia lhe exigirá."
Fernanda*, 38 anos, executiva da área de telefonia, sentiu isso na pele recentemente, quando foi sondada pela chefia para uma possível promoção. Enquanto seus filhos eram muito pequenos, tinha receio de ser preterida por causa da suposta falta de disponibilidade das mães. "Há pouco, meu chefe me perguntou sutilmente se eu tinha intenção de ficar grávida outra vez. Disse que não e, naquele momento, senti que já não corria mais o risco de ser jogada para escanteio. Afinal, agora as crianças estão com 5 e 8 anos", conta. Para a secretária Andréa Marquardt, 36 anos, o fato de ser mãe só trouxe vantagens. Ela acredita que conquistou o emprego em uma multinacional ao revelar que estava se separando e tinha um filho de 2 anos para sustentar. "Na época, o chefe sentiu meu real comprometimento com a empresa quando percebeu que o meu filho dependeria financeiramente apenas de mim." A gerente titular do banco Itaú Personnalité, Léa Soler, 40 anos, também acha que as casadas se empenham mais. "Lidero seis gerentes, duas com filhos pequenos, e as mães são as melhores da equipe. Elas têm maturidade, foco e sempre superam os resultados." Léa admite que há competição, mas a culpa, afirma, é da imaturidade das sem filhos. "Eu mesma, antes de ter os meus, olhava torto para as mães que colocavam a carreira em segundo plano", confessa. Para ela, cabe à empresa evitar essa rixa avaliando seus subordinados pela competência. No caso de férias, por exemplo, dou prioridade para quem supera as metas e apresenta os melhores resultados durante o ano. Ou seja, é por mérito", explica.
Mais condições
A maioria dos especialistas ouvidos nesta reportagem concorda que a rixa se resolveria facilmente se as empresas oferecessem às mulheres mais condições de conciliar carreira e família. Em vários países, o apoio às mães começa no governo, que propõe leis claras e concede benefícios fiscais a companhias que dão suporte aos pais. Na Inglaterra, mães com filhos menores de 6 anos têm o direito de exigir redução da jornada ou de sair mais cedo até duas vezes na semana. Na Alemanha, o empenho do governo é maior ainda por uma questão econômica. Caso a taxa de natalidade continue a despencar, não haverá mão-de-obra qualificada para manter a produção e a prestação de serviços no país. Por isso, neste ano o governo passou a conceder uma ajuda financeira correspondente a 67% do salário líquido dos pais, desde que os dois se licenciem para cuidar do filho - a mulher por dez meses e o homem por dois.
O dilema é antigo e está longe de ser resolvido no Brasil, segundo Iaci Rios, consultora da DBM, empresa especializada em recursos humanos. Algumas companhias oferecem creches e horário mais flexível, o que facilita e muito a vida da mulher com filhos. Mas ainda são poucas", afirma. A farmacêutica Merck Sharp & Dohme é uma delas. A coordenadora de relacionamento com clientes, Lilian Sato, 32 anos, tem a opção de entrar entre 7 e 9 horas da manhã e sair às 15 horas às sextas-feiras. "Assim, posso levar meu filho, de 2 anos, à escolinha e pegá-lo no final do dia. É uma vantagem, pois a maioria das minhas amigas não consegue", garante. Enquanto isso, as mulheres vão fazendo o que podem para dar conta dos múltiplos papéis sem muita perspectiva. Na opinião de Patrícia Epperlein, um futuro melhor está por vir. "As empresas ainda enxergam as mães de forma diferente, mas isso está mudando, embora haja um caminho longo pela frente. Tenho certeza de que em breve as companhias serão obrigadas a rever a questão. Em muitas áreas, as mulheres estão dominando o mercado e já são maioria nas escolas em busca de aperfeiçoamento. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de desperdiçar tanta mão-de-obra especializada", finaliza ela.
Postura impecável
Se você tem filhos e não quer ser vista de maneira diferente pela empresa, siga as orientações dos consultores:
Deixe claro na entrevista que você mantém uma estrutura organizada em casa. Tenha sempre na manga o telefone de uma segunda babá em caso de imprevisto.
Evite ao máximo sair no horário de trabalho para levar o filho ao pediatra. Caso não haja alternativa, converse com seu chefe para achar uma boa solução para as duas partes. Uma opção é dividir a tarefa com o marido.
Planeje sua saída na licença-maternidade e mantenha contato na sua ausência.
Seja discreta ao ligar para casa para saber das crianças. Esse telefonema é visto com naturalidade pela maioria dos chefes, mas não abuse e seja breve.
Não banque a supermãe e dedique um pouco de tempo a si mesma. Afinal, o equilíbrio reflete num bom desempenho no trabalho.
* Nomes trocados para preservar a identidade das entrevistadas

O que é melhor: focar na carreira ou na família?

Duas mulheres com histórias diferentes nos ensinam a compreender que há muitas maneiras de se realizar – e que a resposta está dentro de nós.
Silvia Braccio/ Ilustração Nathália Rodrigues em 03.11.2010
Eu parei tudo
carreira-e-trabalho-familia-ou-trabalho Há alguns anos, eu ia para Nova York e voltava no mesmo dia. Uma loucura. Agora, viagem a trabalho, só como primeira-dama, acompanhando meu marido. Essa transição radical teve início em 2004, e não foi obra do acaso, embora não tenha começado por decisão minha – e sim depois de ter levado um cartão vermelho da empresa. Lá, fiz uma carreira fulminante. Sou formada em matemática com bacharelado em computação. Aos 21 anos, fui contratada por uma multinacional americana como analista de sistemas júnior. Com 28, cheguei ao cargo de vice-presidente para a América Latina de toda a área técnica, responsável por uma equipe de 200 pessoas em seis países. Trabalhava no mínimo 12 horas por dia quando não estava viajando. No meio disso tudo, casei e tive um filho, Leonardo. Não vi o tempo passar. Me separei, casei de novo e mudei de vida. Hoje, cuido da minha casa, em Vinhedo, do meu segundo marido, Celso, do meu filho e do meu enteado, Luis. Faço ginástica, encontro minhas vizinhas na academia e passei a entender a rotina das donas de casa. Confesso que achava que elas não faziam muita coisa. E sou muito feliz por ter optado por essa nova vida. Lógico que, quando fui demitida num corte de custos, levei um susto. Passei algum tempo deprimida. Uma vez, meu irmão foi lá em casa para me fazer tirar o pijama que vestia havia dois dias. E disse: “Rita, você tem 35 anos, está bem de vida e tem um filho lindo. Acorda!” Comecei, então, a descobrir o que significa ter tempo”. Nessa época, conheci melhor o Celso, que também era funcionário da empresa, namoramos e casamos. Decidi encarar aquela nova fase como um ano sabático. Mas o destino sabe mesmo o que faz. No final daquele mesmo ano, Leonardo teve lúpus sistêmico e foi internado em estado gravíssimo. Travou uma luta entre a vida e a morte, mas Deus e muitas orações “nos” salvaram. Depois que ele deixou o hospital, o médico percebeu que o tratamento não estava sendo eficiente. Ele foi submetido a novos exames e, finalmente, saiu o diagnóstico: ele tinha síndrome de Evans. Se ainda me passava pela cabeça alguma ideia de voltar a trabalhar, naquele momento ela se foi completamente. Não há dinheiro que pague alguém para cuidar do seu filho doente. Foram três anos de internações mensais. Hoje, Leo está ótimo. A vida foi entrando na rotina e eu me acostumando a ela. Logo recebi uma nova proposta profissional, financeiramente irrecusável. Só que o preço era alto demais: teria de passar 70% do tempo fora do Brasil. Fiquei uma semana sem dormir, pensando, mas respondi, sem medo: “Não”. Como iria abrir mão – de novo – de tantas conquistas? Diante da perspectiva de eu retomar aquela rotina maluca, Celso me perguntou: “Já imaginou nós dois levando esse tipo de vida?” Não, não consigo mais imaginar. Querem saber qual é o balanço que faço seis anos depois? Não sinto falta do trabalho, tenho tudo de que preciso, controlo os meus rendimentos (fiz um ótimo pé-de-meia, porque não sou boba) e adoro ser dona de casa. E não é que sobra bem pouco tempo livre? Não dá para comparar a qualidade de vida que tenho hoje com a que tinha. Continuo sendo uma mulher ativa, invisto na bolsa de valores, sou da comissão de formatura da escola do Leonardo; afinal, adoro um bom desafio. A diferença é que agora EU dou as cartas.
Nem desfaço a mala
Não fui criada para namorar, casar e ter filhos. Na verdade, sempre resisti a essa ideia. Quando cheguei perto da idade de casar, pensei: “Onde esse negócio se encaixa na minha vida?” Adiei quanto pude. Há quatro anos, após dois de namoro, casei com o Cristóvão, meu parceiro e maior incentivador do meu grande projeto profissional: sou gerente de marketing de uma empresa alemã especializada em produtos odontológicos, braço de uma multinacional americana, e quero expandir os limites para o meu poder de atuação e realização. Vivo viajando para Joinville (SC), onde está instalada a fábrica brasileira; São Paulo, onde moro; Estados Unidos e Alemanha, onde há duas outras fábricas; e América Latina para vender meus produtos. Essa rotina já dura cinco anos. Nem desfaço mais a mala, pois está sempre pronta para o próximo embarque. Nos fins de semana, não consigo me desconectar completamente. Acabo sempre dando uma olhada nos meus e-mails. Já passei por vários desafios e não descarto a possibilidade de trabalhar no exterior. Afinal, como faço parte deu uma grande rede, tenho pares estrangeiros. Se minha realização estiver em outro país, por que não? Eu e meu marido temos um acordo – ele também atua em uma multinacional de softwares –, que é o seguinte: o primeiro que receber uma proposta muito boa leva o outro. Para crescer profissionalmente, um abriria mão e tentaria um reposicionamento lá fora. Sempre ganhei mais do que os meus namorados, inclusive o Cris, e já terminei relacionamentos por causa do trabalho, por ciúme mesmo. Um deles teve a ousadia de dizer que, para ficarmos juntos, eu teria de rever a minha carreira. Cheguei a questionar se, para ter uma vida feliz, essa realmente seria a escolha mais acertada. Deu uma piração. Há homens assim, que se sentem atraídos por mulheres decididas e realizadoras, mas depois ficam com medo e querem colocar rédeas. Com o tempo, entendi. E, quando conheci o Cris, vi que tudo valia a pena. Devo a ele ter chegado até aqui feliz. E olha que não faltaram comentários do tipo: “Se continuar trabalhando dessa maneira, o seu marido vai te largar”. Parece que as pessoas não entendem que ele concorda com o meu modo de vida. Às vezes até pede para eu diminuir o ritmo porque se preocupa com a minha saúde, mas é meu grande motivador. Ele tem uma mãe tão ativa quanto eu, que fez questão de manter sua carreira. A minha mãe, que é dona de casa, sempre incentivou as filhas a serem profissionais e a não dependerem de marido. As pessoas perguntam quando eu vou ter um filho. Esperei a ficha cair aos 35 anos, não caiu. Aos 36, não caiu. Foi cair aos 37. Mas confesso que, se tivesse mais tempo, adiaria um pouco. Só que chega um momento em que é preciso ser racional. Decidimos, eu e o Cris, que é agora. O bebê será muito bem-vindo, mas não vai me parar. Minha mãe diz que duvida que eu vá cumprir os meses de licença-maternidade. Só penso que há inúmeras mulheres pelo mundo que têm de dar mais atenção à profissão do que aos filhos, não por opção, mas por necessidade. E as crianças crescem felizes, bochechudas e rosadas. O importante é a gente se livrar da culpa, e a terapia ajuda muito. O Cris brinca que vai ficar em casa cuidando dos filhos enquanto eu trabalho. Até que não é má ideia.

Sucesso na carreira é sinônimo de solidão?

Mulheres que conquistaram sucesso na carreira discutem as ciladas da ascensão profissional e os truques para não cair nelas.
por Sibelle Pedral | fotos Fabio Heizenreder em 19.11.2007

Depois de semanas negociando agendas carregadas, conseguimos reunir um timaço para discutir um tema que ainda é tabu: o quociente de solidão de executivas poderosas.
Cristiane Almeida, 43 anos, divorciada, é mãe de um garoto de 9. Formou-se médica fisiatra e coordena o Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Eneida Bini, 45 anos, casada, um filho de 17 anos, ex-presidente da Avon no Brasil, dirige hoje a Herbalife, multinacional de suplementos alimentares.
Vânia Curiati, 35, casada, tem gêmeos de 7 anos e uma menina de 4. É diretora de softwares da IBM no Brasil.
Beth Meger, 44, separada, tem dois filhos, um de 22 anos e outro de 5 meses. Ela criou e comanda a NS&A, agência que cuida da intermediação de negócios em publicidade.
Rosi de Castro, 38, casada, um garoto de 8 anos, é diretora administrativa da Bamberg, consultoria de imóveis de alto padrão em São Paulo.
Atuando como mediadora ao lado de CLAUDIA, a psicóloga Valéria Meirelles, que organiza workshops sobre mulher, carreira e vida pessoal.
CLAUDIA - Foi preciso fazer renúncias para chegar aonde vocês chegaram?
Eneida - Minha maior renúncia foi o tempo que não pude dedicar ao meu filho. Até ele completar 8 anos, cumpri muito bem o meu papel de mãe. Ainda era supervisora, executava as minhas tarefas e ia cedo para casa. Tirava férias de 30 dias! Quando assumi mais responsabilidades como diretora, acabaram-se as férias longas e passei a trabalhar após o expediente. Aí mudou a forma de me relacionar com a família. Felizmente, não houve ruptura: o César já tinha os amigos da escola, se preocupava com outras coisas.
Rosi - Praticamente não tive licença-maternidade. Vinte dias depois da cesárea, estava na empresa com o bebê no moisés. Antes de completar 3 meses, ele já ficava dez horas por dia num berçário. Hoje me arrependo: perdi um momento importante da história do meu filho.
Beth - Por causa da carreira, adiei muito a maternidade. Além de trabalhar sem parar, viajava demais. O resultado é que me tornei mãe só agora, aos 44 anos, depois de encerrar o segundo casamento, que durou mais de 20 anos - apesar de ter adotado o Ricardo, um garoto de 9 anos que certa manhã encontrei dormindo na porta da minha empresa. O fim daquela relação me fez repensar meus valores e quis ser mãe. Cheguei a procurar um banco de esperma, mas desisti quando o geneticista alertou que não podia dar nenhuma garantia sobre o caráter do bebê. Nessa época, numa viagem de trabalho, uma pessoa que eu conhecia havia muito tempo disse que gostaria de me dar um filho. Eu já conhecia bem o caráter dele. Fizemos uma viagem e voltei grávida.
Valéria - Em nenhum momento você pensou em conciliar as duas coisas, o filho e a carreira?
Beth - Em todos os momentos pensei nisso, mas meu marido não queria. Então, como na época a carreira supria as minhas necessidades de felicidade, eu me alimentava dela.
CLAUDIA - Tantas renúncias na vida pessoal não deixaram um gosto amargo? Sucesso pode ser sinônimo de solidão?
Rosi - Acho que sim. Na verdade, tem menos a ver com as renúncias e mais com o fato de não encontrar ninguém com quem dividir decisões. Já contei histórias da empresa para meu marido e ouvi críticas à minha atitude. No setor empresarial, você vai subindo e fazendo inimigos naturalmente. A tendência é ficar só e limitar a convivência às pessoas em quem realmente confia, ou seja, a família. Se nem na família existe apoio, tenho um problema.
Beth - Nossa convivência fica restrita, o que pode causar solidão. Até dois anos atrás, por exemplo, não comemorava meu aniversário com festa. Minha grande dúvida era: as pessoas virão porque gostam de mim ou simplesmente porque sou a chefe? Outro momento de solidão vinculado à ascensão profissional é o final de semana. Você não tem para quem ligar, porque não sobrou espaço para amigos fora do trabalho.
Vânia - Isso para mim é prioridade - e uma questão de disciplina. Pelo menos uma vez por mês, saio para jantar com os amigos da faculdade. Faço três horas de almoço para encontrar uma pessoa querida. Em contrapartida, se um dia for preciso trabalhar 15 horas seguidas, a empresa sabe que pode contar comigo.
Eneida - Para mim a solidão aparece no momento das grandes decisões. Não posso compartilhar meus pontos de vista com muitas pessoas nem buscar opiniões diferentes. Por outro lado, amadurecemos à medida que a carreira progride. Procurei não me isolar nesse processo: fui aprendendo com as pessoas, me aproximando delas. Quando eu estava em plena ascensão, tinha que me empenhar tanto que aí, sim, me distanciava dos outros. Para mim, a solidão foi muito maior no começo.
Valéria - É possível sair da solidão e administrar bem o estar sozinha. São coisas muito diferentes...
Cristiane - Outro dia, li isso num livro budista. A solidão é a ausência do outro. Já a solitude é sentir-se feliz simplesmente por estar consigo mesma. A maturidade traz essa capacidade de ver a vida com outros olhos.
CLAUDIA - Qual o papel dos maridos no sucesso profissional de vocês?
Eneida - O meu é um maridaço. Se não fosse ele, acho que não teria feito nem metade do que consegui fazer. O Paulo já estava no nível gerencial quando entrei na Avon. Aí vieram as promoções e meu salário se aproximou do dele. Há um momento em que o homem começa a ficar um pouco inseguro, como se tivesse que ganhar mais sempre. Mas meu marido me apoiou o tempo todo, eventualmente cuidando do filho, ajudando no supermercado...
Cristiane - Meu ex é uma das melhores pessoas que conheci na vida. O problema é que ele é um grande sonhador e eu sempre fui uma pessoa prática. A situação degringolou depois que fiz especialização em trauma de crânio nos Estados Unidos. Como é uma área que pouca gente estuda, na volta comecei a me projetar na profissão. Ele passou a implicar com o fato de eu trabalhar demais, e as coisas ficaram difíceis.
Beth - Minha primeira separação tem uma história parecida: um marido sonhador, e eu numa situação de ascensão, inclusive salarial. Quando eu tinha uma reunião ou viagem, ele fazia um escândalo. A certa altura, precisei optar entre a relação amorosa e o trabalho. Escolhi o trabalho.
Rosi - Todas nós temos o sonho de encontrar uma pessoa que queira crescer com a gente, criar filhos. Mas isso é difícil. Muitos homens acham que a carreira deles vem em primeiro lugar. Se a mulher é forte e bem-sucedida, pensam: "Já não sou o primeiro na vida dela, tem a carreira".
Vânia - Sempre tive muito apoio. Este ano, pela primeira vez, não pude ir à festa de Dia das Mães da escola dos meus filhos. Meu marido me disse: "Não tem problema. Deixa que eu vou, mesmo que tenha que me vestir de mulher". Era o único homem.

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