Uma das mais frustrantes constatações ao ler os comentários que os leitores deixam aqui (muitos dos quais eu não publico, por serem ofensivos ou perniciosos) é a de que as pessoas só buscam combater os efeitos de seu problema, retratados no sobrepes, e rechaçam veementemente qualquer abordagem que sugira que procurem as causas reais de seu problema.

Regra geral, o obeso é hipersensível. Rancoroso, ele não consegue perdoar os erros do passado (os seus próprios ou os de terceiros), e pela sua imaturidade — que não tem nada a ver com a idade cronológica — ele atribui sempre a terceiros as causas de sua frustração, raramente ou nunca assumindo a responsabilidade pelas suas próprias escolhas; assim, ao reter esse rancor, esse desamor, ele necessita criar um mecanismo de proteção, já que ele acha que a ameaça está fora; e está feita a combinação perfeita para que camadas e mais camadas de gordura se acumulem.
Vale notar que as pessoas — principalmente as que não têm que lutar contra a obesidade — simplificam tudo ao dizer que todo gordo come demais. Como toda generalização, esta é leviana. Conheço gordos que realmente comem pouco, muito pouco, e ainda assim continuam acumulando cada vez mais peso, cada vez mais gordura. Isso porque o organismo acaba assimilando o medo inconsciente que a pessoa tem de passar por privações, por perdas de maneira geral, e acaba não eliminando daquele alimento o que deveria ir parar na privada, literalmente.
O que as pessoas se recusam a tentar entender é que engordam devido à natureza de sua relação com a comida. Carências afetivas (e gordos são, normalmente, poços de carência) são compensadas com guloseimas, “gostosídeos”, alimentos altamente calóricos e de baixo valor nutritivo. Isso demonstra que os problemas que causam a obesidade são oriundos, portanto, da porção criança da pessoa. Mais especificamente, ousaria dizer que entre a gestação e os três anos de idade é que se formam estes traumas que fervilham medo e carência na alma do gordo. Ora, a maioria das pessoas, quase a sua totalidade, não consegue acessar memórias dessa época espontaneamente, o que ressalta a necessidade de se ter um bom acompanhamento psicológico para o êxito de qualquer processo de emagrecimento.
Para coroar minha teoria evoco a memória do típico comportamento infantil: deixe os petizes decidirem o que vão comer, e é bem provável que eles escolham uma dieta à base de chocolate, salgadinhos e refrigerantes.

Orgulho e prepotência também são características comuns ao obeso. Muitas vezes este se aferra a uma situação (ou a outra pessoa) claramente perniciosa, apenas motivado pela incapacidade de lidar com o medo da perda que adviria de enfrentar e realizar a solução do problema.
Aliás, em termos psicológicos, é bom ficar atento ao fato de que proporcional ao sentimento de ser vítima do mundo é o tamanho da prepotência da pessoa. Afinal, ela se julga tão especial que todo mundo “quer” prejudicá-la, quer prendê-la, limitá-la. E, naturalmente, a prepotência costuma ser tão grande que refutam inclusive este argumento.

Expostos todos estes pontos — que estão absolutamente distantes de esgotar o assunto — podemos inferir que para que um processo de emagrecimento seja efetivo, duradouro, é necessário que o interessado esteja munido de muita coragem para mergulhar no seu próprio mundo interior, a fim de descobrir quais são seus monstros pessoais, seus medos, suas angústias, e principalmente onde é que ele não está sendo capaz de perdoar. É preciso muito mais coragem para fazer uma viagem de autoconhecimento, para começar o processo, entrar nos problemas (porque é a única maneira de realmente sair deles), do que para deitar-se numa cama de hospital e permitir que um médico corte ou grampeie um pedaço do estômago.
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