Preconceito pesado
O preconceito contra o obeso é conhecido desde a Grécia de Aristóteles, quando se achava que os gordos tinham mau caráter. Na Idade Média, dizia-se que as pessoas gordas eram dominadas pela gula e preguiça – dois dos sete pecados capitais. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE, 10,5 milhões de brasileiros com 20 anos ou mais são obesos. Somado àqueles que estão acima de seu peso, o número sobe para 39 milhões de brasileiros, ou 40,6% da população. Apesar desse grande percentual constata-se que o indivíduo gordo sente-se cada vez mais excluídos socialmente.
Pesquisas apontam que os obesos estudam menos, têm dificuldades de relacionamentos amorosos e menores ofertas de emprego. Nos escritórios, novos projetos ergonômicos privilegiam cada vez mais pessoas magras. Além disso, as empresas evitam contratar funcionários que possivelmente terão mais problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e colesterol.
A ditadura da balança faz suas vítimas no mercado de trabalho, atingindo aqueles que se enquadram na classificação de obesos, baseada em uma equação simples que leva em conta o peso e a altura de cada indivíduo. Desde os 10 anos de idade Luanna Vieira 25 anos, convive com a obesidade e para ela o fato de ser gorda a impede de conseguir um trabalho “quando vou levar meu currículo em alguma empresa não coloco minha foto, principalmente quando a vaga é para o cargo de recepcionista, onde as empresas dizem que querem pessoas com bom perfil e como sempre os gordinhos estão fora desse padrão”, ironiza.
Já para Michelle Bahia 23 anos, ser gordo é um castigo “o preconceito que sofri e ainda sofro por causa da obesidade me fez ser uma pessoa triste e muito insegura, que tem problemas para se relacionar com os homens, pois não me sinto atraente. Ter rosto bonito não ajuda muito, pois as pessoas reparam no corpo, já me senti um lixo, de ver passar uma garota magrinha do meu lado e todos os homens assobiarem para ela, e eu me sentir a última mulher da face da terra, sempre sofri com esse tipo de comparação, cheguei a tentar o suicídio no auge da depressão, foi muito triste! Ano passado fiz a cirurgia de redução de estômago, perdi 42 kg, mas ainda falta bastante para me sentir bem comigo mesma”, desabafa.
Além dos sofrimentos físicos próprios da obesidade, os gordos também são vítimas de uma pressão psicológica, por vezes velada. Ser gordo é pertencer a uma categoria social à parte, é ser tratado de modo especial, é ter que vestir roupas compradas em lojas especializadas, é ter apelidos depreciativos, é ser inferior, é ser sexualmente desinteressante. O sentimento de inferioridade dos gordos é reforçado pelas atitudes irônicas, maldosas e agressivas das pessoas que os cercam e que com eles convivem.
Marcela Amorim, 29, também sentiu na pele os sofrimentos do preconceito a publicitária conta que antes de fazer a cirurgia de redução do estômago o que lhe subtraiu 40 kg passou por muitos constrangimentos “desde pequena sempre fui gordinha, mas foi a partir dos 13 anos que comecei a engordar muito aos 28 anos cheguei a pesar 118 kg. Não agüentava mais tentar comprar roupa em locais comuns por não caber e por não ser bem recebida. A atendente sempre perguntava: É para você? Eu saia da loja arrasada sem comprar nada. Em shows e festas o constrangimento já era na entrada quando passava na roleta. Para não ficar louca, sempre levei essas histórias na brincadeira, fazendo gozação de mim mesma, mas com o passar do tempo essa carapuça de pessoa feliz foi caindo e fui vendo que se eu continuasse daquela forma não iria ter uma vida digna de uma cidadã comum”, histórias como a da Marcela são encontradas na vida de muitos obesos que padecem dessa doença física e psicológica “muitas pessoas não entendem a gravidade desta doença, pensam que as pessoas são gordas por que querem, talvez esse seja o maior motivo de se acharem no direito de ofender o próximo”, salienta Marcela.
A publicitária usará suas histórias para fazer um documentário sobre de como a redução do estômago mudou a sua vida “o objetivo do meu documentário é incentivar as pessoas a tratarem da obesidade e conhecer um pouco dos problemas enfrentados pelos obesos principalmente os sociais”, explica.
O senso comum acredita que o obeso é um sujeito sem força de vontade, que cede à gula e à preguiça e só não emagrece porque não quer. A ciência já constatou que isso não é verdade, que sabemos pouco sobre as reais causas da obesidade e que a própria discriminação é responsável por vários problemas de saúde, especialmente os psicológicos.
Os obesos precisam da compreensão da sociedade no sentido de lhes ser garantida as mesmas oportunidades conferidas às pessoas não obesas, notadamente no que se refere à utilização do transporte público, cobrando das autoridades a execução de leis que são pouco usuais, como as que permitem que as pessoas mais gordas entrem nos ônibus pela porta da frente, evitando a catraca e o constrangimento, infelizmente esta lei vigora apenas em três cidades brasileiras: Porto Alegre, Santos e São Paulo.
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