Os textos a seguir são dirigidos principalmente ao público em geral e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes de cada assunto abordado. Eles não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores às informações aqui encontradas.
Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romanoJuvenal.
No contexto, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida (tradução livre):
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.
orandum est ut sit mens sana in corpore sano.
fortem posce animum mortis terrore carentem,
qui spatium uitae extremum inter munera ponat
naturae, qui ferre queat quoscumque labores,
nesciat irasci, cupiat nihil et potiores
Herculis aerumnas credat saeuosque labores
et uenere et cenis et pluma Sardanapalli.
monstro quod ipse tibi possis dare; semita certe
tranquillae per uirtutem patet unica uitae.
(10.356-64)
A conotação satírica da frase, no sentido de que seria bom ter também uma mente sã num corpo são, é uma interpretação mais recente daquilo que Juvenal pretendeu exprimir. A intenção original do autor foi lembrar àqueles dentre os cidadãos romanos que faziam orações tolas que tudo que se deveria pedir numa oração era saúde física e espiritual. Com o tempo, a frase passou a ter uma gama de sentidos. Pode ser entendida como uma afirmação de que somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa.
Nesta semana, um ministro do governo britânico
foi um dos últimos a alertar as pessoas sobre os perigos das dietas
'milagrosas', mas isso não impediu que tais regimes ganhassem
popularidade no mundo inteiro através dos séculos. Por quê?
A história mostra que desde os tempos de gregos e romanos os seres
humanos já adotavam rotinas de restrições alimentares.
Mas, se por um lado naquela época os regimes
eram baseados na preocupação exclusiva com a saúde física e mental,
foram os vitorianos quem deram o pontapé inicial nas chamadas 'dietas
milagrosas', como as adotadas por celebridades e rapidamente difundidas
nos quatro cantos do planeta.
"A palavra grega diatia, da qual deriva a
palavra dieta, descrevia todo um estilo de vida", diz Louise Foxcroft,
historiadora e autora do livro Calories and Conserts: A History of
Dieting Over 2,000 years (ou Calorias e Espartilhos: Uma História da
Dieta através de 2 mil anos, em tradução livre).
"A prática da dieta na Antiguidade era vista
como uma forma de melhorar a saúde física e mental. As pessoas realmente
pegaram um gosto por essas dietas ditas milagrosas no século 19. Foi
durante esse tempo que começou a haver uma preocupação excessiva com a
estética e, assim, a indústria do regime explodiu", explica Foxcroft.
Portanto, quais são as dietas milagrosas mais estranhas e prejudiciais à saúde da história?
Mastigue e salive bastante
Na virada do século 20, o americano Horace Fletcher
popularizou a ideia de que uma das maneiras mais efetivas de perder peso
era mastigar e cuspir bastante.
O fletcherismo, como foi chamado seu processo de emagrecimento, dizia
que as pessoas deveriam mastigar a comida até todas as calorias fossem
"extraídas" e depois cuspir o material fibroso que restou.
Fletcher detalhava minuciosamente quantas mastigadas a
pessoa tinha de dar para cada tipo de comida. Segundo ele, um
determinado tipo de alho, por exemplo, teria de ser mastigado em torno
de 700 vezes.
Por mais estranha que pudesse parecer, a dieta do americano tornou-se
bastante popular e atraiu vários seguidores famosos, como os escritores
Henry James e Franz Kafka.
Segundo Foxcroft, o regime chegava ao ponto de
cronometrar os jantares de modo que as pessoas mastigassem a comida.
"A dieta também previa que seu seguidor defecaria apenas uma vez a cada
duas semanas e que seu cocô não teria odor. Pelo contrário, as fezes
teriam um odor similar a 'biscostos recém-tirados do forno'", diz.
"Fletcher carregava uma amostra de suas próprias fezes com ele para ilustrar o feito de sua dieta", acrescenta.
Dieta dos vermes
Também no início do século passado, uma dieta inusitada
fez enorme sucesso. O regime previa a ingestão de tênias (ou solitárias)
para emagrecer. A cantora de ópera Maria Callas teria sido uma das
celebridades daquela época a ter comido parasitas para perder peso.
As pessoas que seguiam essa dieta deveriam ingerir ovos
dos parasitas, frequentemente em forma de pílulas. A teoria baseava-se
na ideia de que tão logo as tênias atingissem a maturidade no intestino
dos pacientes, absorveriam a comida, dando início ao processo de
emagrecimento, por vezes, acompanhado de diarreia e vômito.
Uma vez que o usuário atingisse o peso desejado, tomaria uma pílula para matar os parasitas que, no melhor dos casos, morreriam.
A pessoa teria, então, de excretá-los, o que poderia causar complicações no abdômen e no reto.
O regime era arriscado em vários sentidos. Não apenas o
parasita poderia crescer em até 9 metros de comprimento dentro do corpo
do seguidor da dieta, como também poderia provocar inúmeras doenças,
como dores de cabeça, problemas oftalmológicos, meningite, epilepsia e
demência.
"Durante o século 19, a dieta tornou-se um grande negócio", diz a historiadora Annie Gray, especializada em nutrição.
"A publicidade ficou cada vez mais sofisticadas, com mais e mais produtos dietéticos sendo colocados à venda."
O boom da indústria da dieta também foi facilitado pelo
crescimento no número de celebridades, dos meios de comunicação e dos
novos medicamentos, acrescenta Foxcroft.
Arsênico
Remédios, pílulas de emagrecimento e 'poções
mágicas' tornaram-se um grande negócio no século 19. Mas tais
medicamentos normalmente continham ingredientes perigosos, incluindo
arsênico e estricnina.
"Eles foram alardeados como aceleradores do metabolismo, tal qual as
anfetaminas", diz Foxcroft.
Apesar de a quantidade de arsênico nas pílulas
ser pequena, era também muito perigosa.
Não eram raras as vezes em que os seguidores dessa dieta tomavam uma
dosagem acima da recomendada para perder peso mais rápido, morrendo por
envenenamento.
Além disso, o arsênico nem sempre aparecia na bula como
um dos ingredientes do remédio, o que fazia com que as pessoas
desconhecessem o que estavam tomando.
"Não havia muito controle sobre a venda de tais venenos naquela época e
qualquer um podia obtê-los para todos os fins", diz Foxcroft.
"Isso propiciou o surgimento de falsos médicos, que se
diziam especialistas em dietas para promover e vender tais produtos.
Muitas pessoas caíam nesse 'milagre de cura'", acrescenta.
Vinagre
As dietas de celebridades são mais antigas do se pensa.
Lord Byron foi um dos primeiros ícones desse tipo de regime e ajudou a
dar o pontapé na obsessão pública sobre como os famosos perdem peso.
Como as celebridades de hoje em dia, o poeta britânico
trabalhava duro para manter a cintura. No início de 1800, ele
popularizou um tipo de dieta que consistia majoritariamente na ingestão
de vinagre.
A proposta desse regime era de que, para limpar o organismo das
impurezas, a pessoa precisaria beber vinagre diariamente e comer batatas
embebidas no líquido.
Os efeitos colaterais incluíam vômito e diarreia.
Por causa da imensa influência cultural de Byron, havia muita
preocupação sobre o efeito da dieta na juventude daquela época.
Isso porque muitos escritores acabaram restringindo-se à alimentação
composta por vinagre e arroz para tentar chegar ao estilo e à palidez de
Byron.
"Muitas de nossas meninas estão vivendo sua adolescência
em semi-jejum", escreveu um crítico daquela época.
No início do século 19, os padrões de alimentação também se tornaram
mais prescritivos, como a maneira de sentar-se à mesa ou promover um
jantar, diz Gray.
"Isso fez com que as pessoas começassem a se preocupar
com o seu físico. A Rainha Vitória, da Inglaterra, por exemplo, vivia
aterrorizada com seu peso."
Borracha
Em meados de 1800, o americano Charles Goodyear descobriu
como melhorar a borracha além de seu estado natural por meio de um
processo conhecido como 'vulcanização'.
Com a Revolução Industrial e a produção em massa, o uso da borracha foi,
de repente, expandido maciçamente.
A partir daí, foram fabricantes aos milhares ceroulas e
espartilhos feitos do material. A ideia era de que a borracha
disfarçaria o excesso de peso, mas, mais importante, esquentaria o
usuário, fazendo-o suor e, eventualmente, perder peso.
Tais peças de roupa eram usadas tanto por homens quanto por mulheres, diz Foxcroft.
"Naquela época, todo o tipo de roupa e tratamento era anunciado como uma maneira de perder peso", completa Gray.
A dieta durou até a Segunda Guerra Mundial, quando a borracha passou a ser empregada exclusivamente no confronto.
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