Os textos a seguir são dirigidos principalmente ao público em geral e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes de cada assunto abordado. Eles não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores às informações aqui encontradas.
Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romanoJuvenal.
No contexto, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida (tradução livre):
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.
orandum est ut sit mens sana in corpore sano.
fortem posce animum mortis terrore carentem,
qui spatium uitae extremum inter munera ponat
naturae, qui ferre queat quoscumque labores,
nesciat irasci, cupiat nihil et potiores
Herculis aerumnas credat saeuosque labores
et uenere et cenis et pluma Sardanapalli.
monstro quod ipse tibi possis dare; semita certe
tranquillae per uirtutem patet unica uitae.
(10.356-64)
A conotação satírica da frase, no sentido de que seria bom ter também uma mente sã num corpo são, é uma interpretação mais recente daquilo que Juvenal pretendeu exprimir. A intenção original do autor foi lembrar àqueles dentre os cidadãos romanos que faziam orações tolas que tudo que se deveria pedir numa oração era saúde física e espiritual. Com o tempo, a frase passou a ter uma gama de sentidos. Pode ser entendida como uma afirmação de que somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa.
Idealizador do Fome Zero defende programa federal para o fim da obesidade
Frei Betto acaba de ser premiado pela
Unesco pelos projetos desenvolvidos e diz que “no Brasil a fome é
gorda”. Leia a entrevista
Fernanda Aranda, iG São Paulo |
O escritor Frei Betto já deixou as digitais na luta
contra a ditadura brasileira, no primeiro programa do governo Lula de
combate à miséria, o Fome Zero, e agora é uma das vozes mais atuantes na
briga para vencer um problema de saúde que afeta do sertão nordestino
aos centros urbanos do Sul e Sudeste: a obesidade.
A contribuição dele “à justiça social, aos direitos
humanos e à construção de uma cultura de paz universal” – na definição
da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(Unesco)– foi reconhecida este mês com o “Prêmio Internacional José
Martí”.
Em entrevista ao iG Saúde
, o premiado líder de movimentos sociais e autor de 53 livros responde
como o governo federal deveria atuar para combater o que ele chama de
“fome gorda” brasileira.
Frei Betto ainda define que a atual política de
internação forçada dos usuários de crack – em curso em São Paulo e no
Rio de Janeiro – tem falhas e precisa ser menos “ao estilo Pinochet” (em
referência ao ditador chileno Augusto Pinochet, morto em 2006). Leia a
seguir a entrevista concedida por e-mail.
iG: O documentário Muito Além do Peso, do qual o senhor foi consultor ( leia aqui
), coloca em destaque a obesidade das crianças brasileiras. Atestar que
um país sofre com o excesso de peso significa que a fome foi vencida?
Frei Betto:
De modo algum. Quando eu trabalhava no Fome Zero (2003-2004),
verifiquei que, no Brasil, a fome é gorda. Não encontrava, pelo
interior, crianças esquálidas, magérrimas, como as fotos que vemos da
África. E, sim, crianças barrigudas, cheias de vermes, com distúrbios
glandulares, devido à falta de nutrientes essenciais. Assim, há crianças
e adultos obesos e famintos, pois comem apenas um ou dois alimentos,
como mandioca, o que caracteriza desnutrição.
Nossas
crianças estão sendo envenenadas, e ainda há escolas que abrem suas
portas a redes de lanchonetes, o que é o mesmo que abri-las ao assassino
portando armas
iG: Na criação do Fome Zero, o combate à obesidade
estava contemplado. Nos últimos dez anos, dados oficiais mostram um
crescimento em progressão geométrica dos obesos no País. É preciso um
plano, elaborado pelo governo, para lidar com este aumento?
Frei Betto:
Os dados oficiais demonstram que, em nosso país, 30% das crianças
apresentam sobrepeso, e 15% são obesas. O plano que o governo precisa
estabelecer é proibir a propaganda de alimentos nocivos à saúde da
população, principalmente das crianças, como refrigerantes,
achocolatados, frituras, que contêm excesso de açúcar, gordura saturada e
sódio. Países como o Chile, a França e o Reino Unido já restringem a
propaganda de alimentos nocivos. No Brasil, o que a Vigilância Sanitária
libera o Ministério da Saúde assume, gastando recursos altíssimos com
doenças evitáveis.
iG: Muitos especialistas e instituições creditam à
indústria alimentícia a explosão da obesidade nacional e mundial.
Algumas imposições ao setor industrial sobre a elaboração dos alimentos
já começaram a sair do papel ( veja mais)
. Na sua avaliação, este é o caminho?
Frei Betto:
O caminho necessário é controlar desde a fonte. Primeiro, proibindo a
fabricação de alimentos com alto teor de sódio, açúcar e gorduras
saturadas. Segundo, obrigando as escolas a fazerem educação nutricional.
Na escola aprendemos muito, mas nem todo dia utilizamos o que
aprendemos de matemática, de geografia, de química. No entanto, nos
alimentamos várias vezes ao dia, sem noção da qualidade do que ingerimos
e muito menos da reação do organismo ao alimento ingerido.
iG: A publicidade – infantil e adulta – tem participação e responsabilidade no aumento da obesidade?
Frei Betto:
Muita participação e responsabilidade, porque cria hábitos de consumo
desde os primeiros anos de vida. Está provado que, um alimento
publicitado na televisão e na internet, tem aumento de consumo de até
134%. O massacre publicitário induz as pessoas a comerem pelos olhos, e
não pela barriga.
iG: Na sua avaliação, o País precisa hoje de um programa ao estilo “Obesidade Zero?”
Frei Betto:
Urgentemente, pois aumentam, sobretudo em crianças, casos de diabetes
2, cânceres, alto colesterol, distúrbios glandulares, em função da má
alimentação. Nossas crianças estão sendo envenenadas, e ainda há escolas
que abrem suas portas a redes de lanchonetes, o que é o mesmo que
abri-las ao assassino portando armas. A diferença é que a alimentação
inadequada mata a longo prazo e com mais sofrimento. Uma criança
excessivamente obesa perde a autoestima, a identidade (é chamada de
“gorda”), e fica deprimida.
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