Uma nova série de pesquisas explica por que a maior parte das pessoas volta a engordar depois de fazer dieta. Os quilos extras provocam danos no organismo que parecem irreversíveis
Em outubro, o médico australiano Joseph Proietto publicou um estudo mostrando que, depois da dieta, os níveis dos hormônios que regulam a fome e a saciedade haviam mudado para pior em 50 pacientes que tinham emagrecido. A substância que estimula a fome aumentara no organismo, enquanto a dos hormônios da saciedade tinha diminuído. O organismo dos ex-gordinhos os estimulava a comer mais do que antes de começar a dieta. “Essas pessoas precisam aprender a não se sentir culpadas por ganhar os quilos extras novamente“, diz Proietto.
Os novos estudos sugerem que quem já foi obeso precisará lutar mais contra a balança. Médicos que acompanham um grupo de 10 mil ex-gordinhos americanos que conseguiram manter o novo peso descobriram que o segredo deles é simplesmente comer menos que as outras pessoas – entre 50 e 300 calorias diárias a menos. Os pesquisadores Rudolph Leibel e Michael Rosenbaum, da Universidade Colúmbia, chegaram a uma conclusão semelhante. Pacientes que perderam peso e mantiveram a silhueta esbelta tinham de comer, diariamente, entre 250 e 400 calorias a menos que pessoas que nunca foram gordas. A dose de exercício também precisa ser maior. Estudos sugerem que os músculos de quem já foi obeso se contraem mais devagar e gastam menos energia. Isso significa que as atividades físicas consomem até 50% menos calorias.
As pesquisas parecem desanimadoras, mas trazem um conhecimento importante para terminar com o vaivém constante dos quilos extras, chama-do de efeito sanfona. O recado é que manter-se magro exigirá esforço extra e duradouro. A internet, com ferramentas de emagrecimento ao alcance de um clique, pode ser uma arma valiosa nessa batalha.
O que fazer quando a balança empaca
Como superar o efeito platô, uma das principais causas de frustração na luta contra a obesidade
É uma das maiores causas de frustração durante o emagrecimento. É nesse momento que muita gente desiste de persistir na dieta e na atividade física. Os estudos mostram que o platô pode acontecer em momentos diferentes durante o processo de emagrecimento. Por isso é tão importante saber como superá-lo.
Antes de tudo é preciso ter em mente que o corpo humano é um excelente poupador de energia. Quando percebe que a ingestão de calorias diminuiu, ele se apressa a estocar energia em forma de gordura. A natureza nos fez assim para sobreviver aos períodos de escassez de comida e de frio intenso que poderiam ter exterminado nossa espécie ainda no tempo das cavernas.
“Quando a pessoa começa a emagrecer, diminuem no sangue os níveis de um hormônio que avisa ao cérebro que a quantidade de gordura no organismo chegou ao nível ideal”, diz o médico Ricardo Meirelles, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Esse hormônio é chamado de leptina. Com menos leptina no sangue, o apetite aumenta”, afirma.
É nesse momento que a pessoa não consegue mais seguir a dieta e a balança estaciona. Esse mecanismo dá a dimensão do tamanho do desafio que a pessoa que tenta emagrecer tem pela frente. Emagrecer é lutar contra nossa própria natureza. Quem fracassa não é necessariamente um preguiçoso, sem vergonha na cara, nem amor próprio. Nada disso. É preciso persistir, com inteligência e dedicação, porque a natureza é poderosa.
Persista na dieta: com o tempo, o organismo se acostuma com os níveis mais baixos de leptina e volta a dar sinais de saciedade mesmo que você coma moderadamente. Fuja das dietas milagrosas que provocam efeito sanfona, aquele engorda emagrece que não traz efeitos duradouros. Procure seguir um programa alimentar preparado por nutricionista ou médico. O planejamento da dieta não é coisa para amadores.
Cuidado para não perder músculo demais: dietas que provocam grande perda de peso em pouco tempo levam à perda exagerada de massa muscular. Isso faz o metabolismo ficar mais lento. Mais da metade das calorias são usadas pelo corpo apenas para se manter em funcionamento – mesmo que você não pratique atividade física. Nesse gasto, está incluída a manutenção e sustentação da massa muscular. Se você fizer uma dieta radical, vai perder músculo demais. Resultado: o efeito platô vai se instalar.
Aumente sua massa muscular: Não pense em fazer apenas atividades aeróbias, como caminhada e corrida. Inclua na sua rotina atividades como musculação, Pilates e outras que ajudam a aumentar sua massa de músculos.
Mude sua atividade física: o corpo se acostuma a qualquer tipo de movimento ou estímulo. Isso não significa que seja preciso mudar a modalidade que você pratica a cada mês. Às vezes, mudanças sutis resolvem. Quem faz musculação, por exemplo, pode diminuir o tempo de descanso entre as séries ou aumentar o peso. Quem caminha ou corre na esteira pode mudar a inclinação dela. Quem caminha pode escolher as subidas em vez de ficar apenas num terreno plano.Qualquer alteração ajuda a estimular o organismo
Conte com apoio social: Escreva um blog para contar sua experiência e comemorar os avanços. Entre num grupo que tem o mesmo objetivo. Peça apoio da família ou de amigos. O apoio social ajuda a superar os momentos de fraqueza e de dúvida.
Observe suas emoções: Quando a balança empaca, muita gente desanima. O próximo passo é descuidar da alimentação, perder a disposição para se mexer e recuperar todo o peso de volta. Paciência é fundamental.
Chegamos a um ponto que considero fundamental. Estou convencida de que o que falta aos obesos na luta contra o excesso de peso não é apenas informação. É algo a mais. Esse algo a mais pode ser ter contato com processos mentais inconscientes.
“Perder peso é exatamente isso: uma perda”, diz a psicóloga Patricia Vieira Spada, autora do livro Obesidade e sofrimento psíquico: realidade, conscientização e prevenção (Editora Unifesp). “No lado mais escondido da alma, há uma resistência inconsciente a ter uma vida mais saudável”, afirma.
Esquisito, né? Esquisito como a maioria das emoções que não conseguimos entender, traduzir por meio do raciocínio. Não as entendemos, mas elas continuam a existir e, muitas vezes, a conspirar contra a perda de peso.
Os psicólogos, não tenho dúvida, podem ser grandes aliados no processo de emagrecimento. O trabalho do analista é captar estados emocionais do paciente, traduzi-los para si mesmo e devolver essa interpretação, de uma forma que seja palatável.
Não há uma receita. O profissional fala de sua percepção sobre o que está acontecendo. Diz que aquilo lhe parece tal coisa. Muitas vezes, isso dá condições para que o paciente consiga digerir, processar o que está acontecendo.
“Nossa mente não passa só pela lógica. Aquela conversa fica no inconsciente e vai causando transformações que, muitas vezes, nem o analista, nem o paciente sabe como se deram. O fato é que os pacientes melhoram, estabelecem outra relação com a comida e emagrecem”, diz Patricia.
Sobre o efeito platô, Patricia faz uma observação interessante. “Às vezes, a pessoa não entende que o platô sinaliza que é hora de parar, de respeitar o próprio corpo, que dali em diante não dá mesmo para emagrecer mais. É preciso ter respeito pelo que é possível e não pelo que é desejado”, diz.
Quem quiser saber mais sobre obesidade e emoções pode acessar a entrevista que fiz com ela durante o lançamento do livro. Revirar os escaninhos mais obscuros da mente é um bom caminho para emagrecer com saúde e bem-estar, de forma duradoura e sustentável.
Até a próxima, queridos leitores. Antes gostaria de dividir uma novidade com vocês. Estreamos nesta semana o boletim saúde e bem-estar na Rádio CBN. Todas as segundas-feiras às 15h30, farei comentários, ao vivo, no programa CBN Total, ancorado pela jornalista Carolina Morand.
O tema de segunda-feira será obesidade. Os áudios também ficam disponíveis na internet. Muito obrigada pela atenção de sempre e até o nosso próximo encontro. Agora também nas ondas do rádio...
Ouça o comentário: Como sair do efeito platô e voltar a emagrecer
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)
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