Com mais saúde, beleza e dinheiro no bolso, menos responsabilidades e encanações, uma nova geração descobre que a melhor fase da vida chega aos 50 anos
Quem é mais novo, Pelé ou Maradona? Os dois nasceram no fim de outubro, com 20 anos de diferença. Pelé nasceu em 1940. Maradona, em 1960. Pelé é, portanto, bem mais velho que Maradona. Do ponto de vista da saúde funcional, porém, não. “Pelé tem o organismo de alguém de 50 anos”, diz Toniolo. “Maradona, de alguém com mais de 70 anos, debilitado.” Toniolo apresenta o caso dos dois ex-jogadores para seus alunos para mostrar como o estilo de vida altera a idade das pessoas.
A fórmula já conhecida, com alimentação saudável e exercícios físicos, continua a mais recomendada. O nível de atividade é mais importante que a idade na hora de determinar a boa forma física. Uma pesquisa da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, com 4 mil homens e mulheres, descobriu que alguém de 50 anos que se exercita regularmente pode estar mais em forma que um jovem de 20 anos sedentário.
Até aí, nenhuma surpresa. A melhor notícia vem agora: é possível recuperar o tempo perdido. O empresário Walmir Paulino, de 53 anos, resolveu dar prioridade à saúde quando se aproximou dos 50. Passou a se impor limites no trabalho. Ele entra no escritório todo dia às 6h30. Às 15 horas, segue para os treinos. Durante uma hora e meia, pratica jiu-jítsu e malha com um personal trainer. Todo dia. “Hoje, meu corpo está melhor do que quando era mais jovem”, diz. Alguns encaram novos prazeres. Guiomar Nogueira, uma empresária de 56 anos, aprendeu a esquiar aos 50. “Desde então, vou todo ano com meu namorado, Roberto (de 63 anos). Neste ano, já fomos duas vezes”, diz ela. “Nunca imaginei que faria isso em minha vida. De repente, viajo regularmente e esquio forte. Não vou para passear.”
Cuidar da cabeça é tão importante quanto cuidar do corpo. A pesquisa inglesa Elsa comprova a relação do baixo sentimento de bem-estar com diversos aspectos da saúde. Os pesquisadores criaram dois grupos, segundo a percepção de bem-estar que seus integrantes, com mais de 50 anos, tinham de sua própria vida. Os que relatavam menor satisfação com a vida sofreram 70% mais acidentes vasculares do que os que contavam maior prazer em viver. A obesidade em quem tem menor satisfação com a vida é de 27% entre os ingleses. Entre aqueles com maior satisfação, é de17%.
A menopausa é um fenômeno recente. Há 100 anos, a maioria das mulheres morria antes dela. Durante a menopausa, a produção dos hormônios estrógeno e testosterona despenca. Isso prejudica a libido e a lubrificação da vagina, além da saúde dos músculos e ossos. A redução dos hormônios nos homens é mais suave, mas também ocorre. A diminuição do hormônio masculino (testosterona) gera o mesmo tipo de efeito, em menor intensidade. Doenças como hipertensão, diabetes e depressão, mais comuns a partir dos 40 anos, podem causar problemas de ereção.
O acesso à informação e os avanços da medicina podem atenuar a maioria dos sintomas causados pela idade. “Hoje, as pessoas sabem que precisam se cuidar, fazem exames periódicos e a reposição hormonal quando é o caso”, diz Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos de sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “Com esses cuidados, é possível ter uma vida sexual com mais qualidade do que quando mais jovem.”
Por isso, uma cabeça bem resolvida pode ajudar a vida sexual. Duas em cada três pessoas com idade entre 47 e 53 anos dizem que sua vida sexual melhorou com a idade, segundo um levantamento da agência de marketing Rino com 230 entrevistados. “Com a maturidade, a pessoa conhece seus limites e está mais em paz com eles”, diz Carmita. “Esse estado contribui para a melhora na qualidade do sexo.”
A mensagem | |
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Para quem chegou lá Aos 50 anos, estamos no auge da vitalidade física e mental Para quem quer chegar É fundamental fazer exercícios, cuidar da saúde, das relações pessoais |
Nos EUA, o número de pessoas com mais de 55 anos que usam sites de relacionamento aumentou 39% nos últimos três anos, de acordo com a empresa Experian Hitwise. No Brasil, há sites do tipo dedicados a quem tem mais de 45 anos, como o Coroa Metade. Na A2, uma das maiores agências de encontros do Brasil, os homens tradicionalmente procuram mulheres de dez a 15 anos mais jovens. As mulheres preferem homens da mesma faixa etária, com situação financeira estável. A nova tendência é o interesse de homens mais novos por mulheres mais velhas. “A mulher é muito desejável e tem qualidades que as mais jovens não costumam ter. São compreensivas, acolhedoras e se entregam mais ao relacionamento”, diz Claudya Toledo, dona da agência. “Os homens mais jovens veem isso como uma vantagem.”
A psicóloga Cybele Sisternas Di Pietro, de 55 anos, foi casada duas vezes e está separada há quatro anos. Cybele faz aulas de dança, malha todos os dias, recebe massagem modeladora e diz ter feito plástica no rosto. “As pessoas me acham mais nova do que sou”, diz. “Acabo atraindo homens mais jovens.”
A nova fase dos 50 anos ganhou um apelido. É a segunda adolescência. A falta de regras estabelecidas de conduta para cinquentões os leva a se entregar a uma reinvenção, como a ocorrida na transição da puberdade para a idade adulta. “O maior impacto é nas mulheres”, diz a escritora americana Suzanne Braun Levine, autora de A reivenção dos 50 e How we love now (Como amamos agora) “Aos 50, elas não sentem a pressão de corresponder a tantas expectativas da sociedade, como criar filhos pequenos e trabalhar ao mesmo tempo, ou ter o corpo perfeito e sexy.” Elas reajustam seu lugar no mundo de acordo com o que é importante para elas (e não para o marido ou os filhos), adaptam suas expectativas de vida à realidade e se sentem mais responsáveis pela própria felicidade.
Em outros casos, a estrutura familiar é alterada de forma diferente: com a chegada de bebês. Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção, 47% dos pretendentes a adotar uma criança ou adolescente no Brasil têm entre 41 e 50 anos. A artista plástica Gilsia Dolfini Gonçalves, de 49 anos, e o marido, Ricardo Gonçalves, militar de 53, faziam parte dessa estatística até dois anos atrás, quando conseguiram adotar dois irmãos, de 8 e 11 anos. O casal já tinha dois filhos adultos, de 23 e 19. “As crianças me fazem ter mais energia, eu me sinto até mais jovem”, diz Gilsia.
O relacionamento entre os avós de 50 com seus netos também mudou. “Muitos não querem ficar em casa cuidando dos netos ou não podem fazê-lo porque ainda trabalham”, diz Karen Marcelja, mestre em gerontologia pela PUC-SP. “As pessoas preferem ver os netos no fim de semana, quando dá tempo.”
Há carreiras em que os cinquentões ainda são vistos com preconceito. É o caso de tecnologia. “Alguns jovens dessa área se recusam a aceitar o sênior”, diz Leyla Nascimento, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, do Rio de Janeiro. “As mudanças nessa área são muito rápidas. Os jovens se sentem mais antenados.” Na área de engenharia, em contrapartida, o profissional experiente de 50 é valorizado e cobiçado. “Há tamanha escassez de mão de obra qualificada, que as empresas estão chamando seus aposentados a voltar a trabalhar como terceirizados ou funcionários”, diz.
Ter autonomia e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é uma das questões mais valorizadas pelos cinquentões. Em busca de mais liberdade, muitos se arriscam a empreender depois dos 50. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), produzida pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Pesquisa (IBQP), a taxa de empreendedores entre 55 e 64 anos cresceu 5,5% em 2011. O administrador de empresas Dilson Santos, de 49 anos, é um deles. Ele viveu uma rotina frenética de trabalho dos 25 até os 46. Era diretor-geral de uma multinacional e passava metade do ano viajando. “Perdi aniversários dos meus filhos. Não tinha tempo para nada e estava sempre cansado”, diz. A rotina estressante fez o casamento de 18 anos ir por água abaixo. “Resolvi mudar meu estilo de vida e abrir uma empresa de consultoria.” Hoje, Dilson consegue participar da vida dos filhos e se casou pela segunda vez. A saúde e o lazer se tornaram prioridades. Ele frequenta a academia três vezes por semana e tira férias três vezes ao ano. “Minha vida está muito melhor agora do que aos 30. Sei dar valor às pequenas coisas.”
CULTURA E CONSUMO
Em 2006, a agência de publicidade Talent batizou um estudo sobre os cinquentões com o nome “A idade do poder”. Quem está nessa faixa etária tem potencial enorme de consumo. “Essa virada da atitude dos mais velhos já ocorria na Europa e nos Estados Unidos há algum tempo, e agora podemos vê-la no Brasil”, afirma Paulo Stephan, diretor-geral de mídia da agência. No passado, quando o brasileiro chegava aos 50, entendia que a vida estava perto do fim e começava a se preparar para isso. “Mesmo com o crescimento da expectativa de vida, essa atitude psicológica demorou a mudar”, diz Marcos Bedendo, professor de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “O marketing também pensava assim e acreditava que quem tivesse mais de 50 não queria mais investir em sua casa, numa viagem, num carro novo ou na própria aparência.”
Hoje, a situação é diferente. “Eles não se preocupam mais com a criação dos filhos e já têm uma infraestrutura construída, com casa própria, carro quitado e dinheiro para gastar com entretenimento, diversão e lazer”, afirma Marcos. As empresas dão atenção especial a identificar o perfil desse consumidor. Estima-se que, só nos EUA, os nascidos entre 1946 e 1964 gastem US$ 2 trilhões anuais. Estão entre os maiores compradores de artigos de alta qualidade. São o grupo que consome turismo e curte gastronomia. Um terço janta fora pelo menos uma vez por mês. De acordo com dados da Embratur, viajam mais do que pessoas de outras idades e em qualquer época do ano.
Os hábitos culturais dos cinquentões não têm mais a ver com idade. Quem curtia heavy metal aos 30 continua indo a shows aos 50. Eles se misturam com facilidade a gente de diferentes idades. Mas também não querem ser estereotipados como garotões, afirma Yara Rocha, gerente de planejamento da Talent. “Querem que a maturidade que construíram ao longo do tempo seja atribuída a eles, e não renegada”, afirma.
Na moda, essa mudança ocorreu de forma rápida. Há três décadas, era comum a segmentação de estilos por idade. Isso praticamente não existe mais. Homens gostam de usar camisetas e tênis, mesmo aos 70 ou 80 anos. “As roupas eram delimitadoras. Restringiam as mulheres menos jovens a um guarda-roupa sóbrio e austero”, afirma Maria Eduarda Di Pietro Quero, da grife de roupas femininas Folic. “Hoje temos peças decotadas e coloridas para mulheres de todas as idades. O que importa é quanto a pessoa se sente bem dentro dela.”
O segredo da longevidade
– Foi provado que as plantas também sentem. Brócolis não gritam ao ser cozidos?
Frangos, afirmam, são criados à base de hormônio. Só podem fazer mal. É preciso ter cuidado com alimentos transgênicos, também. Não se sabe o que podem causar ao corpo humano. Enfim, a relação dos perigos alimentares é imensa. Passa pelo sorvete, pela batatinha frita e pelo refrigerante, como se fosse possível sobreviver sem eles. A única forma de garantir a longevidade, pelo menos dos ratos testados nesse determinado experimento, é comer o mínimo. É contraditório. Se eu vivesse em eterno regime morreria de tristeza.
Acredito nos pesquisadores de alimentos, médicos, nutricionistas. Mas fico pensando. Minha avó paterna, Rosa, era uma simples imigrante espanhola. Trabalhou na terra. Criou porcos, galinhas e cabritos. E comeu todos eles. Teve uma vida longa e saudável – morreu quase aos 90 anos. A mãe de meu amigo Vicente come churrasco, não dispensa uma feijoada e uma caipirinha. Já vai virar os 90 e ainda viaja todos o fins de semana. Certa vez comentei com ele:
Já conheci vários idosos que passaram a vida comendo ovo frito, bolo feito com banha de porco e torresmo. E outros que tremiam de horror diante de um bife, seguiam uma dieta repleta de restrições e adoeceram gravemente muito cedo. Não sou médico nem nutricionista. É simplesmente minha observação sobre a vida. Estive uma vez em Veranópolis, na Serra Gaúcha. É a capital nacional da longevidade. Pais com mais de 100 anos convivem com filhos de 80. Não há uma dieta especial. Tomam, sim, muito vinho produzido na região. De resto, aproveitei para encher a barriga com um doce típico de todo o Sul: cueca virada. São rosquinhas fritas na banha de porco e polvilhadas com açúcar. Uma bomba de colesterol. Então, por que seus habitantes estão tão bem?
Tenho um acupunturista, Alberto, de origem oriental, que é supercioso quanto ao que se come ou não. Falar em leitão pururuca na sua frente é igual a dizer palavrão. Quando estive no Japão, há dois anos, descobri que Okinawa, de onde veio sua família, é um dos lugares com maior longevidade do mundo. Muitos estudos têm sido realizados para decifrar os segredos de seus habitantes, que ainda andam de bicicleta aos 120 anos. Bem, a dieta local tem muito peixe. E... carne de porco!
Quando toquei no tema com Alberto, ele me mostrou um livro enorme, em inglês. Era um estudo sobre a Dieta de Okinawa. Observei os gráficos de alimentação. Carne de porco, sim. E muita! “Mas você vive me alertando que carne de porco faz mal!”, disse eu. “Os estudos ainda não são conclusivos”, respondeu ele. Em seguida, me mandou deitar. Mantive um prudente silêncio enquanto me espetava com as agulhas.
O segredo da longevidade não pode estar numa simples relação de alimentos. No Cáucaso, não se vive muito também, com uma dieta à base de uma espécie de leite fermentado? O que há em comum entre Okinawa, o Cáucaso e Veranópolis?
Só pode ser o estilo de vida. São lugares onde as pessoas passam a existência mais calmamente, com tempo para se relacionar e desfrutar a vida na comunidade. Sem excessos: comer bem é uma coisa, sair rolando da mesa é outra. Viver sob o jugo de “dietas saudáveis” talvez seja mais perigoso que desfrutar os prazeres da mesa, sem medo de ser feliz. Humm... daqui a pouco vou me acabar numa feijoada! E, agora, sem remorso.
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