Dizem que para emagrecer é preciso parar de pensar como um gordinho. Isso tem seu fundo de verdade...
Envolvido em praticamente tudo que acontece no corpo, o cérebro não poderia ficar de fora do processo que faz os ponteiros da balança se mexer. Ele é palco de 2 fenômenos envolvidos na perda e ganho de peso, o psicológico e o fisiológico. Os dois, certamente têm seu peso, sem trocadilhos. Tanto a cascata de hormônios que age sobre o órgão, quanto aspectos comportamentais e como a pessoa lida com a comida, interferem no processo de emagrecimento. O processo fisiológico da química cerebral é razoavelmente conhecido, o hipotálamo é uma região do cérebro que centraliza as informações recebidas da periferia do organismo em relação ao estado de alimentação e quantidade de reservas corporais de gordura, regulando a ingestão e o gasto calórico.
A cada dia os pesquisadores entendem um pouco mais esse mecanismo. Sabe-se que as informações sobre a saciedade chegam ao cérebro por meio de hormônios, um dos principais é a leptina. O problema é que muitas vezes o cérebro ignora parte dessa substância. Foi o que mostrou um estudo realizado em 2007 por pesquisadores da Universidade de Ciências e Saúde do Oregon, EUA. Eles perceberam que a quantidade de leptina circulante em obesos é igual ou maior do que a de pessoas com peso normal, então não seria por falta dela que o cérebro deixaria de entender que é hora de parar de comer. Estudando o órgão de ratos gordinhos foi descoberto que faltava no cérebro deles receptores para o hormônio leptina. Ou seja, o ganho de peso pode ter, e muito provavelmente tem, um fator estrutural (da conformação do próprio organismo).
Fatores externos, como alguns alimentos, também influenciam no funcionamento cerebral. É o caso daqueles ricos em gorduras. Um estudo divulgado em setembro deste ano e realizado no Instituo de Obesidade e Diabetes Monash, na Austrália, comprovou isso. Os cientistas observaram que uma dieta rica em gorduras pode isolar o cérebro como se fosse uma verdadeira barreira, evitando que ele receba os sinais que vêm do corpo avisando que é hora de parar de comer. Com dietas muito gordurosas, o ógão fica incapaz de detectar os sinais que já há energia suficiente no organismo e de controlar a queima de gordura.
Esse estudo, assim como outros, reforça que perder peso não é apenas uma questão de força de vontade. Muitas vezes é preciso lutar contra processos fisiológicos. A ciência ainda não sabe como mexer na fisiologia cerebral, e embora várias drogas redutoras de apetite caminhem nessa área, elas não funcionam para todos. Então, um segundo caminho é tentar interferir no aspecto comportamental que envolve a ingestão do alimento. Na verdade a fisiologia e o comportamento andam bastante colados. Para ter um exemplo de como isso funciona, basta entender o papel que os glicocorticóides exercem: eles são hormônios que incluem o cortisol e ativam um processo fisiológico cerebral que afeta o desejo por comida a partir de uma necessidade psicológica. Sob condições de stress, os glicocorticóides disparam a necessidade pelas chamadas "comidas de conforto" (ricas em gorduras e açúcar). Outra substância indiretamente envolvida no processo é a serotonina - o hormônio do prazer - que quando estamos ansiosos diminui, causando aumento da vontade de comer carboidratos, que acabam aumentando os níveis de serotonina. Comer demais não é considerado um vício pelos especialistas, mas não se pode negar que há compulsão envolvida. Acredita-se que conhecendo o processo é possível ensinar o cérebro a emagrecer. O 1o e importante aprendizado é o de não comer quando ou porque se está estressado...nem sempre a pessoa consegue se controlar sozinha e para isso usa-se a chamada "programação neurolingüística" que reprograma mentalmente o indivíduo para comer alimentos saudáveis na hora e lugar certos. A fórmula ancestral para emagrecer ainda é a de comer menos do que o organismo gasta, o problema é que quando tentamos fazer isso o cérebro luta contra tentando balancear esta equação e acaba por aumentar intensamente o desejo por alimentos calóricos ou por reduzir o metabolismo energético basal para preservar energias. Outra dica importante é a de fracionar refeições, pois assim os hormônios sinalizadores transmitem com mais freqüência a informação de saciedade do que a de fome para o cérebro.
Outras técnicas estão sendo desenvolvidas para ensinar o cérebro a comer menos. O método Ravenna, criado pelo médico Máximo Ravenna, é baseado no corte do consumo excessivo de alimentos e controle da compulsão. Ele afirma que há uma oferta enorme de todos os bens nos dias atuais, inclusive de alimentos, tornando-se fácil consumir o que não se precisa e acredita que assim como existem as drogas de abuso existem as "comidas de abuso" que são consumidas para estimular os neurotransmissores responsáveis pela sensação do prazer. Ter consciência desse papel secundário da alimentação é fundamental para que a pessoa controle a ingestão de guloseimas, afinal ninguém morre de prazer ao comer brócolis. A autora do livro 'Reeduque seu cérebro, remodele seu corpo', uma médica americana, propõe métodos para melhorar o desempenho cerebral em vários aspectos, inclusive na perda de peso. Ela acredita que para emagrecer é preciso identificar quais fatores emocionais influenciam na dieta e preparar-se para prevenir essas situações...assim a pessoa consegue comer só um biscoito e não uma caixa deles.
Seguem algumas dicas para ensinar o cérebro a comer menos:
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não coma quando estiver muito nervoso ou estressado, pois nessa situação você optará por alimentos mais calóricos ricos em açúcar e gorduras;
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fracione a alimentação, assim seu cérebro receberá ao longo do dia mais sinais de saciedade;
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tome consciência de quando está comendo por necessidade e quando é apenas por prazer, esse último não é proibido, mas não deve acontecer com freqüência;
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evite contato visual com um alimento que desperte sua tentação, é fato que se você entrar em padarias e docerias vai ficar pensando e desejando aqueles doces expostos por dias.
Fácil? Não, não é.
Mas a recompensa vem na balança e na saúde!
Dra. Priscila Rosa Pereira.
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