Presidente da Graco |
Pessoas com problema de obesidade mórbida estão fazendo exames médicos no Jockey Club Brasileiro, na Gávea, Zona Sul do Rio, utilizando equipamentos usados para examinar cavalos. A denúncia foi feita pelo Grupo de Resgate à Auto-Estima e Cidadania do Obeso (Graco) na manhã desta terça-feira (03), durante um protesto na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Em nota oficial, a Secretaria de Estado da Saúde admitiu que os pacientes são enviados para o Jockey porque não há equipamento adequado na rede pública.
A presidente do Graco, Rosimere Lima da Silva, explicou que os hospitais da rede pública de saúde não possuem equipamentos nem infra-estrutura para atender os obesos. Por isso, eles são encaminhados ao Jockey Club, pois, segundo ela, “os equipamentos do local têm a capacidade de fazer exames em animais de grande porte.”
“Os hospitais da rede pública não possuem equipamentos apropriados para fazer exames médicos em pessoas obesas porque a camada de tecido adiposo deles é mais grossa do que o normal. Por isso, exames como ultra-sonografia e tomografia, feitos nos hospitais públicos, não conseguem um diagnóstico preciso. Os pacientes que não podem pagar as clínicas particulares, que possuem toda a infra-estrutura apropriada, têm que se submeter a orientação dos médicos da rede pública, que indicam o Jockey, pois o local possui equipamentos para animais pesados. Isso é um absurdo”, disse.
Segundo a psicóloga do Graco, Déborah Bianca Dias de Carvalho, a auto-estima dos obesos, já fragilizada pela enfermidade, fica ainda mais prejudicada quando eles são orientados a fazer os exames no Jockey.
“A sociedade já não enxerga os obesos como pessoas normais. O exame médico realizado no Jockey Club reforça a crença negativa que eles têm de si mesmos. De certa forma, eles são tratados como animais, o que acaba com a auto-estima deles. A falta de amor próprio faz com que muitos deles, inclusive, se tornem alcoólatras ou comecem a usar drogas”, contou.
Grande parte dos exames é para avaliar se os obesos estão aptos a fazer a cirurgia de redução de estômago. Atualmente, segundo a presidente do Graco, somente um hospital realiza a cirurgia no Rio de Janeiro através do Sistema Único de Saúde (SUS), que é o Hospital de Ipanema, Zona Sul do Rio, onde a fila de espera tem mais de quatro mil pessoas.
Alguns estão esperando há sete anos para fazer esta cirurgia, como é o caso de Sebastião Alves Pereira, 52. Ele explica que não consegue fazer os exames porque os hospitais da rede pública não possuem equipamentos apropriados que consigam fazer o diagnóstico em pessoas obesas.
“A última vez que eu trabalhei foi em 1996. Desde então recebo uma pensão de R$ 150, que não dá nem para fazer a dieta recomendada pelos médicos. Todas as vezes que tentei fazer exames, as máquinas falharam. Acho que tenho direito a um tratamento decente”, disse, ressaltando que não fez exames no Jockey.
Membros do Grupo de Resgate à Auto-Estima e Cidadania do Obeso (Graco) fizeram uma manifestação na manhã desta segunda-feira (2) na escadaria da Assembléia Legislativa, no Rio. Além da questão dos exames feitos no Jockey Club, eles protestaram quanto à falta de adequação das instalações hospitalares da Rede Pública de Saúde para os obesos.
“A maior parte das macas não suporta o peso dos obesos, como também as cadeiras de rodas. Os equipamentos não conseguem fazer exames neles. Enfim, eles estão sendo tratados com descaso por parte das autoridades. Isso tem que mudar”, disse a presidente do Graco.
Após o protesto, foi realizada uma audiência pública na Assembléia Legislativa para discutir os problemas dos obesos no Rio de Janeiro.
A Secretaria de Estado da Saúde, através da assessoria de imprensa, esclarece que os hospitais da rede pública encaminham ao Jockey Club apenas “os casos em que há necessidade de realização de tomografia”.
“Isso porque os pacientes não cabem nos tomógrafos convencionais, que suportam no máximo 120 quilos”, informa a assessoria do órgão.
A secretaria ressalta que pacientes de planos privados de saúde, bem como da rede municipal, são igualmente encaminhados para a realização da tomografia no Jockey. No caso do Estado, o paciente vai com um profissional da rede, que acompanha a realização do exame.
No entanto, a reportagem do G1 entrevistou parentes de pacientes que fizeram exames em clínicas particulares que possuem equipamentos apropriados para examinar os obesos
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