O condicionamento do paladar aos alimentos saudáveis é fundamental para incorporar uma dieta com escolhas saudáveis. Com o tempo, a ingestão constante de produtos industrializados prejudica a percepção dos sabores e pode criar uma preferência por alimentos salgados ou doces demais.
“A indústria de alimentos se apropria das características naturais dos alimentos e as torna exacerbadas”, aponta o nutricionista Rafael Claro, pesquisador do departamento de nutrição da USP.
Isso é feito, diz ele, justamente para conquistar a preferência do consumidor. “Uma cenoura é crocante e salgada, ela tem essas características com determinada intensidade que não muda. Já os alimentos industrializados podem se tornar mais crocantes e mais salgados”, compara.
Como resultado, a cenoura passa a ser menos interessante ao paladar. “Parece algo sem gosto”, diz ele. No pior dos cenários, a pessoa simplesmente abandona hortaliças e frutas pela falta de atrativos ao paladar. E mesmo quando elas são mantidas no cardápio, o modo de preparo também pode colocar a saúde em risco.
Para compensar a falta de atrativos naturais do alimento, o preparo deles passa a levar sal ou açúcar em excesso. “Não é apenas uma questão de sabor, mas também cultural. O sal, no nordeste, já foi muito usado como conservante de alimentos”, aponta a nutricionista Maria Elisabeth Machado Pinto e Silva, pesquisadora e professora da USP.
Essa busca por um sabor mais intenso nos alimentos não é exclusividade de grupos específicos, ela pode atingir qualquer pessoa. “Já fizemos estudos e verificamos que a sensibilidade de obesos é igual ao de pessoas sem excesso de peso”, aponta a Maria Elisabeth. A questão não está na sensibilidade, e sim na preferência do paladar.
O uso excessivo do sal nos alimentos pode aumentar a pressão arterial. Dependendo de quanto a pressão subir, a pessoa passa a enfrentar um quadro de hipertensão arterial, doença que atinge quase 25% da população. Em mulheres que buscam uma gravidez, risco é ainda maior. A pressão alta é um dos principais fatores para pré-eclampsia.
Mas existem estratégias para reduzir o sal do alimento, em mais de duas pitadas por dia, sem comprometer a intensidade do sabor. “A pessoa pode usar truques saudáveis”, recomenda Claro.
Ele cita o uso de alecrim, cebolinha, coentro, salsinha, orégano, limão, manjericão, cominho e hortelã. Tais temperos fazem a diferença para a saúde e são recomendados por cardiologistas.
Maria Elisabeth explica que o uso dos temperos faz parte de um processo de reeducação alimentar, no qual a pessoa deve saber os benefícios de sua mudança de hábito e buscá-los para ter reduzir o risco de problemas associados à alimentação inadequada.
Contudo, a especialista alerta que mudanças radicais podem ser difíceis demais para a pessoa sustentar por muito tempo. Ela prefere as mudanças graduais e feitas com base nas preferências da pessoa. “Não adianta incluir alimentos amargos caso a pessoa não goste”, exemplifica.
Regular a dose de açúcar nos alimentos também não é tarefa fácil. Os especialistas recomendam substituir o açúcar refinado por outras variações, como açúcar mascavo ou adoçante. Contudo, há mudança no sabor.
Uma alternativa é misturar os açúcares na elaboração de receitas caseiras até acostumar o paladar com o novo sabor. Vale lembrar que a ingestão exagerada de açúcar está ligada a problemas como excesso de peso e diabetes, doença que avança no país.
Fonte: IG .