"Desisti da bariátrica no dia da cirurgia e emagreci 55 quilos", conta jovem que superou a obesidade
Jornalista traçou sozinha plano para atingir o peso ideal
— Minha cirurgia estava marcada para o dia 31 de março de 2008. E eu ficava me perguntando se era isso que eu queria para mim. Passaria por um procedimento arriscado e que não é uma garantia concreta de mudanças, pois muitos voltam a engordar depois, já que não adquirem novos hábitos de vida. Decidi que não era o meu estômago que precisava de uma cirurgia. Era o meu cérebro. No dia da operação, liguei para a equipe médica e os dispensei. Naquela hora, começou a reeducação alimentar que mudaria minha vida — lembra, orgulhosa.
Casada desde cedo, Aline teve a primeira filha aos 19 anos. Durante a gestação engordou 33 quilos. Aos 21 anos, ela teve o segundo filho e chegou aos 90 quilos. Em seguida, ela começa a trabalhar pela primeira vez.
— Eu tinha um defeito. Me punha sempre em segundo plano. Era mãe dedicada, profissional competente e reconhecida. O tempo foi passando e eu fui ganhando mais peso e fingindo que nada estava acontecendo. Não me dava conta de que precisava cuidar de mim mesma. Eu era aquele tipo de gordo que não acha que é gordo. Houve épocas em que eu preferia não me enxergar — afirma, lembrando que por um longo período parou de se olhar no espelho, não permitia que a fotografassem e mentia o peso quando era indagada.
Aline conta que, no entanto, saiba que precisava emagrecer e por isso recorreu a todas as possibilidades, inclusive a "dietas absurdas" onde parava de comer determinados grupos de alimentos para acelerar a perda de peso.
— Essas dietas não se sustentam, pois a pessoa não consegue ficar muito tempo sem comer. E não tem jeito. Não há mágicas. Independente do que se faça, a pessoa precisa estar emocionalmente motivada e preparada — aconselha.
Na busca por novas alternativas, Aline leu livros, passou por spas e por diversos consultórios, inclusive psiquiátricos e psicológicos.
— Meu desespero era tão grande que eu tomava qualquer coisa que me dessem. Inclusive tomei um remédio que era indicado para psicóticos e que tem como efeito colateral a anorexia. Ele me deixava completamente dopada e sem ação — conta.
Nada disso, porém, solucionou o problema e uma novidade no mercado seduziu Aline: a cirurgia bariátrica, que prometia uma perda de peso de forma mais ágil a partir de um procedimento que diminui o tamanho do estômago do paciente.
— Corri para o consultório médico. Participei de palestras, fiz as entrevistas necessárias com o psicólogo e com o nutricionista. Tudo certo, paguei a primeira parte da cirurgia, que seria particular. Mas, então, comecei a investigar qual era o procedimento pelo qual passaria. E, definitivamente, eu não queria aquilo para mim — recorda.
Quando as coisas começaram a mudar
Aline lembra que para desistir da cirurgia fez um pacto consigo mesma. Primeiro, não contaria para os conhecidos que não tinha feito o procedimento e também não faria mais dietas. Iria em busca de uma reeducação alimentar que lhe desse, além da perda de peso, mais saúde, disposição e auto-estima.
— Eu ia para a cozinha como uma alcoólatra e chorava, tremia como se passasse por crises de abstinência. Mas eu precisava perseverar e espalhei espelhos por toda a casa. Comprei uma balança, que até hoje é uma grande amiga, e comecei a me pesar todos os dias — revela.
Como estava muito acima do peso, Aline preferiu não ir para a academia. Montou uma em sua própria em casa e começou a malhar todos os dias, além de fazer sessões de massagens para diminuir as medidas. Dentro de sete meses, prazo para a cirurgia mostrar seus resultados, as mudanças no corpo de Aline eram perceptíveis por todos, sem que para isso ela tenha precisado passar por qualquer procedimento médico.
— Me pesar diariamente é essencial. Foi só assim que comecei a entender as mudanças e as nuances do meu corpo. Foi com ajuda da minha amiga balança que passei a amar e respeitar o meu corpo — afirma, bem-humorada.
Ela conta que antes da reeducação alimentar, seu manequim era 54 e que calçava 38. Hoje, seu manequim é 38 e seus sapatos oscilam entre o 35 e o 36.
— Meu sonho era um dia poder entrar na Renner e comprar um jeans 44. Não sei nem descrever a emoção que senti no dia que pude fazer isso. Naquela hora, eu vi que tudo valia a pena.
Após chegar ao manequim 44, Aline decidiu que era hora de passar por uma plástica. Investiu os R$ 18 mil que pagaria pela bariátrica em outro procedimento que a deixou muito mais satisfeita com o resultado. E se antes a compulsão era comer, hoje seu "vício" é outro.
— Atualmente minha coleção de biquínis tem quase 50 peças. Recentemente estive em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, comprei vários modelos e desfilei eles por lá mesmo — afirma.
Desde o começo, ela conta com o apoio incondicional dos filhos, que também estavam um pouco acima do peso e entraram com ela na dieta. Hoje, os três frequentam a mesma academia e a comida servida na casa é a mesma para todos. No entanto, a decisão de Aline de revolucionar o próprio estilo de vida mexeu com o esposo, que no início gostou da decisão de desistir da cirurgia, mas ficou um pouco inseguro quando ela começou o regime e temeu perdê-la depois que ela estivesse em forma.
— Eu o amo. Ele é perfeito. Ele foi meu companheiro fiel nessa jornada. Antigamente, eu tinha vergonha das calcinhas "pandorga" que precisava usar. Hoje posso usar uma peça mais ousada e me sentir bem, bonita e nossa relação está mais forte que nunca — conta.
Atualmente, Aline tem um blog (http://vidadespa.blogspot.com/) onde partilha suas experiências com outras pessoas que passam pelo mesmo problema. Chega a trocar de dezenas de e-mails com seus leitores, promove encontros pessoais e organiza grupos de caminhadas motivacionais no Parque da Redenção, em Porto Alegre.
Sempre ambiciosa, ela tem uma nova meta. Quer chegar ao manequim 36 e dar por encerrada essa jornada. Ninguém duvida de que, em breve, ela vai chegar lá.
Palavra de especialistaPor Julia Dubin Melnick
Aline é mais que um exemplo a ser seguido, ela é motivação. Infelizmente, vejo que as pessoas estão, cada vez mais, em busca de milagres. Cirurgias, medicações, ervas, dietas da moda. Tudo, menos mudar o estilo de vida. Por algum motivo, as pessoas preferem se operar e correr riscos a se alimentar melhor.
A reeducação alimentar é vista como um monstro para alguns e com algo inatingível para outros. Porém, isso não é a verdade, como mostra Aline. Este processo é algo que acontece de dentro para fora. Que a pessoas faz por si e para si. Com determinação, força, auxílio de parentes e amigos e, principalmente, vontade, se consegue, sim, chegar ao objetivo.
O mais difícil é se dar conta que a única maneira de chegar lá, é aceitar que precisamos mudar e que somos os únicos prejudicados pelo sobrepeso. Além disso, temos que lidar com o fato de que, por mais que todos simpatizem com a causa, quem sofre mesmo é o paciente, e que, no final, é ele que tem que mudar e não esperar que os outros façam algo por ele.
A verdade, como mostra Aline, é que o primeiro passo é a decisão interna de mudar, e o segundo: começar. Você também consegue. Comece: decida que está na hora de mudar. E, depois, faça: adote hábitos saudáveis e positivos para a sua vida.
Parabéns, Aline. Por tudo. Fico feliz em saber que você mudou a partir da sua força de vontade, sem precisar de muletas para isso. Desta maneira, com certeza, logo, logo te veremos desfilando teu jeans 36.
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2011/02/desisti-da-bariatrica-no-dia-da-cirurgia-e-emagreci-55-quilos-conta-jovem-que-superou-a-obesidade-3219915.html
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