Rev. SBPH vol.14 no.1 Rio de Janeiro jun. 2011
Morbid obesity: a body of evidence and helplessness
Sheyna Cruz Vasconcellos*,I; Karine Rodrigues Sepúlveda**,II
I Serviço de Psicologia do Complexo HUPES
II UTI Geral e Interconsulta do Hospital da Bahia
RESUMO
E
o corpo está em evidência. Na contemporaneidade, assistimos ao novo
engendramento das subjetividades no qual o corpo ocupa lugar
privilegiado. Entra em cena, a obesidade mórbida, patologia complexa,
multifatorial que exige um tratamento articulado com um conjunto de
especialidades. O obeso, com seu corpo "excessivamente cheio" aponta
para o mal-estar, denuncia os ideais sociais exigidos e demonstra na
carne que não se pode escapar às marcas de determinada cultura. Sabe-se
que qualquer tentativa de reduzir o sofrimento mental a um fenômeno
passível de ser descrito e encerrado em categorias diagnósticas
universais não corresponde à experiência do sujeito que padece de uma
dor física e/ou moral. É a partir desta articulação significante que a
construção deste caso clínico se assenta. Do geral ao particular das
obesidades, reúne uma discussão acerca da relação do sujeito com seu
corpo que, enquanto natureza simbólica não se domestica, não obedece à
terapêutica médico-cirúrgica e que recobre e exacerba um romance
familiar conflituoso.
Palavras-chave: Obesidade mórbida, Desamparo, Corpo, Subjetividade.
Introdução
Quando
pensamos sobre o mal-estar, independente da época social e histórica em
que este se manifesta, nos reportamos, inevitavelmente, ao terreno da
subjetividade. Pois é sempre nesta perspectiva que o mal-estar se
apresenta. Psíquico e somático pode ser traduzido por sofrimento. E é
deste ponto que começamos a delinear o campo onde se inscrevem as
psicopatologias e sobressai o sujeito que sofre.
Na
atualidade, observa-se um novo engendramento das subjetividades. Frente
à ‘cultura do narcisismo’ e a ‘sociedade do espetáculo’, Birman (1999)
discute os propósitos e os destinos do desejo e, dessa forma, o
mal-estar contemporâneo. Hoje, as condições do mundo e os seus
imperativos potencializaram o desamparo e a angústia dos indivíduos.
A
atualidade é marcada por uma turbulência de possibilidades, múltiplas
escolhas, modelos sociais diversificados, dentre outros. Podemos supor
as conseqüências desse instável arranjo social para a vida psíquica do
sujeito contemporâneo? A multiplicidade vem acompanhada de muitos
impedimentos existenciais, oferecendo um arsenal de incertezas ao
indivíduo, terreno fértil para manifestação do dito mal-estar.
Se
na modernidade assistíamos às neuroses, dado o avanço histórico muda-se
o discurso e o cenário atual aponta outras formas de expressão do
conflito do sujeito com o mundo. A psicopatologia atual opera na lógica
do fundamento biológico, a terapia medicamentosa ganha estatuto de
primazia, há uma ênfase nas síndromes e sintomas corporais, na análise
funcional da enfermidade em detrimento da etiologia [...]. Entram em
cena as depressões, as toxicomanias, os distúrbios da alimentação e o
pânico como psicopatologias atuais frente a essa transformação na
problemática do sujeito. Se observarmos, as psicopatologias marcam o
fracasso daqueles que não conseguiram operar sob a égide da ‘sociedade
do espetáculo’, da ‘estetização da existência’ e ‘inflação do eu’.
(BIRMAN, 1999).
As
formas de sofrimento manifestadas pelo homem são indissociáveis das
remodelações do campo social. E, se o mal-estar é intrínseco à
civilização, sempre encontrará formas de expressão diversificadas, em
consonância com o tempo e em linhas de contorno com a ordem social
dominante.
O
obeso, com seu corpo "excessivamente cheio" aponta para o mal-estar,
renuncia ou denuncia os ideais sociais exigidos e demonstra na carne que
não se pode escapar às marcas de determinada cultura.
Discussão em pauta que está em concordância com Campos e Campos (2004):
"A
"obesidade" (grifo dos autores) tem valor significante, melhor seria
dizer que ela tem valor de fala, naqueles sujeitos cuja expressão do
sofrimento se organiza em torno do corpo visível e seu grande volume, em
torno da imposição de sua visibilidade ao mundo ou em torno da relação
com a comida".
Nesta
perspectiva, os autores demarcam a relação das "obesidades" como formas
variáveis de subjetivação do sujeito, formas indiretas de expressar sua
historicidade. Dito de outra forma, não é possível falar de uma
obesidade universal, mas da singularidade de um sujeito, cuja lógica do
comer manifesta a forma como ele interage com o mundo e consigo próprio.
A
Clínica nos apresenta um catálogo de exemplos de que a tentativa de
reduzir o sofrimento mental a um fenômeno passível de ser descrito e
encerrado em categorias diagnósticas universais não corresponde à
experiência do sujeito que padece de uma dor física e/ou moral, que
sofre. Desta forma, tendem ao fracasso e empobrecem a compreensão do pathos humano.
Nesta
perspectiva unívoca, não se contabilizam as ‘facetas do sujeito’ frente
ao seu padecimento. Não insere o ‘colorido’ e o estado ‘preto e branco’
que esse sofrimento psíquico confere ao sujeito que a porta. E mais,
não se reconhece que se esse sujeito se constitui na relação com o
outro, a sua história de vida, os significados construídos no entorno
destas experiências, suas relações familiares e afetivas, o desamparo e a
dor, vividos como único recurso face aos seus desejos e o caos
psíquico, somam, implicitamente, vestígios sobre o dito ‘sofrimento’.
Possivelmente, é a única forma encontrada pelo sujeito para sustentar
sua existência, uma espécie de contrato assinado para atender as
diversas exigências deste mundo contemporâneo que não coexistem
pacificamente com os seus desejos inconscientes.
Obesidade Mórbida
A
obesidade mórbida é recortada por diferentes campos de saber. Médicos,
psicólogos e demais especialidades se ocupam deste objeto, dando-lhe
variados coloridos e significados diversos. Marca-se a complexidade
deste fenômeno.
O
grande interesse das diversas disciplinas sobre a obesidade data da
atualidade. Tempo histórico e social onde este fenômeno transcende
determinado território, cultura, etnia ou classe e se apresenta em
proporções alarmantes, uma epidemia em escala mundial.
Entretanto,
este fenômeno tem registro na humanidade desde épocas remotas.
Marcadamente, com diferentes conotações, proporções e valores. A
obesidade transitou entre os séculos afora por várias categorias
conceituais, sustentada principalmente pela ambivalência. O corpo obeso
fora discriminado e perseguido como também valorizado e signo de beleza.
Problema moral / pecado e conquanto de grande valor estético e social.
Sinônimo de prosperidade, de vício, de preguiça e de tantos outros. Ora,
objeto de preocupação que visava intervenção sobre a gordura e os
excessos do alimento, dos maus-hábitos. Ora o corpo obeso se configurava
como sinônimo de força, de grandeza, presença marcante, de saúde e de
doença. (CAMPOS e CAMPOS, 2004).
Atualmente, a obesidade ganha status de doença crônica, de difícil
tratamento e que exige uma abordagem multidisciplinar na rede de
cuidados. Estamos diante de um fenômeno que engloba fatores genéticos,
metabólicos, sociais, culturais, familiares, psicológicos e que
dificilmente estabelece fronteiras delimitáveis, não se oferece,
facilmente, como objeto passível de medidas.
A
Semiologia Médica tem como um de seus propósitos a identificação e
universalização de signos clínicos que possam favorecer o diagnóstico
das chamadas síndromes. Com isso poderá ter um maior embasamento e
especificidade na prescrição do tratamento a ser adotado. Entretanto, o
que se observa, é uma complexa rede de sinais, signos e sintomas que não
são observáveis ou fogem à qualquer tipo de classificação, não se
submetendo à estatística, apenas se fazendo valer no universo simbólico e
singular de cada ser de linguagem. Dessa forma, a equivocidade se faz
presente mesmo nas síndromes ditas de caráter unívoco. (MARTINS, 2003)
Esta é a realidade da nossa Clínica com obesos, a pluralidade dos
fenômenos e os fenômenos plurais.
Como
equivocidade, este fenômeno compreende várias leituras no campo da
psicanálise. De todo modo, as tentativas de compreensão sobre o sujeito
obeso faz borda na intencionalidade de se compreender a voracidade e o
(des)controle imbricados no comer.
A Cirurgia Bariátrica
Eis aqui uma invenção da medicina moderna que tenta aplacar ou manter ‘sob controle’ os excessos da obesidade.
Para
os especialistas médicos, se trata ora de uma fonte eficaz, capaz de
produzir resultados de emagrecimento e melhoria da qualidade de vida do
seu paciente; ora se apresenta como fonte de frustração, quando se
deparam com o paciente gastroplastizado que retorna ao seu consultório
após dois anos em média de cirurgia, com reganho de peso significativo e
retorno das comorbidades associadas. Compreendem, na prática clínica
continuada que o controle mecânico e restritivo deste aparelho
gastroenterológico não é suficiente para apaziguar "as fomes" que
acometem o sujeito. Há um algo a mais que foge à lógica hormonal da
saciedade provocando sempre um excesso frente ao prato.
Há
nos pacientes que elegem esta modalidade de tratamento como último
recurso possível para emagrecer uma aposta numa resolução mágica, uma
demanda explícita de solucionar as dificuldades de modo rápido e
prático, ou seja, via intervenção cirúrgica. Negligenciam a condição
complexa da sua patologia que não se reduz à esfera fisiológica, que
resiste a responder a um cuidado unilateral e até mesmo os esforços
multidisciplinares têm se deparado com situações clínicas cujos
resultados não correspondem ao "esperado".
Além
de mudança nos hábitos alimentares, promove perda expressiva de peso
que influi diretamente na relação do sujeito com o seu corpo, como se
vê, como é visto. Mudanças estas que ressoam ainda em diferentes âmbitos
da sua vida: afetiva, sexual, familiar, profissional, social, exigindo o
engendramento de recursos psíquicos e de mecanismos adaptativos.
Observa-se
a partir deste recorte que a cirurgia bariátrica deve ser
criteriosamente eleita, associada a um pré-operatório rigoroso que
inclui diversos personagens: paciente – família – equipe
multidisciplinar.
À
medida que o discurso médico se coloca como hegemônico e dificilmente
interrogável pelo status sócio-cultural que presentifica, o número de
cirurgias tem crescido em grande escala. Os pacientes cada vez mais se
apropriam do discurso médico para falar da sua obesidade, como doença.
Isto colabora e exime o sujeito da sua responsabilidade frente à sua
condição. O sujeito se desimplica da sua obesidade e delega que o médico
- representante encarnado ‘do curador’ das doenças - "cure" seu impulso
frente ao prato, que o emagreça. Mas sabemos que o corpo do qual a
medicina se ocupa não equivale ao todo do sujeito e que o corpo como
elemento simbólico não se domestica.
Corpo: Possibilidades Metafóricas?
E o corpo está em evidência. A afirmativa apresenta uma proposital
duplicidade: marca dois excessos. O consumo dos corpos na
contemporaneidade, sua exposição estética e a rigidez do padrão de
beleza vigente, dos ideais de perfeição e do culto a magreza. Por outro
lado, a obesidade mórbida, um corpo em excesso que convida, ou melhor,
obriga ao olhar.
O
corpo nunca foi tão recortado, estudado, posta à prova, reconstruído,
reinventado e manipulado. Vemos claramente o crescimento em escala
ascendente do número de psicopatologias que colocam em evidência esse
corpo. Ainda assistimos a um número expressivo de cirurgias plásticas
que modificam este corpo, uma exposição de corpos na mídia,
possibilidades da engenharia genética de clones, transplante de órgãos,
de células tronco, cirurgias interssexuais, cirurgias bariátricas. Uma
infinidade de aparatos tecnológicos para um corpo, que enquanto natureza
simbólica nem sempre admite medidas.
Ferraz
(2008) nos convoca a pensar que o corpo sobre os qual nos debruçamos na
atualidade, o corpo alvo das manifestações psicopatológicas, não é mais
o corpo da histérica, corpo de representação, sem lesão real no órgão,
desarticulado com a lógica da anatomia fisiológica. Contrariamente à
neurose, há nas psicopatologias atuais uma ligação com o corpo somático.
Como incluir no setting analítico esses corpos obesos, manipulados, adoecidos, escarificados, que se impõem à narrativa?
Os
acontecimentos que tocam o corpo podem ter possibilidades metafóricas
ou se coloca na ordem do hieróglifo, do que não tem sentido ou do que
não pode ser significado? Aquilo que não se fala vai para o corpo?
Assunto psíquico mal resolvido vai para o corpo? Parece-nos que não
necessariamente aquilo que se fala ou se cala. Ambos promovem efeitos,
marcas, inscrições que passam neste corpo. O corpo vai junto com o que é
possível dizer e com o que não se pode dizer.
Volich
(2002) corrobora a idéia de que não há corpo inume à sua história,
intocado, sem marcas produzidas pelo tempo, pela transmissão geracional,
pela vida.
"...Muitas
vezes, diante do sofrimento e da perda, entre o vazio e a palavra, o
corpo se vê convocado. Inscrevem-se ali os prazeres, os encontros
felizes e gratificantes, mas também as dores, as perdas, as separações,
mais difíceis de serem compartilhadas. Entre o real e o imaginário,
inclina-se muitas vezes o corpo à exigência de conter o sofrimento
indizível, de suportar a dor impossível de ser representada". (p.227)
Como
possibilidade de compreensão, dos corpos opulentos, marca assertiva da
obesidade, podemos indicar a prerrogativa de que ninguém mostra um corpo
à toa. Fédida (apud FERNANDES 2006) refere que a dor oferece acesso ao
conhecimento de nossos órgãos, permitindo então alguma representação do
nosso corpo.
Há
um arsenal de "modalidades de uso e ou tarefas" para estes corpos. E a
obesidade vem a servir a causa de uma fala que não se pode dizer de
outro modo.
Desamparo e Trauma: quem tem olhos para ver e ouvidos para escutar?
O
desamparo é um estado inicial do sujeito humano e que é re-editado em
situações diversas. Remete-nos a ausência de defesas para lidar com uma
angústia que nos invade. Nesta perspectiva, todo adoecimento ou mau
funcionamento do nosso corpo, pode nos remeter à condição de desamparo.
Seria a obesidade uma tentativa de fazer defesa frente ao desamparo? E
de que forma esta condição se relaciona com o trauma?
O trauma convive com pobreza de representação simbólica para aquilo que
se vive, numa perspectiva catastrófica, e que não se encontra palavras
para fazer borda frente ao Real.
Fernandes (2006) enfatiza que o recurso à ação e às sensações físicas –
e exemplifica, o empanturramento, as sensações de fome, se relacionam a
uma tentativa de presentificar um objeto, uma estratégia, sempre
malograda, de fazer frente ao vazio interno e o risco de perder esse
objeto.
A obesidade, enquanto modalidade subjetiva de defesa frente ao
desamparo e um estado afetivo de extrema angústia contribui ainda para
desimplicar o sujeito da sua relação com o seu sofrimento. Faz-se vítima
do seu sintoma, sem apontar responsabilidade sobre ela. Afinal,
trata-se se uma condição explicada pela medicina como uma doença, ou
seja, sob algo que somos acometidos, vitimados, que não exercemos
controle do seu desenvolvimento.
Esse
discurso social da obesidade se cristaliza, ganha lugar de destaque na
fala e na forma como esse sujeito constrói os significados em torno do
seu problema e dificulta, do ponto de vista psicológico, o acesso ao
particular que "as obesidades" carregam em seu bojo. Um discurso vazio
que compromete a possibilidade de fazer emergir o sujeito. O discurso
social da obesidade está aonde o sujeito não aparece.
O trabalho do psicólogo implica no convite à escuta, à desconstrução
das certezas, do socialmente veiculado, do discurso médico que coloca a
cirurgia como única saída eficiente para a obesidade. Há um apagamento
do sujeito na medida em que se coloca uma solução coletiva para
obesidades individuais. Não se considera a forma como o sujeito se
relaciona com esta, que valores e significados inconscientes lhe
atribui, o que ela estrutura ou desorganiza, de que modo se articula com
a historicidade do sujeito e que história se inscreve neste corpo.
Caso Clínico
Françoise,
52 anos, separada, estrangeira, pais falecidos e uma irmã mais nova que
reside em seu país de origem, mas com a qual não mantém vínculo
afetivo, nem contato regular. Atualmente, mora sozinha, não teve filhos e
teve duas gestações, em tempos distintos, sofrendo abortos.
Teve problemas com sobrepeso desde a infância que progressivamente
evolui para obesidade mórbida. Assinala que o ganho expressivo de peso
sempre se relaciona a períodos difíceis, a título de ilustração podemos
citar: menarca e casamento. Períodos do desenvolvimento que marcam uma
exigência do sujeito de sustentar uma posição relacionada ao ser mulher.
As duas gestações interrompidas em curso assinalam também uma
impossibilidade frente às exigências e construções do feminino.
Sobre
filhos refere que sempre teve aversão à maternidade. Tanto ela quanto a
irmã engravidaram em situações intituladas por ela de promíscuas -
homens casados, relações socialmente impedidas e desvalorizadas - e, por
isso optaram por não levar adiante esse projeto. Atualmente refere
mal-estar ao encontrar mulheres grávidas e /ou crianças em situações
sociais. Sobre a gestação refere que "parece doer, estica a pele...".
Seu primeiro casamento é marcado por eventos que se instauram como
trauma: o marido é alcoólatra, agressivo. Na lua-de-mel tranca a
paciente no quarto, depois de agredi-la física e sexualmente. Nesta
noite, faz uso abusivo de medicamentos, uma tentativa de suicídio. As
agressões persistem associadas a um discurso sempre depreciativo sobre a
paciente, sua obesidade, dentre outros aspectos.
Após dez anos de casamento, pede separação e se filia ao grupo das
mulheres que amam demais. Refere que buscou ajuda neste grupo, pois
tende a criar dependência de homens que não a amam, não a valorizam.
Entra num ciclo vicioso e não consegue sair. Apesar de sofrer
maus-tratos não consegue abandoná-los. A associação a estes grupos seria
uma tentativa de ser aceita em algum lugar que a filie? Essas escolhas
fazem eco ao seu sintoma? Atualmente, isso se repete na escolha em fazer
parte da ‘família da Clínica de Obesidade onde realizou o procedimento
cirúrgico’, e ainda, em relação à nova empresa onde trabalha, da qual
refere ainda não se sentir parte, e por isso, rejeitada.
Elege ainda fazer parte de um bloco afro, constituído e historicamente
composto por um povo que viveu desde sua origem muitos preconceitos e
discriminações. Refere que foi rejeitada no bloco por que era branca e
sobre isso reflete: "É um povo que alimenta a rejeição. Eles próprios
rejeitam e discriminam e vivem um ciclo, pois em contrapartida também
são rejeitados". Ela descreve seu próprio funcionamento neurótico!
"Minha mãe era assim, meus ex-maridos também, as pessoas por causa da
minha obesidade me olham horrorizadas, os homens não me olham. Todos me
criticam e me rejeitam...".
Aos tropeços, refere: "A mim me custa muito me cuidar. Vivo esquecendo
de tomar os suplementos vitamínicos que a nutricionista prescreve". Há
sempre uma demanda de ser maternada, cuidada, amada.
Fez inúmeras tentativas de perda de peso, com métodos diferenciados:
farmacológicos, dietoterápicos e terapias diversas. Obteve alguns
resultados satisfatórios, mas a obesidade sempre insistia em reincidir.
Períodos de magreza foram vividos sempre associados a muito sofrimento
psíquico. E anuncia seu receio de que esse sofrimento retorne
pós-cirurgia de redução de estomago. Retorno do quê me pergunto? O que
esse corpo obeso assegura?
Refere que quando emagrecia desenvolvia uma "compulsão por sexo,
transava com qualquer um, era uma promiscuidade". E acrescenta: "Quando
eu emagrecia minha mãe me dizia que eu ficava "nariz em pé", muito
arrogante. Emagrecer não era bom".
Refere
ainda: "Tinha uma tia que era muito vaidosa, linda. Eu dizia que queria
ser igual a ela quando crescesse. Até que um dia presenciei que minha
mãe a flagrou com meu pai. E era assim sempre: minha irmã era magérrima e
vaidosa, mas era arrogante, nariz em pé. Ser bonita não prestava, não
era bom".
Refere
ainda lembranças da infância de ter ouvido os pais transando, e que os
ruídos emitidos por sua mãe sugeriam que ela estivesse sendo agredida,
forçada ao ato sexual, que estivesse sentindo dor. Lembra-se que contou
para sua irmã o que ouvira e que sua mãe a acusou de ser suja,
pervertida e promíscua.
Outra
cena cujo tema remete Françoise à sua vida familiar: Trabalhava numa
padaria na adolescência e houve um evento no qual um homem a beija na
boca. Os pais ao saberem do ocorrido vão até o local e publicamente lhe
batem com um tapa na cara e a mãe a leva ao ginecologista para atestar
sua virgindade. Recorda que não entendia o que estava acontecendo e
interpreta o ato do médico como uma violência. "Ele rusticamente enfiou o
dedo na minha vagina e disse para minha mãe que o meu hímen estava
intacto".
Refere
que na adolescência, escreve uma peça de teatro cujo enredo era o
seguinte: "Eu era uma cantora de cabaré e re-encontrava minha mãe, que
tinha me abandonado quando eu era criança. Nós tínhamos uma boneca, onde
cada uma carregava uma parte, uma tinha a cabeça e outra o corpo, que
se uniam como prova de que eram mãe e filha". Um corpo como prova de
filiação? Um corpo que carrega as marcas ou sinais de pertencimento a
uma linhagem familiar. Entra em cena a obesidade como marca-identidade
materna.
A
mãe de Françoise era uma mulher obesa, com visão extremamente
pessimista da vida. Reverberava continuadamente como a vida era
miserável, como as pessoas criticam a sua pobreza, seu marido de
trabalho humilde, sua casa de construção simples e de poucos adornos.
Com baixa auto-estima, entende o lugar da feminilidade como uma
vergonha, de parco valor, sujo.
Era
uma mãe do cuidado, da necessidade, do dever: Dona de casa aplicada,
lavava, passava, cozinhava e costurava a roupa de todos da casa.
"De
minha mãe eu tinha roupa lavada, comida quentinha, mas na hora de dar
um abraço, um beijo... quando eu ficava doente e buscava um carinho, ela
dizia: sai, sai menina, sai". Quando ela me fazia um carinho era sempre
um afago no meu cabelo com a frase: "Pobrezinha, Pobrezinha, de minha
filha... Coitadinha de você".
"Eu menstruei antes de completar 10 anos. Chamei minha mãe e ela disse
para que não contar para ninguém porque era uma vergonha. Disse-me que
mesmo ela só havia menstruado aos 16 anos de idade. Ela costurava nossas
roupas e eu pedia que ela costurasse bolsos falsos na altura dos
mamilos para esconder o seio, eu tinha muita vergonha. [...] Passei a
vida escondendo meu corpo". Enfatiza: "Não coloquei o hábito de freira
(a paciente na pré-adolescência se interna em Convento), mas coloquei a
obesidade. Uma forma de não sair à vida... de ocultar coisas... de me
ocultar".
Passou a vida escondendo o corpo?
A obesidade expõe esse corpo, coloca-o em evidência, me faz pensar que o
corpo foi servo obediente, escondeu em suas marcas e contornos, seu
romance familiar, aquilo que fugiu à representação simbólica. Aquilo que
não pôde ser dito, virou mal-dito no corpo. Oculta a feminilidade, a
relação controversa com sua mãe, seu referencial do que é ser mulher, os
desejos sexuais e outras dores indizíveis.
O pai de Françoise, por sua vez, mostra um temperamento instável. Ora
deprimido, apático, ora agressivo. Mas parece permanecer num estado de
vida ‘preto e branco’. Desconhecia sua origem, sua mãe o havia
abandonado. E assim vivia sem fazer laço com o mundo. Era mais favorável
a filha, defendendo e acolhendo suas demandas, mas o seu torpor frente à
vida impossibilitava uma presença marcante para fazer frente aos
investimentos depreciativos dessa mãe.
Sua única irmã, era mais nova, tinha uma relação com a mãe sempre
invejada por Françoise. Dizia sentir-se uma estranha entre elas, que se
afinavam bem, eram cúmplices. "Minha mãe olhava para ela com muita
admiração".
A família vivia de forma simples, sem condições financeiras favoráveis.
O pai era porteiro de prédio, a mãe era dona de casa e Françoise cedo
foi trabalhar para ajudar nas despesas da casa.
Na escola, Françoise traz associações em torno do tema da rejeição.
"Entrei na escola com o sobrenome falso. Para estudar nessa escola
tivemos que dizer que éramos filhos de outro casal. Tive dessa forma um
sobrenome de um judeu. Depois que a farsa foi revelada e todos
conheceram seu sobrenome de origem alemã, foi chamada por todos de
"nazista". Todas as crianças me ridicularizavam, não brincavam comigo,
me rejeitavam, como na minha casa".
O 1o atendimento
No
primeiro atendimento, a paciente me endereça uma demanda: "Quero meu
relatório para fazer cirurgia bariátrica porque os médicos dizem que é a
minha única saída, mas acho que não vou conseguir emagrecer...". A
partir desta contradição no seu discurso e de uma intervenção clinica
que visava fazer falar desta (im)possibilidade do emagrecer contrariando
a lógica médica e a fisiologia da saciedade, faz-se brecha e o sujeito
aparece, agora desnudo do caráter social do inicio da sessão.
O
discurso de Françoise circulava em torno de um receio de que
desenvolvesse câncer de estomago pós-cirurgia bariátrica. Em associação
livre, promove ligação à lembrança de que sua mãe havia falecido de
câncer de estomago e que o fato de não poder despedir-se, estar presente
ao velório, a faz fantasiar de que a mãe achou que ela a abandonou.
Culpa indigesta! Talvez ter um câncer e viver na pele a doença da mãe a
redimiria do seu pecado? A mãe de Françoise falece quando a paciente já
residia no Brasil e a mesma tem noticias do óbito 06 meses depois.
"Eu fui rejeitada quando nasci". Com estas palavras, Françoise inicia
sua apresentação. "Eu não tinha nem nome, meu nome era Marcone Júnior
porque meus pais queriam um varão, um filho homem. No caminho para a
maternidade, minha mãe lembrou de uma tia e me deu o seu nome". Quando
nasci minha mãe falou: "Mas que coisinha feia essa menina!". Assim nasce
Françoise: "Eu não fui desejada pelos meus pais. Minha irmã sempre era a
melhor... eu me sentia um lixo".
"Não
sei como é viver bem... ficar mal é o único lugar que eu conheço, que
me é familiar. É um lugar que eu sei viver. Tenho medo de ser feliz...
Minha mãe nos ensinou a dar ao outro o que temos de melhor, de mais
bonito e perfeito e ficar com mais feio, com o que não tem valor".
"Ela
(a mãe) falava repetidamente um dito popular... ‘não sorria na
quarta-feira porque no domingo você vai estar chorando’. Sentia minha
mãe muito pessimista, muito negativa. E acho que isso pegou em mim,
porque me vejo sempre estranha à ser valorizada pelo outro, acho que
quando as coisas vão bem logo algo ruim aparecerá. "Me vejo querendo
engordar... se estou bem, arranjo logo algo do que me queixar. Acho que
fico procurando tornar algo ruim. Estranho muito ser bem tratada".
"Eu passei minha vida mentindo e ocultando tudo sobre minha família
porque minha mãe tinha vergonha de meu pai, do nosso sobrenome, da nossa
casa. Ela não comemorava nossos aniversários e vivia com a casa fechada
para que as pessoas não vissem como nossa casa era pobre, simples. Ela
dizia que as pessoas passavam e criticavam. Ela tinha vergonha da
profissão de meu pai e da forma como ele se vestia... Hoje eu acho que
ela queria separar a gente de meu pai. Ela dizia: "Não conte para seu
pai, não aborreça seu pai, saiam de perto do seu pai... De minha irmã
também. Teve uma vez que ela disse que nós tínhamos passado a tarde
inteira criticando ela, porque havíamos passado a tarde juntas. Tem um
ditado no meu país que diz: "divida e serás rainha..." Intervenho: o que
quer dizer? "Acho que ela para ter um lugar de reconhecimento separava a
gente e assim ela aparecia".
"Acho
que insisto em parecer com ela, como uma forma de tê-la presente.
Apareci esses dias com uma alergia solar. Alergia Solar? Meu corpo fica
cheio de manchas vermelhas quando eu exponho ao sol. Nunca tive isso. O
médico disse que era alergia. Já teve outras alergias antes? Não. E o te
faz pensar essa palavra Alergia Solar? Mas agora que você perguntou me
lembrei de que minha mãe tinha essas alergias. Parece que minha mãe está
sempre presente. Ela é o meu nó: não desata, marca e não separa. Por
isso acho que não vou conseguir emagrecer. Pra mim é muito difícil
separar dela. Ainda busco o amor dela". (Chora compulsivamente).
Françoise
veio para o Brasil há cerca de 05 anos. Hoje mantém o sotaque da sua
língua de origem, mas tem muita dificuldade de falar a língua materna,
bem como, mantém uma relação de anti-pátria, não quer voltar ao seu
país, nem para visitar família ou amigos. Repetidamente tenta em algumas
sessões recordar ditados populares, músicas e algumas palavras na
língua materna e não consegue. Não consegue falar com fluência sua
língua materna. Associado à condição da língua, recordo-me da Alergia
Solar: Ela faz uma alergia "só-lar". Solar parece remeter ao sentido do
só-lar, só no lar. E o só remete a idéia do sozinha, estar só; algo
recorrente em sua narrativa: ter sido sempre só, mesmo quando vivia com a
família, mesmo quando estava no seu lar.
Este
recorte remonta à idéia de uma dificuldade com filiação, suas raízes e
identidades familiares. Este corpo obeso confere uma existência a essa
paciente. Uma tentativa de filiação, uma inscrição psíquica.
"A
imagem inconsciente do corpo vai se moldando ao longo do tempo, desde
as etapas pré-especulares, como uma espécie de elaboração de sensações e
emoções precoces experimentadas na relação intersubjetiva com as
figuras parentais, um verdadeiro substrato relacional que passa pelo
corpo, lugar da comunicação precoce. Assim, a imagem inconsciente do
corpo se apóia no outro, isto é, forma-se como referencia intuitiva ao
desejo do outro, ordenando-se corporalmente no sentir, no dizer e no
corpo da mãe". (FERNANDES, p. 145, 2006).
"Ninguém se olhava no espelho lá em casa. Meu pai usava um espelhinho
menor que a palma da mão porque dizia que tinha um rosto deformado,
torto. Minha mãe era gorda e minha irmã era magérrima, tinha vários
problemas com comida, quase não comia, vivia anêmica e desmaiando. Uma
vez ela me disse que não tinha horror à comida, tenho horror a ficar
igual à mãe, que preferia morrer a ficar parecida com ela. [...] E eu
sempre era comparada à minha mãe, sempre fui a gorda da família e assim
que sempre me vi. Mas eu não era obesa, todos falavam que eu acabava me
vendo desse jeito até de fato ficar obesa. E foi sempre assim".
"Meu pai sempre foi preocupado com a saúde, com não engordar. Sempre
vaidoso. Certa vez comprou uma peruca para esconder a calvície que
começava a aparecer. Ao contrário, minha mãe achava que o cuidado de meu
pai era uma crítica endereçada, pois ela era muito desleixada e gorda.
Eu, nesta história, era sempre criticada por minha mãe, que não me amava
e hoje acho que engordei para agradá-la, para ter seu amor".
A
comida, neste contexto familiar, entra como ponto de intersecção com a
figura materna? A irmã que era magra tinha horror à comida, veiculo de
acesso ao ficar como à mãe. Françoise depositava no prato todo afeto não
metabolizável via aparato psíquico. Refere ter prazer em comer, e comer
sem fome, sem vontade, para se empanturrar, para se machucar... O comer
é controverso e conflituoso, como sua relação com a figura materna.
Refere em diversas passagens que a sua compulsão alimentar comparecia
para fazer frente aos momentos onde revivia situações de rejeição e
abandono, logo, remete ao desamparo.
"Lembro da minha infância quando chegava da escola minha mãe havia
feito o almoço e nosso prato era enfeitado: carne, purê de batatas em
formato de montanha e o molho de churrasco da carne era derramado
formando um lago aos pés da montanha. Era dessa forma que minha mãe nos
demonstrava afeto".
A história da alimentação nos remete a pensar que as condutas
alimentares se desestruturaram. Os ritos do comer se relacionam e se
modificam a partir dos contextos sócio-históricos e culturais
envolvidos. Na atualidade, os hábitos em torno da mesa foram
automatizados, cada vez mais solitários, engendrados pela pressa.
Fischler (apud FERNANDES, 2006) utiliza o termo gastro-anomia para
nomear as ressonâncias advindas com essas transformações.
Observamos que o comer também se relaciona intimamente com aspectos
subjetivos, emocionais. Temos evidências clinicas e do senso comum que
corrobora a idéia de que o comer mantém estreita relação com afeto.
Pacientes que referem perder o apetite diante de uma situação
estressora, ou que fazem um ingesta maior de alimento quando estão
ansiosos ou são submetidos a situações de perda, mudanças, separações,
dentre outros.
Deste modo, torna-se imprescindível pensarmos nas relações e
interferências que podem se estabelecer em torno do prato. Que
significados são tecidos em torno da mesa? Que relações se constituem
neste cenário? A comida encerra quais significados? Como comportamento
presente desde o nascimento remete à relação do sujeito com seu próprio
corpo? O que se come, como se come? Pensarmos na perspectiva do comer
como necessidade puramente fisiológica não dar conta de explicar a nossa
complexa relação com o alimento.
Sonho com a mãe:
"Sonhei
com minha mãe no lado de fora do meu quarto, na janela. Ela me apontava
para uma casa de tijolos. Bem diferente da nossa casa, que era pobre,
feita de materiais inferiores, pouco sólida, sempre ameaçada. Essa casa
que ela me apontava era firme, bela e segura". Associa a casa de tijolos
ao seu corpo em transformação e mudança com o emagrecimento ascendente e
melhoria das limitações de locomoção e saúde geral. Corpo antes
referido como sempre ameaçado, pobre, insuficiente. Entra em questão a
relação da constituição do corpo (imagem corporal) com a intervenção do
olhar e investimento maternos.
Como
sabemos, a imagem do corpo se constrói precoce e originariamente nas
relações parentais e, nesse momento, onde o corpo é novamente convocado
às grandes mudanças físicas e subjetivas, o sonho materializa o olhar
materno dando contorno às novas formas, ao novo corpo. Corpo,
obviamente, compreendido como elemento simbólico, que excede as
fronteiras do orgânico.
"Olha
esse corpo pra mim..." é um endereçamento de uma demanda de amor bem
como uma via de acesso à criação ou constituição da imagem de um corpo
que somente pode vir a ser, a partir da presença ou intermediação de um
outro que confira valor de existência.
Considerações
A
prática clínica nos confronta cotidianamente com limites, entraves ou
mesmo com os efeitos iatrogênicos de alguns pacientes, marcados por
dificuldades na associação livre, falas esvaziadas de sentido,
emudecimentos, vazios, angústias indizíveis, momentos melancólicos,
atuações ou sintomas orgânicos.
Destes
impasses sabemos. E se a responsabilidade do analista implica estar à
altura da subjetividade da sua época, como nos previne Lacan, cabe-nos
criar condições de escutabilidade destes novos engendramentos
sintomáticos, nos quais o corpo ocupa lugar de primazia, como palco
destas manifestações psicopatológicas. Corpo este, que diferente da
concepção de organismo, está sempre para controvérsias.
Incluir
o corpo, enquanto elemento simbólico, no setting terapêutico significa
entender que há ali, implicitamente, um convite a olhar para o excesso,
para o que transborda, para o que não tem forma nem contorno. E poder a
partir disso, criar condições para fazer borda frente ao real deste
corpo, à medida que se pode historicizá-lo.
O
corpo opulento demonstra na carne o viés de um romance familiar
construído em torno da dor: as dinâmicas sociais e familiares, bem como,
a história íntima desse sujeito, dão contornos próprios à obesidade. O
corpo obeso é eleito para manter sob o disfarce de uma queixa física,
concreta, as tramas familiares, os desejos inconscientes que não
poderiam ser veiculados de outro modo.
Compreender as vicissitudes psicopatológicas do comportamento alimentar
significa tentar entender a relação que o sujeito estabelece com o seu
corpo e com os outros. O comer se associa a uma série de fatores, não
apenas da esfera nutricional e fisiológica, mas resguarda e veicula
afetos, angústias não-metabolizáveis, dores, lembranças infantis,
culpas, dentre tantos outros.
A obesidade enquanto sintoma serviu como depósito de causas que não
sabiam dizer de si, que não podiam ser tratadas de outro modo. Todo
sintoma, como sabemos, porta em si uma solução em potencial, e não deve
ser encarado como um mal a ser extirpado. Viver agora sem essa máscara
protetora, sem esta barreira de isolamento das dores escondidas neste
corpo sempre em excesso, exige um trabalho de muitas tensões psíquicas e
mudanças efetivas. Hoje, as queixas de rejeição se articulam e se
deslocam para o corpo flácido, o excesso de pele e o rosto visivelmente
mais enrugado. O que nos faz pensar que as retificações cirúrgicas não
necessariamente vêm acompanhadas de mudanças subjetivas. Ter um corpo
mais magro, não deve ser uma aposta para o caminho da felicidade, do ser
aceito e amado. Há razões e caminhos mais complexos a seguir para
desvendar as nuanças do sujeito que sofre.
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