Quem tentou emagrecer e conseguiu, pelo menos uma vez na vida, sabe o
que é o efeito platô -- mesmo que não o conheça por esse nome. Sabe
quando a pessoa perde vários quilos e, a partir de certo ponto, a
balança estaciona muito antes de atingir o peso ideal? Esse é o efeito
platô.
É uma das maiores causas de frustração durante o emagrecimento. É nesse
momento que muita gente desiste de persistir na dieta e na atividade
física. Os estudos mostram que o platô pode acontecer em momentos
diferentes durante o processo de emagrecimento. Por isso é tão
importante saber como superá-lo.
Antes de tudo é preciso ter em mente que o corpo humano é um excelente
poupador de energia. Quando percebe que a ingestão de calorias diminuiu,
ele se apressa a estocar energia em forma de gordura. A natureza nos
fez assim para sobreviver aos períodos de escassez de comida e de frio
intenso que poderiam ter exterminado nossa espécie ainda no tempo das
cavernas.
“Quando a pessoa começa a emagrecer, diminuem no sangue os níveis de um
hormônio que avisa ao cérebro que a quantidade de gordura no organismo
chegou ao nível ideal”, diz o médico Ricardo Meirelles, ex-presidente da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Esse hormônio é
chamado de leptina. Com menos leptina no sangue, o apetite aumenta”,
afirma.
É nesse momento que a pessoa não consegue mais seguir a dieta e a
balança estaciona. Esse mecanismo dá a dimensão do tamanho do desafio
que a pessoa que tenta emagrecer tem pela frente. Emagrecer é lutar
contra nossa própria natureza. Quem fracassa não é necessariamente um
preguiçoso, sem vergonha na cara, nem amor próprio. Nada disso. É
preciso persistir, com inteligência e dedicação, porque a natureza é
poderosa.
Algumas dicas práticas:
Persista na dieta: com o tempo, o organismo se
acostuma com os níveis mais baixos de leptina e volta a dar sinais de
saciedade mesmo que você coma moderadamente. Fuja das dietas milagrosas
que provocam efeito sanfona, aquele engorda emagrece que não traz
efeitos duradouros. Procure seguir um programa alimentar preparado por
nutricionista ou médico. O planejamento da dieta não é coisa para
amadores.
Cuidado para não perder músculo demais: dietas que
provocam grande perda de peso em pouco tempo levam à perda exagerada de
massa muscular. Isso faz o metabolismo ficar mais lento. Mais da metade
das calorias são usadas pelo corpo apenas para se manter em
funcionamento – mesmo que você não pratique atividade física. Nesse
gasto, está incluída a manutenção e sustentação da massa muscular. Se
você fizer uma dieta radical, vai perder músculo demais. Resultado: o
efeito platô vai se instalar.
Aumente sua massa muscular: Não pense em fazer apenas
atividades aeróbias, como caminhada e corrida. Inclua na sua rotina
atividades como musculação, Pilates e outras que ajudam a aumentar sua
massa de músculos.
Mude sua atividade física: o corpo se acostuma a
qualquer tipo de movimento ou estímulo. Isso não significa que seja
preciso mudar a modalidade que você pratica a cada mês. Às vezes,
mudanças sutis resolvem. Quem faz musculação, por exemplo, pode diminuir
o tempo de descanso entre as séries ou aumentar o peso. Quem caminha ou
corre na esteira pode mudar a inclinação dela. Quem caminha pode
escolher as subidas em vez de ficar apenas num terreno plano.Qualquer
alteração ajuda a estimular o organismo
Conte com apoio social: Escreva um blog para contar
sua experiência e comemorar os avanços. Entre num grupo que tem o mesmo
objetivo. Peça apoio da família ou de amigos. O apoio social ajuda a
superar os momentos de fraqueza e de dúvida.
Observe suas emoções: Quando a balança empaca, muita
gente desanima. O próximo passo é descuidar da alimentação, perder a
disposição para se mexer e recuperar todo o peso de volta. Paciência é
fundamental.
Chegamos a um ponto que considero fundamental. Estou convencida de que o
que falta aos obesos na luta contra o excesso de peso não é apenas
informação. É algo a mais. Esse algo a mais pode ser ter contato com
processos mentais inconscientes.
“Perder peso é exatamente isso: uma perda”, diz a psicóloga Patricia Vieira Spada, autora do livro Obesidade e sofrimento psíquico: realidade, conscientização e prevenção (Editora Unifesp). “No lado mais escondido da alma, há uma resistência inconsciente a ter uma vida mais saudável”, afirma.
Esquisito, né? Esquisito como a maioria das emoções que não conseguimos
entender, traduzir por meio do raciocínio. Não as entendemos, mas elas
continuam a existir e, muitas vezes, a conspirar contra a perda de peso.
Os psicólogos, não tenho dúvida, podem ser grandes aliados no processo
de emagrecimento. O trabalho do analista é captar estados emocionais do
paciente, traduzi-los para si mesmo e devolver essa interpretação, de
uma forma que seja palatável.
Não há uma receita. O profissional fala de sua percepção sobre o que
está acontecendo. Diz que aquilo lhe parece tal coisa. Muitas vezes,
isso dá condições para que o paciente consiga digerir, processar o que
está acontecendo.
“Nossa mente não passa só pela lógica. Aquela conversa fica no
inconsciente e vai causando transformações que, muitas vezes, nem o
analista, nem o paciente sabe como se deram. O fato é que os pacientes
melhoram, estabelecem outra relação com a comida e emagrecem”, diz
Patricia.
Sobre o efeito platô, Patricia faz uma observação interessante. “Às
vezes, a pessoa não entende que o platô sinaliza que é hora de parar, de
respeitar o próprio corpo, que dali em diante não dá mesmo para
emagrecer mais. É preciso ter respeito pelo que é possível e não pelo
que é desejado”, diz.
Quem quiser saber mais sobre obesidade e emoções pode acessar a
entrevista que fiz com ela
durante o lançamento do livro. Revirar os escaninhos mais obscuros da
mente é um bom caminho para emagrecer com saúde e bem-estar, de forma
duradoura e sustentável.
Até a próxima, queridos leitores. Antes gostaria de dividir uma
novidade com vocês. Estreamos nesta semana o boletim saúde e bem-estar
na Rádio CBN. Todas as segundas-feiras às 15h30, farei comentários, ao
vivo, no programa CBN Total, ancorado pela jornalista Carolina Morand.
O tema de segunda-feira será obesidade. Os áudios também ficam
disponíveis na internet. Muito obrigada pela atenção de sempre e até o nosso próximo encontro. Agora também nas ondas do rádio...
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)
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